É Evans, Potter! escrita por Anchorage


Capítulo 12
Você deveria confiar em mim


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que estão acompanhando essa história, significa muito pra mim :)

Aí está mais um capítulo!



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Lily

A neve começava a se acumular sobre os jardins Hogwarts e o usual verde do gramado havia sido substituído por uma camada branca. O Lago Negro tinha sua superfície congelada e alguns aventureiros arriscavam a  patinar lá.

Haviam se passado semanas desde o acidente dos meus pais e os pesadelos me perseguiam a cada noite – acordava sobressaltada, com o coração acelerado e, por vezes, com falta de ar. Ainda que as noites fossem ruins, tinham dias em que parecia impossível sobreviver. A ausência de meus pais pesava todo dia em meu coração e, em vários momentos, não conseguia conter o choro.

Naquele dia em específico, sentia-me extremamente triste. Estava sentada no parapeito da janela do dormitório, enquanto esperava Marlene terminar de se arrumar.

— Estou congelando aqui, imagina lá fora! — Ela se sacudiu antes de cobrir suas mãos com luvas. — Tem certeza que você quer ir? Não precisamos ir. —perguntou-me séria.

— Vai me fazer bem. — Tentei soar alegre, mas ela arqueou uma sobrancelha em descrença. — Pelo menos vou me distrair. — Dei de ombros.

No fundo, sabia que se ficasse no castelo, teria tempo demais para pensar. E, dadas as circunstâncias, queria fazer tudo que não envolvesse pensar. Sem que eu pudesse me preparar, lágrimas embaçaram minha visão. Respirei fundo e evitei que elas caíssem.

Firme, garota.

A voz de meu pai ecoou em minha cabeça e fechei meus olhos, conseguindo visualizar uma das inúmeras vezes em que ele havia me dito aquela expressão. Suspirei, sentindo-me reconfortada.

— Se você não se sentir bem ou se sentir muito frio — Marlene soltou uma risadinha — fale comigo.

Ela me puxou para um abraço.

Ouvi batidas na porta e James colocou sua cabeça para dentro.

— Prontas?

— Dumbledore foi muito inconsequente ao permitir que os Monitores-Chefes tivessem acesso a todos os dormitórios. — Marlene comentou.

— Por sorte, sou o Monitor-Chefe e não cometeria qualquer transgressão. — James brincou.

Sirius e Peter nos aguardavam no salão comunal e conversavam sobre suas coleções de figurinhas. Eles nos cumprimentaram e deixamos Hogwarts para trás.

— Está tudo bem? — James perguntou, ao passar um de seus braços por minha cintura. Afundei meu rosto em seu pescoço, a fim de esquentar meu nariz e aproveitei para sentir seu perfume.

— Sim. — Eu cochichei antes de capturar seus lábios. — Eu realmente estava precisando disso. — Sussurrei com os olhos ainda fechados. Ele riu e acariciou meu rosto e entrelaçou nossas mãos.

— Eu não posso acreditar que ela fez isso! — Marlene exclamou surpresa.

— Pois acredite. — Sirius confirmou e Marlene caiu na gargalhada.

— Você realmente não tem jeito, Black. — Ela falou com um sorriso bobo nos lábios.

— O que deu nesses dois? — Peter cochichou para nós e eu sorri.

— É o clima natalino. Como vamos passar o Natal juntos, eles estabeleceram algum tipo de trégua até lá.

O vilarejo estava lotado de alunos de Hogwarts e ao me deparar com toda aquela animação, me senti melhor.

— Onde gostaria de ir?

— Bom, James, fico lisonjeado que esteja interessado no que eu quero fazer, mas acho que precisamos de um tempo separados. — Peter respondeu em meu lugar. Ele se afastou de nós com um aceno e James soltou uma gargalhada.

— Acho que um leite de dragão cairia bem nesse frio. — comentei e ele assentiu.

— Nós estamos indo para o Três Vassouras. Vão conosco? — James perguntou a nossos amigos, que não responderam, pois estavam entretidos demais em sua conversa.

— Acho que isso é um não.

James depositou um leve beijo no topo de minha cabeça e caminhamos em direção ao Três Vassouras.

