Faking escrita por Linnet


Capítulo 17
Capítulo XVII


Notas iniciais do capítulo

Descuulpem a demora! Espero que gostem desse capítulo, o resto não vai demorar, prometo ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/580303/chapter/17

– Foi fantástico! - exclamou Ísis do lado de fora do teatro.

Ela contava sobre tudo o que tinha acontecido na peça e eu tentava completar com coisas do tipo "Foi legal quando eles pularam!", porém não funcionava, já que aparentemente pular é uma coisa bem comum em espetáculos de dança e eu não tinha visto nenhum pulo. Eu não tinha visto nada pra ser bem sincera.

– Eu chorei na penúltima música, foi tão linda. Eu também gostei muito do solo do principal, ele é a coisa mais perfeita do mundo!

Allan coçou a garganta para chamar atenção.

– Ah, tirando você, amor!

Ísis praticamente voou para cima de Allan e esfregou nele toda sua cara com reboco. Ou seja, houve um beijinho e eles se separaram.

Olhei para Daniel com vergonha. Se era um encontro de casais porque eu me sentia tão de vela? Daniel não estava nem prestando atenção, no entanto, olhava para o céu como se as estrelas formassem um desenho.

– E então - continuou Ísis, sorrindo -, o que vamos fazer agora?

Daniel e eu iríamos direto para o McDonald's mais perto para comer os hambúrgueres que eu devia. Antes, faríamos sozinhos, mas, depois daquele momento vergonhoso de demonstração de desejos afetuosos, talvez fosse melhor chamar Allan e Ísis.

– Que tal irmos ao McDonald's? - sugeri sorridente.

– Ótima ideia! - Allan disse aquilo como se não suportasse mais essa dose de cultura. Eu sabia que ele não gostava de dança, nem de peças, muito menos ficar preso numa cadeira assistindo qualquer coisa que não seja um dos seus filmes favoritos. Ele tinha feito um esforço fenomenal para prestar atenção.

– Tem um aqui perto - falei.

– Eles servem salada, certo? - perguntou Ísis.

Fiquei confusa. Quem em sã consciência ia para o McDonald's e pedia salada? Quem? Ísis talvez. Eu nem sabia se aquilo era possível.

Olhei para Allan pedindo ajuda para responder.

– Eles têm hambúrguer de frango, você vai gostar, amor - Allan nos fez o favor de desconversar.

Ele e Ísis foram na frente, conversando sobre peixes e gordura trans, enquanto Daniel e eu ficamos atrás, andando num ritmo mais lento.

Eu não queria ficar sozinha com Daniel, ainda estava morrendo de vergonha, mas também não seria a intrusa que iria ficar de vela para o casal lá da frente. Tentei pensar em algum assunto para puxar, qualquer um, mas não vinha nada na minha mente.

– Você disse que isso passaria rápido - lembrou Daniel ainda olhando para as estrelas.

Suspirei. Passariam rápido com certeza, isso se estivéssemos nos falando pelo menos.

– Parece que eu estava errada - admiti fitando o chão enquanto andava.

– Sabe, eu achei que seria pior.

Olhei para ele e, para minha surpresa, ele estava sorrindo. Seu cabelo preto refletia a luz das estrelas e dos postes com flashes laranjas e prateados. Sua camisa social preta o fazia parecer parte da noite. E eu estava lá, com o cara mais gato do universo, tão perto que eu mal podia esticar o braço, mas com a cabeça tão longe que seria preciso as maiores pontes para me trazer de volta. Todavia, eu tentava gravar cada movimento e cada sorriso que ele dava. E, se me perguntassem, eu não saberia dizer o porquê.

– Foi uma noite divertida - afirmei sorrindo também.

Olhei para frente e vi Allan e Ísis abraçados perfeitamente, como se os espaços do corpo de um fossem feitos do tamanho certo para caber o outro.

– Ela ainda não acabou, Sabe-Tudo.

Daniel estava com um sorriso que me deu medo só de ver. O que será que ele estava tramando? Ele tocou meu ombro e saiu correndo.

– Está com você! - gritou na minha direção.

– Ei! Eu não estava preparada!

Corri tentando me equilibrar nos saltos. Passei por Allan e toquei em seu ombro, gritando que era a vez dele. Eu ria tanto que mal conseguia me segurar. Quando achei que nunca seríamos ultrapassados, Allan e Ísis se colocaram do nosso lado. Olhei para cara dela e nós rimos sem parar. Aquela era a noite mais divertida da minha vida. Fizemos uma corrida até o McDonald's e eu fiquei enchendo o saco de Allan a todo segundo na fila por ele não ter conseguido me pegar; ele me prometeu que ganharia noutro dia e deu a desculpa de que estava cansado da mudança recente. Não aceitei a desculpa e continuei a enchê-lo.

Enfim chegou nossa vez de pedir.

– Não se esqueça de que são dois! - exigiu Daniel.

