Por isso me apaixonei por você escrita por Bels


Capítulo 29
Acredite, até mesmo a flor mais bela possui espinhos


Notas iniciais do capítulo

OI, VOLTEI.
Espero que gostem viu!?
Um beijão, e desculpa o sumiço, a vida não está fácil pra ninguém rs.



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Acordei sorrindo, de bom humor, algo que sabemos que é extremamente raro. Meu primeiro ato foi instintivamente procurar Vinicius na cama onde havíamos dormido, e advinha só: ele não estava ali. Como assim? Onde ele tinha se metido? E por que mesmo tenho sono pesado? Se eu tivesse sono leve teria sentido ele sair de fininho e me deixar ali seminua numa cama que nem é nossa.

Ia começar meu chilique de sempre, mas enquanto me levantava da cama acabei encontrando um bilhete jogado no chão. Por que estava no chão? Hipoteticamente eu devo ter chutado enquanto dormia, ou o vento levou, não sei. O bilhete dizia:

"Bom dia baby, espero poder ter mais noites como essa com você...
Vou surfar por aí, logo mais tô de volta.
Um beijo na sua boca."

Fiquei revirando os olhos morta de raiva pelo fato de ele ter me deixado sozinha justo na nossa primeira vez, sem ao menos me dar um beijinho de bom dia. Queria muito vê-lo acordar do meu lado.

Pra sair do tédio me ajeitei na cama e fiquei mexendo no celular, era provável que todos ainda estivessem dormindo pois ainda estava relativamente cedo e nossos pais iriam voltar somente na hora do almoço para almoçarmos juntos.

Resolvi editar as fotos que tínhamos tirado nos dias anteriores e me lembrei que meu celular havia descarregado na maioria dos passeios, por isso a maioria das fotos quem tinha tirado era Vinicius com seu celular.

Me deitei de volta na tentativa de voltar a dormir, mas foi em vão, meu sono tinha ido todo pelo ralo. Mandei mensagem para as meninas na esperança de poder receber alguma companhia mas nenhuma visualizava o whatsapp desde a noite anterior.

Sendo assim, me levantei, fui até a janela, abri as cortinas e me restou admirar aquele céu azul lindo e limpo daquela manhã parcialmente feliz. Estava perdida em fantasias, devaneio e loucuras, quando de relance vi o celular de Vinicius jogado por meio dos lençóis. Num impulso, sem ao menos pensar, fui pegá-lo para dar uma olhada em nossas fotos.

Sou do tipo de pessoa que ama editar fotos e perco horas escolhendo a melhor e mais bonita para postar nas redes sociais. De modo tranquilo, confesso que com a adrenalina pulsando nas veias e ansiosa para ver as fotos, desbloqueei a tela do celular dele. De cara ele tinha como plano de fundo uma foto do irmão mais novo com um sorrisão lindo, depois de repetir cem vezes o quanto aquele garotinho era lindo, fui direto ao ponto, ao álbum de fotos.

Enquanto passava entre as fotos, encontrei algumas nossas e fiquei toda apaixonadinha admirando o belo par que formávamos. De curiosidade fui ver as fotos dele, e não sei porque fiz isso. Sério, definitivamente quem procura acha! "CURIOSIDADE MATOU O GATO" SAMANTHA, não é a toa que esse ditado existe!

Encontrei fotos dele com umas escrotianes do lado e vídeos dele tri bêbado com os amigos. Até ai tudo bem. Dá de relevar. Mas e quando começou uma porção de fotos de garotas nuas? Surtei! Tinha pelo menos dois vídeos idiotas de garotas fazendo strip-tease que me deixou uma puta dúvida, era ele que estava filmando, algum amigo a filmava ou ela se filmou e enviou a ele? Sabe toda aquela minha felicidade? Virou pó. Tive vontade de jogar aquele celular na parede, e esganar Vinicius por ser tão pervertido. Minha única "felicidade" foi ver que ele tinha editado uma foto nossa, numa festa que tínhamos ido na minha cidade (a tal Pink Elephant), e aí me veio em mente aquele dia lindo que ele se preocupou comigo e cuidou de mim sob as circunstâncias que eu estava exposta naquele dia - tinha encontrado meu ex idiota - .Mas foi um momento de alegria súbita, passou logo logo.