Ao chegarmos lá, James se dirigiu ao balcão e eu fiquei encarregada de achar uma mesa para nós. Aparentemente, não havia nenhuma mesa vaga, mas, por sorte, quando vasculhei novamente o salão, vi duas meninas da Corvinal levantando e cori para pegar a mesa.

Assim que me sentei, ouvi batidas na janela e minha boca abriu. À frente do grupo, estavam Avery e Mulciber, mas reconheci outros rostos como o de Bellatrix Lestrange. Senti meu corpo pesar contra a cadeira e tive dificuldades em respirar. Observei que James ainda lutava para ser atendido e reuni toda a minha coragem para deixar o estabelecimento.

— Evans. — Mulciber me cumprimentou com a cabeça assim que parou ao lado de Avery.

— Recebi notícias interessantes esses dias... Parece que houve um acidente fatal. — Bellatrix passou a língua pelos dentes e gargalhou, senti minhas pernas tremerem e meus punhos se cerraram.

— Não pense que pode se dirigir a mim, Lestrange. — Eu a encarei e praticamente cuspi as palavras, sentindo a raiva tomar conta de mim.

— Como você ousa falar assim comigo, sua maldita sangue-ruim?

— Você não acha que esse xingamento está ultrapassado? Convenhamos, você poderia se esforçar um pouquinho. — Revirei os olhos, sem saber de onde vinha toda aquela ironia.

Nesse momento, alguns curiosos já estavam parados para observar a cena.

— Honestamente, não consigo ver nada além de uma garota patética. — Ela comentou com seus colegas. — Ela é suja.

— Vejo que está tendo dificuldades em aceitar que seu mestre achou alguém que realmente valha a pena. — respondi. — De todos os bruxos, ele foi escolher uma nascida trouxa. O que isso diz de todos vocês?

Soltei uma risada e voltei-me para o Três Vassouras, mas antes que pudesse entrar, ouvi a voz de Bellatrix novamente.

— Como estão seus pais, Evans? Ouvi dizer que eles estão ótimos. — Ela gritou e sua risada estridente cortou meus ouvidos.

Senti meu coração parar, meus olhos se encheram de lágrimas e a raiva me consumiu por inteira. Caminhei até ela lentamente e dei um tapa estalado em seu rosto.

— Nunca mais fale dos meus pais, eu estou avisando.

Um silêncio gutural tomou conta de Hogsmeade e o grupo de observadores já havia triplicado. Após o choque, Bellatrix urrou.

Ela ergueu sua varinha rapidamente e, em questão de segundos, também estava com a minha em mãos. Olhares atentos esperavam pelo primeiro ataque.  

Ela soltou um silvo e lançou um feitiço, do qual eu consegui me proteger com facilidade. Com rapidez, eu a azarei e ela caiu de costas no chão. Seu olhar era de puro ódio e um fio prata saiu de sua varinha. O feitiço me atingiu no rosto e eu me senti um pouco tonta, o que foi suficiente para ela me acertar com mais um feitiço, que me fez cair para trás.

Levantei-me em um pulo e comecei a atacá-la repetidamente, o que pareceu funcionar, pois ela não era capaz de acompanhar o ritmo de meus feitiços e sua feição antes vangloriosa, agora estava assustada.

— Isso tudo é desespero pela preferência do seu mestre por mim, Bellatrix?

Ela crispou os lábios e tentou me azarar, mas antes que ela conseguisse eu a desarmei. E, com um leve movimento da varinha, acertei-a em cheio. Ela caiu novamente no chão e dessa vez não se levantou. Caminhei até ela e empurrei sua varinha para longe.

— Dá próxima vez, eu acabo com você.

— Fique sabendo que isso não vai ficar assim, Evans! — Ela gritou.

— Apodreça no inferno. — respondi, enquanto me afastava de lá.

Minha cabeça martelava com o burburinho dos telespectadores e meu coração batia violentamente contra meu peito.

Ouvi James gritar meu nome, mas não fui capaz de diminuir o passo nem de virar para trás. Ele correu até me alcançar e quando me envolveu em seus braços, desandei a chorar.

— Está tudo bem. Vamos sair daqui.

