A aula de hoje era só revisão, então fomos liberados mais cedo. Encontrei os meninos no bloco do Marquinhos sentados numa rodinha com uns amigos. Me esforcei pra parecer simpática enquanto comia meu lanche super saudável.
— O que que foi Marquinhos? - Perguntei enquanto erguia as sobrancelhas. - Tá olhando pro meu lanche faz horas. -Semi cerrei os olhos. - Quer um pedaço?
— É que parece que tá muito bom! -Riu-
— Porra moleque, você acabou de comer. Ainda vai roubar o lanche da menina?! - Disse um de seus amigos batendo de leve no peito dele.
— Esse ai é larido! Morto de fome. -Vini comentou.
Dei um pedaço pra ele e ele mordeu o lábio.
— Nossa muito bom! Você que fez? Que que "cê" coloca aí? -Disse com a boca cheia.
— Segredo da chef. – Me gabei.
— Chef? No caso, você? - Perguntaram.
— Sim. Sem querer me gabar, mas já me gabando, vocês não tem ideia do quanto eu cozinho bem! Sou uma futura chef. Me aguardem, vocês ainda vão ouvir falar de mim! - Eu estava me achando tanto que se alguém me tirasse eu acho que seria merecedora. -
— Eu não tinha ideia do quanto você é humilde! - Marquinhos disse e os amigos riram.
— Ah para, ainda estou sendo modesta! - Me defendi sabendo que não estava sendo modesta coisa nenhuma.
— Futura psicóloga... — Como aquele moleque sabia? Eu nem o conhecia direito. — E chef de cozinha? Aí é pra casar ein. 
— Né! Não penso em me casar não ein, mas depois dessa, eu até pensaria no caso. - Um outro amigo dos meninos comentaram me deixando extremamente sem graça e arrependida de ter ficado me gabando para eles.

Sério que os amigos dos meninos acabaram de me dizer isso? Tive que rir pra desconversar e disfarçar que fiquei sem jeito. Mas ok, tenho que confessar, meu ego foi lá em cima, me senti a gostosona, fodona. Quem que não gosta de ser bajulada - mesmo sabendo que são caras que só querem seu corpo nú - ?Grandes bosta né?! 
— Hey! - Resolvi aproveitar a brecha pra mudar de assunto. - A Cami comentou que vocês querem ir na Pink Elephant... - Dise olhando para Vini e Marquinhos. - Vamos com a gente? Se quiserem podem ficar lá em casa, meus pais são tranquilos.
— Tá falando sério? - Marquinhos perguntou cheio de entusiasmo.
— Sim, meu irmão já comprou meu ingresso. Mas, vocês podem comprar pela internet. - Comentei.
— Demorou! - Vini concordou.
— Você tá falando sério Samantha? É serio mesmo? Tem certeza que a gente pode ficar na sua casa? - Marquinhos perguntou em êxtase.
— Porque o desespero? - Falei achando graça. - Sim, tenho certeza.
— Porque eu tô muito louco pra ir nessa festa! Fui numa em São Paulo no ano passado, curti muito! - Explicou ele.
— Hum... 
— Liga aí pra ela agora e confirma, que já compro meu ingresso quando sair daqui. - Pediu Marcos.