Coloquei o celular dele de volta onde estava e sai do quarto com minhas roupas em mãos, puta da vida, com passos firmes e bufando de raiva. Como vi que não tinha ninguém pelo corredor decidi ir ao banheiro, o que eu não esperava era encontrar a querida porta do banheiro fechada. Minha primeira reação foi sair dali, e enquanto eu saia a porta se abriu, o que me restou foi torcer para que fosse uma das meninas. Mas não. Não. Tinha que ser outra pessoa. Tinha que ser um garoto. Tinha que ser Lucas.
— Acordou cedo. - Comentou ele.
— E você está sem roupa. - Disse desviando meu olhar do dele.
— Você também. - Ele deu uma gargalhada e eu me tampei com o meu vestido que estava em minhas mãos.
— Você pode, por favor, se virar pra que eu possa me vestir? -Perguntei entredentes descontando minha raiva nele.
— Fique à vontade. Nem tô olhando. - Disse ele num tom brincalhão.
— Lucas. Agora. - Disse pausadamente de modo ríspido.
Ele se virou rindo e eu fiquei com que cena? A cena da bundinha dele numa cueca boxer preta, e as costas dele malhada. Respirei fundo e tentei vestir meu vestido, consegui, ok tudo bem, mas e pra fechar o zíper? Que saco!
— Ok, sai da minha frente sem me olhar. - Disse à ele que se virou pra mim no mesmo instante.
— Relaxa aí estressadinha. Nada que eu nunca tenha visto. -Lucas retrucou zombando de mim.
— Lucas, não tô afim de brincadeiras. - Disse caminhando até o banheiro ignorando-o.
— O que foi? - Perguntou todo preocupado e se encostou na porta do banheiro enquanto eu lavava meu rosto esperando por uma resposta minha.
— Não é nada. - Respondi.
— Desembucha logo! - Lucas disse de saco cheio e me deu um empurrão de leve.
— Você, por favor, pode se vestir para conversarmos? - Perguntei ao mesmo tempo que pegava minha escova de dente de dentro do ármario e deixava de lado o fato que boa parte do meu corpo estava exposta por causa do zíper aberto. - Estou ficando constrangida com essa cena. - O olhei rapidamente e ele riu.
— Não entendo você. - Comentou ele confuso.
— Não entende o que garoto? - Perguntei enfurecida. - Óbvio que você não me entende. Nem eu me entendo. - Disse num tom grosseiro.
— Você foi a única que teve uma noite boa e aparentemente é a única de mau humor. Você não faz sentido Samantha! - Disse ele antes de ir direto para o quarto.

Depois de tomar banho e vestir uma roupa fresca fui preparar algo pro café da manhã, já que Camila iria acordar de ressaca e Bia morta de fome.
— E aí, o que me conta? - Lucas disse ao passar pela sala vindo a caminho da cozinha, lugar onde eu estava.
— Você sabe onde Vinicius está? - Perguntei à ele demonstrando frieza.
— No quarto? - Respondeu como se fosse algo óbvio e se sentou na mesa de jantar.
— Surfando. - Contei à ele com o maior drama.
— Sério? - Perguntou ele rindo.
— Sim! - Bufei.
— Esse é o problema? - Questionou curioso.
— Você sabe que não. - Disse brava e ele assentiu.- Estava tudo tão bem, tão maravilhoso, nem me importei de acordar sozinha, estava de bom humor sabe?! Mas a queridinha aqui resolveu fazer o que? Olhar as fotos no celular dele. Te juro que foi na maior inocência, apenas queria dar uma olhada nas fotos que tiramos nos dias anteriores. Já que como você sabe meu celular permaneceu descarregado. - Me justifiquei e ele me olhava atentamente enquanto contava, por isso continuei. - Estava passando entre as fotos, encontrei umas nossas por lá, fiquei admirando feito menina bobinha de doze anos de idade, até que me deparo com fotos de mulheres NUAS. - Dei ênfase.- NUAS. Não era uma foto ou outra, eram VÁRIAS. - Dei ênfase novamente. - VÁRIAS! Lucas, VÁRIAS! 
— Deixa de ser histérica. - Disse ele entediado, cortando minha onda.
— Oh meu Deus! - Disse chocada, parando o que estava fazendo para me preparar para um belo de um esporro para dar em Lucas.- Eu não acredito que você está do lado dele, Lucas! Eu não acredito!
— Samantha, você realmente está parecendo uma menina de doze anos. - Lucas ressaltou.
— E você está me ofendendo. - Disse arrasada.
— Você nem conversou com o cara e já está ai julgando, sem mal saber da história. - Alegou ele criticando meu posicionamento diante da situação.
— Dane-se a história, nunca pensei que ele fosse esse tipo de cara, que tem esses tipos de fotos no celular. - Disse a ele cheia de raiva. - E o respeito? Não existe mais? - Questionei.
— Quer saber? Não vou nem me meter, resolve isso com ele. - Disse ele sério largando de mão do assunto.
— Por que então ficou enchendo o saco pra saber o que era? - Perguntei indignada.
— Porque achei que fosse algo irrelevante e que poderia te ajudar. - Explicou Lucas. - Mas como não é, resolva você com ele, não vou me meter nos assuntos que só cabe a vocês resolverem.
— Ok. - Disse sem graça com o corte que ele tinha me dado e fiquei mais sem graça ainda por ter tratado ele tão mal anteriormente. Sou horrível pra pedir desculpas, e por isso permaneci quieta.

Tomamos café em silêncio, num silencio constrangedor e desnecessário.
— Desculpa. - Soltei de repente enquanto ele terminava de beber o café diário dele.
— Desculpa pelo que? - Perguntou ele com o cenho frangido.
— Por ter falado de forma grosseira com você, não tenho direito de descontar em você meu mau humor. - Esclareci.
— Numa boa? Já me acostumei em levar patada sua. - Lucas falou dando de ombros.
— Não fala assim. - Disse chateada.
— A verdade às vezes incomoda mesmo. - Revidou ele.
Me levantei e caminhei até a pia para levar o copo e o prato que tinha sujado e senti Lucas me seguir.
— Ei. - Me chamou e me virei para olha-lo. - É brincadeira Sammy. - Lucas disse com voz de neném e me abraçou por trás me dando um alivio mesmo um pouco zangada por ele ter me deixado tão sem graça. - Queria te dar um gelo só. E funcionou. - Lucas revelou.
— Desnecessário. - Disse de cara fechada e sem corresponder ao abraço dele.
— Deixa de marra. - Beijou meu rosto. - Já já ele tá de volta e vocês conversam.
— Eu quero esganar ele! - Disse chateada e me virei para abraçá-lo.
— Tenha paciência, as pessoas nem sempre correspondem à aquilo que esperamos delas. Acontece. - Me acalmou afagando meus cabelos e então deitei minha cabeça sobre seu peito.
— Não quero me magoar de novo Lucas. Uma vez eu aguento, duas é demais.
Disse à ele cheio de medo de entrar numa roubada novamente.
— Vai dar tudo certo. - Ele beijou o topo da minha testa e me senti mais tranquila.