Ele puxou minhas pernas com um de seus braços e me carregou, enquanto eu soluçava contra seu pescoço. Tentei dizer algumas palavras, mas, por causa do choro, elas saíam engasgadas.

— Onde estamos? — perguntei baixinho, assim que ele me recolocou no chão.

— Você já ouviu falar na Casa dos Gritos? — James perguntou com um sorriso maroto e eu assenti. —Bem-vinda a casa mais sombria da Grã-Bretanha. — ele sussurrou.

Arregalei os olhos, assustada com o fato de estarmos naquele lugar. Os jardins que rondavam a casa estavam mal cuidados e toda a vegetação aparentava estar morta. Uma névoa espessa encobria a casa e, ao me aproximar, notei que todas as janelas haviam sido cobertas por tábuas irregulares de madeira.

—James, o que estamos fazendo aqui?

— Você vai ver. — Ele estendeu uma de suas mãos em minha direção e eu o segui. — Não precisa ter medo.

Ao chegarmos à porta principal, James sussurrou um encantamento e a porta se abriu, revelando um longo e escuro corredor. Espiei o interior da casa e senti um arrepio subir minhas costas – os cômodos eram escuros, úmidos e empoeirados.

— Essa casa me deixa nervosa. — admiti.

James me guiou até uma escada e me incentivou a subir. Os degraus rangiam a cada passo e a madeira do corrimão tinha um aspecto de podridão.

O segundo andar da casa era mais iluminado e não aparentava estar em condições tão ruins. Passamos por uma porta que nos levou a um cômodo mobiliado. No centro, estava uma mesa com quatro cadeiras ao seu redor, uma cama, provavelmente retirada de algum dormitório de Hogwarts, e algumas luminárias.

— Então é aqui a sede do clube dos Marotos? — perguntei com o cenho franzido. James se virou para mim com uma expressão engraçada.

— Você está zombando de nós, Evans?

— Jamais faria algo do tipo. — brinquei.

James soltou um suspiro.

— Nas noites de lua cheia é aqui que ficamos.

Com um feitiço, iluminei o quarto e notei arranhões e respingos de sangue sobre o chão e as paredes. Pensar em Remus como um lobisomem fazia com que meu coração vacilasse – ele não merecia tal destino.

— Coitado. — sussurrei, ao tocar em uma das marcas deixada pelas garras de meu amigo. — Vocês são ótimos amigos. — comentei, aproximando-me de James.

James acendera as luminárias e com um feitiço iluminou também a candelária que pendia do teto. Ele se jogou sobre um sofá morfético e bateu no espaço livre do sofá, convidando-me para sentar ali também.

— Quer conversar? — Ele perguntou, antes de permitir que eu me aninhasse em seu peito.

— Não sei o que me deu, não tinha intenção de machucá-la, mas ela passou dos limites ao falar de meus pais.

As lágrimas voltaram aos meus olhos, mas fechei os olhos, determinada a não chorar. James beijou meu nariz e afagou meu cabelo.

— Quando estamos com raiva é mais difícil pensar com clareza. — ele falou baixinho e eu o encarei, esperando talvez por uma advertência. — Mas ela mereceu o que teve.

Rocei nossos narizes e selei nossos lábios.

— Você sabe que pode sempre contar comigo, não sabe? — ele disse, antes de mordiscar meu nariz.

Quando James disse aquelas palavras, senti meu coração se aquecer. Ele me transmitia segurança, paz e conforto. Merlin! Como eu demorara tanto tempo para perceber isso?

— Sim. — respondi, sorrindo.

— Eu não quero estragar esse momento... — ele começou a dizer, enunciando cada palavra pausadamente.

— Ah, não. — sussurrei.

— Por que não me explica o repentino interesse daquele pessoal em você?

Prendi minha respiração e mantive-me em silêncio por um tempo. Levantei-me do sofá e encobri meu rosto com minhas mãos.

— E-eu não quero falar sobre isso.

— Lily, isso já vem acontecendo há um tempo e sempre que pergunto sobre o assunto, você se esquiva.

— Eu sei, mas você precisa respeitar meu espaço. Não adianta me forçar a falar sobre algo que eu não quero! — disse, sentindo-me irritada com ele.

