Faking escrita por Linnet


Capítulo 16
Capítulo XVI


Notas iniciais do capítulo

Bj migo.



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Eram 18hrs e eu esperava minha mãe me maquiar olhando meu reflexo no espelho. Eu nunca gostei do que o espelho me mostrava, mas, naquele dia, eu me sentia animada e aquilo me fez olhar para mim mesma com outros olhos.

Meu celular vibrou na cama e, como minha mãe estava na cozinha ainda, fui até lá ver o que era. Daniel, como eu já imaginava.

Amor ♥ disse: "Vc já tá arrumada? Como vc tá vestida?"

Amor ♥ disse: "Não faço ideia do que vestir"

Tirei uma foto de mim mesma e mandei para ele com a legenda "Estou assim, nada de 'arrumada'." Olhei para porta para checar se minha mãe não estava entrando no quarto e eu não tinha escutado, mas ela cantarolava lá em baixo.

Esperei por 2 minutos uma resposta.

Amor ♥ disse: "Vc fica linda de óculos."

Repreendi a mim mesma por ter enviado uma foto de óculos assim que li a mensagem. Eles já faziam parte de mim a ponto de eu esquecer que estou com eles mesmo quando estou os vendo. Eu tinha começado a usar lentes aos 13 anos para que o bullying na escola parasse, mas não funcionou muito bem. Todavia os insultos como "quatro olhos" e "cega" pararam e quanto menos insultos, menos choro. Por isso não uso óculos em público NUNCA. E agora, por ser tão idiota, eternizei meus óculos numa foto.

– Caroline, o que está fazendo? - perguntou minha mãe bem atrás de mim.

Larguei o celular no meio dos cobertores e arranquei um fio de cabelo.

– Nada, é que tinha um fio aqui e ele estava me incomodando. - Sorri.

Levantei-me e joguei-o no lixo.

– Eu pedi para esperar aqui, tenho que fazer isso rápido.

– Desculpe.

Sentei de frente para a penteadeira e deixei que ela começasse a pintura.

Depois de muito pó e uma mistura de sombras pincéis, eu estava finalmente pronta. Nunca tinha estado tão bonita na vida, se eu me visse na rua do jeito que estava provavelmente iria olhar para mim tipo "Nossa que pessoa bonita, será que ela tem noção do quão maravilhosa ela é?".

– Foi o que deu pra fazer, meu bolo de carne está queimando já. Trate de arrumar uma roupa bem bonita, não vá com esses trapos.

Mamãe saiu do quarto correndo para ir atrás do bolo de carne e eu me joguei na cama a procura do meu celular.

Eu tinha seis mensagens novas.

Amor ♥ disse: "Está pronta agora?"

Amor ♥ disse: "O que eu visto, Caroline?"

Ísis disse: "Amigaaaaa"

Ísis disse: "Não sei o que vestir"

Ísis disse: "Será que visto algo mais decotado? Ou ele vai achar que tô vulgar?"

Ísis disse: "Você sabe doq o Allan gosta, me diz!"

Pensei no que eu usaria ser fosse sair com Allan. Talvez uma camisa listrada de qualquer coisa que ambos gostássemos, um macacão com short se estivesse calor ou calça jeans e casaco se estivesse frio. Uma coisa bem normal, já que eu nunca tive que o impressionar nem mudar por ele, como Daniel exigiu que eu fizesse. Ele era o meu melhor amigo, qualquer coisa estava ótima quando eu estava com ele. Mas o que eu usaria num encontro de verdade com meu melhor amigo? Eu não fazia ideia.

Pensei no que eu ia vestir: um cropped azul marinho com uma saia de cintura alta branca. Falei com a Ísis o que eu iria vestir e ela disse que iria com alguma coisa leve também. Respondi "qualquer coisa" para Daniel. Vesti-me e prendi meu cabelo em vários coques, para que, quando eu soltasse, ele tivesse o aspecto enrolado.

Assim, às 19:40, eu estava na porta de casa, tentando me equilibrar nos meus saltos, entrando no carro de Daniel.

– Você está linda, Sabe-Tudo - elogiou-me Daniel.

Corei. Sentei-me no banco do carona morrendo de vergonha. Aquele era meu primeiro encontro, eu tinha todo o direito de estar nervosa e os elogios de Daniel não ajudavam.

– Obrigada - falei. - Você também não está nada mal.

Ele sorriu. Seu sorriso ficava mais brilhante e mais arrebatador a cada segundo.

Daniel nos levou até a porta do teatro e ficamos dez minutos tentando achar uma vaga, sendo que o número de dança que iríamos assistir era às 20hrs. Quando achamos a vaga, ela era bem distante do teatro e eu não conseguia correr de salto, por isso Daniel fez uso de seus braços e me jogou por cima do ombro, carregando-me em pleno protesto por toda rua. Eu nunca tinha rido tanto na vida.