O que eu não esperava era ver Vinicius parado na entrada da sala nos observando com a maior cara de ciúmes. Sério sociedade? Sério Deus? O dia hoje não está sendo legal. Me soltei de Lucas extremamente sem jeito e Lucas ficou me olhando sem entender, mas assim que seguiu meu olhar percebeu o motivo.
— E aí cara. - Lucas disse à Vini.
— E aí. - Respondeu de volta e saiu andando pelo corredor.
— Que manhã de merda. - Me lamentei.
— Não é possivel que ele esteja com ciúmes de mim. - Lucas disse transtornado. - Vou levar um papo com ele depois sobre isso.

Entrei no quarto e Vinicius estava apenas de sunga arrumando a cama bagunçada que eu tinha deixado.
— Que ceninha ein! - Vinicius virou para me olhar e voltou a forrar a cama.
— Não vou discutir sobre isso com você. - Falei enquanto revirava os olhos.
— Como quiser. - Disse ele sem se importar.
Assim que Vinicius terminou de forrar a cama e dobrar o lençol pegou sua toalha e entrou no banheiro do quarto me deixando ali, sem ao menos se referir uma palavra à mim.

Depois da noite passada desconstruí muitos conceitos sobre uma variedade de coisas e minha única certeza neste momento é que desconheço-me completamente. Infelizmente a realidade é dura e vem dar uma na minha cara. A vergonha invade sem avisar, e a culpa que me deu durante o almoço por causa do meu pai foi dolorosa. Por que culpa? Porque aquele ser humano me conhece com a palma da mão, basta um olhar e ele já entende o que se passa comigo. Quando eu era pequena isso era maravilhoso, mas agora que cresci acho um pesadelo sem fim. Pois ele me desvenda somente num olhar, mas não diz nada, apenas sente o que eu sinto de forma silenciosa e cruel. Foram raras as vezes que ele usou isso à favor dele para me pegar na mentira, sempre procurava usar esse dom dele para me fazer sentir melhor. Nunca descobri se a intenção dele era deixar que a culpa me corroesse, já que a agonia de ter você mesma se julgando é muito pior do que o julgamento alheio. Uma consciência limpa é pacificador.

Intimidade é uma merda, passar o almoço com Vinicius sem falar comigo, sendo que na noite passada eu estava nua na frente dele era extremamente estranho. É uma merda o constrangimento de saber que ele provavelmente se lembra de todas as besteiras vulgares que eu disse à mercê das circunstâncias que estávamos nos momentos de êxtase. Claro que é completamente compreensível no ápice do prazer dizer algumas baixarias - mesmo que em qualquer outra ocasião você jamais falaria - certo?

Nossa situação não estava nada boa, e ainda por cima no outro lado da mesa meu pai não parava de me analisar. O que eu queria naquele instante era sumir, apenas sumir.

Sempre em meio as minhas 'trocentas' fantasias me imaginava acordando ao lado de Vinicius e e como seria uma sensação diferente. Nós dois sob a cama expostos ao sol irradiante, o tempo fresco com o vento entrando por entre a janela, o rosto sereno de Vinicius dormindo... Os cabelos bagunçados pós sexo, a pele quentinha e gostosa de se tocar, a boca desenhadinha, carnuda e bem fechadinha, seus músculos relaxados e lindos... Mas nada disso aconteceu. O que aconteceu é que a noite passada foi uma loucura e ainda preciso superá-la. Só. E mais do que isso superar a coragem súbita que me deu de me entregar à ele, superar o que Marcos fez com Camila e superar o fato de que por muitas vezes— como essa manhã - ele não vai ser nada parecido com o que eu espero.

Após o almoço ficamos no restaurante sentados enquanto nossos pais conversavam entre si e nos ficávamos em silêncio, cada um no seu canto.
— Último dia... Vão fazer o que? - Lucas perguntou quebrando o silencio.
— Dar uma volta com os meus pais por aí. - Respondi desanimada.
— Surfar. - Vinicius respondeu enquanto bebia água com seu rosto encostado em sua mão enquanto passava os olhos pra mim e sucessivamente para Lucas. Sabe aquele momento em que você quer falar alguma coisa mas simplesmente nada sai? Estou nesse momento. O silêncio dele é martirizante, não tenho ideia do que tem se passado na cabeça daquele mané.

O clima tenso contaminava naquele lugar, Marcos só sabia ficar com cara de bunda, ombros caídos e olhar baixo. Quase fiquei comovida. Mas não.
— Dormir. - Disse Marcos secamente e sem emoção, ele olhou um a um que estava na mesa e deu um gole em sua cerveja cara.
— Você tá com uma cara péssima, irmão. - Vinicius o analisou. - Dá um jeito nisso aí. - Ele recomendou à Marcos que revirou os olhos.Depois Vinicius se levantou e foi ao banheiro com Lucas o seguindo logo atrás. Nisso as meninas se levantaram para escolher um picolé, ficando apenas eu e Marcos.