— Tudo bem. — James colocou as mãos para cima, mostrando que se rendia. Ele se aproximou de mim e me puxou para um abraço. — O problema é que eu sei que você não está bem e sinto-me de mãos atadas.

Segurei seu queixo e o beijei. Suas mãos me apertavam contra ele e passeavam por meu corpo com firmeza, deixando uma trilha de arrepios. Em um impulso, pulei para seu colo e ele segurou minhas pernas sem vacilar.

— Você é tudo o que eu preciso, James. — sussurrei contra seus lábios e ele sorriu, antes de voltar a me beijar.

— Eu sempre soube disso, Evans. — ele disse, quando se separou de mim.

Revirei os olhos diante da provocação, mas não tive o trabalho de responder. Por mais que me sentisse ofegante, não queria que James parasse de me beijar – nem mesmo por um segundo. Ele se afastou mais uma vez e soltei um muxoxo frustrado.

— Ora, não fique assim. — ele brincou.

Levou-me até a cama e se deitou ao meu lado.

— Isso não é muito romântico. — sussurrei.

Com um aceno da varinha, James conjurou novos lençóis e travesseiros e o dossel, antes rasgado, estava novinho em folha.

— É o melhor que posso fazer. — Ele deu de ombros e eu soltei uma risadinha.

— Não, o melhor que você pode fazer é me beijar. — falei, sentindo minhas bochechas queimarem de vergonha.

— Um beijo aqui? — Ele apontou para meu queixo e eu neguei. Levou seu dedo até minha orelha e novamente neguei, tracejou um caminho até meu nariz e depositou um beijo. — Acho que estou chegando.

Assenti, ansiosa para que nossos lábios se encontrassem mais uma vez. James percebeu meu desejo e sorriu. Ele se pôs de joelhos sobre a cama, puxou minhas mãos e depositou um beijo em cada palma, até que, em um movimento especialmente rápido, prendeu meus braços por cima de minha cabeça.

Sussurrei seu nome e ele me beijou de uma maneira que eu nunca havia sido beijada.

Quando nenhum dos dois tinha mais fôlego, nos separamos de vez. James tinha um sorriso convencido no rosto e eu revirei os olhos. Garotos...

— Se você me dissesse há um ano que eu estaria lhe dando uns amassos, eu nunca acreditaria.

Soltei uma risada e ele se virou no colchão, apoiando seu peso sobre seus cotovelos.

— O que foi? — perguntei.

— Você é linda. — ele sussurrou, enquanto me olhava.

Ficamos deitados por um tempo, conversando sobre banalidades do dia-a-dia e relembramos nossas épicas discussões do passado.

— Como você não percebeu que eu gostava de você? — ele perguntou, de maneira retórica.

Senti meu estômago roncar e me dei conta de que não havíamos comido nada.

— Podemos voltar?

— Claro. — Ele se levantou num pulo e me puxou para fora da cama.

Dessa vez, ao descermos a escada não voltamos pelo corredor estreito que havíamos entrado. Caminhamos por uma ampla sala, que tinha uma espécie de túnel, que desembocava nas raízes do Salgueiro Lutador. James imobilizou os largos galhos da árvore para que pudéssemos passar e tive um momento de epifania.

— Foi assim que você salvou Severus.

Ele assentiu.

O sol estava se pondo, atrás do Lago Negro e céu estava pintado em tons alaranjados. Admirei aquele pôr-do-sol e desejei ter uma máquina fotográfica comigo.

Caminhamos para o salão comunal da Grifinória e, durante o trajeto, notei alguns olhares e cochichos.

— Acho que todos já sabem do que aconteceu. — falei, sentindo-me nauseada.

— Não podia ser diferente. — James respondeu. — Toda Hogwarts estava lá.

Choraminguei.

— Aí está a encrenqueira! — Alice falou no momento em que adentrei o salão.

— Soube que você deu uma surra naquela pentelha! — Marlene comentou e simulou uma luta de socos.

— Não foi nada disso. — Tentei minimizar a repercussão do assunto.

Mas antes que alguém pudesse fazer um comentário, Sirius caminhou até mim.

— Precisamos conversar.

