— Pode deixar que a gente paga. - Disse Marquinhos enquanto íamos até o balcão para comprarmos o ingresso do filme.
— O que disse? - Perguntei arqueando a sobrancelha. - De jeito nenhum!

Eles haviam insistido em pagar o boliche. Quis matá-los! Não curto isso. Ele mal é meu amigo e já ta pagando tudo pra mim? Ok, tudo bem que ele é bem financeiramente, mas e aí, me sinto estranha com ele querendo pagar T.U.D.O. Entrei na frente do Vinicius decidida que ia pagar meu próprio ingresso e fui até uma das cabines. Ele me puxou pela cintura impedindo que eu ficasse próxima da cabine, ou até mesmo pegasse dinheiro na minha bolsa, e ficou me segurando com um braço só. Um b.r.a.ç.o só! Como ele consegue?
— A gente vai pagar! - Insistiu Vinicius bravo.-
— Entendem uma coisa: a gente chamou, a gente paga! –Marquinhos informou me olhando enquanto balançava sua cabeça negativamente.
— Esse é o lema. - Vinicius complementou.
— De verdade, não me sinto bem com isso. -Camila riu quando eu disse isso.- É sério. Não tem porque vocês pagarem.
— Ontem a gente foi lá no apê de vocês comemos, bebemos e vocês não cobraram nada. - Lembrou-nos Vinicius.
— Ah, nada a ver! - Revirei os olhos e fiquei ali de braços cruzados me sentindo derrotada.

Qual é meu problema de não aceitar? Deve ser que inconscientemente eu esteja achando que estou sendo comprada, ou que eles estão fazendo isso esperando algo em troca depois. Se for isso, melhor desencanar. Já que dei um voto de confiança. Sim, aquela história de confiar fácil nas pessoas é pra ser levado a sério. Confio e confiei mesmo. Já foi, já era, tá tranquilo, vamos que vamos - tenho que parar de ser tão estranha - .

Saímos do caixa e subimos para o andar de cima, onde ficavam as salas do cinema e o quiosque para comprar pipoca. Enquanto subíamos o elevador, Vinicius me abraçou por trás. Que? Opa. Opa. Opa. Aquela coisa no estômago de novo. Meu coração até deu uma leve disparada.

Ele falou baixinho no meu ouvido "Para de ser boba. Nunca vou cobrar nada de você!". Apenas assenti e fiquei ali extremamente sem graça pelas mãos dele estarem em minha cintura. Sou assim mesmo. Normal. Quando tô começando a ter intimidade com alguém sempre fico extremamente tímida no começo. Meu jeito. Já ele, todo pra frente né querido.....

Compramos pipoca doce - não paguei nada de novo -, suco, doces, chocolates e um halls - só paguei o halls, porque consegui comprar escondido -.

Espontaneamente eu e Cami acabamos sentando separadas. A sala que estávamos era a VIP, que tinha poltronas super confortáveis que cabiam duas pessoas. Droga. Preferia ter sentado com ela. Mas ficamos com as poltronas lado à lado. Algumas vezes ela me olhava disfarçadamente com cara de safada tentando insinuar algo, que raiva que dava. Espero que ela não fique com o Marquinhos, tá muito cedo ainda. Ok, tenho que parar com a mania de querer controlar as escolhas dos outros. Vou me esforçar pra isso. E sim, estou sendo sincera, vou me esforçar mesmo para parar com essas manias feias que eu tenho.

O filme que estávamos prestes a assistir era de terror. Pois é, olha aqui a vida rindo e brincando com a minha cara mais uma vez! Durante o trailer fiquei super ansiosa e já me preparando psicologicamente, repetindo pra mim mesma "É só um filme, é só um filme, nada é real, nada é real" centenas de vezes. Mas olha que ironia, o filme foi baseado em fatos reais. Senhor, já não bastava o filme ser assustador tinha que ser baseado em fatos reais? Qual é pessoal! As pessoas tem que parar de encher o bolso desse povo que produz filme de terror, isso não é de Deus!

