Esse inicialzinho de semana é sempre desanimador pra mim, poxa, ninguém merece começar o dia logo cedo com uma aula tão chata. E o mais medonho é que aquela professora não era do tipo que dava um tempinho de intervalo na aula, ela fazia diferente, seguia direto - são quase três horas e meia ouvindo aquela pessoa acelerada e sem graça - e compensava liberando mais "cedo". Sendo assim, não pude me encontrar com ninguém no intervalo e logo que fui liberada tive que ir até a sala da Camila deixar as chaves pra ela. Voltei pra casa de ônibus, já que nesse horário os ônibus não estão superlotados.

Ao chegar em casa comecei a preparar o almoço mais cedo para poder ter maior tempo de descanso, mas fui interrompida pela ligação da Mami. Quando atendi ela parecia aflita, e a propósito, fiquei chocada com o motivo. Meu irmão, aprontando. O que? É isso mesmo que ouvi? Ela me disse já vinha acontecendo há algum tempo, mas que não me disse nada por achar que seria passageiro e que logo mais tudo voltaria ao "normal". Nada fazia sentido, eu não entendia, não entendia tudo que estava acontecendo com ele. Ele estava rebelde, não conversava, muitas vezes não queria dar satisfação, mentia, bebia, suas notas estavam baixas... Estava totalmente fora do controle e isso me assustava.

Desliguei o celular e me sentei ainda em choque, por essa eu não esperava! Tá, tudo bem que meus pais nunca souberam por limites no Guga, convenhamos que eles nos mimam muito. Mas mesmo assim! Minha sorte foi que graças a Deus pude ter a oportunidade de passar no vestibular daqui e vir pra cá e me virar sozinha. Mas se eu não tivesse tomado essa iniciativa eu viveria até hoje na barra da saia deles. E isso é horrível. Eles querem fazer tudo por nós o tempo todo. E depois tem a coragem de vir reclamarem quando não queremos fazer algo que eles mandam, sendo que eles nos acostumaram a fazer tudo por nós. Eu ein, bizarros mesmo - apesar disso continuo os amando muito, só pra esclarecer - . O pior de tudo é que eu estava em período de provas e revisão, não dava pra ir pra Cuiabá dar uma força pros meus pais antes que acabassem as provas. Nesse período não posso ficar sobrecarregada com nada, se não perco a concentração, como está acontecendo agora, o arroz quase queimando e eu perdida em pensamentos. Desliguei a boca do arroz e terminei de fazer o frango com molho de mostarda.

Enquanto Camila ainda não havia chegado aproveitei pra adiantar meu banho e escolher a roupa que iria trabalhar. Quando terminei ela já havia chegado e fomos almoçar.
— Vi os meninos na saída. - Comentou. -
— Hum.
— Mencionei com eles da festa que vamos depois do período de provas, eles ficaram interessados em ir também.
— Ok, assim que os ver vou aproveitar pra oferecer pra ficarem lá em casa. - Disse sem muita aspiração.
— O que foi? - Perguntou franzindo o cenho.- Aconteceu alguma coisa?
— Ah -Remexi a comida no prato.- Minha mãe me ligou e não me deu boas notícias.
— O que ela disse?
— Você nem imagina... - Disse abatida. - Era só o que nos faltava...Meu irmão dando problema pra eles.
— Ah amiga, mas você sabia que uma hora ou outra ele ia acabar dando problema. Adolescentes são difíceis. Você sabe que as vezes passamos por fases complicadas, é natural da idade.
— Sim, eu sei, mas achei que da ultima vez que conversei com ele foi o suficiente pra ele não se meter em encrenca. Eu não entendo isso, tem algo errado acontecendo. Ele sempre foi um doce!
— Olha, me desculpa, mas agora você tem que separar as coisas. - Disse compassiva. - Suas notas nesse bimestre são importantes pra você ter um estágio remunerado. -Completou.
— Eu sei, eu sei. Mas não sei como vou conseguir relaxar sabendo que meu irmão tá passando por uma fase ruim. Aconselhei minha mãe a umas coisas pra ver se muda alguns comportamentos dele, mas não sei se vai funcionar. Ele está bem rebelde.
— Se acalma! Só mais duas semanas! Vai passar rápido. Aguenta firme. - Segurou na minha mão e apertou. -
Após almoçarmos fomos tirar um descanso curto, depois fomos nos arrumar para voltarmos aos compromissos diários.