– Pode me ver três, moço! - pedi, desafiando-o com os olhos.

– Tradicional?

Perguntei para Daniel sem nenhuma palavra se poderia ser aquele e ele respondeu por mim:

– Sim.

– Desafio aceito!

Paguei e Daniel fez o pedido dele, o mesmo, mas com refrigerante, eu pedi suco.

Ísis pediu o tal hambúrguer de frango cuja existência era desconhecida por mim e Allan pediu um Super Big Mc com batata extra. Há, aquele era o meu melhor amigo!

Ísis estava bem deslocada, mas parecia satisfeita com seu hambúrguer. Comecei a comer com calma e já estava no segundo quando Ísis terminou o dela e disse que não aguentava mais.

– Vamos fazer uma coisa! - Ísis pediu. - Eu vi isso em um filme, é assim: você fala cinco coisas que você ama sobre a pessoa que você tá. Claro, eu falo sobre o Allan e a Carol sobre o Dan.

– Gostei! - exclamei animada.

– Eu começo, já que eu inventei.

Ela bebeu um gole de seu suco e se ajeitou na cadeira antes de começar a falar sobre Allan.

– Gosto do seu sorriso, do seu cabelo, do seu jeito de falar a letra X - ela e Allan riram da própria piada.

Olhei para Daniel e fiz uma representação tosca de como eles pareciam idiotas fazendo aquilo. Daniel riu.

– Amo o modo como fala comigo. E o modo como me beija. E...

– Chega! - intervim disfarçando o nojo absoluto. - Já foram as cinco coisas!

Ísis deu de ombros e sorriu. O casal se beijou. Comi um pedaço de meu hambúrguer como melhor forma de protesto.

– Sua vez, Carol - anunciou Ísis.

– Mas não era um casal por vez?

– Ai, vai ficar mais legal desse jeito!

Respirei fundo antes de começar. O que eu iria dizer? Não gostava de muita coisa em Daniel... Na verdade, só estava com ele por causa daquela asiática estranha que espalhou um boato sobre nós, fora isso, nada me impedia de estar fingindo um romance com uma pessoa mais legal e menos arrogante.
Observei Daniel por alguns segundos. Eu poderia facilmente entender porque todas aquelas garotas da Ethan West o almejavam com toda força; ele era lindo. Mas, mais que isso, ele era engraçado e super legal. Aceitou fazer coisas por mim que eu mesma não faria e o que ele estava fazendo era impagável.

– Eu amo o modo como você é simples e uma camisa social ou uma calda só no sorvete bastam pra você. Amo quando você me faz rir com piadas idiotas...

Daniel começou a sorrir, ele devia estar adorando me ver pagando aquele mico.

– Amo suas caronas. - Eu ri. - Amo seu sarcasmo, embora eu finja odiar... Já acabou? - cortei.

– Ah! Estava tão legal! Vocês foram feitos um para o outro! - exclamou Ísis com a maior felicidade.

– Falta um. - A voz de Allan era de completo ódio. Espreitei-o e percebi que ele trasbordava raiva, podia ver em seus olhos que ele estava chateado com algo. Será que Ísis tinha feito algo errado?

– Hm... gosto dos seus olhos - comentei rapidamente com medo que Allan fosse me bater se eu demorasse demais.

– QUE LINDO! - berrou Ísis. Eu e ela rimos. - Agora está na vez de vocês.
Allan olhou para o relógio e verificou que já passava da meia noite.

– Bem Ísis, está tarde, seu pai pediu que eu te levasse em casa antes da meia noite e já estamos atrasados - falou.

Ísis fez cara de choro. Ela não queria ir embora e, se dependesse dela, ela ficaria ali a noite toda. Eu sabia que Ísis não respeitava os horários do pai, afinal ela ficava nas festas até de manhã, então por que Allan estava falando para irem embora? Ele estava estragando o resto da noite.

– Podemos demorar mais um pouquinho? - pediu minha amiga fazendo biquinho.

– Melhor não... - Allan tinha um sorriso que era impossível não fazer o que ele pedia.

Ísis suspirou e olhou para mim sorrindo outra vez. Ela colocou os olhos em Daniel e depois em mim e eu já sabia o que ela estava pensando: "Agora vocês vão ficar sozinhos! Boa sorte, Carol!" Corei. Seria um encontro então?

– É realmente uma pena! - Ela disse com uma voz que dizia o contrário. Seu sorriso malicioso para mim me fez implorar com os olhos para que ela não fosse. - Sinto muito, Carol e Dan, eu tenho que ir.

Ela riu. Ísis é uma péssima mentirosa, estava gostando de nos deixar sozinhos! Eu estava começando a ficar nervosa. Abocanhei meu hambúrguer para não precisar falar nada.

– Boa sorte, Carol! - desejou ela em um sussurro tão alto que poderia ser confundido com um grito.

Quase engasguei.

