Por isso me apaixonei por você escrita por Bels


Capítulo 30
As facetas das imperfeições alheias


Notas iniciais do capítulo

Hey!
Boa leitura, e sim tô com preguiça de escrever aqui.
Só uma coisa: vai ter capítulo longo sim! rs



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Depois de caminharmos tomamos um açaí e como era nosso último dia na cidade, fomos a feirinha que tinha próximo à praia. Eu amo feirinhas! Impossível sair de lá sem comprar alguma coisa. Após as compras, das quais meu pai estava impaciente querendo ir embora - depois de ele comprar um estoque inteiro pra coleção dele de chapéu - , fomos pra casa, íamos ter um jantarzinho especial pra comemorar vinte e cinco anos de casado dos pais do Vinicius. Essa viagem foi especialmente para comemoração deles, tanto que o irmãozinho dele ficou com a avó em São Paulo e dizem eles que o pequeno adorou poder ficar com a avó.

Os pais do Vinicius casaram bem cedo, assim como os pais do Lucas, porém, ambos por motivos diferentes. A mãe do Lucas engravidou com quinze anos e eles foram obrigados a casar, e a mãe do Vinicius casou pra que eles pudessem morar juntos e pra que ela pudesse terminar a faculdade.

O jantar foi divino, não sabia que a mãe socialite do Lucas cozinhava tão bem! E aí descobri que ela tinha sido formada em Gastronomia recentemente, até tentei levar um papo com ela, mas já estava quase desistindo. Ela era tão grosseira que QUASE me fazia querer sair correndo. Minha meta naquela noite era engajar uma conversa com a mãe do Lucas porque estava interessada em saber mais do curso, já Camila tinha grudado na mãe de Vinicius pra saber mais sobre como foi na época que ela cursava medicina e Bia no pai de Vinicius para conseguir um estágio pra ela, esperta sim ou claro?
— A senho... - Me lembrei que ela odiava que chamasse ela de senhora e parei.- Você! - Corrigi rindo e ela permaneceu com os olhos fixos em mim me encarando com certo desdém.- Pretende abrir algum negócio relacionado à gastronomia?
— Ainda estou pensando, estou criando alguns projetos, mas nada concreto. - Respondeu ela de forma educada porém ríspida.
— Mas o que a senh... Saco! Você. - Corrigi rindo de novo e quase vi ela esboçar um sorriso. Desconfio que seja devaneio, pois ela revirou os olhos logo depois.- O que você gosta mais? - Perguntei curiosa.- Quando eu era pequena eu tinha um sonho de ter uma Padaria, me imaginava criando receitas maravilhosas de bolo de queijo, bolo de chocolate, sonho... Coisa de criança mesmo. Mas e você?
— Que fofinha. - Ela deu uma risadinha. Ela riu pra mim! Estou lisonjeada querida Sra. Filinto.- Pois é, um dos meus projetos é abrir uma confeitaria. Até mesmo um Buffet. Estou consultando com meu esposo para vermos o qual poderá gerar mais lucro.
— Ah sim. - A mãe do Lucas é uma mulher que me deixa assustada, sabe aquelas mulheres que só vestem grife, que são extremamente finas, elegantes, tipo uma Lala Rudge? É ela. Uma mulher cheia de classe e claro, arrogância. Lucas comentou comigo uma vez que é tudo pose, e que a vida tornou-a assim. Casou-se cedo com um marido rico e foi apedrejada pela sociedade, que acusava a pobre coitada de engravidar cedo pra conseguir arranjar um bom casamento. Que papo mais anos 80 né!? Sempre que vejo ela sendo grosseira tento me lembrar que a história dela é bem triste, e que devo ser mais compreensiva, afinal quem sou eu pra julgar? Ninguém, meu bem, deixa ela ser assim, Sr. Filinto a aguenta, a ama, ambos são felizes juntos e é isso o que importa.

