É Evans, Potter! escrita por Anchorage


Capítulo 11
A perda


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, queridxssssss!!



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Lily

Acordei no dia seguinte com uma forte dor de cabeça, a noite havia sido péssima, tive uma série de pesadelos que eu não consegui compreender e, de tempos em tempos, eu acordava sobressaltada e ofegante.

Tomei um banho rápido e desci apressada para tomar o café da manhã. Quando cheguei ao salão comunal da Grifinória, vi Sirius sentado em uma poltrona, com os olhos perdidos, o queixo apoiado em uma de suas mãos e a testa um pouco franzida.

– Sirius? – Eu me aproximei forçando-o a sair de seus devaneios.

– Ah, Lils, era com você que eu queria falar! – Ele me olhou intensamente e eu assenti.

– É sobre ontem. – Ele franziu a testa e eu engoli em seco. – O que eles queriam com você?

Eu o encarei preocupada e fiquei em silêncio por alguns minutos. Desviei meu olhar para meus pés e senti minhas bochechas corarem.

– Eu não vou deixar isso de lado, Lily.

– Olha, Sirius, eu tenho tudo sobre controle, ok? Não era nada demais. Agradeço sua preocupação, mas não se incomode comigo. – Eu falei diplomaticamente e sorri, ele me analisou com o olhar e coçou o queixo.

– Lily, eu conheço Avery e Mulciber, não são pessoas do bem. Se você conversar comigo, eu posso te ajudar.

– Não, não pode. Você não entenderia!

– Eu não entenderia? Você sabe muito bem que se tem uma pessoa neste castelo que te entenderia, essa pessoa sou eu!

– Então você sabe do que se trata? – Ele assentiu e eu fiquei boquiaberta. – Eu não quero falar sobre isso.

– Não posso te obrigar a conversar comigo, Lily, eu só estou tentando te ajudar. – Ele fez uma pausa e me encarou. – Eu sei que no dia do ataque, eles estavam atrás de você. Sei que Voldemort quer te recrutar.

– Você está enganado. – Menti e senti meu coração acelerar como um louco em meu peito. Sirius me observava de modo compreensivo e isso me deixava ainda mais nervosa. Eu tinha plena noção de que ele me entenderia melhor que ninguém, mas eu não queria envolvê-lo.

– Certo, Lily. – Ele colocou as mãos em seus bolsos e deixou o salão.

Meu estômago se embrulhou e optei por não comer nada. Evitei o Salão Principal e caminhei pelos jardins de Hogwarts. Minha cabeça latejava pela falta de sono e pelo incômodo constante que eu sentia.

– Lily. – Snape se aproximou silenciosamente.

– O que você quer?

– Conversar.

– Dispenso. – Eu disse sem encará-lo.

– Você não está considerando a proposta, está? – Suspirei fundo e deixei que meus ombros caíssem.

– Não é da sua conta.

– Você está considerando ou não? – Ele sibilou.

– O que você acha, Snape?

– Eu esperava que não, mas acho que me enganei. – Ele bufou. – A Lily que eu conhecia jamais pensaria em aceitar uma proposta como essa! – Continuei a observar meus pés, como se eles fossem extremamente importantes, e não disse nada. Ele rosnou e me deu as costas.

Caminhava pelo castelo, tentando evitar todos que pudessem me fazer perguntas as quais eu não queria responder, quando ouvi o sinal, indicando que as aulas começariam e eu precisava buscar meu material.

Saindo do salão comunal da Grifinória, avistei meus amigos e quando James fez menção de vir até mim, segui na direção oposta. Sabia que não poderia evitá-los para sempre, mas queria ficar sozinha.

– Lily, o que Snape queria? – Alice, que era minha companheira de Poções, perguntou em meu ouvido durante a aula. Dei de ombros e comecei a preparar nossa Poção para Confundir.

– Sentimos sua falta no café. – Emmeline sussurrou e eu sorri sem graça.

xx

– Atenção, por favor. Os alunos que estão participando do Campeonato de Feitiços devem se encaminhar até a sala 112 às 17 horas. Os duelos ocorrerão nesta sala. – O professor de feitiços, Sr. Flitwick, anunciou pelo alto-falante. Com tanta coisa na cabeça, havia me esquecido da competição. Aproximei-me de Remus e me apoiei em sua mesa. Ele era o único que parecia disposto a conversar comigo normalmente.