— Tá com medo? - Vini perguntou estampando um sorriso sarcástico.
— Imagina, imagina. - Falei fazendo cara feia e bufei.
— Ei! - Me olhou todo convencido. - Você tá comigo! - Ele me puxou pra perto de si. - Não precisa ter medo. - Vinicius colocou os braços ao meu redor me abraçando como quem mostrava que estava segura em seus braços. ATA! ATA!
— Olha, sem querer ofender, mas já ofendendo, estar com você não diminui meu medo. - Disse toda arrogante. 
— Sem graça! - Fechou a cara.- Quando você vier com medinho pra cima de mim durante o filme, vou te ignorar. Porque cê ta ligada, eu não diminuo seu medo!
— Vingativo é Vini? - Perguntei achando graça. - Hum... 
— Tudo que vai volta! - Disse sério e depois riu.- Até parece, quem dera isso fosse verdade. Jamais conseguiria ignorar esse bebezinho lindo que tá do meu lado. - Quando ele disse isso olhei pros lados procurando o tal bebezinho e ele riu. -
— Não vejo bebezinho nenhum! - Afirmei.
— Você está muito ousada hoje viu. Querendo me tirar de qualquer maneira, que isso!
— Você que está ousado demais pro meu gosto! 

O filme começou e Camila ficou me fitando um tempão querendo atenção. Não queria olhar pra ela, eu sabia que ela ia zombar de mim. No fim, acabei olhando e ela disse "Só observo vocês dois." tive que fazer leitura labial o que foi bem fácil já que ela disse lentamente. A ignorei depois do que ela disse e tentei me concentrar no filme procurando coisas sem nexo pra dizer pra mim mesma que aquilo era totalmente fictício. Tudo estava tranquilo, até começar as partes que davam sustos. Puta merda, porque alguém paga pra ser assustado? Quero meu dinheiro de volta. Aliás, espera, nem fui eu que paguei. Então, tudo bem. Deixa pra lá.

O Vinicius e o Marquinhos me zombaram o filme inteiro, minha sorte é que havia poucas pessoas naquela sessão, então ninguém ficava reclamando quando fazíamos barulho. Eu achei que eu e Camila éramos barulhentas quando íamos ver filme, mas Vinicius e Marcos eram bem mais!

Sai do filme atordoada, com todas as partes assustadoras rondando na minha mente. E claro, Camila fez pose de durona, mas cagou de medo na hora H. Aquela escrota! Argh. O final foi a parte mais feia do filme, não gosto nem de lembrar. Hoje com certeza, temos que dormir juntas outra vez. Nem a pau que vou dormir sozinha depois de cenas fortes como essas.
— Arrependida amargamente de ter aceitado a vir ver esse filme. - Disse enquanto descíamos a escada rolante.
— Desculpa, da próxima vez a gente escolhe o filme antes e vem no horário certo. - Marquinhos se comprometeu. Hum. Próxima vez...
— Não terá próxima vez, vocês serão eternamente culpados por eu nunca mais conseguir dormir com a luz apagada. - Falei extremamente chateada.
— Ai é verdade! Seu medo de escuro. - Marcos lembrou-se e eu fiz careta.- Desculpa Sammy! - Ele se desculpou rindo.
— Poxa vida ein, a essa altura da vida vocês fazem ela retroceder desse jeito! - Cami desaprovou- Agora quem sofre sou eu, essa aí vai querer dormir comigo todos os dias. - Revirou os olhos.
— Não fala assim. -Disse à ela entoando um tom de tristeza.
— Ta bom, ta bom... - Me abraçou de lado. - E aí, o que vamos comer? - Cami perguntou toda esfomeada.
— Vamos jogar poker? -Tive essa ideia repentinamente.
— Você tem? -Marquinhos perguntou e eu concordei.- Opa, demorou, tô dentro.
— Por mim...Fechou! -Vinicius apoiou.
— Só jogo se a gente pedir pizza. - Cami disse.
— Só se pedir pizza doce.
— Olha, vocês são muito exigentes. Difícil lidar ein. -Marquinhos disse admirado.
— Acostume-se. É assim o tempo todo!
— All the time! - Acrescentou Camila.