Ficamos mexendo no celular mas o desanimo de Marcos estava me intrigando demais, sem falar que ele parecia muito acuado. Sabe quando a pessoa fica olhando pra um ponto fixo um tempão? Marcos naquele momento estava fazendo isso.  
— O que eu preciso fazer pra que você me fale no que tanto você está pensando? - Perguntei interessada. Necessito entender esse cara!
— Você precisaria inventar no mínimo uma máquina do tempo. - Respondeu num tom rude e logo após deu um suspiro com os olhos mantidos ainda longe.
— Caso eu tivesse uma máquina do tempo, onde você voltaria? - Questionei me corroendo de curiosidade para compreender os pensamentos de Marcos, o cowboy fora da lei.
— Direto para os primórdios de tudo. - Respondeu ele convicto. - Não me deixaria ser o espermatozóide vencedor. - Disse ele sem entusiasmo me deixando chocada.
— Nossa Marcos! Como pode dizer isso? - Disse boquiaberta.
Fiquei pasma com o que ele acabara de admitir, me abalou de um jeito que não sei explicar pois passaram-se mil coisas na minha cabeça. Talvez ele esteja passando por algo difícil e eu nem saiba...
— Por que tá dizendo algo tão triste? - Perguntei.
— Você não entenderia. - Disse-me com os olhos cheio de tristeza fixados nos meus.
— Talvez. - Disse com sinceridade.- Mas se você não me falar, nós não vamos saber. Às vezes é bom simplesmente falar... - Disse calma tentando passar confiança.
— Papo ruim essa hora? Não... - Disse ele sacudindo a cabeça.- Deixa pra lá.
— Marcos! - Chamei atençao dele.- Não vou te rotular, te julgar, nem te acusar de nada, só quero poder de alguma forma te ajudar.
— Eu sou um cara problemático, Samantha. Só isso. - Disse ele deixando transparecer uma certa tonalidade de raiva em sua voz.
— Quem não é? - Bufei como se não fosse nada demais.
— Você não tem noção do quanto eu posso ser problemático! -Insistiu dando uma gargalhada irônica.
— Me prove contando os fatos! Quero fatos! - Pedi enquanto olhava para os lados me certificando que ninguém estava por perto para ouvir.
— Ah. Preguiça de relembrar... Como meu avô dizia: nunca é bom remexer nas coisas que já passaram. - Marcos disse ainda na defensiva.
— Nunca é bom guardar as coisas sem superá-las e resolve-las. Pois por mais guardadas que estejam, um dia elas vem à tona e você simplesmente cai em ruínas.
Falei de uma vez sem parar um segundo para respirar me esforçando o máximo pra que ele se abrisse comigo.

Estava louca pra ouvir alguma coisa dele, pra quem sabe assim poder entender as coisas que se passam dentro dele. Exagerei será?
— Odeio o fato de você ser uma metidinha à psicologa. Onde eu estava com a cabeça quando decidi ser seu amigo? Para de tentar me analisar e faz um favor pro mundo: vai se foder. - Disse ele puto.
— Não foge do assunto meu querido. Você claramente está em estado de fuga. - Falei ignorando o fato de ele ter me xingado.
— Fuga? Eu ein, me deixa cara, não quero falar sobre isso. Ainda mais com você. - Marcos finalmente puxou meu tapete massacrando todas as minhas esperanças de descobrir algo sobre ele.
— Ok, me desculpa por ser intrometida. Você que sabe... - Disse me levantando.- Se mudar de ideia me procura.

Nossos pais voltaram para casa para descansar, Vinicius foi surfar com Lucas - na verdade Lucas estava dando uma série de esporros nele que eu tô ligada -, Marcos realmente voltou pra casa para dormir e as meninas foram dar uma volta. E eu? Aproveitei o tempo livre para ler, peguei meu iPad e decidi ler ao ar livre e na sombra fresca. Tinha uma pasta cheia de livros fresquinhos para serem livros no ipad.