– Remy, você poderia treinar comigo? – Eu sorri.

– Claro.

Após o almoço, Remus me acompanhou até uma sala vazia, onde treinamos feitiços por algumas horas.

– É impossível te derrotar, Lily. – Ele sorriu com as mãos apoiadas em seus joelhos. Um leve sorriso brotou em meus lábios. Eu agradecia todo dia por ter alguém como Remus em minha vida.

– Quem me dera...Os outros competidores são ótimos.

– Bom, eu sou o melhor em duelos dessa escola e eu não consegui te derrotar. Logo... – Ele sorriu abertamente e eu revirei os olhos.

– Você é realmente muito bom, deveria ter se inscrito no Campeonato. Mas você não duraria muito, porque eu te derrotaria de olhos fechados e isso seria uma pena. – Eu provoquei divertida.

– Você tem razão. – Ele sorriu marotamente. – Petrificus Tottalus! – Ele conjurou e, por pouco, consegui desviar.

– Lupin, isso é contra as regras. – Eu disse gargalhando enquanto ele corria de um lado pro outro gritando que eu não conseguiria acertá-lo.

Voltamos para o salão comunal a tempo de trocar minhas vestes e seguir para a sala de competições.

– Boa sorte, Lils. Estarei torcendo por você. – James me acompanhou até a sala em que ocorreriam os duelos e beijou a ponta do meu nariz.

O Campeonato de Feitiços era exclusivo para alunos do sétimo ano. Ao final do torneio, o vencedor de Hogwarts duelaria com vencedores de outras escolas de magia. Se vencesse o duelo de hoje, eu passaria para a semifinal.

– Atenção! Os duelos estão para começar. Edgar Bones e Hector Stebbins, Lily Evans e Lucinda Talkalot, Bertha Jorkins e Caradoc Dearborn, Patrick Mulciber e Hestia Jones. – O professor anunciou.

Edgar Bones e Bertha Jorkins eram da Lufa-lufa, Caradoc Dearborn era da Grifinória assim como eu, Lucinda Talkalot e Patrick Mulciber, da Sonserina e Hector Stebbins e Hestia Jones eram da Corvinal.

Peguei minha varinha e caminhei até a plataforma em que eu e Lucinda duelaríamos. Ela poderia não ser a melhor competidora, mas seu corpo robusto e feições rígidas me deixavam nervosa. Lucinda me olhou com desgosto e eu apenas respirei fundo, ela não iria me afetar.

Nós nos cumprimentamos e o duelo começou.

Ela lançava feitiços sem parar e eu conseguia desviar e acertá-la com facilidade. Ela não tinha uma estratégia, seu objetivo era assustar o oponente devido aos inúmeros feitiços que lançava, mas assim que percebi que ela não tinha mobilidade, mantive um movimento constante, desviando de feitiços que não conseguiria bloquear. Por fim, consegui desarmá-la e a petrifiquei.

Os ajudantes do professor retiraram o corpo petrificado de Georgina da plataforma e reverteram o feitiço. O professor Flitwick se aproximou e me aplaudiu.

– Esplêndido, Evans! Que agilidade! – Ele sorriu e chacoalhou minha mão.

Olhei ao redor da sala, Caradoc havia vencido e Edgar também. Mulciber e Hestia ainda estavam duelando. Após um belo golpe, Hestia o derrotou.

– Parabéns aos vencedores! E aos que não conseguiram passar para a próxima fase, não se sintam mal, vocês também são vencedores. – Uma série de aplausos se seguiu e o professor sorriu satisfeito. – Agora vamos ao sorteio para as próximas duplas!

Eu e os outros semifinalistas nos reunimos em uma roda e o professor estendeu um saco de veludo.

– Dentro desta saca estão quatro pergaminhos com os nomes de vocês, algum de vocês vai sortear as próximas duplas. Quando o competidor colocar a mão para dentro, automaticamente o pergaminho com o nome desse competidor irá desaparecer. Quem vai ser o voluntário?

Os três me olharam e eu sorri. Enfiei minha mão no saquinho um pouco receosa e encontrei três rolinhos no fundo. Escolhi um, desenrolei o pedaço de pergaminho e anunciei em voz alta.