Daniel subiu as escada comigo nos ombros e me soltou na bilheteria. Peguei os ingressos que Ísis deixou comigo e entramos. Estava tudo escuro lá dentro, porém o espetáculo ainda não havia começado. Daniel e eu começamos a procurar pelos lugares das nossas cadeiras e Ísis e Allan estavam sentados do nosso lado como Ísis tinha dito.

– Eu achei que vocês não viriam! - falou Ísis.

Ela estava de mãos dadas com Allan e estava com um vestido preto maravilhoso e o cabelo loiro preso em um penteado que devia ter demorado horas para ficar pronto. Ri de mim mesma pensando em como estaria meu cabelo depois dessa maratona que fizemos.

– Tivemos uns imprevistos.

Daniel sorriu para mim.

– Sentem, já vai começar! - disse ela.

Olhei para Allan e sorri, acenando com a mão. Ele fez uma careta feliz olhando para Ísis como se dissesse "Olha, Carol, ela não é perfeita?". Fiz que sim com a cabeça, mas todo meu corpo dizia que não.

Da esquerda para direita sentamos assim: Daniel, eu, Ísis e Allan.

A peça começou, contava a história de uma menina que ficou em coma depois de conhecer seu verdadeiro amor e, quando acordou, não se lembrava mais dele; mas uma música que eles sempre cantavam a fez lembrar-se dele e eles ficaram felizes para sempre. Que clichê.

Ísis e Allan ficaram abraçados quase o espetáculo inteiro. Daniel e eu estávamos ocupados fazendo piada de tudo para que aquele tédio acabasse. Fizemos uma brincadeira: Daniel deveria me fazer rir o máximo possível e eu não poderia sequer emitir um ruído, já que Ísis nos mandaria calar a boca na hora. Acabou que eu perdi e, como consequência, teria que comer 2 hambúrgueres depois que saíssemos do teatro e ainda ganhei uma bronca de Ísis, o que só nos fez rir mais.

– Não achei que uma noite no teatro pudesse ser tão engraçada - cochichou Daniel para mim.

– É óbvio que seria, afinal você está comigo! - Sorri. - Eu sou a pessoa mais engraçada do planeta!

– Isso quando não está reclamando ou me pedindo pra ir ao teatro - brincou.

Dei um tapa leve no braço de Daniel.

– Ei! Eu não reclamo!

– Não reclama pouco.

Fiz bico.

– Ah, não, vai reclamar de novo? - provocou Daniel.

Tentei conter o riso. Contudo, minha tentativa falhou miseravelmente. Daniel colocou a mão na frente da minha boca. Abaixei a cabeça com vergonha e sem parar de rir. Nós só fazíamos besteira dentro daquele teatro.

Me recompus e levantei. Daniel olhou para mim e riu.

– O que foi? - perguntei rabugenta.

– Seu cabelo - ele soltou entre as risadas.

– O que tem ele?!

– Está todo pro alto!

Corei. Que vergonha! Mordi o lábio por aflição. Tentei arrumar, mas Daniel não parava de rir e aquilo era um sinal de que não estava dando muito certo.

– Arruma, por favor! - implorei, já parecendo um pimentão.

Ele chegou mais para perto e começou a passar a mão pelo meu cabelo. Seu sorriso ia diminuindo a cada segundo e eu fiquei desconfortável com o clima sério que se instalou. Desde que chegamos ao teatro tudo o que fizemos foi rir e agora estávamos sérios, tão perto um do outro que eu estava ficando com vergonha. Encarei o chão para que esse momento passasse despercebido, mas Daniel ergueu minha cabeça de volta.

– Quando você morde o lábio assim, Caroline, eu... tenho uma vontade enorme de te beijar... - confessou, num sussurro que era mais pensamento do que fala. Ele olhou para a peça outra vez, parecendo desinteressado.

Soltei meu lábio inferior. Não queria que ele tivesse vontade de me beijar, eu não queria beijá-lo. Estávamos só fingindo. Mesmo assim, eu ainda sentia como se o toque dele fosse conhecido e eu estivesse com a pessoa certa. Mas eu não almejava nada daquilo - namorado, beijos, compromisso - eu queria estudar antes e montar minha vida. Porque ele estava tão perto se estávamos só fingindo? E porque eu estava tão ofegante se estávamos só fingindo?

As luzes se acenderam e todos começaram a bater palma. Acordei do transe e tomei aquilo como a deixa para fingir que aquilo não tinha acontecido. Bati palmas mesmo que não tivesse visto nada do espetáculo. Os artistas entraram no palco um por um e batíamos palmas para todos. Eu tentava ignorar os olhares de Daniel que eu tinha certeza que caíam sobre mim o tempo todo. Aquilo tinha fugido do controle. Eu não tinha estudado todas as possibilidades afinal.


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