— Demorei muito? - Perguntou Marcos de pé ao meu lado com uma cadeira de praia na mão.
— Tempo suficiente pra eu terminar de ler mais um capítulo do meu livro.
Disse à ele com um sorriso nos lábios, e ele estendeu a cadeira e logo após se sentou. Tirei meu óculos de sol que estava usando e coloquei sobre minha cabeça, bloqueei a tela do Ipad e sentei com as pernas em posição de índio aguardando que ele começasse a falar.
— Você disse que queria fatos... Hum... Nem sei por onde começar... - Marcos falou.
— Antes de tudo... O que te fez mudar de ideia e vir falar comigo? - Perguntei curiosa e virando minha cadeira de lado para poder observa-lo voltando logo depois na posição de antes, pernas de índio.
— Sei lá... - Marcos deu de ombros. - Acho que um pouco da sua total disponibilidade, e também pela primeira vez senti vontade de compartilhar algo meu com alguém. - Confessou ele.
— Mas você me disse que não falaria comigo. - Falei confusa.
— Falei sem pensar, como sempre. Foi mal. - Disse ele sem graça.- Pensei melhor e levei em conta minha intuição, que me diz que você é um baú de segredos. E não posso discordar, você realmente não irá me julgar, já que em momento nenhum desde que nos conhecemos você fez isso, mesmo sabendo de todas as merdas que já te falaram por aí em relação à mim. - Admitiu ele: De alguma forma você me remete confiança.
— Tem razão. Em tudo. - Concordei refletindo em todas as palavras das quais ele havia dito.- Vamos lá, o que você tem pra me falar? - Perguntei fechando as mãos com força para conter a adrenalina de ansiedade que pulsava em mim.
— Pra início de conversa, eu moro praticamente sozinho numa casa com sete quartos há alguns anos, acredito que seja desde que meu irmão se formou. - Revelou ele com a cabeça longe. - Meu pai vive na fazenda cuidando dos negócios, onde recentemente meu irmão também se mudou, já minha mãe vive uma vida dupla. Ás vezes fica na cidade comigo e às vezes na fazenda.
— O que a sua mãe faz? - Perguntei tentando entrar no papo.
— Ela é Arquiteta, designer de interiores, ela tem os próprios negócios que ela herdou do meu avô. - Contou ele.
— Que legal! - Falei entusiasmada. Designer de interiores? MANEIRASSO! Mal consigo decorar meu próprio quarto cara. Sério. Todos os móveis e decoração do meu apê foi Camila quem escolheu.
— Ela é muito boa no que faz e gosta muito de trabalhar, sabe? -Disse cheio de orgulho. - Mas meu pai quer que ela pare de trabalhar já tem um tempo e ela não quer parar de forma nenhuma. - Mudou o tom de voz para um triste. Até os olhos verdes ficaram sem vida. - O casamento deles tá por um fio Samantha, na verdade tá uma merda. Brigam dia e noite. - Disse ele ainda mais cabisbaixo.- É um saco cara. Ficam agindo feito adolescentes orgulhosos, você não tem noção do quanto é estressante tudo isso.
— Como seu pai é? - Perguntei. Posso transparecer calma e tranquila mas por dentro estou louca pra que ele vá direto ao ponto e eu entenda de uma vez porque ele está me contando tudo isso. Qual o sentido de eu saber sobre a família dele?
— Meu pai? - Perguntou surpreso. Acho que ele não esperava que alguém perguntasse isso. Que estranho. - É um cara tranquilo, mas é o famoso "Bruto, rústico e sistemático", ele é muito controlador, desde o princípio sempre tentou controlar o que a minha mãe fazia ou deixava de fazer. Pra ele as coisas tem que ser do jeito dele, sendo assim, todos tem que fazer a vontade dele.
— Você faz as coisas do jeito dele? - Perguntei curiosa para saber se Marcos fazia o papel de filho "revoltado".
— Engraçado porque ele nunca exigiu muito de mim. - Disse ele pensativo.- Acho que as coisas sempre foram mais difíceis pro lado do meu irmão. Por isso meu irmão é meio aloprado, a vida inteira recebeu muita pressão do meu pai.
— Você se acha parecido com o seu pai? - Perguntei após me vir em mente que ele seja reflexo do pai dele. Bruto, rustico e sistemático. Tão Marcos...
— Não. -Respondeu de imediato.- Não sei. - Mudou a resposta após alguns segundos pensativo.- Em algumas coisas talvez. - O olhei esperando que ele concluísse o pensamento dele. - Eu tenho um gênio um pouco difícil, assim como ele tem.
— Um pouco? - Perguntei rindo muito e ele ficou sério me fazendo parar de rir. Ele não estava pra brincadeira mesmo, ok.