— Mas a senh... Cacetada! - Disse brava comigo mesma, percebendo o quanto isso era incontrolável e ela revirou os olhos rindo. Uh, mais uma risada, eu realmente devo ser incrivelmente legal ou ela uma boa de uma falsiane.
— Ok Samantha! Deu! - Disse ela de repente e de saco cheio me fazendo arregalar os olhos por conta do esporro e frustrada porque achei que a risada dela dizia que ela gostava de mim pelo menos um pouco.- Pode me chamar de Senhora. Vá em frente.
Sra. Filinto ligou o foda-se ou estou delirando? Que alivio! Achei que ela ia me mandar sair.
— Sério, me desculpe! - Tentei ser séria mas dei risada.- Tudo culpa das minhas avós, elas exigem que eu chame os mais velhos de 'senhor' e 'senhora'.
— Educado da sua parte. - Disse ela extremamente cortês. - Mas eu não sou tão velha assim. - Completou ela em forma de lamento.
— Eu sei. - Concordei.- O que eu ia perguntar mesmo... - Disse a mim mesma pensativa.- Ah, lembrei! Você não tem um sonho que quer realizar? Um desejo, vontade? Mesmo que não dê lucro, mas algo que você sempre gostou...
Ela me encarou por longos segundos que me fizeram querer cavar um buraco ali e me esconder, fiquei sem graça com a demora para ela responder, comecei a cogitar que minha pergunta tinha sido inconveniente e fora de questão. Pode ser que ela ache que estou forçando uma intimidade que não existe.
— Até tenho... - Disse ela pensativa com um sorriso muito bonito nos lábios. Um sorriso sincero, finalmente. Pude então perceber o quanto a pequena Lu, irmãzinha do Lucas, é a cara dela, uma versão em miniatura dela. - Quando eu era mais nova, vivia em contos de fadas por causa desses filmes bobinhos americanos. - Contou ela ainda esboçando o sorriso nos lábios.- E o que eu mais amava nos filmes, eram as cafeterias sabe? Ficava bobinha em vê-las, me apaixonava nos pequenos detalhes. Meu maior sonho era ter uma! - Disse ela rindo e me senti aliviada por não levar uma testada.- Um lugar com um ar sofisticado, com músicas instrumentais ao fundo, com um letreiro bem grande e chamativo, com poltronas, quadros bonitos... Essas coisas assim. Mas é só um sonho bobinho.
— Sonho bobinho? Adorei! - Falei animada. Cafeteria é perfeito! Como pode ser bobo?— Fala sério Sra. Filinto, ia ser demais ter uma cafeteria em Rondo. Ia ser um sucesso com toda certeza! Principalmente próximo a centro comerciais, universidades ou cursinhos... A concorrência nem existe nesse ramo naquela cidade, qualquer coisa que a senhora fizer vai ser melhor que qualquer padaria que existe por lá.
— Tem razão... - Concordou ela cheia de si.- Não sabia que tinha visão para os negócios. - Complementou com a expressão surpresa.
— Qual é Sra. Filitno! - Falei com arrogância.- Filha de empresários! Hello! Tem que ter pelo menos uma ideia de empreendedorismo convivendo com aqueles negociadores de primeira.
— Por que então não decidiu então seguir os passos dos seus pais? - Perguntou ela quase me chamando de burra, idiota, imbecil.
— Quando eu era mais nova queria muito ser como meu pai, mas percebi que não era o que eu amo. Eu amo psicologia, gosto de lidar com empresas, negócios, mas não tenho paixão por isso, como eu tenho pelo ser humano e por querer ser uma psicóloga um dia. - Expliquei a Sra. Filinto.
— Interessante. - Disse ela voltando a rigidez que tinha antes.- E porque psicologia? Ainda acho loucura sair da sua cidade natal onde você tem tudo, pra ir pra um lugar onde não conhece ninguém. - Ela tinha a expressão confusa e que fazia com que eu me sentisse uma tolinha.- Minha primeira impressão sua era que você era uma garota revoltada.