Soltei a mão de James e respirei fundo. Pedi para que ele me acompanhasse até o dormitório dos Monitores-Chefe. Empurrei a porta e permiti que Sirius passasse.

— Isso não foi nada sutil. — falei, assim que fechei a porta.

— Você não pode me evitar para sempre. — Ele disse, antes de se sentar sobre a mesa central que ficava na sala de estar do cômodo.

— Como você soube que Vol...Você-Sabe-Quem queria que eu me juntasse a ele? — perguntei.

— Eu simplesmente sei. — ele afirmou, evitando dar maiores explicações.  

— Eu não tenho muita escolha, não é mesmo? — falei, esperando que talvez ele me convencesse do contrário.

Sirius me observou por alguns segundos antes de dizer algo.

— Não foi culpa sua... O acidente de seus pais. — Ele disse, encarando-me e eu desviei o olhar, sentindo-me vulnerável.

— Eu poderia ter evitado.

— Isso não é verdade. — Ele afirmou com veemência e eu me perguntei como Sirius se mantinha tão informado. — Voldemort iria atacar seus pais de qualquer maneira e ele faria isso como uma forma de exterminar sua linhagem suja. Desculpe-me por isso. — Sirius não foi capaz de me olhar ao dizer aquilo. — Mas ele quer que você se martirize pela morte de seus pais.

— Só de pensar que existia uma chance, ainda que fosse pequena, de salvá-los... Eu me sinto péssima. — desabafei. — E não posso falar sobre a morte dos meus pais com ninguém, pois não há como explicar o que realmente aconteceu. Como posso explicar que o acidente foi uma retaliação por não ter me juntado a Voldemort?

— Você não pode, ninguém pode saber.

— Sabe o que é mais doloroso? Não tenho nenhuma outra opção além de me juntar a ele e isso significa que talvez meus pais pudessem ter sido poupados.

— Sei que deve ser fodidamente doloroso, Lily, mas também sei que se seus pais soubessem da situação, eles teriam dito para você resistir, ainda que isso demandasse um sacrifício por parte deles.

— Não há como resistir, não vou permitir que a vida de outras pessoas esteja em risco.

 — Então, você pretende se juntar a ele. —Sirius disse baixinho.

— Pretendo me infiltrar e conseguir informações. — falei, pela primeira vez. —E sei que você pode me ajudar.

— James vai acabar com a minha raça. — ele falou para si mesmo.

— Por favor, Sirius. Você sabe que não tenho outra alternativa.

Ele assentiu.

— Não acho justo que você tenha que passar por isso, mas entendo sua posição e vou ajudá-la. Mas, Lily, não há espaços para erros nem para hesitação, se Voldemort desconfiar minimamente, estaremos perdidos.

Em seus olhos percebi que Sirius faria a mesma coisa. Sem pensar duas vezes.

— Ninguém pode saber disso. — eu afirmei rígida.

— Ninguém pode saber disso. — ele repetiu. —Vamos começar...

Sirius conjurou um pergaminho e começou a rabiscar vários nomes em diferentes níveis da folha. Ele explicou, superficialmente, como funcionava a hierarquia dos seguidores e como era a personalidade de cada um. Vi o nome de Bellatrix no topo da hierarquia e suspirei.

— Ela é...

— Uma das mais fiéis seguidoras, se não a mais fiel. — ele explicou, sem demonstrar qualquer emoção.

— Você vai ser novata e é nascida trouxa, ou seja, todos esses caras vão ser duros com você. Mas você é a peça nova de Voldemort e, levando em conta sua origem, é muito importante para ele, o que significa que você receberá uma atenção diferenciada. Isso fará com que você seja ainda mais rejeitada pelo grupo.

— Certo.

— O seu trabalho é não se deixar levar pelo que os outros vão pensar. Mostre que está acima deles, isso irá deixá-los mais enfurecidos.

— Devo me aproximar de algum deles?

— Talvez você consiga algo de Mulciber. Ele pode ser assustador, mas é tapado.

 Soltei uma risadinha ao lembrar de Mulciber no Halloween, vestido de trol.

— O importante agora é você se candidatar.

— Avisarei Avery antes de deixar o castelo para o Natal.