— Vai se ferrar Samantha. - Disse ele num tom rígido. - Durante minha vida toda fiz muita merda. - Marcos relatou.- Me metia em brigas, mexia com todo mundo, ficava com todas, aprontava na escola, eu era o terror das novinha, dos pais, dos irmãos, de geral! - Disse ele mudando a postura ficando mais relaxado.- Confesso que depois que entrei pra faculdade as coisas só pioraram de um jeito que você não tem ideia! - Ele disse perplexo com ele mesmo.- Cara, eu tenho passagem na polícia! - Contou ele dando risada.
— Como assim? Ai meu Deus. O que você fez? - Perguntei assustada sem saber se ria ou achava isso um caso sério.
— Lembre-se, sem julgamentos! - Me fuzilou com os olhos.
— Não, claro, óbvio, sem julgamentos. - Concordei com a cabeça sem parar.- Mas sério Marcos, me diz, que merdas você já fez? Quero histórias, me dê histórias! - Disse eufórica.
— Lindinha, as histórias ficam pra outra hora. - Piscou aqueles olhos claros pra mim de forma charmosa e eu quis bater nele para que ele abrisse o bico de uma vez.
— Não acredito que você vai fazer isso comigo! - Disse cética.
— Outra hora. Prometo. - Sorriu pra mim com a merda daquela covinha dele me fazendo entender o porque de Camila se derreter por ele.
— Ok, continue. - Disse me sentindo derrotada enquanto formulava mil hipóteses de loucura que ele poderia ter feito. ESSE CARA É INSANO.
— Sou desses caras de muitos amigos como você pode imaginar, mas que são poucos os verdadeiros. Tive que lidar minha vida toda com pessoas interesseiras, que sempre queriam algo de mim, eu piro demais com isso, pior coisa do mundo são pessoas interesseiras.
— Nossa, também detesto! - Comentei aliviada por compartilhar o mesmo gosto com ele.
— Confirmando sua teoria, sim, já fui um otário que comeu na mão de uma cretina aí. - Disse ele com naturalidade e eu dei risada.- Tô sabendo que você é dessas que cria teoria pra tudo.
— Depois quero saber quem te falou isso. - O interrompi.- Agora continue a história sobre você ter sido feito de otário, quero saber mais! Isso vai me fazer dar boas gargalhadas. Por dentro, claro.
— Espero que por dentro mesmo, otária. - Disse ele ríspido.- Paixão clichê de adolescente besta mesmo, gostei daquela escrota desde o primeiro instante. Tá ligado amor a primeira vista? Isso mesmo. Coisa de gente que gosta de ser cego e acreditar em conto de fadas. Eu como cavaleiro que sou, só que não, comecei a dar em cima dela. Na cara dura mesmo. Começamos a nos encontrar todo final de semana, porque a fazenda dela era próxima a minha. Durou uns bons meses, eu pensava até em pedi-la em namoro. Não só pensei como foi o que eu resolvi fazer.
Contou ele me deixando surpresa. Não conseguia imagina-lo como bom moço. É tão ele esse jeitão cowboy fora da lei.
— Namorei com a filha da mãe por três meses inteiros até descobrir que eu era trouxa e corno. Descobri que ela namorava comigo e mais dois. MAIS DOIS, SAMANTHA. - Deu ênfase. - DOIS! Fiquei muito puto quando eu descobri, mal conseguia acreditar.
— Como assim? - Tentei segurar o riso.- Dois? Que loucura!
— Ela morava na Capital, pra ela era muito fácil me ver só nos fins de semana, porque durante a semana ela poderia ficar com os outros caras por lá. - Complementou Marcos.
— Ok, me conta de uma vez como você descobriu. - Falei ansiosas.
— Eu era um retardado romântico que vivia fazendo surpresas pra aquela vadia, e foi numa dessas tentativas de ser um príncipe de cavalo branco que eu descobri que além de ficar com mais dois caras, ela era rodada. - Gente, essa menina tem que ser abominada da Terra! Por causa dela caras como Marcos se tornam imbecis.— Assim, teve uma vez que fui sem avisar visitar ela na fazenda dela, e ai quando cheguei lá tinha um moleque com ela na piscina. Não tava rolando nada no momento em que eu cheguei, mas eu percebi que o moleque ficou me olhando com a cara de tipo "que que esse moleque ta fazendo aqui?". E aí ela me apresentou ele como o melhor amigo dela e tal, mas então ela me chamou de lado com um papo que o amigo dela estava passando por umas coisas difíceis e por isso queria passar um tempo somente com ele. Adivinha quem acreditou? Eu mesmo.
— Puta merda Marcos! - Comecei a rir alto.