— Revoltada? - Caguei de rir, infelizmente eu não tenho modos, minha risada é estrondosa e alta por causa da minha voz fina,e por isso o estrago foi enorme enquanto eu ria. Tive que forçar a parar de rir porque percebi que a querida a minha frente permanecia com a feição séria e com os olhos em mim me analisando. Ela realmente achava que eu era revoltada. Fala sério!- Nunca fui revoltada na vida, eu nem consigo ser assim. Muito pelo contrário, sou bem mimada. - Retruquei. - E sai de casa justamente por isso, conforto demais estraga as pessoas Sra. Filinto. Sair da zona de conforto me fez amadurecer mais, bucsar ser mais independente. E não, não foi um ato de coragem, foi apenas impulso adolescente. - Comecei a rir de novo.
— Nossa... Tenho que admitir em voz alta, você é bem maluca. -Disse ela séria e depois gargalhou alto tampando a boca com a mão. Segundo o DSM, essa mulher é bipolar! A pouco tempo estava me encarando como quem via um bicho de sete cabeças e de repente está rindo da minha cara.
— Engraçado, ninguém nunca nessa vida me chamou de maluca. Obrigada! - Continuei gargalhando e ela confusa, deveria pensar que eu ficaria ofendida. Novamente ela voltou a posição inicial, rispidez em pessoa.
— Quando Lucas se mudou eu fiquei sem chão, ligava pra ele todos os dias, não conseguia desgrudar do coitado. - Admitiu com brandura.- Só aceitei que ele fosse fazer faculdade fora porque era algo que ele lutou muito pra conseguir, ele fez por merecer aquela vaga. E então, depois que ele mudou, e começou a namorar eu fiquei muitíssimo feliz. Porque então ele poderia ter alguém pra compartilhar a vida dele, não se sentiria sozinho e isso me deixou mais aliviada e menos preocupada.
— Mas aquela namoradinha dele era meio falsa não? - Ela me olhou com austeridade.- Mesmo depois de ela me conhecer, me acusou pelas costas que ele estava traindo ela comigo e com Camila! - Comentei achando tudo um absurdo mas ela continuou cheia de austeridade. Fiquei com receio de continuar falando o que fosse, mas continuei mesmo assim.- Ela é sem noção!
— Eu achava a Clarinha um doce de menina! - Disse ela séria e eu ri.
— Tudo bem então. - Bufei com o maior sarcasmo do mundo.- Cada um, cada um...
— Mas bem que você gostou do término. - Disse ela com um tom menos sério e mais descontraído. Eu teria gostado de vê-la menos rígida se não fosse pelo o que ela poderia estar insinuando na cara dura. Fingi que não entendi, se não iria me irritar com uma Sra que não aceita ser Senhora.
— Não entendi sua intenção ao dizer isso, seja mais clara. -Demonstrei uma confusão falsa.
— Eu sei que você ficou apaixonadinha por ele quando o conheceu. - Disse ela sem fazer mistério algum, diretamente, sem mais delongas, me deixando extraordinariamente sem graça. Sem me dar conta me mantive muda de tão desconfortável que fiquei, ela escolheu entender como se tivesse adivinhado meus sentimentos por Lucas e por isso deu uma gargalhada irônica. Quando na verdade isso não tinha nada a ver.- Eu sei, eu sei, entendo sua surpresa. No entanto, as mães sempre percebem tudo.
— Não é bem assim as coisas... - Relutei me sentindo incomodada.- Sempre fomos muito amigos, e quando o conheci fiquei encantada sim, mas depois que soube que ele tinha namorada isso definitivamente passou.
— Passou mesmo? Será? - Perguntou ela. Que horror! Ela é tão má!
— Se minha honesta confissão não é o suficiente pra senhora, sinto muito. -Disse seca, com o saco cheio, e com o sangue fervendo. Não suporto que duvidem da minha palavra, isso é mexer com meu ego, com minha fúria, com meu gênio.

Enquanto isso do outro lado da sala meu pai agradecia Lucas por não ter me deixado ir sozinha pra outra pousada, por causa dos gringos mal intencionados. Lucas me olhou confuso e eu travei, não sei como ele sacou a história e apenas confirmou dizendo que não foi nada. No mesmo momento a mãe dele me olhou com os olhos cheios de ironia, como quem me dizia que eu menti pra ela, e que eu era uma vadia. Me senti péssima. Pra completar, Vinicius estava boquiaberto me encarando enquanto observava a conversa do meu pai com Lucas. Ih, ferrou, a coisa tá feia pro meu lado.

Ignorei os olhos da Sra. Filinto sobre mim cheios de julgamento e acusação e tentei manter a calma durante o surto de Vinicius. Ele saiu da sala pisando firme e o rosto vermelho de tanta raiva. Decidi esperar que ele se acalmasse, se é que essa possibilidade existia. Discretamente chamei Lucas de lado para me explicar.
— Lucas, me desculpa por ter te colocado nessa posição, me desculpa mesmo. - Disse desesperada.
— Já saquei tudo, relaxa. Mas não é a mim que você deve desculpas, pelo que conheço Vinicius ele deve estar explodindo de raiva. - Lucas advertiu.
— Ele não é muito compreensivo não é? - Perguntei e Lucas mexeu com a cabeça negativamente e saiu andando.

Conversei apenas com Bia, já que Camila estava puta comigo por me ver conversando com o cara que ela julgava "traidor, escroto, imbecil, otário, desgraçado e infinitos nomes". E sim, ela é dessas, sou obrigada a odiar todo mundo que ela odeia. E quando eu falo odiar é não poder nem olhar pra pessoa que ela não gosta, ri disso a vida toda, mas hoje isso foi chato, pois apesar de tudo Marcos era um cara legal, só que infelizmente um cara problemático e idiota também.

— É por essas e outras que eu permaneço solteira. -Disse ela com orgulho.- Quanta complicação! Vai lá falar com ele, mesmo que ele não diga nada, apenas se explique e vaze. Se der, lasca um beijão na boca dele que ele esquece, simples assim.
— Da sua perspectiva as coisas parecem tão simples. -Comecei a rir.- Vou tentar. Me deseje sorte...
— Você e Camila são foda viu! Tinha que se apaixonar logo na viagem da nossa vida!- Bia se lamentou.
— Para de julgar, sua chata. As coisas aconteceram. -Falei chateada.
— Mas podia ser só um lance, sem envolver sentimentos.
— Poderia, mas você me conhece o suficiente pra saber que não incapaz de deixar sentimentos de lado.
— Yes, por isso não estou tão surpresa. Vá em frente, espero que Vinicius não seja um babaca, se não vou ter que trocar umas palavrinhas com ele.
— Espero que ainda saiba aqueles golpes que aprendeu no muy thai, nunca se sabe quando vamos precisar.
— Pra socar Vinicius e Marcos viro até mortal kombat, meu amor.
— Você é retardada. Segura as pontas aí, vou atrás dele. - Comecei a rir e fui a procura de Vinicius.

Ele não estava em casa, então fui procurá-lo na praia, o encontrei bem distante de casa.
— Oi! - Disse me sentindo a pessoa mais covarde do mundo ao ver o rostinho triste dele.
— E aí. - Respondeu sem me olhar. A adrenalina transpassava pelo meu corpo todo, estava tendo uma crise de ansiedade e medo, comecei a soar frio e de repente esqueci tudo que eu tinha pra falar. Tinha tanta coisa pra conversar... Tantos sentimentos acumulados...
— Me diz o que foi com você? - Perguntei ainda sem saber o que dizer.
— Me diz você que ceninha foi aquela que eu acabei de ver. - Vinicius pediu explicação com um tom de voz alto se virando para ficar frente a frente comigo.
— Me desculpe... Não quis chatear você. - Foi a única coisa que saiu.
— Qual o problema em seus pais saberem de nós? - Perguntou com a voz demonstrando um misto de insegurança e tristeza.
— Posso enumerar pra você Vinicius. - Disse tentando me lembrar quais eram esses motivos. Sou dessas que fica tão nervosa que esquece o que tem pra falar. Me deu branco, comecei a entrar em pânico por isso.
— Estou esperando você começar. - Cruzou os braços e ficou me encarando.
— Bom... -Fiz força pra me lembrar, enquanto minha mente só focava em me dizer pra sair dali, minha ansiedade acha que tudo em que me meto são situações de perigo e conflito, estava difícil lutar contra isso pra poder me lembrar de tudo que tinha pra falar. Apenas respirei fundo e disse mil vezes a mim mesma que tinha tudo sob controle.- Primeiramente tem a questão que... -Respirei fundo.- Nós estamos apenas nos conhecendo, como já concordamos. Se eu dissesse que passei a noite com você, meu pai interpretaria da pior forma. E quando ele foi falar com Lucas ele foi o mais irônico possível, mas acho que só eu percebi. - Ele me olhou incrédulo, como quem duvidava de minhas palavras, e quis mata-lo por isso mas apenas continuei.- Eu fui criada de uma forma diferente Vinicius e eu realmente espero que você compreenda isso. Meus pais vem de uma família tradicional, cheia de regras, entende? Pra eles não existe isso de se conhecer sem ter um relacionamento formal com a pessoa, tudo é muito sério. Do tipo que meu namorado tem que ir falar com ele, tem que ter limites e tudo mais. Infelizmente as coisas são assim, minha mãe se esforça pra entender como são as coisas hoje em dia, mas ela não passa por cima dos valores que meu pai faz questão que eu tenha. As coisas seriam bem complicadas se eu falasse a verdade pra ele, iria começar um interrogatório incessante e estragaria tudo entre nós.
— Ok. - Disse ele ainda chateado e se virou voltando a posição que estava antes, sentado de frente pro mar.
— Vai ficar assim ainda? - Perguntei me sentindo culpada.
— Só é chato isso. Apenas. - Confessou ele. - Estou tentando digerir tudo.
— Tudo bem. -Suspirei e o silêncio reinou.

Só se ouvia o som das ondas se quebrando, se desfazendo, assim como nosso relacionamento naquele momento. Se é que pode se chamar disso. Fiquei observando a lua, que era minguante e estava linda e luminosa, o céu coberto de estrelas e a brisa fresca me consolavam e me davam aconchego. Olhei Vinicius por um instante e desejei beijá-lo pra acabar com toda essa confusão entre nós, assim como Bia aconselhou. Mas então me questionei, pra que tudo isso? Cadê a maturidade dessa relação? Se não conseguimos lidar com um probleminha desses imagina outros problemas maiores? Não vamos sobreviver nem um mês juntos depois dessas férias. Sem falar que nem tinha conversado sobre as fotos de hoje de manhã.

— Aconteceu uma coisa chata hoje de manhã. - Comentei com ele.
— Qual? Você na maior intimidade com Lucas? - Disse de forma irônica.
— Nossa. - Disse desapontada.
— Desculpa. Já conversei com ele sobre isso. Tá tudo certo. -Ele me olhou chateado. - O que aconteceu além disso?
— Então... Depois que acordei vi seu bilhete.
— E? - Perguntou confuso.
— Queria ter acordado do seu lado. -Disse com os olhos fixos em meus pés extremamente envergonhada.
— Não sabia que isso era importante pra você, desculpa... Não estou acostumado com essas coisas. - Vinicius se explicou.
— Tudo bem. - Dei de ombros. - Mas se lembre que o que temos não é nada parecido com o que você tinha com as outras que você já se relacionou, então não tenha as mesmas atitudes que você tinha antes.
— Você tá certa, eu não pensei nisso. -Admitiu ele. - Eu só... Acordei, te admirei, e fiquei a fim de pegar a maré brava de manhã cedo. - Vinicius disse. E as palavras "te admirei" surtiram certo efeito sobre mim.
— Ok, só queria te lembrar disso. - Disse a ele.
— O que realmente aconteceu Samantha? -Perguntou ele impaciente.
— Eu encontrei uma coisa. - Odeio o fato de muitas vezes não conseguir ir direto ao ponto com ele.
— Diz de uma vez, por favor. - Vinicius implorou.
— Você deixou seu celular em cima da cama - E naquele instante ele já sabia que não vinha boa coisa por ai.- E o encontrei por acaso. Como eu estava afim de ver as fotos de ontem eu fui ver seu álbum de fotos.
— E o que você viu que te deixou assim? - Perguntou ele sério.
— Milhões de fotos de garotas NUAS. Vídeos e mais vídeos. Nossa... Não quero nem me dar o trabalho de lembrar.
— Ah Mimi... -Disse ele passando a mão naquele cabelo estupidamente bonito. - E você claro, me interpretou mal? - Perguntou ele.
— Você é um pervertido, disso sabemos. - Comentei o fazendo revirar os olhos. - Mas caramba tinha MUITAS fotos.
— Vou apagar, prometo, nunca parei pra olhar aquelas fotos. A maioria recebo dos grupos dos meus amigos. - Ele pareceu um menininho indefeso falando isso, idiota, manipulador.
— A maioria, ok. E o restante, vem de onde?
— Ham... - Ele mordeu o lábio inferior nervoso. - Das próprias garotas das fotos. - Disse sem graça.
— O que? - Perguntei com os olhos arregalados e brava. Que raiva que senti naquele instante! - Que tipo de pessoa que você se relaciona Vinicius? Puta merda!
— Te juro que nunca pedi nada à elas! - Ele veio segurar minha mão e eu a puxei.
— Da próxima vez faça o favor de excluir essas fotos do seu celular.
— Sim, estou precisando mesmo.

Fiquei ali bufando de raiva querendo estrangular cada garota oferecida que mandava nudes para ele. Que mundo vivemos? Pra que essa exposição toda? Mandar pro namorado, ok, beleza, seu namorado, você que sabe. Mas um cara qualquer? Não faz sentido. Estou numa posição de julgamento? Estou. Estou porque é o meu boy, é o MEU boy! Se encontrasse essas fotos no celular do Marcos ou do Lucas, tanto faz pra mim, mas do meu BOY não. Senhor, sou tão pré-conceituosa. Cadê minha terapeuta que nunca mais me ligou? Preciso dela pra desconstruir essa mente pré-conceituosa.
— Vou mudar de número. -Disse ele sem expressar nenhuma emoção em sua voz mas com os olhos transmitindo certa docilidade ao me encarar.
— Não precisa. Não importa mais. - Disse ligando o foda-se.
— Mimi, a maioria das fotos que recebo são de mulheres que nunca vi antes... - Justificou-se. - Nem sei como conseguem meu número. Mudar de número pode ser a solução.
— Você que sabe, Vinicius. O celular é seu. Não tô te pedindo nada. Só estava desabafando porque não esperava isso de você. - Falei.
— Não sou nenhum príncipe perfeito Samantha, você já deveria saber que meu passado me condena demais. - Disse ele cheio de dor na voz e eu apenas assenti e permaneci quieta.