– Edgar Bones.

– Pronto! As próximas duplas serão: Evans e Bones, Dearborn e Jones.

Cumprimentei Caradoc e Hestia e caminhei até Edgar. Nós costumávamos a estudar juntos e ele era tão simpático e gentil que conseguia fazer amigos de uma hora para outra.

– Então, Lily, nós dois na semifinal! – Ele sorriu animado.

– Pois é! Consegue acreditar?

– Não quero me gabar, mas nós somos os melhores. – Ele sussurrou e nós caímos na gargalhada.

– Achei que você não queria se gabar...

– Eu digo isso para não parecer muito esnobe. – Ele piscou.

Edgar me acompanhou até o salão comunal da Grifinória e nos despedimos em frente ao quadro da Mulher Gorda. Esperei ele se afastar um pouco e sussurrei a senha.

– Como vai a vencedora? – Emm perguntou risonha.

– Estou na semifinal! – Eu respondi animada. James me pegou no colo e me girou no ar.

– James! – Eu gritei um pouco histérica, fazendo com que olhares curiosos se fixassem em mim.

– Quem é a próxima vítima? – Remus perguntou risonho.

– Edgar Bones. Lufa-lufa.

– Ele é legal, sempre me ajuda com Poções. – Peter comentou.

xx

Subi até o dormitório para me aprontar para o jantar e quando eu estava terminando de arrumar minha gravata, ouvi batidas na porta.

– Posso entrar? – James perguntou e eu abri a porta.

– Como você está? – Ele sorriu com as mãos no portal.

– Muito cansada e você?

– Estou bem, mas estou preocupado. – Arregalei os olhos. Será que Sirius havia contado para ele?

– Com o que, James? – Perguntei baixinho.

– Com a minha saúde, não sei se vou sobreviver...

– O quê?

– Você só me deu um beijo hoje. Isso está bem abaixo da quantidade necessária de beijos. – Ele sorriu torto e senti meu coração disparar.

– Não acredito. – Eu ri.

– Você vai passar o Natal lá em casa, não vai?

– Sim! A resposta de meus pais chegou hoje pelo correio. – Eu o beijei.

– Todos já confirmaram, exceto...

– Deixe-me adivinhar...Marlene! Digamos que ela não está exatamente efusiva em passar o feriado perto de Sirius. – Eu entrelacei meus braços ao redor de seu pescoço.

– Foi o que eu imaginei. – Ele deu de ombros. – E o duelo? Quero detalhes.

– Foi ótimo! A Lucinda não tinha uma estratégia, ela disparava feitiços loucamente, então eu desviei da maioria e ataquei de um outro ângulo. – Ele assentiu e nós começamos a conversar sobre duelos.

– Você lembra do campeonato do ano passado?

– Sim, aquele foi um dos melhores. Eu fiquei feliz pela vitória do Max, estava torcendo para ele.

Ficamos conversando até minha barriga roncar e então caminhamos de mãos entrelaçadas até o Salão Principal.

– Um brinde a nossa semifinalista: Lily Evans! – Sirius levantou sua taça e nós brindamos.

Após o jantar, fomos sorrateiramente para a Torre de Astronomia e bebemos alguns goles de uísque de fogo. Já era bem tarde quando voltamos para o salão comunal da Grifinória e James e eu ficamos sentados em um dos sofás conversando.

– Depois de assistir aquele jogo no estádio, falei pros meus pais que queria ser um voador. – Eu ri e fiz carinho nas costas da mão dele.

– Você é um excelente voador. – Eu acrescentei e ele gargalhou.

xx

Dezembro passou voando e a neve acumulava-se, cada vez mais, no chão. Eu já podia sentir o clima natalino se instalando em Hogwarts. O Salão Principal começava a ser decorado e eu, James, Remus e Marlene estávamos terminando o pergaminho sobre a Poção do Envelhecimento que Slughorn havia pedido.

– Eu não sei mais o que falar sobre essa poção e faltam 4 centímetros! – Marlene disse entediada. Sentei-me ao seu lado e a ajudei a concluir o trabalho.

Um trovão chicoteou as paredes do Salão Principal e um silêncio tomou conta do ambiente. Uma forte nevasca começou e mais trovões se seguiram. Olhei desconfiada para o céu, nuvens pretas estavam espalhadas por toda parte. Eu e Marlene nos entreolhamos, mas logo desviamos os olhares, assustadas.