— Encontrei aquele cara algumas vezes na fazenda com ela. Não procurava me importar muito, porque ela dava um jeito de me agradar depois e eu esquecia. E aí tipo, teve um final de semana que ela me avisou que não iria pra fazenda e eu decidi fazer uma surpresa pra ela. Fui até onde ela estava na cidade dela. Ela estava numa festa de uma amiga, e eu inocentemente fui até ela, tinha pegado endereço com uma amiga dela e a amiga dela nem sabia que nós namorávamos, pensou que eu fosse um amigo querendo revê-la e nada mais. Mano... - Ele suspirou de raiva. - Cheguei na festa e ela tava se atracando com um cara num cantinho na frente de todo mundo. Foi muito constrangedor! Sai de lá puto da vida! E prometi que não cairia no charme de nenhuma mina nunca mais.
— Que horror! - Disse chocada.- Mas fala sério né Marcos, coisas assim não são tão comuns de acontecer. Eu mesma jamais faria isso. E olha que já passei por algo parecido, fui traída também, mas nem por isso acho que todos os caras são iguais.
— Acontece, Samantha, que onde eu vivo, a maioria das garotas são assim. Principalmente as garotas que assim como você se mudam pra estudar lá. São poucas que salvam por ali, mas as que salvam estão todas num relacionamento sério desde sempre. - Explicou ele.
— Entendi. - Falei pensativa.
— Eu não conheço garotas que se importam, que não sejam interesseiras e que assim como eu, são desapegadas. Entende agora? - Perguntou ele cheio de esperança que eu entendesse-o.
— Estou quase lá. - Disse tentando encaixar as coisas e compreende-lo.
— Cara, não faça isso. - Disse ele achando graça de alguma coisa.
— Isso o que? - Perguntei saindo do devaneio da minha mente.
— Estou quase lá. - Disse ele com uma voz sexy, imitando a posição em que eu estava.
— Você me interpretou da forma errada, imbecil! - Eu estava com o dedo indicador na boca e aquela cara de pensativa, poxa, nada demais.
— Não faça mais isso sem a intenção de provocar alguém, obrigado.
— De nada! - Retruquei revirando os olhos.- Continuando... O quanto a relação dos seus pais implica na sua vida? Provavelmente te faz acreditar que todo relacionamento é complicado assim... - Disse a última frase num tom mais baixo.
— Isso mesmo. E é bem verdade. - Disse ele com prontidão enquanto eu o olhava com cara de taxo.- Eu sei que existe amor nas relações. Mas não quero as complicações entende?
— E aí você aceita as migalhas de um "amor" superficial que as pessoas te oferecem por aí? - Perguntei incrédula.- Tem uma frase que diz que não basta apenas querer a rosa, para tê-la você tem que estar disposto a encarar os espinhos. Algo assim.
— Por isso que eu não quero! - Disse num tom de como quem diz que eu sou retardada.
— Ok. Dane-se, você vai conhecer alguém um dia que vai te fazer mudar de ideia. - Falei convicta e ele baixou a cabeça.- Cara, tô louca pra ouvir as histórias das suas loucuras.
— Outro dia, já te disse. - Disse ríspido, me cortando.
— Quanto aos seus pais, tenho certeza que eles vão encontrar uma forma de entrar em um consenso. Se você se sentir solitário na sua casa de sete quartos, olha, não há quem diga o contrário, sou uma ótima companhia. - Falei me gabando.
— Obrigado. - Disse ele sorrindo apoiando sua mão em meu ombro e se aproximou para beijar minha testa.- Espero que o baú de segredos continue fechado sobre sete chaves.
— Nem se preocupe. - O tranquilizei e ele se sentou de volta.
— E quanto a Camila... -Disse ele com a cabeça baixa. Estou surtando ou vejo ali um sentimento de culpa?
Olhei pro lado e lá estava ela nos olhando da janela com aquele olhar de um misto de raiva e confusão. Falando na louca de pedra...
— Ela tá ali? - Perguntou ele.
— Sim. E não parece nada feliz em nos ver aqui. - Disse e em seguida fiz careta.
— Queria poder ter algo pra falar em relação a isso... Mas simplesmente.... Sei lá... É melhor deixar do jeito que está pra não estragar a amizade.
— Isso tudo pra mim não faz sentido nenhum. Mas não vou tentar te entender agora. Já tenho informação o bastante para digerir. E também, não quero me meter.
— Ótimo! - Disse ele aliviado.
— Não é como se você devesse satisfação pra mim. A única pessoa que precisa te ouvir é a Camila. De verdade.
— Eu quero conversar com ela. Mas tudo que eu penso em dizer me parece horrível e inapropriado. - Disse ele cheio de nervosismo.
— Apenas seja sincero Marcos.
— Sinceridade com sentimentos não é meu forte Samantha. -Disse ele se levantando.
— Você foi agora comigo, tenho certeza que conseguirá com ela. - O lembrei.
— Vamos ver...