Fiquei distraída o dia todo, o Sr Filinto até reclamou um pouco da minha falta de atenção e tive que parar de ficar absorta em meus pensamentos. Minha preocupação já tinha passado dos limites. Conversei um pouco com o Guga durante a tarde enquanto ele estava na aula, ele me mandou umas fotos dizendo que estava com saudade. Não sei se ele sabia que minha mãe havia me contado tudo, mas ele falava comigo normalmente, como se nada tivesse acontecido. É, menos mal.

Sai do trabalho e Cami já estava em casa, por infelizmente eu tarde saído mais tarde do trabalho a pedido do Sr. Filinto, por causa da reunião que teria. Cheguei em casa e ela me esperava com o jantar pronto e surpreendentemente ela usava roupa de academia.
— Nossa, estou orgulhosa, foi na academia sem mim. Tá de parabéns! - Bati palmas e dei meu primeiro sorriso sincero do dia. -
— Pois é! Me senti motivada pelo Marquinhos. Ele me trouxe em casa, ficou com dó de mim no ponto de ônibus. - Disse rindo. -
— Hum, que gentil...
— Ele tá fazendo isso só pra ficar comigo, eu sei. Mas, pra sua felicidade, vou dificultar dessa vez. A parada vai ser sinistra!
— Hum... Quero só ver. - Disse guardando minhas coisas no quarto e voltei para comer.

Após comermos fui tentar estudar e não conseguia me concentrar, só consegui dar uma revisada rápida no conteúdo. Esse bimestre a matéria estava bem extensa, minha única vantagem foram as revisões que os professores passaram. Após estudar, rezei um pouco, tentando aliviar minha aflição que estava demais, pedindo pra Deus proteger meu irmão. Eu e Deus temos uma ótima relação de amizade! He he he

Me distraí por um tempo pensando em mil hipóteses para tudo que eu estava passando. Tenho essa mania maluca de pra tudo criar teorias e hipóteses. Inclusive, já criei com o Vinicius. Sim, aquele metido que está sempre me surpreendendo. Sempre me pego pensando nesse giro inesperado que a vida deu em tão pouco tempo. De um dia para o outro ele conseguiu mudar minhas perspectivas em relação a ele. Qual é, jamais imaginaria que um dia poderia precisar daquele garoto marrento, que dependeria da ajuda dele e que ficaríamos tão próximo de repente. A pergunta de por que ele é tão legal com a gente sempre surge. Já que ouvi muito falar que ele ficava com as amigas dele, e essas coisas assim que a gente ouve de caras populares escrotos. É, mil hipóteses sempre surgem quando o assunto é Vinicius Bergamashi.

Tem um dia que nunca me esqueço, que soma com tudo, para que eu sempre achasse que o Vini era um babaca. Num dia desses qualquer, eu passei por ele e mais Marquinhos, estávamos no estacionamento, eu estava indo a caminho do meu carro, e eles estavam abrindo a porta do carro do Vini. Assim que me viram fizeram questão de parar o que estavam fazendo e ficaram me olhando passar. Eu disse olhando? Perdão, me equivoquei, não estavam me olhando, eles estavam me secando toda! Porra, nem de roupa curta eu tava! Meu rosto ficou queimando de raiva! Até apressei os passos.

O Vini pra mim era o mais insuportável pelo fato de sempre vê-lo por aí na faculdade, o Marquinhos era mais raro de ver, por sermos de blocos diferentes. Esbarrei com Marquinhos numa saída dessas à noite com a Cami duas vezes, de primeira fiquei encantada com a beleza dele, SÓ com a beleza, de fora, a propósito.

Sendo sincera, eu particularmente curto muito um loirinho que nem ele... Já o Vinicius, pra mim sempre foi um babaca, juro que nunca passou disso. Pra ter noção, eu o achava tão babaca que nem perdia tempo admirando a beleza exterior dele. Não tô brincando não! Isso é serio! Sobretudo, os dois sob meu conceito eram apenas caras bonitos e acidentalmente isso está mudando aos poucos. Eu estou gostando deles, a presença deles me fazem bem. Entretanto, apesar de tudo, ainda estou intrigada por eles não terem me respondido sobre quais eram suas reais intenções conosco com o encontro do outro dia, isso me deixa na espreita.

O dia tinha sido longo, entretanto, após o banho acabei dormindo, sem chances nenhuma de ir para a academia.