Faking escrita por Linnet


Capítulo 23
Capítulo XXIII


Notas iniciais do capítulo

Moça, te amo bjao
OBRIGAAADAAA TODO MUNDO, vocês são incríveis abisakbgsarb ai que felicidade



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Minha mãe não disse nada quando o pai de Paola me levou para casa às 11 horas da manhã. Ela parecia entender que eu quisesse ficar fora um dia depois de uma festa. Subi para meu quarto e, contrariando o que eu devia fazer aos domingos (estudar), eu simplesmente capotei na cama.

Acordei milhões de vezes em resultado da minha dor de cabeça enorme. Já tinha perdido a vontade de ficar na cama depois da décima sexta. Queria falar com a minha mãe sobre o que aconteceu; acreditava que ela gostaria de saber como foi meu primeiro beijo, assim como toda mãe, ficaria animada e faria várias perguntas constrangedoras. Contudo, ela esperava que fosse um momento incrível, no estilo filme de adolescente apaixonada, e eu realmente não queria acabar com a expectativa. Pensei em inventar mais uma mentira para deixá-la feliz, mas não conseguiria mentir mais para minha mãe. Ela era muito boa para mim, sempre fazendo tudo para que eu ficasse feliz, ela era minha melhor amiga, talvez mais que Paola, e esconder algo dela era terrível. Ela não entenderia meu relacionamento com Daniel, eu não queria ter que explicar os motivos para eu continuar com aquilo. Decidi contar a verdade sobre o beijo - ela se contentaria com um beijo roubado - e guardar mais um pouco a real causa disso tudo.

Tomei um banho e me senti mil vezes melhor assim que a água tocou meu corpo. Tirei o tempo no chuveiro para pensar sobre o que estava fazendo da minha vida e cheguei a conclusão que nem eu sabia mais. Tinha que encontrar Daniel e conversar, explicar a ele o que aconteceu. Ele devia estar se perguntando onde eu estava e o que aconteceu… Ou não, Daniel era um babaca, devia estar dormindo ainda. Decidi que ligaria para ele, mesmo que tivesse um baita medo de celulares e tecnologia.

Arrumei-me e sentei na cama. Liguei o celular da maneira como foi descrita no manual. Se Daniel visse aquilo, provavelmente riria bem alto e faria por si próprio qualquer coisa que eu estivesse tentando fazer. Era estranho que eu já imaginasse o que ele faria e tínhamos tão pouco tempo de convivência. Talvez ele fosse só muito previsível…

Disquei “Amor ♥”. Como esperava, Daniel foi rápido ao atender.

— Caroline! - recebeu-me com surpresa.

— Oi… - Saiu como um suspiro.

— Onde você esteve? Eu te procurei em todo canto!

Achei engraçada a forma como ele se importava. O Daniel que eu conhecia teria ficado com todas as meninas da festa depois que eu sumisse de repente.

— Desculpe, eu… Eu queria falar com você.

— Certo, claro. Também queria falar com você.

— Você pode vir aqui agora?

— Só se você puder descer e abrir a porta. - Riu.

Fiquei confusa. Achei que ele estivesse brincando comigo até que ouvi a campainha tocar. A porta se abriu e minha mãe recebia alguém com um “Oh, que surpresa!” bastante animado.

Fui até o corrimão da escada e observei o abraço caloroso que Daniel deu em minha mãe. Minha cara ficou vermelha automaticamente. Nunca na minha vida eu imaginei que meu namorado entraria em casa e minha mãe o receberia com tamanha simpatia. Ela não recebia nem a mim daquela forma!

Daniel olhou para cima e piscou para mim. Ele não parecia mais tão previsível.

— Olha, parece que Carol ouviu a campainha.

— Filha! Achei que estivesse dormindo, eu já ia convidar Daniel para sentar um pouco comigo e conversar.

Só a ameaça de ter meu segredo exposto por uma conversa casual com minha mãe me deu enjoo. Eu nunca mais perdoaria Daniel se ele dissesse qualquer coisa que não devia.

— Mas vou deixar vocês conversarem - continuou ela. - Devem ter bastante coisa mesmo.

Minha mãe lançou-me seu olhar de “Você vai me contar bastante coisa depois”. Dei o melhor sorriso que pude naquela situação.