– Que tal irmos para o salão comunal? – Remus sugeriu reunindo seus materiais. James assentiu e eu senti meu coração vacilar. Levantei-me com uma dor no peito e segui meus amigos.

– Srta. Evans! – McGonagall caminhou em minha direção com os olhos marejados. – Preciso que você me acompanhe, por favor.

Olhei para meus amigos que estavam um pouco afastados, Marlene tinha uma expressão confusa e notei que Sirius havia se juntado a eles e me encarava com o cenho franzido.

Segui a professora Minerva até a sala de Dumbledore, o diretor me aguardava sentado em sua mesa. Sentei-me e o observei aflita, minhas mãos tremiam e eu sentia que a qualquer momento eu começaria a chorar.

– Srta. Evans, as notícias que tenho não são boas. – Ele suspirou pesarosamente. – Houve um ataque de Voldemort à um vilarejo trouxa.

Minha boca se entreabriu e minha garganta se fechou.

– Eu não vejo outra maneira para dizer isso, Lily, mas seus pais não resistiram. – Ele fechou os olhos por um instante e eu senti as lágrimas silenciosas desceram por meu rosto.

– Isso n-não é possível... – Eu sussurrei desesperada.

– Eu sinto muito, Srta. Evans. Não existem palavras que possam te reconfortar em um momento como esse, não existe remédio para curar a sua dor, para encobrir o vazio, mas você deve se lembrar de que sempre haverá luz em seu caminho.

Dumbledore me deu tapinhas nas costas e sorriu triste. Sequei minhas lágrimas e assenti.

– O velório e sepultamento ocorrerão amanhã, Srta. Evans. Hagrid estará a sua disposição para levá-la e trazê-la de volta ao castelo. – McGonagall disse baixinho. – Vocês partem logo cedo.

Dumbledore pigarreou e a professora se calou.

– Você talvez possa precisar de mais alguns dias, Srta. Evans. Hagrid protegerá sua casa com uma série de feitiços e você poderá ficar por lá. Sua irmã já foi informada do ocorrido e está te esperando. Vocês acharão conforto uma na outra.

– Muito obrigada, diretor. – Minha voz mal saiu. Levantei-me e saí da sala do diretor.

Senti minhas entranhas se comprimirem e corri até o banheiro mais próximo, o vômito logo veio e senti meu corpo tremer. Eu estava suando frio e vomitei novamente. Continuei sentada no chão, de frente para o vaso sanitário, enquanto respirava fundo esperando a náusea passar. As lágrimas caíam sequencialmente e meus soluços ecoavam pelo banheiro vazio.

Eu não tinha ideia de que horas eram, mas minha barriga roncava em protesto pela quantidade longa de tempo sem comida. Respirei fundo e tomei coragem para sair do box. Lavei meu rosto e dei uma boa olhada no espelho. Meus olhos estavam inchados e meu nariz vermelho, respirei fundo e saí pelo corredor.

Caminhei lentamente pelos corredores até chegar a entrada da cozinha de Hogwarts. Sim, era proibido, mas eu era monitora e, hoje eu tinha passe livre para evitar o Salão Principal e fazer uma boquinha na cozinha.

– Boa noite. – Eu funguei quando entrei na imensa cozinha branca de Hogwarts. Vários elfos domésticos corriam de um lado para o outro, até que o menorzinho correu até minha direção e sorriu.

– Posso ajudá-la, Srta...?

– Lily. – Funguei novamente e sorri. – Você poderia me servir uma sopa? – Ele assentiu e correu até o fogão, pegou uma concha e serviu em um prato fundo.

– E para beber, Srta. Lily? – Ele colocou o prato sobre um balcão e puxou o banco para que eu me sentasse. Pensei em pedir uma dose de uísque de fogo, mas não seria exatamente apropriado.

– Suco de abóbora está ótimo. – Ele sumiu mais uma vez e logo voltou com um copo cheio.

Agradeci inúmeras vezes pela gentileza do pequeno elfo e me retirei. Passei perto do Salão Principal e pude ouvir murmúrios, estava na hora do jantar. Corri até o salão comunal e fui direto para meu dormitório.