— Haverá a iniciação e nessa ocasião você vai estar cara a cara com Voldemort. Você vai precisar se transformar em outra pessoa quando estiver sob disfarce, Lily.

— Como vou fazer isso?

— Você precisa encontrar o que está te motivando e, quando encontrar, deve se agarrar a isso com toda a sua força de vontade.

— Posso fazer isso. — afirmei, sentindo-me segura.

— Em relação a Marca Negra, precisamos criar um plano. — Torci o nariz ao ouvir aquele nome.

— Isso vai ser um problema. — falei.

Analisei o pergaminho com rabiscos e instruções de Sirius. Olhei preocupada para ele.

— E se eu não conseguir?

— Você vai conseguir.

— Enganar o maior bruxo das trevas não é exatamente uma tarefa fácil. — eu disse, sentindo-me desolada.

— Você tem que conseguir.

Minha tarefa não seria nada fácil e não sabia se daria conta. Como conseguiria a confiança de Voldemort? Como conseguiria me infiltrar aos seus seguidores? Parecia impossível.

Sirius apertou meu ombro com firmeza e sorriu.

— Vai dar tudo certo. — ele soou encorajador. — Diremos a eles que estávamos conversando sobre minha prima e o ataque de hoje. Eu estava preocupado, pois sei o quanto Bellatrix é desequilibrada e você se sentiu mais à vontade em conversar comigo.

Assenti.

— Alguém mais sabe disso? — ele perguntou.

— As meninas sabem que Voldemort quer me recrutar.

— Você não pode contar a elas sobre o seu plano.

— Eu sei que não.

Ele se levantou e eu segurei uma de suas mãos.

— Obrigada.

— Disponha. — ele sorriu.

— Sirius, por que você saiu de casa?

James

Já fazia tempo que Lily e Sirius estavam conversando e a cada minuto eu ficava mais curioso. Balançava minha perna nervosamente, aguardando os dois retornarem. Olhava constantemente para o relógio e suspirava de frustração ao ver que os minutos demoravam a se passar.

— Pontas, você pode parar com isso? — Aluado perguntou sem tirar os olhos de seu livro. — Estou tentando me concentrar.

— O que será que eles estão conversando?

— Se fosse para você saber, eles tinham te chamado também. — Peter deu de ombros e eu o encarei seco.

— Obrigada pela ajuda, gênio.

— Primeiro um grupo de Comensais da Morte nos ataca durante as férias, a partir daí, Avery e Mulciber ficam no pé da Lily, sempre querendo conversar. Depois, o ataque de Voldemort ao vilarejo trouxa em que os pais de Lily moravam. Isso tudo é muito estranho, vocês não acham? — perguntei aflito.

Não podiam ser apenas coincidências. Peter arregalou os olhos e não disse nada, Remus, por outro lado, havia fechado seu livro. Seu cenho estava franzido e podia ver que ele buscava alguma resposta lógica para tudo aquilo.

— Você não acha que...

— Você-Sabe-Quem estaria...

Remus me encarou preocupado e descobri que ele estava pensando a mesma coisa que eu.

— Não, não pode ser.

— Não pode ser o que? — Peter perguntou perdido.

— Nós achamos que... — Remus estava a ponto de responder, quando Sirius se juntou a nós.

— Uma partida de xadrez, meu chapa? — Sirius perguntou para Remus, que não respondeu.

— Cadê a Lily? — Peter perguntou, procurando-a com os olhos. — Queria saber mais sobre o duelo.

— Acho que foi comer algo.

— E não me chamou? — Peter falou, sentindo-se ofendido.

— Não vai nos explicar o que aconteceu lá dentro? — perguntei.

Sirius se jogou em uma das poltronas, mostrando-se entediado com o rumo daquela conversa.

— Se você quer saber, Pontas, nós nos beijamos.

— Sirius. — Remus o advertiu.

— E, Merlin, aquela ruiva sabe beijar! —Sirius continuou.

— Muito engraçado. — Soltei uma risada histérica. — Vamos ver se você vai conseguir beijar alguém se não tiver mais dentes na boca.

— Acalme-se, meu chapa, não foi nada demais. Conversamos sobre a briga dela com minha digníssima prima. Eu sei o quanto ela é perturbada – acho que é de família – e Lily se sentiu confortável para falar comigo sobre o assunto.