— Na verdade, eu queria convidar a Carol para ir almoçar comigo – Daniel anunciou. Mordi o lábio para conter a surpresa. Ele não era nada previsível.

— É claro que ela vai! Não está fazendo nada! Vá se vestir, querida, enquanto isso vamos conversar um pouco…

Minha mãe puxou Daniel pelo braço para a cozinha e ele sorriu para mim. Fiquei em pânico. Eu não tinha como saber que besteiras seriam soltas naquele lugar, fossem por parte da minha mãe ou por parte de Daniel. Minha mãe também sabia ser bastante aleatória quando queria e eu tinha certeza que ela faria tudo pra descobrir cada detalhe da nossa relação, perguntando tudo o que fosse possível, para jogar na minha cara que não contei nada pra ela.

Corri para o quarto. Quanto mais rápida eu fosse em tirar meu pijama, menos papo os dois poderiam ter e mais chances eu teria de não passar vergonha, embora o último ponto fosse bastante difícil. Pensei em todas as coisas que minha mãe poderia falar e minha alma se encolheu de vergonha. Peguei o primeiro vestido que achei, azul, tendo em mente que uma peça só de roupa me faria perder menos tempo. Peguei uma sapatilha só para não ter que pôr meias com um tênis e desci as escadas voando.

— ...gostava de usar meias diferentes e fingir que no chão tinha lava – contou minha mãe, rindo horrores.

Daniel parecia gostar da história, já que fazia questão de mostrar o quão gostosa era sua risada a cada mico que minha mãe comentava. Cocei a garganta para mostrar que eu estava ali e podia ouvir tudo. O olhar de Daniel foi parar nos meus pés, numa tentativa frustrada de flagrar meus pares de meias opostos. Cruzei os braços.

— Eu achava muito fofo! - defendi-me.

— Claro, você é muito fofa – falou ele.

Não consegui detectar sarcasmo na fala, mas um elogio vindo de Daniel nunca era só um elogio.

O garoto se levantou e veio até mim, dando-me um abraço. Fiquei completamente confusa. Eu sumo do nada, deixo-o preocupado, e ele me recebe daquela forma?

— Lava no chão? - perguntou, colocando meu cabelo para trás da orelha.

— Impossível você nunca ter imaginado isso. Lava no chão é a melhor brincadeira.

Ele riu. Olhei para minha mãe atrás dele e ela parecia muito orgulhosa. “Finalmente minha filha tem um namorado!”, era o que eu podia ver em seus olhos. Ri mentalmente dos ideais antigos e machistas da minha mãe. Se eu não quisesse um namorado, não o teria e ponto! Quando Daniel voltou seu olhar para mim, percebi que, só talvez, ter um namorado não fosse uma coisa tão ruim.

— Não vou mais os prender. Daniel já escutou coisas demais! - O sorriso perverso que surgiu no rosto de minha mãe denunciava os minutos de vergonha que passei.

— Voltarei para escutar mais. - Sorriu.

— Boa sorte no almoço, querida.

— Obrigada, mãe.

Peguei Daniel pela mão e o puxei para a porta. Não aguentaria ouvir minha mãe admitindo que estava me envergonhando de propósito. Saímos de casa e Daniel desatou a rir.

— Te odeio – rugi, revirando os olhos.

— Eu também gosto bastante de você, amor.

Entramos no carro. Daniel iria abrir a porta, mas decidi usufruir de minha independência e dar uma corridinha para abrir por mim mesma.

— Tudo bem, senhorita Posso-abrir-a-porta-eu-mesma, vá em frente.

— Com sua licença…

Tentei abrir a porta e estava trancada. Minha glória foi cortada. Isso não se faz.

— Babaca.

— Linda.

Seu sorriso era indescritível. Eu poderia passar o dia todo vendo-o sorrir. Era tranquilizante e seus lábios – eu tinha sentido – eram maravilhosos. Fiquei vermelha ao perceber que estava o encarando. Ele abriu a porta para mim em silêncio e deu a volta para entrar também. Sentei-me, obediente, e coloquei o cinto. Se eu tivesse sorte, talvez ele prenderia minha língua e eu não falaria todas as coisas que estavam presas em mim, coisas que eu tinha medo de admitir até para mim mesma.

— Para onde vamos?

— Casa da minha mãe.

Meu coração parou. Deuses. Seria um almoço em família? Mas que merda.