Eu ia dizer que não mas acabei ligando e coloquei no viva voz. Não poderia ser mais engraçado, minha mãe foi cômica, ela brincou dizendo que não, que ela jamais deixaria um estranho ir pra nossa casa etc, que era ridículo o meu pedido. Eu caí na risada enquanto eles ficaram super sem graças. Lógico que ela desmentiu tudo e depois foi super receptiva com eles. Mas tenho certeza que ela só deixou porque o Vinicius cuidou de mim e queria conhece-lo, disso tenho certeza.
— Viu? - Falei e em seguida mostrei a língua.
— Sua mãe tirou onda ein! - Comentou um amigo deles e eu ri.
— Ela às vezes dá uma dessas.  
— Bom, a conversa ta boa, mas a gente tem que voltar pra sala né gurizada. - Disse um dos amigos dos meninos. Eles se despediram, dizendo que foi um prazer me conhecer e foram pra sala. O Marquinhos logo depois foi também e o Vini ficou comigo.
— Não vai pra aula? - Perguntei achando estranho ele ter ficado.
— Acabou mais cedo, o professor da segunda aula faltou. - Explicou ele.
— Ah sim. E aí, preparado pras provas? 
— Sim! Apesar que esse bimestre tá ainda mais foda... É conta que não acaba mais!
— Eu não acredito que não sei que curso você faz. - Falei tentando recordar algum momento em que ele me disse isso, mas nada vinha a tona.
— Ciências contábeis. - Informou ele.
— Mentira! Jura? - Quase gritei de tão espantada que fiquei. -
— Sim! - Concordou ele sorrindo. - Não esperava né?
— Não.
— Eu sempre gostei bastante de matemática, e toda a família do meu pai mexe com finanças. Foi o caminho mais prático pra mim. Mas depois de terminar aqui, tenho vontade de fazer Música em São Paulo. - Vinicius contou-me.
— Música? Por quê? - Questionei curiosa.
— Não sei o propósito ainda, talvez ensinar algum instrumento, talvez abrir uma escola pra ensinar, talvez fazer algo comunitário pra crianças carentes, existem muitos "talvez", muitas hipóteses. Sou apaixonado por música. Só vou poder fazer isso depois que terminar esse curso, que dai já estarei com emprego e renda fixa.
— Nossa! Que legal Vini! - Disse entusiasmada. Caraca, ele é um sonhador! — Legal mesmo! Você toca quais instrumentos?
— Violão, guitarra, baixo, bateria, um pouco de teclado, estava aprendendo piano também com meu avô... Toco algumas coisas no banjo, viola e por fim arranho um pouco de cavaquinho.
— Uau. Você é bem eclético! Tô boba! Quero que você toque um dia pra mim. Você compõe? -Não resisti, tive que perguntar. Sou louca pra conhecer compositores. -
— Sim...Toquei uma música minha num festival uma vez, até que gostaram.
— Toca pra mim? - Pedi entortando o rosto pro lado e fazendo bico. -
— Um dia... - Falou ele sorrindo e eu desfaleci. Queria pra ontem vê-lo tocando. -
— Vou esperar ansiosamente.
Ficamos conversando até a Cami sair e depois fomos embora.

No trabalho, SR. Filinto comentou sobre minhas férias e fiquei feliz por ele me dispensar pelo tempo de recesso na faculdade. Três semanas de férias, vai ser o suficiente para resolver tudo e curtir bastante a família e amigos.

Semana de provas é sempre um pesadelo, o tempo fica corrido e tenho que viver pensando nos conteúdos para entender bem. Porque não basta memorizar, tem que aprender mesmo!

A semana das provas foram super corridas, eu nem saia final de semana, via os meninos só na faculdade e acabei fazendo amizade com os outros amigos dos meninos na academia, conversando sobre treinos e tentando convence-los de que eles podem gostar de alguém - sim, fiz essa pachorra - . Com certeza, ir pra academia ficou mais divertido depois de conhecê-los. Minha ansiedade me matava a cada minuto querendo férias de uma vez por todas, muitas coisas aguardavam para as férias. Eu vivia me pegando pensando o que ia fazer, me manter concentrada foi bem difícil mas consegui após obter os resultados da prova.

Já era sexta e Sr. Filinto me perguntou sobre o resultado das provas. Tive que me gabar pra ele, com minhas notas acima de oito ponto setenta e cinco. Sendo esta a única abaixo de nove. Sério, fiquei muito feliz! Fui muito melhor que no bimestre anterior. Estava super feliz, fui pra academia irradiando sorrisos, malhei com vontade, com sorriso no rosto - a personal sempre pede, hoje não precisou pedir - e fui pra casa onde Vini e Marquinhos nos esperava na recepção pra deixarem suas malas no nosso apê. Íamos mais tarde pra tal Musiquee que Vini comprometeu nos levar e amanhã pra minha cidade natal pra irmos na festa incrível "Pink Elephant".