— Você é um idiota. — falei, antes de deixar o salão comunal.

Algo estava acontecendo com Lily e ela escolhera falar com Sirius.

Ao chegar ao Salão Principal, avistei Lily, uma das poucas pessoas que jantava. Sentei-me ao seu lado e um prato se materializou em minha frente.

— Conversar com Sirius te fez bem? — perguntei, tentando manter um tom de voz casual.

— Sim. Ele me convenceu de que Bellatrix é uma lunática e que eu não devo perder tempo me preocupando com ela.

 — Que ótimo, Lily. Que ótimo.

— Você está bem? — ela perguntou desconfiada.

— Não podia estar melhor.

Por um momento, ela me analisou, mas não persistiu no assunto.

Acordei com o toque ensurdecedor do despertador e bufei ao perceber o quão cansado estava. Fui até o banheiro e tomei um banho, a fim de me acalmar. Hoje era dia de Quadribol e precisava estar na minha melhor forma.

No Salão Principal, encontrei Lily, que estava um pouco afastada de nossos amigos, lendo o Profeta Diário daquele dia.

— Bom dia. — Beijei o topo de sua cabeça e sentei-me ao seu lado. — Como você está?

— Bem, e você? — ela falou, antes de levar mais uma colherada de cereal até sua boca.

Assenti e ela sorriu. Notei que seus olhos estavam inchados e o costumeiro brilho esverdeado não estava ali.

Suspirei. Ela estava passando por um momento ruim, o que ela menos precisava era uma briga.

— Preparado para o jogo? — ela perguntou, demonstrando animação. — Vou estar na arquibancada torcendo muito por você.

— Agora estou tranquilo. — respondi, e ela me deu um beijo estalado na bochecha.

— Escuta, obrigada por ter me dado espaço ontem. — ela disse baixinho. — Você está sendo maravilhoso.

— Eu sei que você não está bem e eu não quero te ver assim, Lily, mas eu não tenho ideia do que está acontecendo e você continua me deixando de fora.

Seus olhos se arregalaram e ela se afastou de mim.

— São questões pessoais. — ela disse de maneira defensiva.

— Você pode conversar comigo sobre suas questões pessoais, eu estou aqui para te ajudar.

Lily fechou os olhos e eu respirei fundo.

— James, por favor, eu não quero brigar. — ela sussurrou e eu me levantei da mesa, sentindo-me frustrado.

Ao chegar ao campo de Quadribol, senti meu corpo relaxar. Eu sabia que a partir do momento em que montasse em minha vassoura, deixaria qualquer problema para trás.

Do vestiário, consegui ver as arquibancadas se enchendo. Conforme o jogo se aproximava, minha confiança aumentava.

— Sejam bem-vindos, senhoras e senhores, a mais um jogo de Quadribol de Hogwarts! Hoje teremos uma grande disputa: Grifinória vs. Lufa-lufa. O time dourado e vermelho está na liderança do campeonato e, se vencer hoje, garante a liderança por mais uma rodada. Alguns alunos da Sonserina se juntam a torcida da Lufa-lufa e o jogo já vai começar! — McLean era o locutor de todas as partidas de Quadribol de Hogwarts e ele não escondia seu favoritismo pelo time da Grifinória – exceto quando o jogo era contra a Lufa-lufa, como era o caso. — Os jogadores se posicionam e a Goles é lançada!  

Vencíamos por 60 pontos e o time da Lufa-lufa tinha dificuldades em manter a Goles e fazer jogadas.

 — Será que Howle avistou o pomo dourado? Tudo indica que sim! A pergunta que não quer calar é: o que a Grifinória vai fazer sobre isso? McGomery toma iniciativa e entra na perseguição ao pomo.

Apertei meus olhos e avistei o rastro dourado. Continuei a seguir o rastro dourado, mas percebi que Howle estava perdido e voei até McGomery, para orientá-lo.