– Tchau, amiga, boa noite - falei, sorrindo como quem diz "Você é a pessoa mais cruel que existe".

– Tchau, Caroline - despediu-se meu melhor amigo. E, pelo tom de voz, ele não estava gostando de nada do que estava acontecendo. Ísis estava fazendo alguma coisa muito ruim para irritá-lo daquela maneira, mas eu não conseguia ver o quê, ela parecia tão normal.

Ísis se levantou e, pegando suas coisas, se despediu.

Enfiei a cara no hambúrguer e tentei não ficar nervosa. Afinal aquele era só o meu primeiro momento a sós com um garoto, o garoto mais bonito e popular da cidade, um cara que definiria meu futuro, o que poderia dar errado?
Daniel também estava no segundo hambúrguer. Ainda teríamos mais um hambúrguer antes daquele desafio acabar. Pensei em me desintegrar em mil pedaços usando a vergonha e voar até Ísis, mas ela tinha ido tão longe que eu não conseguia mais vê-la.

– Parece que você está cumprindo seu desafio muito bem.

Daniel sorriu para mim. E agora? O que eu diria? Eu tinha que tentar ser o mais natural possível, até porque não éramos nada, nem amigos, éramos só conhecidos comendo juntos em um fastfood quase inabitado. O que tinha de ruim em ficar sozinha com um garoto? Além, claro, de tudo?

– Obrigada - falei, embora não fizesse o menor sentido e eu estivesse apenas com vergonha o suficiente para não conseguir falar nada que preste.

Daniel riu da minha resposta.

– Por que você está tão vermelha? - perguntou.

Aposto que, depois daquela pergunta, eu consegui ficar ainda mais vermelha.

– É minha cor natural - menti.

– Olhei para você tempo suficiente nessa semana para dizer que não é.

Deuses! Daniel notou algo em mim. Diante essa semana toda que ficamos juntos eu achei que não fosse nada para ele, que ele nem mesmo tinha olhado na minha cara para ver como eu estava me sentindo. Agora vejo que eu estava errada.

– Estou com vergonha... - cochichei.

Daniel riu.

– O que tem de tão engraçado nisso? - perguntei, enchendo as bochechas de ar como eu sempre fazia quando estava com raiva.

– Você é engraçada, Sabe-Tudo.

– Não vejo o porquê!

– Você não precisa ver, isso não é uma expressão matemática nem nada que dê uma resposta certa. É apenas engraçado.

Entendi o recado: Eu não sabia me divertir. Vindo de Daniel, aquele comentário era esperado, mas eu me senti mal do mesmo jeito. Eu sabia me divertir, era a pessoa mais engraçada do mundo, Pola sabia disso. Contudo, talvez eu não fosse engraçada o suficiente para fazer parte daquele grupo.

Comemos nosso terceiro hambúrguer comentando eventualmente sobre coisas aleatórias. O assunto não rendia mais de três frases e eu já estava começando a me apavorar, será que o primeiro encontro era tão silencioso assim?

Quando acabamos o hambúrguer, fomos direto para o carro. Daniel parecia confortável mesmo com aquele silêncio todo. Será que ele podia perceber que eu estava morrendo por dentro?

Ele começou a falar sobre a cidade e as luzes e eu escutei cada palavra com atenção. Ele fazia tudo parecer interessante, até o clima ficava interessante na voz dele. Perguntei-me de onde ele tirava tanto carisma. Meu incrível namorado ligou o carro e começou o trajeto até a minha casa.

Os assuntos foram tão diversificados que eu não me lembraria do primeiro se perguntassem. Eu tentei responder da melhor forma, mas estava tão nervosa que as palavras saíam trocadas e Daniel ria a cada resposta que eu dava. Eu não entendia por que ele causava aquele efeito em mim.
Paramos na frente de casa.

– Obrigada por hoje - falei. Mesmo que eu não quisesse admitir pra mim mesma, eu deveria agradecê-lo por tanta coisa e nunca o fazia. Ele não precisava fazer nada do que estava fazendo, mas mesmo assim continuava por medo de que eu contasse ao namorado da Lauren o que ele tinha feito. Ele continuava se sacrificando pra ir a encontros ridículos desses só pra que eu continuasse a ser amiga da Ísis. Eu o devia tanto...

– Não precisa agradecer, achei até legal saber que gosta de quando te faço rir. - Ele olhou para a rua e percebi, pela luz dos postes, que seus olhos eram mesmo lindos. - Não deu pra falar, mas uma das cinco coisas que amo em você é seu sorriso.

Corei. Cochichei um "obrigada" sem jeito e ele me deu boa noite. Repeti as palavras com cuidado para não acabar falando "bom dia" tal era minha ansiedade naquele momento. Sai do carro e, de costas, respirei fundo.

Virei-me e dei tchau pela última vez. Entrei em casa, fechei a porta e me joguei no chão. Que noite!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!