Tomei um banho quente e me enrolei em minhas cobertas. As lágrimas salgavam minha boca enquanto o porta-retrato que continha uma foto minha com meus pais jazia em meus braços.

xx

Era um dia ensolarado, eu e Petúnia brincávamos de boneca no jardim. Minha mãe chamou nossos nomes e nós corremos para dentro da casa. Era hora do almoço. Assim que entrei vi meu pai com o jornal estendido sobre o rosto e minha mãe terminando de colocar a mesa. Corri até ela e abracei sua cintura. Sorri quando minha mãe me abraçou com força e meu pai acenou com o sorriso que apenas ele tinha, era o tipo de sorriso que fazia você se sentir confortável. Comemos em meio à risadas e tudo parecia bem. Estávamos seguros e felizes, não havia qualquer ameaça ou qualquer preocupação.

Sem mais nem menos, o céu escureceu, nuvens cinzas cobriram o sol que antes estava radiante, trovoadas ricocheteavam lá fora e as janelas batiam devido a forte ventania que havia começado. Fui até a cozinha para fechar uma janela que estava aberta e quando retornei à sala meu coração acelerou e as lágrimas brotaram em meus olhos. Meu pai e minha mãe estavam caídos ao chão, com os olhos arregalados e expressões assustadas. Ajoelhei-me ao lado deles e chorei desesperadamente.

– Mãe? – Eu segurei a mão dela. – Pai? – Sacudi seus ombros. Não obtive resposta. Continuei a chamá-los incessantemente até que uma risada fria preencheu meus ouvidos.

– Pobre, Lily. É realmente uma pena que isso tenha acontecido... – Voldemort estava parado na soleira de minha porta, varinha nas mãos e um sorriso irônico. – Não acredito que tivemos que chegar a esse ponto, minha querida. Nada disso era necessário. – Ele apontou para meus pais e suspirou. – É uma pena mesmo, mas é a vida. Aconteceria mais cedo ou mais tarde. – Ele deu de ombros e caminhou até mim.

– Você não tinha o direito! – Minha voz saiu baixa. – Não tinha.

– Ora, ora, Lily, não fique assim. Você optou por isso, você não cooperou comigo.

– Saia de minha casa! – Eu gritei furiosa.

– Onde estão os modos, Evans? – Bellatrix apareceu por trás de Voldemort rindo. Ele a censurou com o olhar e o sorriso debochado sumiu de seu rosto.

– Nós dois sabemos que o melhor que você pode fazer é se juntar a mim. É um futuro promissor, sabia? Você é uma bruxa poderosa, Lily, você é exatamente o que eu estou procurando.

– Eu já dei minha resposta.

– Você não aprendeu nada, minha querida? Você será muito útil para mim. O único problema era a sua linhagem, mas nós já eliminamos seus pais, logo, isso não é mais um empecilho.

– Eu não vou me juntar a você.

– Você se importa com algumas pessoas, não se importa? – Ele movimentou a varinha e uma névoa surgiu em minha sala, os rostos de meus amigos apareceram no ar. – Pelo bem de todos, eu repensaria a decisão.

Sua risada ecoou mais uma vez e eu senti minha visão escurecer.

– POR MERLIN, LILY, ACORDE! – Marlene sacudia meus ombros com força.

Acordei assustada. Minhas amigas estavam em pé ao redor de minha cama e eu engoli em seco. Senti meu coração disparado, minha garganta completamente fechada e meu rosto molhado devido as lágrimas.

– O que aconteceu, Lils? – Alice se sentou em minha cama e secou meu rosto.

– Você sumiu o dia todo, ficamos preocupadas. Você não tomou café, comeu muito pouco no almoço e não apareceu para o jantar. – Emmeline disse preocupada. Elas não tinham ideia do que havia acontecido. Fechei os olhos e segurei as lágrimas.

– Você teve um pesadelo? – Marlene perguntou e eu me sentei em minha cama.

– Gostaria que fosse apenas um pesadelo... – Sussurrei. – Meus pais est-tão mortos.

Falei de uma vez só e pela primeira vez no dia me senti confortável em chorar freneticamente.

– Oh, Lily. – Alice me abraçou e beijou minha testa. Marlene fez carinho em minha mão enquanto falava palavras de consolo e Emm afagava meu cabelo.