— Howle reduz a velocidade e procura pelo pomo. Potter e McGomery montam uma nova estratégia e, num piscar de olhos, o apanhador da Grifinória acelera pelo campo. Merlin! Howle, faça alguma coisa! — McLean levou uma bronca da professora McGonagall e pediu desculpas. — McGomery avança para a esquerda e mergulha, mas vejam isso! McGomery estava blefando. O grifinório voa para o outro lado do campo e Howle não consegue acompanhá-lo. McGomery faz um loop no ar e exibe o pomo de ouro. SENHORAS E SENHORES, GRIFINÓRIA VENCEU!

Desci para o campo e parabenizei McGomery pela captura fenomenal do pomo de ouro. O time da Grifinória foi ovacionado e de lá fomos para o salão comunal, onde comemoramos mais uma vitória.

— Parabéns, capitão! — Lily pulou em minhas costas assim que cheguei ao salão comunal. — Mais um excelente jogo. — Ela comentou, depois de pular para o chão. Suas bochechas estavam rosadas devido ao frio, mas duas listras, uma dourada e outra vermelha, se sobressaíam.

— Obrigada, Lily.

Eu a beijei.

— Podemos ir lá fora rapidinho? — ela perguntou, mordiscando o lábio inferior. Ela estava nervosa.

Assenti e a acompanhei para fora do salão comunal. Ela parou de repente e pigarreou.

— Sei que parece que estou escondendo coisas de você e por isso você está chateado comigo, mas não é por maldade.

— Eu sei que não é por mal. — afirmei. — Mas não entendo o porquê de você não querer conversar comigo sobre as coisas que você está passando. Não entendo... Você não confia em mim? É isso?

Ela negou.

— Então, não faz o menor sentido! Você me deixa completamente no escuro, mas conta tudo para Sirius? — esbravejei, e ela se encolheu.

— Sirius está me ajudando. — ela sussurrou.

— Bom, eu também quero te ajudar! Sei que você está passando por um momento difícil e estou aqui por você. Merlin, você é minha namorada, Lily!

— Namorada? — ela perguntou com o rosto iluminado.

— Droga! — Passei a mão por meus fios e respirei fundo. — Eu estava planejando algo legal para fazer o pedido.

Ela sorriu e se aproximou de mim.

— Eu te devo desculpas. — Ela suspirou e apoiou seus braços ao redor do meu pescoço, fazendo com que eu me esquecesse, momentaneamente, do motivo de toda a minha frustração. — Você tem sido totalmente companheiro e atencioso comigo e eu não estou te dando retorno, eu sei. Preciso que você entenda meu lado, eu confio cem por cento em você, mas prefiro não te envolver em certos assuntos, porque eu optei assim. — ela disse doce. —Você não precisa ter ciúmes...

— Quem disse alguma coisa sobre ciúmes? — Cruzei meus braços e ela soltou uma risadinha, antes de beijar meu pescoço.

Golpe baixíssimo, Lily Evans!

— Não fica bravo comigo. — ela sussurrou em minha orelha enquanto uma de suas mãos afagava meu cabelo.

— Eu não estou bravo.

— Está.

— Estou chateado, mas como você disse, é uma opção sua. — falei, com um tom carregado de rancor.

— Eu optei dessa maneira, porque acho que é melhor para você.

— Como você sabe se é melhor ou não para mim, se você não conversa comigo a respeito.

— Eu simplesmente sei. — Ela se afastou completamente e eu desejei ter ela perto de mim novamente. — Você acha que eu gosto disso? Você está distante e eu odeio isso. Eu sei que está chateado com tudo isso, mas é melhor assim.

— Em um relacionamento, Lily, não se pode decidir algo levando em conta apenas um dos lados. É preciso diálogo, o que não acontece entre a gente.

Ela me encarou ressentida e me empurrou para longe.

— Por que você está fazendo isso?!

Ela tentou me empurrar mais uma vez, mas eu a interrompi, segurando seus dois braços. Seus olhos se encheram de lágrimas e suspirei, odiando cada minuto daquela briga.

Afastei-me dela, caminhando de volta para o salão comunal. Por mais que eu soubesse que ela estava frágil, Lily estava me magoando e eu não podia ficar perto dela naquele momento.


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Notas finais do capítulo

Esse foi um dos meus capítulos preferidos. Espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu!

Bjs,
M.



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