Após o sono de beleza dos meus pais, fomos dar uma volta na cidade, a pé mesmo, evento do qual eu achava horrível, pois meus pais andavam mil vezes mais rápido do que eu, não consigo acompanha-los. Já disse que quando eles vão ao parque correr eu fico pra trás? Pois é.
— Não acredito que vocês fizeram passeio de Scuna sem mim! -Disse à eles revoltada.
— O mergulho foi muito foda! - Guga, meu irmão mais novo, comentou.- Perdeu!
— Sinto muito. - Mamãe zombou.- Mas então filha, me diz, vocês conseguiram visitar mais algum lugar por aqui?
— Ham, não. - Respondi nervosa e Guga ficou me fitando de forma estranha.- Ontem eu e as meninas fizemos compras e de noite saímos para jantar. Não fizemos nada demais depois que chegamos.
— E que horas você foi dormir ontem? Achei que chegaria e te encontraria dormindo. - Papai perguntou enquanto caminhávamos pela orla, ele de mãos dadas com a mamãe e eu com um dos braços apoiado em seu ombro, e ao lado Gustavo com sua amiga.
— Não me lembro, mas foi de madrugada, ficamos até tarde conversando na beira da praia. Também achei que dormiria até tarde... Não entendi isso ainda. - Falei e me lembrei da minha decepção pela manhã.
— E a viagem pra Arraial? Sua madrinha estava me contando que vocês pegaram chuva por lá... Ficou tudo bem? - Mamãe questionou.
— Pois é, depois do passeio caiu uma chuvinha e ai foi ficando cada vez mais forte. Mas deu tudo certo, fora alguns imprevistos, foi bem legal ir pra lá. O passeio de barco foi um dos mais lindos que já fiz! A senhora iria amar, e ainda comemos comida japonesa mais tarde por um preço mil vezes melhor do que o de Cuiabá. - Contei a eles.
— Nem gosto! - Mamãe disse cheia de si. Fiz ela gostar de comida japonesa, mas ela só como quando está comigo, ninguém da minha família além de mim gosta.- Mas vem cá, que história é essa de que quase ficaram na rua? E sua fobia? Me conta melhor essa história dona Samantha. Você pra mim ainda é uma criança, não pode sair assim sozinha, já pensou você surta? Quem que vai saber lidar com você?
— Menos mãe... Sei ter autocontrole! -Disse a olhando com cara de taxo e ela fechou a cara.- Mas enfim, em relação a pousada, foi horrível pra achar uma com quartos vagos. Estavam todas lotadas e reservadas, e justo a que encontramos o quarto não me agradou. Não dava pra ficar lá dentro, juro! Muito abafado, me dava uma sensação horrível. A sorte foi que a recepcionista encontrou um outro lugar pra que eu pudesse ficar.
— Mas você foi pra outra pousada sozinha? Perdeu a noção do perigo minha filha? -Meu pai perguntou preocupado e não sei que cara eu fiz mas eu devo ter me entregado de alguma forma.- Samantha! - Disse num tom de voz alto parando de andar no mesmo momento, se mantendo parado ali no meio da calçada com a cara fechada atrapalhando a passagem das outras pessoas. - Você dormiu com aquele rapaz? Eu não acredito nisso! Não acredito! Não pode tirar o olho de você e você apronta, deu de agir agora que nem adolescente impulsivo? Você não era assim! Não foi isso que te ensinei! Eu disse que você morar sozinha não era uma boa ideia. -Disse disparado chamando atenção de quem passava por perto me deixando completamente envergonhada com a situação.
— Ei! Que rapaz? Endoidou? - Disse chocada. Só meu pai que faz isso? Aproveita qualquer momento pra jogar na minha cara o quanto tal decisão que tomei foi ruim... Não é possível... Haja paciência pra lidar com esse velhote.
—  E você meça as palavras que fala comigo! - Retrucou ele e eu quis rir mas não o fiz. - E que rapaz? - Perguntou ele incrédulo quase me chamando de sonsa. - Não minta pra mim Samantha! Sem conversa fiada!
— Mentindo o que? Senhor amado! - Comecei a rir de nervoso.- Me poupe pai! - Disse firme. -
— Então você me diz que não dormiu com o filho da Aline lá em Arraial?
— Eu dividi o quarto com um dos meninos, apenas! - Me expliquei e fiquei pensando no alastre que seria admitir que o cara com que dormi foi Vinicius. Acredito que meu pai ficaria extremamente furioso comigo, então, sem pensar muito, falei que era Lucas. - E foi com o Lucas, não foi nada demais.
— História pra boi dormir... - Papai disse balançando a cabeça negativamente.
— Han? - Mamãe perguntou confusa e meu irmão me olhando com uma cara de assustado enquanto a amiga dele desaprovava minha mentira lavada. Nossa querida, obrigada por me lembrar que eu sou uma babaca.
— Meu Deus! -Meu pai disse surpreso.- Agora deu de gostar de todo mundo? Que mundo é esse meu Deus? Onde foi que eu errei? - Ri internamente desse comentário desnecessário do meu pai e do quanto ele é dramático e sistemático. Quem aguenta pais tradicionais? Devo ser única no mundo.
— Agradeço se o senhor elevasse um pouquinho mais o nível de respeito por mim nesse momento. - Disse ao meu pai chateada.- Você nem ouviu minha explicação pra poder compreender e já está ai falando pelos cotovelos... Foi por um bom motivo que dividimos o quarto. - Os tranquilizei e eles ficaram esperando que eu dissesse o tal motivo.- A moça da recepção nos informou que a pousada onde ela havia conseguido um quarto vago, tinha alguns hóspedes gringos que por onde passavam desrespeitavam as mulheres, e há confirmações que eles saem mexendo com todas as mulheres por aí. Quando disse à ela que ia eu mais uma amiga pra lá, ela aconselhou que os meninos fossem dormir pra lá pra que não corrêssemos perigo de ser vítima deles. Mas com a minha fobia não tinha outra saída a não ser aceitar dividir o quarto com Lucas na pousada que ela arranjou. Não foi nada demais, somos muito amigos já tem um tempo, vocês sabem. -Me expliquei e quando terminei suspirei aliviada por não ter me embolado toda.
— Hum. - Meu pai disse ainda desconfiado.
— Tudo bem então. - Mamãe disse dando de ombros e continuamos andando.-
— Historinha mal contada... - Meu irmão disse colocando lenha na fogueira.- Vocês acreditam muito fácil nas coisas que ela fala, tá na cara que ela tá inventando tudo. -Disse ele revoltado e eu quis mata-lo ali mesmo. A amiga dele fez o super favor de beliscar ele na barriga por causa da inconveniência das palavras dele, mas desejei mesmo que ela desse um tapa também.
— Gustavo, ela não tem culpa se fez por merecer ganhar a nossa confiança. Já você não tem oque dizer não é? Pois não tem se saído muito bem nesse quesito... - Mamãe me defendeu fazendo com que a amiga dele risse da cara dele e ele ficasse sem graça e puto.
— Uh babynho, tomou! Quase conseguir sentir dó de você. - Olhei pra ele toda trabalhada no sarcasmo e ele fez cara feia e tentou vir me bater porém, eu o segurei.
— Para vocês dois! - Meu pai nos olhou com aquela cara de bravo, AQUELA.
— E você abaixa sua bola Samantha, a confiança que você demorou anos pra construir pode ser desconstruída em apenas segundos, então, menos. - Mamãe tirou onda e eu fiquei sem graça também.- E por mais que tenha sido o Lucas a pessoa com que você dividiu o quarto, não exclui o fato que você goste do outro menino. O Vinicius. - Ela está cismando que estou apaixonada por ele. Com razão, porém, ela não precisa saber que está certa. Vamos deixar isso pra lá.
— Ai.meu.Deus! - Disse pausadamente querendo me teletransportar dali. - Vamos mudar de assunto que você já começou com as ideias mirabolantes.
— Não é porque você tá buscando sua independência que você vai esquecer dos valores que foi ensinado dentro de casa! - Papai disse cheio de autoridade.- Juízo Samantha! Juízo! - Aconselhou ele.
— Você sabe que eu tenho de sobra. - Revirei os olhos.
— Fingida! - Meu irmão continuou fazendo minha caveira e me tirando do sério. Ô pirralho do caramba, me deixa em paz.


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Notas finais do capítulo

Deixe aqui aquele comentário maroto, me dando uns toques, umas dicas, pois estou precisando. Já faz um tempo que não escrevo...
Até mais, um ótimo dia pra você.
Não deixe de acompanhar os novos capítulos quentinhos =)



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