– Obrigada, meninas.

Ouvimos batidas na porta e as três se entreolharam.

– Meninas, sou eu, James. – Ele falou baixinho. Alice correu até a porta e deixou James entrar. Ele me olhou preocupado e caminhou até minha cama.

– Eu acabei de receber uma carta. – Ele falou com os olhos fixos em mim.

Emmeline lançou alguns feitiços ao redor de minha cama e fechou o dorsel vermelho para nos dar privacidade. James segurou meu queixo e disse cabisbaixo.

– Eu...Eu sinto muito, Lily. – Ele me abraçou e todo o meu autocontrole foi embora. Me permiti soluçar contra o peito de James enquanto ele cantarolava uma canção de ninar para mim.

Aos poucos, adormeci novamente e dessa vez, envolta nos braços de James, não tive pesadelos.

xx

Quando o dia amanheceu bati à porta de Dumbledore, que apareceu em sua túnica roxa para abri-la.

– Bom dia, Srta. Evans. – Ele disse complacente.

– Diretor. – Não era um “bom dia”.

– Eu adoraria dizer que tudo não passou de um mal entendido, Srta. Evans. – Ele suspirou. – Bom, Hagrid irá acompanhá-la hoje. Você tem a permissão de ficar fora por alguns dias, comunique a Hagrid sua decisão.

Eu assenti e ele me acompanhou pelos corredores, ainda vazios de Hogwarts, até a cabana de Hagrid.

– Às suas ordens, Srta. Evans. – Hagrid sorriu com sua barba peluda.

– Obrigada, Hagrid. – Retribuí o sorriso.

– Quando vocês estiverem prontos! – Dumbledore sorriu e me encarou. – Meus entristecidos sentimentos, Lily. Você não merecia essa trágica situação. – Assenti e contive as lágrimas que queimavam meus olhos.

– Pronta, Srta. Evans? – Hagrid estendeu uma vassoura.

– Na verdade, não. – Falei baixinho.

Enquanto voávamos permiti que meus pensamentos voassem também. Os rostos de meus pais voltavam de tempo em tempo à minha cabeça e meu coração apertava cada vez que eu pensava nos momentos maravilhosos que passamos juntos.

Eu só queria ter tido a chance de dizer adeus.

Pousamos no quintal de minha casa. Olhei para a porta dos fundos e senti meus pés pesarem contra o chão. Eu não conseguia me mover, queria correr para o mais longe possível, pois eu sabia que quando pisasse lá dentro, toda a dor, todas as memórias, tudo ficaria ainda pior.

Petúnia estava sentada na mesa da cozinha com um lencinho branco na mão e os olhos perdidos. Eu a observei de longe com o coração partido, ela me viu e piscou confusa. Caminhou até a porta dos fundos e a abriu. Nós nos encaramos por alguns instantes até que ela correu em minha direção e me abraçou.

– Eles não podiam...Você sabe, não podiam... – Petúnia soluçava desesperada. Logo, estávamos as duas aos prantos em nosso jardim, murmurando palavras soltas que reconfortavam a dor uma da outra.

Algum tempo depois, Petúnia se separou de mim um pouco envergonhada, secou suas lágrimas com o lenço e apontou para Hagrid.

– Quem é esse?

– Hagrid, Guardião das Chaves de Hogwarts. Ele veio me acompanhar. – Eu sorri para Hagrid, que acenou para Petúnia. Ela tentou reprimir sua cara de desgosto e entrou novamente em nossa casa.

Petúnia e eu recebemos os familiares e amigos próximos que pronunciavam belos dizeres - provavelmente discursos ensaiados. Respirava fundo, como se esperasse recarregar minhas energias, a cada novo cumprimento.

O velório seria na capela do bairro em que morávamos, a pequena igreja era a apenas algumas quadras de nossa casa e, quando deu a hora, fomos caminhando até lá.

Respirei fundo e entrei pelo portal de mármore branco. Senti o ar deixar meus pulmões e o pânico me atingiu. Os corpos dos meus pais jaziam nos caixões, brancos como cera, imóveis. Acariciei a mão de meu pai uma última vez e beijei o topo da cabeça de minha mãe.

