Aftermath escrita por IgorPaulino


Capítulo 9
Carne para uma rainha


Notas iniciais do capítulo

Olá, meu nome é Igor, e sou o criador do Aftermath. Este é meu projeto que venho desenvolvendo há meses, e pretendo engrandecê-lo e um dia expandí-lo pra outras plataformas (jogos, livros, produções audiovisuais). Agradeço aos que leram, e caso se interessarem pela trama poderão acompanhar também pelo blog, cujo link estará nas notas finais. Obrigado a todos, e boa leitura =)



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Chegamos à instalação do exército de Ingvarr pela manhã, após dois dias de viagem atravessando a Alemanha. Entramos através das montanhas que guardavam o litoral ao nordeste, onde um pequeno cais havia sido improvisado.

Economizamos bastante tempo com os veículos que pegamos dos Piratas: Luke pegou uma grande picape, na esperança que sua carroceria fosse útil em algum momento. Eva preferiu viajar comigo numa chopper, uma potente e pesada moto que parecia ter o escapamento furado de tão alto o ronco de seu motor. Ingvarr recusou-se a deixar seu cavalo, e por isso tivemos de diminuir o ritmo.

Cerca de cinquenta homens estavam no acampamento, metade deles cuidando dos quatro navios atracados à areia. Eram longos e rasteiros, com vários remos em ambos os lados. A vela vermelha estava abaixada, e as carrancas penduradas nas proas eram figuras de belas mulheres nuas esculpidas na madeira clara.

–Soltem os navios! Estamos voltando pra casa! – Ingvarr ordenara assim que chegamos.

Os homens, todos vestidos com armaduras semelhantes a seu rei, comemoraram e colocaram a postos as embarcações enquanto subiam à bordo. Tivemos de deixar nossos veículos, mas Yoronhaz foi capaz de subir com a ajuda de uma longa rampa de madeira. Quando já estávamos em um dos navios junto com Ingvarr e uma dúzia de vikings, os escudos foram postos à beirada de seu casco e a vela abaixada. Tinha uma rústica figura de martelo bordada em branco sobre o fundo vermelho.

No cair da tarde, enxergamos o primeiro relance de terra. Bornholm era tão enorme que parecia um continente inteiro, e era lá o lar dos bravos guerreiros vikings. Eu conversava com Luke sobre o futuro próximo.

–Isaac, o que estamos fazendo aqui? – Luke perguntou. – Essa guerra não é nossa.

–Nós devemos a ele – respondi. – Se não fosse por Ingvarr, Eva poderia estar perdida, ou até morta.

–Sim, eu sei. Mas não acho que arriscar nossas vidas seja a melhor maneira de agradecer. Foi uma atitude descontrolada.

–Não me fale sobre descontrole. Foram seus olhos que brilharam fogo quando incinerou Jimmy. Aposto que não teria percebido se tivesse incinerado Eva naquela casa também.

–Eu nunca faria isso! Não foi minha culpa, cara. Ela é minha amiga tanto como você.

–Desculpe. É que... Eu realmente tive medo de que ela tivesse morrido.

–Nenhum de nós vai morrer, Isaac – Eva disse, chegando na conversa. – Você mesmo disse, se lembra?

“É complicado”, pensei. O mundo se tornou muito perigoso. É uma enorme terra sem lei. De repente, Ingvarr interrompeu a conversa com um grito:

–Escudos! – dita a ordem, os vikings os puxaram das laterais do navio e rapidamente formaram um casulo ao nosso redor. “Tuc, tuc, tuc”, ouvimos do lado de fora: flechas choviam sobre nós, e embora elas penetrassem os escudos, não os ultrapassavam. Um guerreiro fora atingido na minha frente, por uma seta que encontrou uma brecha e acertou seu ombro de cima para baixo. Seus companheiros de guerra não hesitaram em jogá-lo na água, uma vez que perdera a consciência. Talvez cruel, mas não fazia diferença. Os vikings acreditam que aqueles que morrem em batalha eram levados por Valquírias para se juntar a Odin em Valhala, então aquele homem morreu com honra.

Os remos não pararam enquanto éramos alvejados. Ao chegarmos em nosso destino, um dos navios havia ficado para trás, sem nenhum tripulante. Ingvarr saiu na frente até sua morada, um pequeno salão de madeira escura iluminada por tochas e uma grande fogueira retangular no centro. Nada muito sofisticado, mas bastante acolhedor.

–Jarl Ingvarr! – um senhor de armadura, forte e respeitável, com uma barba cheia tão loira quanto seus cabelos, o recepcionou.

–Já sei – o jarl respondeu impaciente. – Templários atacando. Notícia velha, Njord. As flechas inimigas foram mais rápidas em me dar a mensagem.

–Eles estão montando cerco, senhor. Há navios enormes por todo o lado leste de Bornholm, e eles montaram base na costa sueca. Os batedores dizem que eles dominam tudo desde Hammenhög até a praia.

–Eles nos têm nas mãos – disse um de capuz preto, esguio e discreto. – Fugir seria sensato.

–Só me traz conselhos ruins, vidente. Não fugimos, e se o fizéssemos jamais lutaríamos ao lado dos deuses em Valhala.

–Não deixa de ser uma opção – o encapuzado disse. Devia ser um tipo de conselheiro espiritual. – Eles não sabem do túnel submerso, e sairíamos logo nas costas deles. Teríamos o elemento surpresa em um ataque.

–Mesmo que ataquemos com todas nossas forças – disse Njord. – Os números deles quadriplicam os nossos. Seria suicídio.

–Não podemos fugir, não podemos lutar... E quanto à sua expedição, senhor? Encontrou forças para somar com as nossas?

–Nada mais que três andarilhos. Aqueles ali, os dois rapazes e a garota – apontou para nós, e os conselheiros acompanharam com os olhos. – Não parece muito, mas vi o estrago que fizeram com aqueles selvagens motoqueiros. Uma casa transformada em cinzas, e dezenas de corpos no chão. E isso foi obra dos rapazes, a garota havia se separado.

–Ainda assim, são três. E não estamos lutando contra selvagens, e sim contra soldados treinados dispostos a morrer por seu deus. Fora que um de seus navios, senhor, não chegou até Bornholm...

–O que você quer, mago? Diga logo de uma vez.

–As runas são claras, senhor. Temos de encontrar o Vervalser.

–Ah não – Njord suspirou. – De novo essa história.

–O Vervalser não funciona. Nunca funcionou. É uma lenda criada pra impressionar crianças.

–Acredita nos deuses e em Asgard, mas não nos presentes que nos dão? Já disse e repito, senhor. As runas são claras. Dê-me a chance de ao menos tentar, lhe suplico.

–Já não tenho tantas opções – Ingvarr desistiu. – Verei o que posso fazer.

–Obrigado, jarl Ingvarr. Tratarei de preparar as runas. – ele disse, e voltou de volta à porta sombria de onde saiu. O jarl chamou-nos até sua frente.

–Como podem ver, estou com problemas. Isaac, você parece ser quem toma as decisões. Responda-me, ainda pretende me agradecer?

–Estamos todos aqui, sua majestade – eu disse. – Basta pedir, e nós o ajudaremos.

–Por favor, não sou um rei. Sou apenas um jarl, e é assim que me chamam. Quero pedir um favor. Se vai ser perigoso, sinceramente não sei. Ainda pode voltar atrás se achar melhor.

Olhei para meus amigos. Luke deu de ombros, e Eva acenou um “sim” com a cabeça.

–Queremos agradecê-lo, jarl Ingvarr. É só dizer o que fazer.

–Certo. O vidente diz que existe uma bigorna mágica nas ruínas de Högestad. Eu preciso que a tragam pra mim. Vou mandar com vocês uma carroça para ajudar, e alguns homens pra escoltá-los até o fim do túnel por onde atravessarão o mar.

...

Percorremos o longo túnel na companhia de seis guerreiros, em uma carroça puxada por dois cavalos marrons. Não haviam carros obstruindo o caminho, mas ainda tivemos dificuldade em levar a carroça pelos estreito corredor. Lá fora no outro lado, já era noite. Era um pequeno amontoado de construções e guaritas chamado Ystad, e recebemos as instruções do jarl de que deveríamos seguir norte até Högestad e de lá para oeste, rumo ao museu onde estaria a bigorna.

O caminho pela rodovia 13 era escuro e rodeado de floresta. Os grilos cantaram o caminho todo, e a lua iluminou o caminho.

–Pessoal – Luke chamou.

Eu e Eva olhamos para ele.

–Queria pedir um favor a vocês, quando formos embora de Bornholm.

–Pode dizer, Luke – Eva disse.

–Desde que enfrentamos Jimmy, estou pensando nisso. E agora ainda mais, nessa monotonia. Queria que me ajudassem a encontrar meu velho companheiro Jack.

–Jack? – Eva perguntou. – Quem é esse?

–Luke era um criminoso, dos Piratas do Asfalto, quando mais novo. Ele e seu amigo Jack foram presos, e se separaram quando a Ouroboros pagou a fiança de Luke. Jack foi deportado pra Europa, e os Piratas vieram pra cá também. Inclusive, são eles os caras do labirinto. Jimmy nos disse que Jack estava por aí.

Högestad era uma cidade fantasma, com casas de toras de madeira ainda novas, que foram abandonadas com a mesma velocidade que foram levantadas. Seguimos oeste até o museu onde a bigorna supostamente estava.

O museu, pintado de branco, tinha um nome tão complicado que mal pude ler. Entramos, e fomos recepcionados por um busto de pedra sobre a etiqueta que indicava que era uma representação de Odin. Bandeiras e escudos penduravam-se nas paredes, e uma marcação no piso mostrava o caminho à segunda sala.

Lá haviam diversos artefatos curiosos. Entre os mais notáveis, estavam o martelo de Thor, a coleira do Fenrir, uma pena da asa de uma Valquíria, e assim vai. A bigorna, Vervalser, estava entre o capacete de Loki e a espada de Siegfried.

–Eis a bigorna – Luke disse. – Se ela é real, será que o resto das coisas deste lugar também são?

–Ingvarr não tem certeza sobre a bigorna – Eva respondeu, passando o dedo no pó de uma mesa. – Mas se for, não quer dizer que as outras coisas sejam.

–Vocês dois – eu disse, ao falhar em erguê-la. – Podem me ajudar? Ela é meio pesada.

–Foi mal, deixa eu te ajudar – Luke veio e posicionou as mãos do outro lado da bigorna. Era comum, inclusive era até meio pequena, mas parecia pesar toneladas. Foi um esforço gigantesco carregá-la até a entrada daquela sala. Luke a pousou, e disse bufando:

–Isaac, você não consegue usar sua foice pra levar a bigorna?

–Não sei, não havia pensado nisso.

Fisguei a bigorna pelas pontas e a levantei com facilidade com dois tentáculos negros de minha foice.

–Bem melhor – eu disse. – preparem a carroça.

...

O caminho da volta foi tão tranquilo quanto o da ida. A lua já ia embora, dando espaço para o sol no extremo oposto do céu. Na entrada do túnel em Ystad estavam dois vikings nos aguardando escondidos. Passamos, e eles ficaram pra checar por perseguidores. O longo caminho sob o Oceano Báltico terminou de volta na ilha de Bornholm. Seguimos de volta para a sala do jarl Ingvarr.

–Aqui está – eu anunciei. – Não tivemos problemas.

–Muito obrigado, Isaac. E muito obrigado Luke e Evangeline. Parece que você realmente é a “que traz boas notícias”.

Eu olhei para trás onde meus amigos estavam, sem entender. Luke fazia uma careta de desentendimento.

–Meu nome – Eva disse. – Evangeline significa isso em latim.

–Mandem chamar o vidente – Ingvarr gritou. – Enquanto descobrimos se o Vervalser é uma lenda ou não, gostaria de lhes pedir que lutem conosco contra os Templários.

–Sinto muito, Ingvarr – eu falei. – Nós pagamos o favor, não quero arriscar perder meus amigos.

–É – Luke disse. – Já foi arriscado termos ido buscar essa coisa de cem toneladas enquanto os tais inimigos acampavam do nosso lado.

–Entendo – o jarl disse, cabisbaixo. – De qualquer forma agradeço. Vocês podem partir com um barco amanhã. Enquanto isso, podem comer e beber à vontade. Se desejarem uma cama, basta pedir.

–Eu adoraria – Luke disse. – A última vez que dormi foi no carro, lá em Rabestein.

–E eu também – Eva disse. – Não durmo desde que acordei no labirinto.

–Você não, Isaac? – Ingvarr perguntou.

–Pessoas como eu não sentem sono. Mas obrigado por oferecer.

–Pois bem. Podem descansar esta tarde, até que o navio esteja pronto pra leva-los de volta à Alemanha.

Neste momento, o vidente voltou, misterioso e encapuzado como antes.

–Esperem – ele disse. – Preciso agradecê-los. Vocês podem ter salvo nosso povo, se Vervalser for o verdadeiro presente de Thor. As runas dizem que ela é capaz de forjar a vida, se feito o sacrifício certo. Por sorte, fiz os preparativos enquanto estavam fora.

Um homem chegou arrastando um carrinho de mão, e em cima dele estava um cadáver de uma mulher com uma profunda ferida no rosto.

–O que significa isso, mago? Quem é essa mulher? – disse o jarl.

–Era Ymir, meu senhor. Uma guerreira ferida no último ataque inimigo em alto-mar. Ela não resistiu e faleceu essa madrugada. Teve o rosto cortado e teve uma hemorragia violenta. Será dela a honra de carregar a nossa salvação – virou-se para o homem que a levava. – Coloque-a sobre a bigorna.

O homem obedeceu. A moça era loira, magra e estava pálida como gelo. O corte em seu rosto na verdade não era só um, mas vários: o maior dava a volta em uma bochecha e cruzava o olho e a sobrancelha; outros menores feriam-lhe o nariz, a boca e a outra bochecha. O vidente pôs pedras com símbolos esculpidos ao seu redor, as runas de que tanto falava. Gritou e sussurrou palavras, e de sua manga tirou um punhal. Ergueu-o e atingiu o coração de Ymir, e no mesmo instante seus olhos se abriram, verdes e brilhantes.

–Funciona! – o vidente comemorou. – Vervalser é real! Veja, senhor, eu disse!

Ymir sentou sobre a bigorna, e enquanto levantava seus olhos perderam a cor e ficaram brancos; seus cabelos desmancharam-se e caíram todos; sua pele ressecou, tornando-a ainda mais magra, e a face encheu-se de veias, que pareceram estourar pintado sua pele de um roxo que logo se tornou preto, acentuando as feridas.

–Obrigado, garotos. E garota, é claro – o vidente disse. – Vocês acabaram de salvar o último povoado viking. Que Odin os proteja, e que vençam todas suas batalhas.

De trás de nós, um guerreiro surgiu, afobado, gritando ao jarl:

–Eles sabem! Deuses, eles sabem!

–O que houve, Floki? – perguntou Ingvarr.

–Eles foram seguidos por um batedor Templário! Eu e Bjorn vimos quando os três chegaram no túnel e o seguimos, mas fomos emboscados! Bjorn não sobreviveu, mas eu fugi pra trazer a notícia, meu senhor.

–Ah, droga. Rápido Floki, mande derrubarem o túnel. Deixe que o oceano o inunde, use qualquer coisa que tiver, explosivos, picaretas, qualquer coisa!

–Não será necessário – o vidente interveio. – Temos agora uma arma secreta. Deixem que venham, irão sentir-se como idiotas.

–Tem certeza que Ymir vai dar conta sozinha? – Ingvarr duvidou.

–Absolutamente. Ymir já não é mais humana, senhor. Ela agora é nossa guardiã – a mulher dava uns tremeliques, como se estivesse se acostumando ao seu corpo novamente. – Floki, busque correntes, todas que encontrar. Quando ela recuperar a consciência, vocês não vão querer deixá-la livre.

–Faça o que ele disse – Ingvarr ordenou. – Isaac, Luke e Eva, vocês podem se instalar na casa à frente deste salão.

Andamos pra fora do salão do trono do jarl, enquanto ele instruía seu mestre de armas, Njord, sobre as táticas para uma possível batalha. A casa onde ficaríamos tinha seis camas, dispostas paralelamente ao longo do quarto como em um quartel militar.

–Luke – eu disse. – O que vai ser quando formos embora? Pra onde iremos?

–Achei que fôssemos fundar uma cidade. Recomeçar.

–Com essas guerras por perto? Não é seguro mesmo com nossa proteção. Não sei se conseguiria administrar uma cidade, pra falar a verdade.

–Então encontraremos uma – Eva falou. – Sabemos que existem os vikings e os Templários, certamente há outras se formando.

–Mesmo assim – eu ainda me preocupava. – Essas guerras nunca vão parar. Precisamos acabar com isso pra poder viver em paz. E nós podemos fazer isso.

–Então – Luke disse. – Está dizendo pra matarmos todos?

–Os vikings são pacíficos, e se fosse por eles jamais sairiam de Bornholm. Os Templários é que estão querendo dominar tudo.

–Esta guerra não é nossa – Eva disse. – Mas um dia pode ser. Se pararmos eles agora, as novas cidades poderão crescer sem opressão.

–Ajudaremos Ingvarr, então – Luke concordou. – Mas quando tudo acabar, partiremos.

...

Luke e Eva dormiam enquanto eu dava uma volta pela cidade. Bornholm era uma pequena vila em uma grande ilha. O sol brilhava forte, embora o clima fosse meio frio. Ouvia apenas as espadas batendo nas rinhas de treinamento, e as flechas zunindo até os alvos de palha.

Uma corneta soou, e todos correram até o túnel. Estavam sob ataque: corri para acordar Luke e Eva, mas eles já estavam de pé. Fomos até a entrada do túnel, e haviam centenas de vikings, esperando o ataque. Os gritos eram baixos, mas ecoavam pra fora do túnel com fúria. Logo, dezenas de Templários passaram correndo entre os vikings, e a batalha começou.

Todos os Templários tinham armaduras de aço, cobrindo-lhes o dorso, os braços e as coxas, além de um capacete e cota de malha. Os machados vikings partiam-lhes as juntas desprotegidas com violência, mas eram frequentemente atacados pelos flancos devido à diferença de números.

–Voltem! – a voz de jarl ordenou. – Todos, recuem!

E assim o fizeram: uma parede de escudos se formou na frente dos Templários enquanto os vikings recuavam. Abriram um corredor entre eles, e Ymir foi levada por ele até ficar cara a cara com os inimigos, que pararam curiosos. O vidente gritou algumas palavras do fundo lidas nas runas, e Ymir despertou: ela tinha uma aparência fantasmagórica, e ergueu seus braços esqueléticos como numa orquestra. Aos poucos, guerreiros Templários caíam, apunhalados por cadáveres reanimados dos vikings mortos aos seus pés.

Levou um tempo até que todos eles percebessem. Quando apenas a metade dos inimigos ainda estava de pé, Ymir reanimou os Templários mortos pra somar forças. Ela inclusive, partiu para cima deles, e no meio da confusão pude vê-la com toda sua fúria mordendo a carne de um Templário por cima da cota de malha, e arrancando um pedaço. Tamanho foi o massacre que muitos nem tentaram lutar. Uns corriam, muitos rezavam e pouquíssimos resistiam. Quando todo o exército se tornara mortos-vivos, eles marcharam pelo túnel atrás dos restantes.

–O problema dos números foi resolvido – Njord falou. – Högestad logo estará livre de inimigos. Todos devemos a você, vidente. Você nos salvou.

–Não só a mim – ele respondeu. – Todos vencemos essa batalha de alguma maneira. Os estrangeiros também merecem agradecimentos, por trazerem a bigorna até aqui.

Os vikings ao redor gritavam de comemoração exaltando o mago. Aproveitei pra ir até Ingvarr e comunicar nossa decisão de ajudá-los.

–Ingvarr, posso falar com você um instante?

–Claro Isaac. Venham, vamos para o salão, pra longe dessa gritaria.

Luke e Eva vieram junto. Todos ainda comemoravam lá fora, e o salão do trono estava quase vazio.

–Então – disse o jarl. – O que posso fazer por vocês?

–Nós queremos te ajudar a derrotar os Templários – Luke disse.

–O quê? Não, não vamos mais à guerra.

Todos ficamos estupefatos.

–Como não? – Eva falou. – Eles mataram vários de seu povo! Você tem que fazer alguma coisa! Ainda mais com Ymir do seu lado!

–Exatamente – ele respondeu. – Ymir está do nosso lado. Não precisamos mais lutar. Ficaremos protegidos aqui em Bornholm. Vocês são bem-vindos para ficar, se desejarem.

–Não – Eva continuou. – E as outras pessoas espalhadas pelo mundo? Elas estão vulneráveis contra esses malucos!

–Evangeline, eu sou o jarl dessas pessoas aqui na ilha. Meu dever é com elas, e as protegerei com todas as minhas forças. Por que eu deveria mandar meus homens à guerra, quando a paz é uma opção?

–Se você não vai fazer nada, então nós vamos – Eva olhou para Luke e eu, e nós consentimos.

–Sinto em ouvir isso. Ainda podem partir amanhã, mas digo-lhes de novo: são todos bem-vindos pra morar em Bornholm. Aqui estarão seguros.

–Não queremos segurança. Queremos justiça – Eva disse, dando as costas e saindo do salão.

...

Não culpava Ingvarr por querer o melhor pro seu povo. Mas algo estava errado. A imagem de Ymir dilacerando furiosa o pescoço daquele homem não saía da minha cabeça. Ela era pura raiva, algo perigoso e profano demais para confiar uma cidade aos seus cuidados.

A noite estava mais silenciosa do que o normal. Todos descansavam com felicidade em seus corações, agora que a ameaça cristã tinha sido vencida. Eu era o único acordado, e observava a lua da janela. A calmaria subitamente foi interrompida por um grito de horror, e depois outros ainda mais desesperados. Algo sinistro estava acontecendo na cidade.


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Notas finais do capítulo

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Novos capítulos deverão sair semanalmente, não percam o próximo =)



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