— Me diz que você não falou de mim pra ela – pedi.

— Não fui eu. Concordo que isso não deveria sair da escola, mas acontece que alguém nos viu juntos e decidiu contar para ela.

— Por que não disse que era qualquer uma?

— A pessoa disse que “pareciam felizes juntos, ele estava até tomando sorvete” - Fez aspas com os dedos e uma voz engraçada. Não contive o riso.

— Então não tinha como ser qualquer uma? Você não toma sorvete com as pessoas?

— Sim, tomo, mas minha mãe sabe que estou com alguém.

— Como?

— Disse a ela que ia ao teatro com você. - Sorriu. - Nunca vou ao teatro.

Fiquei quieta. Não tinha resposta. Sua mãe sabia da minha existência e eu seria apresentada para ela naquele dia. Meus batimentos cardíacos estavam no limite. Minhas mãos suavam. Nunca estive tão nervosa. Lembrei a mim mesma de que não havia motivos para ficar assim: ele era só meu namorado de mentira, nada que importasse. Mas, de verdade, eu gostava da sensação de importância e de ser única, mesmo que já tenha tido tantas, eu não podia negar que estava gostando daquilo e queria ir mais fundo. Só não esperava que fosse tão raso que eu já tinha chegado naquele ponto.

— Hm, Daniel…

— Sim?

Sentei nas minhas pernas. Por um instante quis me encolher até virar uma moeda.

— É… Eu queria me desculpar…

— Ah, ouça, eu realmente não queria te magoar – interrompeu-me. Não queria perder a liderança no meio do meu discurso, mas Daniel parecia mais certo de suas palavras do que eu. - Não sabia que era seu primeiro beijo. Na verdade, não sei como os caras não caem matando em cima de você. Acho que é porque você tem essa de ser meio nerd. - Ele sorriu com ironia e eu fui contagiada. - Você é uma menina bastante interessante, Sabe-Tudo, e eu me senti um babaca por ter estragado sua noite.

— Você não estragou – contrariei; mesmo que, sim, estragou, claro que estragou.

Ele colocou a mão perto da minha boca para calar-me.

— Deixa eu falar, detesto quando planejo a conversa e as pessoas não seguem o roteiro.

Eu ri.

— Eu sei que você só estava lá pra me deixar feliz. Sei que você tem coisas mais emocionantes pra fazer num sábado, tipo, sei lá, inequações exponenciais ou fazer maratona de filmes de mistério. E eu fiquei feliz por você ter ido comigo, não achava que fosse.

— Como sabe que gosto de filmes de mistério?

— Sua mãe contou.

— Aquela tagarela! - esbravejei.

— Está arruinando a cena! Espere sua vez.

— É a minha vez, você já terminou.

— Não terminei! Eu percebi que você só queria uma noite legal, fazer amigos, sair pela primeira vez, e eu acabei te forçando a fazer algo que não queria.

“Não podemos negar”, tive vontade de dizer.

— Então, sei que não muda, mas queria tentar outra vez.

Corei. Tentar outra vez? Naquele momento? Não consegui dizer nada.

— Agora você pode dizer, está na sua vez – estimulou com um sorriso.

— Agora não sei o que dizer. Conclua sua proposta.

— Mas é isso.

— Mas não me agrada. Não entendi.

Ele suspirou.

— Você é bem lenta, sabia?

— Eu gosto quando você diz as coisas de maneira clara.

— Eu gosto de coisas subentendidas.

— Então não reclame que sou lenta! Não dá pra entender.

— Quero ter a chance de dar seu primeiro beijo. Outra vez. Em outro momento.

Não queria que aquilo tivesse mexido comigo da forma como fez. Paola costumava dizer que, quando o coração bate mais rápido e as borboletas pousam em sua barriga, você se importa com a pessoa e pode se apaixonar. Eu não queria me importar com Daniel. Ele não era alguém por quem eu me apaixonaria, era um desmiolado cafajeste. Além disso, amar era uma coisa tão inútil para se fazer em pleno ensino médio. Era perder tempo. Eu, mais do que nunca, não queria me apaixonar. Forcei-me a ver aquela proposta de segundo primeiro beijo como uma tentativa de manter a paz e, em uma cajadada só, manter a mentira em jogo.

— Feito.

Daniel sorriu, satisfeito, e ligou o carro.


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