– Eu só queria ter tido a chance de dizer “adeus”. – Eu sussurrei perto deles e sorri cabisbaixa.

Chegamos ao local onde eles seriam enterrados, os caixões foram içados e cobertos. Aproximei-me da plaquinha que continha os dizeres: “Casal apaixonado. Mãe e Pai eternos.”, e coloquei lírios brancos. Pus a mão sobre os nomes deles e fechei os olhos.

Voldemort iria pagar por isso.

Quando me levantei, avistei meus amigos, um pouco afastados. Sorri e caminhei até eles.

– Obrigada por virem. – Eu disse baixinho.

Marlene, Emmeline e Alice me abraçaram e choraram junto comigo. Peter disse que gostaria de poder retirar a minha dor, Sirius me abraçou e disse que estaria sempre comigo e Remus me abraçou, sem dizer nada, o que foi o suficiente para eu desabar. Ele não precisava falar nada,apenas apoiou seu queixo em minha cabeça e afagou meu cabelo. Quando ele se separou de mim, me virei para James, que beijou a ponta de meu nariz e me envolveu em um abraço caloroso e reconfortante. Ele manteve seus braços ao redor de minha cintura até terminarem de fechar a cova. Mais flores foram colocadas e aos poucos as pessoas se dispersavam. Observei Petúnia, juntamente com seu noivo, secar os olhos com seu pequeno lenço e deixar o cemitério.

Caminhei até o túmulo de meus pais e observei novamente meus lírios e aquela plaquinha. Solucei e escondi meu rosto com as mãos. Remus segurou meu ombro e me ajudou a levantar.

– Você não merecia isso, Lils. Eu sei que é um momento difícil e que nada vai reduzir sua dor, mas você precisa ser forte, ok? Manter a cabeça erguida. Seus pais não mereciam isso, mas infelizmente, não havia nada que pudesse ser feito. E, por favor, não se culpe por essa tragédia. A culpa não foi sua. – Ele sussurrou enquanto caminhávamos de volta até minha casa.

Olhei para trás mais uma vez, senti o vento bater em meu rosto e respirei fundo. Sirius parou ao meu lado e chutou uma pedrinha.

– Aqueles que nos amam, nunca nos deixam de verdade, Lily. Lembre-se disso. – Ele sorriu e eu sorri como resposta. Mas dessa vez, o sorriso era verdadeiro.

xx

Eu havia decidido ficar em casa por mais um dia, meus amigos voltaram para Hogwarts no final da tarde e Hagrid se acomodou na sala.

Subi para meu quarto, tentando me preparar para dormir, mas vi que a luz do escritório de meu pai estava acesa. Espiei o cômodo e vi Petúnia sentada na cadeira preta que ele costumava ficar.

– Ainda não caiu a ficha para mim. – Eu disse baixinho. Petúnia não se moveu, seu olhar perdido encontrou o meu.

– Isso é culpa sua, Lily. – Ela sussurrou. – Você é uma aberração. Por que você tinha que se juntar com esse tipo de gente? Veja o que você causou a nossa família. – Ela falava perigosamente baixo, seu olhar de repulsa fez minhas entranhas se revirarem.

– Petúnia... Agora não.

– Nossos pais estão mortos e é inteiramente sua culpa. Você não percebe? A CULPA É SUA. – Ela gritou aos prantos. Saiu do escritório e desceu as escadas correndo, pegou uma pequena mala, que estava ao lado da porta e saiu, sem nem olhar para trás.

– Is-so não é verd-dade. Eu não sou culpada. – Eu solucei sentada na escada. – Eu não matei meus pais.

Hagrid se aproximou de mim, seu tronco estava curvado e estendeu um lenço azul em minha direção.

– É claro que a culpa não é sua, Lily! Não deixe que sua irmã diga tais bobagens. O que aconteceu era pra acontecer.

– Não, você não entende. Se eu tivesse...Eu poderia ter evitado isso. – Ele me analisou.

– Você não pode se culpar por algo assim, às vezes achamos que nossas ações trazem consequências irreversíveis, mas algumas coisas são inevitáveis e não cabem a nós controlar. – Absorvi as palavras de Hagrid e subi as escadas novamente.

Entrei no quarto de meus pais e adormeci por lá mesmo, enquanto chorava abraçada a um dos travesseiros.

xx


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo