Um dia minha mãe me ensinou a valorizar tudo o que eu tenho e me apegar a aquilo que fosse bom pra mim, com isso eu consegui ter uma percepção melhor da idiotice que eu estava prestes a cometer. Naquela noite em Arraial do Cabo, quando fiquei na defensiva e Vinicius respeitou meu espaço, eu honestamente, fiquei surpresa esperando que ele insistisse até conseguir o que queria. Cheguei a pensar que poderia ter encontrado o amor da minha vida! Na boa, quando nesse mundo um cara respeitou meu espaço? Tipo, nunca? Estou acostumada com pessoas que fazem de tudo pra conseguir o que querem no momento em que elas querem, e a atitude dele me fez repensar sobre como eu estava agindo com ele. Por que mesmo eu tenho que afastá-lo de mim? Quais são os meus motivos agora? Ainda o medo? Fala sério... Medo serve apenas pra nos aprisionar e nos manter longe das coisas que queremos, por que dar atenção pra esse sentimento tão insignificante? Apesar de todas as minhas contradições e de todas as minhas diferenças com ele, não posso negar que o que existe entre nós é algo que jamais imaginei que poderia sentir, um sentimento totalmente recíproco que nos envolve de uma forma tão estonteante.

Espontaneamente existe algo que nos deixa muito à vontade um com o outro e eu acho isso o máximo, já que a única pessoa que me sinto totalmente à vontade é com o meu amigo Vitor, mas é certo que o que existe entre nós sempre foi apenas amizade.

Eu já errei tanto, já fiz tantas escolhas erradas, porque o Vinicius não poderia ser o meu acerto? Decidi que ele era o risco certo que eu deveria correr. Que com ele eu deveria agir de forma com que eu sempre quis, mas acabava tendo receio na hora "H". Todas as vezes em que eu tentava agir de forma diferente com outras pessoas eu me sentia insegura e não conseguia, por causa disso me tornei uma garotinha frustrada. E era por conta dessa minha frustração que eu fui incapaz de me entregar totalmente à Vinicius, quanta bobeira minha viu... Mas ainda bem que fui capaz de perceber essa idiotice e ter em mãos o poder de mudar tudo.

Nessa manhã eu tentei, tentei mudar as coisas o recompensando pela noite anterior, mas ham, não saiu como esperei - porra, meu pai me ligando? Achei uma sacanagem - , tudo bem, ainda tinha tempo pra fazer as coisas fluírem. Mais tarde, antes de sairmos pra jantar, peguei aquela lingerie que estava guardada pra uma ocasião especial e a vesti esperando que algo acontecesse mais tarde entre nós, coisa que eu tinha certeza que ele também havia planejado. Nossa noite juntos foi melhor que qualquer fantasia que eu já tinha criado na vida - crio muitas -!

Confesso, que meu maior pecado é sempre ficar comparando o Vinicius com tudo que eu já tive na vida, e isso é tão chato sabe? Vinicius é melhor que tal cara nisso, Vinicius faz isso que tal pessoa não faz, Vinicius é assim fulano é assado. Um saaaaco! Por isso, acabei fazendo melhor... Ao invés de perder meu precioso tempo o comparando, resolvi fazer as coisas diferentes, tomar atitudes diferentes pra que tudo pudesse ser especial quando estivéssemos juntos.

Minhas experiências eram bem escassas e se bem me recordo ruins, por conta que eu não me sentia muito à vontade com meu ex e aí as coisas eram sempre meio “BLEH”. Me sentia travada e não conseguia agir como eu queria, por sei lá, vergonha, timidez, não sei, pode ser por até mesmo imaturidade da minha parte. Entretanto, com o baby foi tudo diferente e tenho certeza que aconteceu no momento certo da minha vida, onde timidez e vergonha não foi um problema pra mim. Até porque ele me fazia sentir uma deusa perto dele, fazia com que eu me sentisse a pessoa mais bonita do mundo, ao lado dele eu tinha o conforto e a segurança em saber que poderia confiar a ele o meu íntimo e que ele cuidaria disso com carinho. Porque é isso que ele sempre faz, tem cuidado comigo.

Cada toque, cada sorriso, cada olhar foram únicos pra mim, aproveitei cada segundo com ele e foi literalmente um prazer passar a noite com aquele moreno delicioso! Ele ali, na cama, me olhando com aquele olhar sedutor, morto de prazer, de vontade, de desejo me deixou ainda mais insana por ele. Como um ser humano pode ser capaz de nos fazer sentir tantas coisas com um só olhar? Loucura não é? Aos poucos vou me dando conta do quanto eu sou apaixonada por... Poderia dizer que por ele, por ele talvez, mas estou falando das MÃOS dele. Juro! Não existe coisa melhor do que ver aquelas mãos grandes e me lembrar da sensação do toque dele sob a minha pele, sinto um arrepio só de pensar. Agora, voltando a minha dúvida anterior, sobre estar apaixonada... Pode ser que esteja me equivocando, pode ser que seja só um devaneio pós-sexo, gostaria de pensar que é apenas isso, mas depois de uma noite incrível como a que acabei de ter... É difícil afirmar se estou realmente ou não. Somente o que posso dizer é que eternizei meu momento com ele pra sempre, e pode parecer algo idealista demais mas mesmo se um dia eu estiver casada e com filhos vou me lembrar do primeiro homem que me fez chegar ao orgasmo e que me fez desejá-lo por todos os dias da minha vida. Estranha eu? Isso pouco me importa! As coisas fluíram tudo muito depressa, até pouco tempo eu mal pensava sobre nós juntos e de repente tudo que eu quero é esse cara comigo. Que coisa não? Esse poder ele tem sobre mim chega a ser assustador. E claro surpreendente. Sempre, pra sempre, surpreendente!

Sabe o que eu mais amo na vida? A forma como estamos constantemente em metamorfose, adoro o fato de estarmos o tempo todo nos transformando e mudando de ideia. Não é lindo isso? É uma pena quando nos tornamos totais ignorantes e não nos damos o direito de mudar e permanecemos os mesmos pra sempre. Claro que tem coisas que nunca mudam, mas isso tem mais a ver com nossa essência, a nossa essência apenas se mantém cada vez mais bonita. E o que eu quero dizer com isso tudo? Eu amo poder mudar de opinião e poder acreditar que existe algo entre nós, e que eu posso me arriscar com ele. Me arriscar com um alguém que pra mim era só o mulherengo lindo de morrer da faculdade. Ah, sei lá também, essa é só minha reflexão pós orgasmo com o puto do ser mais lindo que já conheci. Necessito saber mais sobre ele, pra saber se ele é real, na boa, são qualidades demais pra mim...
— Agora entendi... – Disse pensativa enquanto estava deitada em volta dos braços de Vinicius que me acarinhava.
— O que? – Perguntou ele confuso.
— O motivo de tantas mulheres desejarem você... Desde a primeira vez que te vi eu percebi. – Falei.
— Ah é? – Me olhou com os olhos semicerrados. – Você é muito atrevida em dizer isso, sabia? – Perguntou bravo.
— Eu tô falando sério! Eu realmente entendi. – Sorri.
— Não tenho nada a dizer sobre isso. – Disse ele na defensiva.
— Eu tenho. E não é só porque você é um cara divertido...
— Não? – Ele levantou as sobrancelhas. – O que é então? – Me olhou curioso. – Hum, não precisa dizer. – Sorriu. – Já sei! É porque eu faço gostoso não é? – Brincou todo convencido e me apertou em seus braços.
— Nossa! – Ri tanto que fiquei sem palavras. – Você é sempre metido assim?
— Só falo verdades. – Ele sorriu se divertindo com a minha cara.
— Que idiota você! – Mordi o peitoral dele com força e ele riu.
— Mas poxa, eu perdi tanto tempo com outras por aí... Enquanto poderia ter te conhecido há muito tempo e evitado de ter feito a burrada de sair com tantas outras mulheres procurando por algo. Já que só em você encontrei o real prazer. Só você me oferece os dois melhores sentimentos: a paixão e o prazer. Se eu tivesse que escolher entre poder ficar com todas as mulheres em que já estive na vida e entre apenas ficar com você, eu não pensaria duas vezes... Você, desde que te conheci, é a minha escolha. – O olhei toda apaixonadinha, derretida, morrendo de amores e me perguntando porque ele é assim minha gente?
— De onde você saiu cara? Fala a verdade, de qual livro de romance? Puta que pariu Vinicius! Vai ser perfeito pra lá. – Falei me lamentando e o empurrei de leve. – É tanta sorte que tenho em ter você que mal consigo acreditar.
— Não diz isso. – Ele me olhou sério. – Você não sabe o que tá dizendo. Só fala assim porque não sabe do meu passado negro, das coisas obscuras sobre mim e de todos os meus defeitos. – Desviou o olhar.
— Por favor, me apresente isso tudo então, pra que eu possa te tirar do meu altar de perfeição. – Sugeri.
— Hum, não, me deixa ai por enquanto. Se você souber de todas as minhas merdas vai repensar sobre gostar tanto assim de mim.
— Você está me subestimando, querido.
— Tiraremos a prova disso um dia.

Há um tempo atrás mandei mensagem pra Vitoria, a "amiga" do meu irmão que viajou conosco, pedindo que ela me avisasse quando eles estivessem voltando pra Cabo Frio, com o objetivo de que não me pegassem no flagra com Vinicius. O celular vibrou e fui pega-lo na esperança que ela tivesse me respondido, mas me surpreendi ao ver que a mensagem era da Camila. E fiquei mais surpresa ainda quando li o que ela havia me mandado. Alô? Para o mundo que eu quero descer! O que eu perdi? Marcos e ela romperam? Que? Fiquei extremamente assustada com a notícia mal contada e contei pra Vini na expectativa que ele soubesse de algo, mas não. Infelizmente tivemos que sair do nosso mundo paralelo para conferir o que estava acontecendo.

Lucas nos contou que Camila se irritou com o que aconteceu e saiu pra espairecer levando Bia junto com ela, e que o queridão do Marcos não quis falar com ele sobre o ocorrido, mas sabia que eles tinham rompido. Logo que eu soube disso fiquei me perguntando se devia me preocupar ou não com a minha amiga. E então me lembrei de um ponto importante em questão, me lembrei de como a Cami ficou um poço de tristeza quando ela e Gabriel se separaram e o quanto demorou pra ela superá-lo... É, com toda certeza eu devo me preocupar.

Comecei a imaginar no quanto ela ia beber e na quantidade de caras que ela poderia pegar e é era uma vez a paz que eu sentia. Sugeri que fossemos atrás dela pra impedir que ela não terminasse o fim da noite jogada na rua bêbada e eles acharam uma ótima ideia. Só que quando estávamos indo o Vinicius me mandou ficar, achou melhor ir apenas eles e eu ficar com Marcos, que a propósito também queria ir pra que ele conversasse com Camila. Esse moleque viaja... Conversar com Camila furiosa é a mesma coisa que cutucar a onça com a vara curta.

Depois que eles saíram Vinicius me ligou me deixando ainda mais preocupada, dizendo que não estava achando-a em lugar nenhum e que as ruas e os bares estavam lotados. Enquanto eles estavam lá procurando-as o Marcos nem olhava na minha cara e permaneceu de cara fechada a noite toda. Ele faz merda e ainda quer ficar rabugento? Fala sério...
— Me diz Marcos, por que demonstrou interesse se não queria nada com ela? - O questionei completamente confusa.
— Você não sabe de nada Samantha... – Afirmou ele sem me olhar.
— Tinha necessidade disso? – Perguntei encabulada. – Só quero ver como vai ficar o restante das férias. - Cruzei os braços.
— Fica tranquila que vou resolver isso. – Disse Marcos todo sério.
— Gostaria de saber como. – Dei uma de enxerida arrogante.
— Samantha, na boa, não me irrita. Como eu já disse, você não sabe de nada. - Disse ele aborrecido passando as mãos no cabelo extremamente nervoso.
— Tudo bem então. – Revirei os olhos e continuei o encarando contendo a vontade de enforcar aquele imbecil.

Pra que isso? Estragou o clima da viagem cara, poxa vida. Só espero que não estrague a minha amiga também, ela é péssima pra lidar com coração partido e desilusões - mas afinal quem que é bom com isso né? -. Puta merda, não consigo parar de pensar no quanto ela deve estar sofrendo... O bem mais precioso dela foi simplesmente entregue nas mãos de um babaca egoísta.... Que tristeza.

Quando ouvi o barulho do carro entrando pela garagem sai correndo e assim que sai de casa dei de cara com Camila no gramado vomitando, com a maquiagem toda borrada e o cabelo todo bagunçado. A gritei com a feição pasma de vê-la naquele estado e o coração na mão, fui ajudá-la segurando seus cabelos e ela continuou vomitando.

Realmente, Marcos a magoou mesmo pra ter chegado a esse estado... Disse à ela pra que nunca mais fizesse isso pois sair sem mim nunca é uma boa ideia. Todas as vezes que ela e Bia saíram sem mim fizeram belas merdas, nós somos como Razão, Equilíbrio e Loucura. Me desesperei mais ainda quando vi Vinicius e Lucas todo ensanguentados, fiquei me perguntando o que mais tinha acontecido que eu não sabia.

Pra dificultar tudo Lucas não quis contar o que havia acontecido me deixando ainda mais curiosa/preocupada, mas foquei em Camila, que estava com receio de encontrar Marcos. Ver aquilo simplesmente esmagou meu coração. Alisei seus cabelos dizendo que sentia muito e ela me olhou com tristeza me fazendo quase chorar. Não rola ver minha amiga super auto astral na pior, eu choro junto! Acabei não resistindo e a abracei, ela precisava de um abraço e eu também, logo depois Bia nos abraçou por cima e disse o quanto amava aquelas duas retardadas impulsivas.

Bia foi ajudá-la a tomar banho, e Camila vomitou por mais um tempo, chorou, resmungou e depois acabou dormindo.
— Desculpa amiga... – Bia disse baixinho. – Estou me sentindo culpada por ter apoiado ela a sair.
— Ela teria ido de qualquer jeito. – Falei e sorrimos com essa verdade. – Ainda bem que pelo menos vocês estavam juntas.
— Ela estava tão mal... Bebeu tanto... Eu tentei dizer pra ela ir com calma, mas você a conhece melhor que eu, isso só a irrita e não ajuda em nada, entra por um ouvido e sai pelo outro. Ela contou que Marcos deu um papo de que eles seriam apenas amigos. E isso pra ela foi a pior coisa que poderiam já ter dito! Na boa Sammy, ele podia ter dado um fora falando que não era isso que ele queria, mas o papo de só amigos foi demais! Ainda mais depois de simplesmente tirar a virgindade dela.
— Também acho... Gostaria de saber o que se passa na cabeça dele... É muito estranho isso. Como assim depois de tudo ele vem falar assim? Não faz sentido! Por mais idiota que ele seja eu esperava mais do peão idiota.
— Nem me fale... - Bia disse suspirando.
— Mas o que aconteceu com Lucas e Vini? - Perguntei de uma vez.
— Nossa nem te conto... Foi um total pesadelo! Achei que ia ser estuprada por aqueles caras. Estou até agora revoltada por ninguém na rua fazer nada, só olhavam, bando de curiosos. Os caras vieram seguindo eu e Camila quando saímos do bar, eu fiquei muito assustada, já estava esperando que o pior acontecesse. Mas graças a Deus os meninos apareceram, os caras avançaram e ai rolou uma briga.
— Nossa que horror! – Me aproximei entristecida e toquei suas mãos como forma de me solidarizar com o que ela havia acabado de passar. – Ainda bem que eles foram atrás de vocês!
— Sim! Preciso agradecer os dois amanhã... Agora vou dormir. – Se deitou na cama ao lado de Camila.
— Ok. – Assenti.
— Depois quero saber sobre o que rolou entre você e o gostosão lá fora. – Piscou.
— Beatriz! Beatriz! – Falei afobada. – Nem te conto! Nem te conto mesmo! Foi coisa de outro mundo! Mas vou pensar no seu caso se te dou detalhes.
— O que? Vai pensar? – Ela jogou um travesseiro em mim. – Nem pense em me torturar não me contando nada! Amanhã quero detalhes e fim de papo!
Ela se deitou e sai do quarto rindo.

Fui até a sala e todos os meninos estavam sentados espalhados pelo chão com pensamento longe e a cara amarrada.
— Vocês estão bem? – Perguntei quebrando o silêncio.
— Meu rostinho bonito já era... Sacanagem ein! – Lucas resmungou mandando indireta pra Marcos e eu ri.
— Continua um príncipe. – Sorri pra ele e percebi que Vinicius me encarou. Ciumento será?— Pense pelo lado bom, você vai poder chegar na mulherada por aí falando do seu ato heróico.
— É... Pensando por esse lado... – Sorriu com malícia. – Ótima ideia! – Fez sinal de ok com os dedos e mordeu os lábios de forma sexy. Ê Lucas... Faz isso não, estou comprometida no momento e já conversamos sobre sermos só amigos.
— Não queria que isso tudo tivesse acontecido... Foi mal aí galera... – Marcos disse cabisbaixo.
— Foi mal? Foi péssimo! – Falei arrogante. Eu sempre quis falar isso quando alguém fizesse merda! Finalmente consegui e não sinto remorso em ter dito.
— Na boa Marcos, melhor coisa que você faz é ir dormir, não quero nem olhar pra tua cara. – Lucas disse puto e Marcos o olhou assustado.
— Pisou na bola cara, pisou feio na bola! Esperava mais de você Marcos. – Vinicius o olhou decepcionado e Marcos se levantou logo depois saindo da sala.
— Quase senti dó. – Lucas disse. – O pior de tudo é que o filho da puta tá se sentindo culpado mesmo. Como que faz?
— Vai lá falar com ele que eu tô sem cabeça. – Vinicius disse a Lucas com descaso.

Lucas se levantou, colocou o pano com gelo que segurava na pia da cozinha e foi atrás de Marcos.
— Príncipe? – Vinicius disse me encarando todo sério após fiscalizar que Lucas não estava por perto.
— Ah, fala sério, Vinicius! – Dei risada e ele permaneceu sério. – Jura? Está com ciúmes?
— Príncipe Samantha? – Perguntou irritado.
— Me poupe. Não tenho paciência pra isso. Então por favor, já para. - Disse cortando a onda dele.
— Quem não tem paciência sou eu pra ter que ver mulher minha chamando amigo meu de “Príncipe”. – Disse zangado.
— Mulher minha? Hum. – Sorri toda feliz e caminhei até ele me sentando ao seu lado.
— Príncipe?! Fala sério! – Disse ainda furioso e deu um suspiro pesado.
— Vinicius, menos, menos tá? Deixe-me ver seu rosto aqui. – Elevei minhas mãos até seu rosto e o virei para poder olhá-lo. Ele tinha um corte na testa, na bochecha e um olho levemente roxo. – Oh meu Deus, todo machucadinho...
— Preciso de cuidado. – Disse ele manhoso.
— Awn... – Beijei seus lábios.
— Cadê minha recompensa? - Perguntou. - Estou merecendo uma.
— Vou pensar. – Respondi.
— Topa ver o pôr do sol? – Mudou de assunto.
— Sempre! – Afirmei.

Pegamos o resto do vinho que sobrou e fomos pra praia nos sentar na areia e admirar o luar. Vinicius se deitou sobre o meu colo e ficamos em silêncio apenas desfrutando a companhia um do outro. Enquanto eu tentava organizar minha mente após o fim de todos os acontecimentos recentes, me perguntei se um dia Vinicius poderia fazer aquilo comigo, com a gente. Se o fim de nós dois estaria próximo e se ele existia.
— Será que... Vamos terminar as férias assim? Como eles? – Perguntei inocentemente sem o olhar.
— Você acha que existe alguma chance disso acontecer? – Rebateu a pergunta me olhando.
— Não sei... – Respondi com os olhos fixados no mar e suas ondas.
— Hum... – Parou de me olhar. – Eu quero ficar com você. Apenas com você.
— É? – O olhei sorrindo e acariciei seus cabelos.
— Pena que você fica falando que acha outro cara príncipe. – Disse ressentido.
— Quase acho fofo seu ciúmes, mas não consigo. Vinicius, deixa de ser bobo... Só tenho olhos pra você. – Tentei passar segurança.
— Olhos só pra mim? Aham! – Ele riu com gosto. – Você acha que eu não vejo você babando pela rapaziada na praia né? Sua safada. Enquanto você vai eu já estou voltando, não venha querer dar uma de esperta pra cima de mim.
— Eu? Safada? Você é quem fica olhando as bundas alheias! – Falei rindo.
— A única bunda que quero admirar é a sua, sabe disso. – Me olhou com maldade.
— Sabe, se você não fosse tão pervertido eu até poderia te achar fofo.
— Convenhamos, sou uma mistura das duas coisas.
— É... - Concordei.
— E você é uma devassa que se faz de boa garota toda meiguinha. - Falou ele rindo. - Quem não conhece que te compre, gostosa...
— Devassa? Estou mais pra meiga e abusada. – Mandei beijo e ele riu.
— Somos dois sortudos não é não... – Ele se endireitou se sentando na minha frente e ficou me fitando. – Você com o herói do dia e eu com a meiga e abusada. - Ele sorriu e se aproximou do meu rosto.
— Que sorte a nossa... – Disse hipnotizada por conta do conjunto cheiro delicioso, boca deliciosa e olhos profundos.
— Confessa, vai baby... – Ele firmou suas mãos em minha nuca com jeitinho. – Você sente o mesmo que eu e não adianta ficar fugindo disso. Por mais que você não fale... Você é tão louca por mim quanto sou por você.
— Tenho que admitir, depois da noite que tivemos... É mais difícil negar... Mas, nada vai sair da minha boca até você parar de me fazer pensar que você é um cara perfeitinho. Coisa que não existe.
— Eu não faço você pensar nada Samantha. Você que cria essas coisas. – Desviou o olhar mudando a feição para sério.
— Faz sim! Para de negar! Que saco. – Me estressei.
— Ah para de neura vai...
— Eu sou neurótica, não se manda uma pessoa neurótica parar de neura.
— Ok. – Fez cara de tacho. – O que quer saber sobre mim? Pergunte.
— Sei lá. – Dei de ombros. – Me diga algo que me faça ver algum outro lado seu.
— Ok. –Disse pensativo. – Vamos lá... Sou um nerd chato pra caralho, que sempre preferiu jogos do que mulheres, ganhei inúmeros prêmios de aluno exemplar, meus boletins na minha vida toda eram lotados de notas altas, sou perfeccionista, controlador, estrategista, dono da razão, competitivo, agitado, não suporto ficar parado e sou viciado, vivo pela adrenalina. E cara, vou te confessar uma coisa: eu sou pica no xadrez, ninguém tem mais troféus do que eu! E ah, um pouco, só um pouco petulante.
— Interessante. – Só consegui pensar no quanto o mundo estragou esse garoto. – Conte-me mais sobre como foi que você se tornou o cara mais mulherengo da faculdade.
— Sei lá... Depois que me formei comecei a sair com Marcos e nossos irmãos, desde então as coisas simplesmente... Fluíram.
— Fluíram? Duvido. Pra mim, homem que fica com todas é porque um dia levou um pé na bunda ou foi traído. E isso é um fato, devem ter estudos científicos que comprovem!
— Ham, você já está querendo saber coisas demais... – Ele se aproximou vindo me beijar mas recuei no mesmo momento. Quando chega num determinado ponto da conversa que o deixa desconfortável ele SEMPRE dá um jeito de fugir e desconversa. Não suporto...
— Ai Vinicius, deixa de ser bobo, continua. - Reforcei.
— Já conversamos demais. - Insistiu ele.
— Não. – Falei cruzando os braços com a feição brava esperando que ele respondesse.
— Pior do que levar um pé na bunda e pior do que ser traído Samantha, é ser abandonado. – Admitiu.
— Que? Como assim? – Perguntei chocada. Que babado forte... Quem abandonaria esse cara? Quem não gosta de um nerd lindo que nem esse? Porran... Tem gente pra tudo nesse mundo.
— Fiquei com uma vizinha minha quando eu tinha uns quinze pra dezesseis anos por aí, passamos as férias toda juntos, deixei inúmeras vezes de ir pro Manso ficar com minha família pra poder ficar com ela e aí depois que as férias acabaram descobri que a desgraçada tinha ido embora. Ninguém sabia ao certo pra onde, ela simplesmente se mudou. – Contou ele.
— Han? Se mudou? - Perguntei confusa.
— O pai dela era militar e tal, mas ela nunca tinha comentado nada sobre se mudar. Me apaixonei por aquela ruiva vadiazinha e nunca mais a vi.
— Nossa. – Disse perplexa.
— Foram três meses juntos, pra ela simplesmente ir embora sem nem dizer adeus? - Questionou ele puto da vida.
— Pelo jeito isso te afeta ainda... – E como afeta, essa aí quase roubou o coração dele... Tanto que o fez virar um cafajeste. Bom saber... –
— Não, apenas ainda sinto um pouco de raiva da situação que passei. Hoje não significa mais nada, que se dane ela, não importa mais, mas sofri demais na época por causa disso. Foi uma covardia ela se aproveitar da minha ingenuidade e do meu bom coração.
— Oh meu Deus... – Apertei suas bochechas tentando não pegar no machucado e ele fez cara feia. – Ainda continuo te achando perfeito, então vai se foder.
— Escuta aqui Samantha, reveja as palavras que usa comigo, palavrão pra cima de mim não! – Disse bravo e eu ri do chilique dele.
— Me diz algo ruim de você, por favor. – Implorei.
— Qual o seu problema? Qual a dificuldade em aceitar que fomos feitos um pro outro?
— Vinicius... – O olhei irritada e acabei sorrindo feito boba com o que ele havia dito. – Não é isso. É só que... É assustador ver que seu único defeito é seu passado de pegador.
— Eu acabei de dizer que sou sistemático, dono da razão, controlador, perfeccionista, petulante, agitado. E você diz que meu único defeito é ser pegador? O que você quer ouvir de mim? Que eu matei alguém? Que eu sou um serial killer? Maníaco? Eu hein.
— Viu, isso é um defeito meu, eu sou estranha. E você?
— Na boa, fecha sua boquinha vai... – Sorriu e me deu um selinho. – Pode parar de ficar pensando nessas coisas, pode parar de querer achar uma razão pra estragar tudo e de querer encontrar um motivo pra te fazer não gostar de mim. Não adianta lutar nem fugir baby, eu já te conquistei. – Selou nossos lábios novamente.
— Como você conseguiu deduzir isso? – Perguntei chocada. Mal eu sabia que estava fazendo isso. Ainda mais depois de dizer pra mim mesma que ia me arriscar com ele. Qual o meu problema? Nossa eu estava agindo inconscientemente, que horror! Me boicotando a essa hora?
— Leio as entrelinhas... Não é tão difícil perceber as coisas quando se trata de você. – Ele realmente é petulante. "Não é tão difícil", ha-ha-ha, disse o cara que me conhece há alguns meses, enquanto mil caras falam que sou complexa e complicada. Vai entender.

Permaneci boquiaberta espantada com a dedução do queridinho e me dei conta que já estava amanhecendo. Pelo menos no fim, a madrugada rendeu uma conversa boa.
— Só eu sei te traduzir não é? – Ele me olhou e eu desviei o olhar. O que eu sinto por esse ser humano? Se é amor? Uma paixão? Um simples gostar? Eu sei lá! Não dá nem pra decidir...
— Pelo jeito sim. Ninguém me entende como você. – Admiti mesmo não querendo.
— Só me deixa cuidar de você. – Me olhou com ternura. – Se entrega pra mim sem medo... 
— Vai cuidar bem de mim? – Perguntei manhosa.
— Como uma deusa! – O olhei morrendo de amores e me senti segura, realmente segura em estar com ele. Duvidas, medos, receios, desapareceram. Finalmente. Finalmente um momento que me passe segurança, estava precisando disso.
— Como já dizia Nando Reis... Estranho seria se eu não me apaixonasse por você... – Pensei alto sem olha-lo e depois me dei conta da palavra que tinha acabado de usar. Apaixonada? Porra! Será que foi tão alto assim ao ponto de ele escutar? O que eu fiz? Inconsciente do caralho, presta atenção nas ações. Como que faz pra voltar a fita? Fodeu. 
— Você se superou pra tornar esse amanhecer ainda mais perfeito... – Disse ele e me senti frustrada.
— Ham... – Arregalei os olhos. Merda. Por que não pensei antes de abrir a boca? Encolhi-me morrendo de vergonha desejando sumir. Dizer aquilo em voz alta foi assustador, tão assustador do que ouvir aqui dentro de mim.
— Obrigada. – Disse ele sorrindo.

Permaneci quieta ainda me sentindo frustrada pelo filho da mãe não ter dito nada pra mim e quis me jogar no mar e deixar Iemanjá me levar - não que eu acredite em Iemanjá -.
— Não vai dizer nada? – Perguntei num tom baixinho morrendo de vergonha esperando algum sentimento ser exposto por ele.
— Eu tenho que dizer alguma coisa? – Perguntou confuso e eu fiquei ainda mais desapontada.
— Nã...Não sei. - Gaguejei sem graça.
Fiquei em silêncio e decidi que era hora de me retirar para meus aposentos e chorar no meu travesseiro com essa decepção.
— Ham. Já amanheceu. – Falei e dei o último gole no vinho de minha taça. Péssima ideia tomar vinho a essa hora com o estomago vazio e o coração partido. Me deu tontura, taquicardia e meu estomago roncou. Me levantei decidida em não demonstrar tristeza e ele ficou me olhando intrigado.
— Ei, espera aí, onde é que você pensa que você vai? – Se levantou num pulo. – Tá achando que a noite terminou? Pode ficar aqui! – Disse com autoridade. – Preciso te dar mais trabalho... As manhãs são mais gostosas quando posso estar com você. Ainda quero te pegar de jeito assim... – Vinicius elevou suas suas mãos até a minha cintura, firmou-as ali e me puxou. – Beijar seu pescoço... – Afastou meus cabelos de meu ombro e beijou com delicadeza meu pescoço me fazendo arrepiar.
— Hum... – Suspirei ainda séria tentando resistir a tentação e me lembrei da minha decepção.
— Aproveita comigo esse amanhecer gostoso... - Ele sugeriu.
— Melhor não. – Disse com seriedade permanecendo rígida e estática.
— Tá grilada por eu não ter dito nada né? – Perguntou se divertindo. Tudo não passa de uma piada dele com a minha cara? Como não pensei nisso? Típico de Vinicius Bergamashi, tornar tudo como algo pra dar risada no fim. Estúpido.— Saiba que eu sou apaixonado por você desde o dia que te vi pela primeira vez. E hoje mais do que qualquer outro dia tenho mais certeza disso.
— Hum. Momento conveniente pra você dizer isso não é mesmo? – Disse desconfiada pensando já na possibilidade de ser apenas um jogo pra ele conseguir o que quer logo após eu recusá-lo.
— O que você chama de conveniente eu chamo de natural. – Sorriu e fixou suas duas mãos em meu pescoço.
— Hum. – Permaneci séria. Medo de ser enganada e de tudo ser uma piada, aqui está.
— Vem dormir comigo vai. Você sabe que você quer... E sabe que sou apaixonado por você. Me diz como não me apaixonar? Como não me apaixonar por você? Pelo seu jeito, seu sorriso, sua risada, e a forma como você me surpreende... É tudo tão apaixonante em você...
— Você é bem persuasivo, sabe como me aliciar... - Disse cruzando os braços feito criança birrenta. - Eu que te digo, como não me apaixonar? Seu estúpido!
— Vem pro paraíso comigo vem...
Ele me puxou e passou seus braços em minha cintura e eu o abracei de lado, caminhamos de volta pra dentro de casa com sorrisos bobos estampados na cara e as taças em mãos.