Cada um de um lado, ambos tristes e mal pelas circunstâncias. Ele não me olhou mais, e ficava perdido nos próprios pensamentos.
— Espero que entenda que momento nenhum tive a intenção de te magoar, falando aos meus pais que dormi com Lucas e não com você. - O adverti.
— Por um instante, só por um instante, se coloque no meu lugar. - Pediu ele.- Quem sabe assim você entende o que eu estou sentindo.
— Devido as circunstâncias Vinicius não dá pra fazer isso, o contexto em que eu estou, onde meus pais interveriam na nossa relação, não me permitia admitir a verdade. - Insisti chateada. - Para de ficar remoendo esse tipo de sentimento. Poxa vida, tivemos uma noite maravilhosa ontem... As coisas não precisam ser assim.
— Pois é. -Trocou olhar comigo e voltou seus olhos para o mar.- Eu volto pra casa te vejo nos braços de outro cara depois de uma noite maravilhosa, como você quer que eu fique? Como se já não bastasse isso, tenho que ouvir seu pai agradecendo a Lucas por ter dormido com você... É desconcertante isso Samantha. - Admitiu ele. - Independente de eu ter sido infeliz em deixar aquelas fotos no meu celular e ter te deixado triste, te ver nos braços de outro cara depois de passar a noite com você foi a pior imagem que eu poderia ter tido.
— Sem ciúmes Vinicius. Ele é tão amigo seu quanto meu, me poupe. -Falei brava.
— Cara, você é a única mulher do mundo que não curte um ciúmes. -Disse ele me olhando como se eu fosse um alienígena.
— E você deveria gostar disso! -Reclamei.- Oh meu Deus, temos uma diferença gritante aqui!
— Pois é. E essa diferença me faz repensar sobre nós... -Disse ele me fazendo ficar boquiaberta e puta da vida. Como ele tinha coragem de dizer isso?
— Seja mais maduro Vinicius, todo mundo tem diferenças. Se você acha que você vai casar e ser feliz pra sempre com alguém exatamente como você, você está se iludindo.
— Obrigada por abrir meus olhos. -Disse ele num tom cheio de sarcasmo.
— Estúpido. -Falei baixinho revirando os olhos e cruzando os braços. Quis sair dali, mas continuei, não consigo dormir sem resolver meus problemas, sou ansiosa demais pra deixar as coisas de lado.
— Posso te fazer uma pergunta? Não fique chateada, apenas responda. - Vinicius disse.
— Pergunte. -Revirei os olhos e ele se virou novamente pra me olhar.
— Já fiz essa pergunta pro Lucas e agora quero fazer pra você. -Disse ele sério e eu consigo imaginar que pergunta é essa. Puto inseguro esse Vinicius viu!- Você gosta dele? Sente algo por ele? Se sim, pode ser sincera, não quero ter que descobrir isso futuramente. Não tem problema se você gostar.
— Tenha dó Vinicius! -Disse horrorizada.- Oh, Deus, queria que fosse hilário essa sua insegurança. Quer dizer, olha só pra você... -Apontei pra ele.- Quem vê nem imagina.
— As aparências se enganam. - Confessou ele cabisbaixo.
— Eu me encantei sim pelo Lucas quando o conheci -Vinicius esboçou a feição desapontada, e os olhos cheios de dor. Saber que eu me encantei por outro cara o machucava, mas ele nem imagina o que fazia comigo o fato de ele ter ficado com tantas outras por aí. - Foi coisa de primeira vista sabe? Depois que soube que ele tinha namorada, morreu todo e qualquer sentimento que eu podia ter por ele. Com isso nasceu uma amizade, somente isso. Mesmo ele estando solteiro, não muda nada, continuamos sendo apenas amigos.
— É que vocês são tão parecidos, se dão bem, e além do mais, ele te conheceu primeiro... Ele foi seu amigo primeiro... É justo eu saber sobre isso.
— Nada disso importa, presta atenção: eu tenho você agora. -Acariciei seu rosto.- Mesmo em meio as complicações e diferenças, é de você que eu gosto, seu estúpido.
— Posso gravar isso? Pra toda vez que eu sentir ciúmes poder ouvir?
— Não! -O olhei brava.- Apenas confie em mim.
— Tudo bem. -Suspirou.
— Aproveitando que estamos a sós... -Me aproximei de seu rosto e ele finalmente sorriu pra mim.
— Queria muito mais que um beijo de reconciliação... -Me puxou pra mais próximo dele.
— Vai ficar querendo. -Selei nossos lábios e ele pousou suas mãos sobre minha cintura me arrastando pro colo dele. Seus lábios beijavam os meus carinhosamente, deixando meu corpo cheio de desejo por ele, seu toque me seduzia de uma forma surreal, sua língua casualmente invadiu minha boca e lentamente preenchia todo espaço ali, seus braços calorosamente se envolveram em minha cintura, mantendo nossos corpos colados um no outro e finalmente matamos nossa vontade um do outro após tanto desentendimento.
— Por um mundo em que depois de toda discussão eu possa te beijar assim. -Disse baixinho após pararmos de nos beijar. Apenas sorri e deitei minha cabeça sobre seu ombro contemplando seus braços me entrelaçando e me passando toda segurança que eu precisava.

A parte ruim de se gostar de alguém é essa, gostar dos defeitos também. Encarar as particularidades do outro com maturidade nem sempre é uma tarefa fácil. Boa sorte aos amantes apaixonados que existem no mundo, todos nós vamos precisar...


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Notas finais do capítulo

Vai mais um comentário maroto pra fic?
Diz que simmmmmm.
Hahahhaha
xau



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