Zombie escrita por JSchiatti


Capítulo 2
Ausência


Notas iniciais do capítulo

Heey. Agradecendo as pessoinhas que comentaram. Cês são incríveis.
Então, o título fui ajudinha do meu pai e eu achei bem interessante, em suma. Eu não me lembro de estar ouvindo uma música em específico quando escrevi esse capítulo, então fica com vocês o que ouvir.
Então...É isso. Desculpem qualquer erro, e Boa Leitura.



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Os olhos castanhos precisaram de algum tempo para se acostumar com uma luz muito forte que lhe cegava. O garoto piscou, até que fosse capaz de perceber a lâmpada com normalidade.

A noite era escura ao seu redor, mas a lâmpada do poste bem em sua direção era quase o Sol para seus olhos ainda desacostumados. Se colocou numa posição sentada, olhando em volta com calma. Inspecionou a rua deserta em que estava, os prédios antigos, e os outros postes iluminando de forma precária aquele local. Ele semicerrou os olhos durante sua inspeção.

Não sabia onde estava.

Algo no fundo de sua mente lhe dizia que aquele era um lugar conhecido, mas por mais que procurasse em sua mente, não sabia dizer onde era.

Sua cabeça doeu ao tentar pensar em mais coisas sobre o assunto. Ele apoiou as costas no poste, se sentiu física e psicologicamente cansado, mas não lembra de ter feito nada que pudesse ter lhe deixado assim.

Então ele parou, olhando para um ponto fixo por um instante. Se focava em um prédio, sem realmente ser capaz de vê-lo.

Não se lembrava de ter feito nada. Se perguntou se alguém sentiria sua falta considerando estar tarde, mas não era capaz de responder sua própria pergunta. Ele entrou em desespero por um instante, tentando pensar em informações que ele soubesse sobre si mesmo.

O nome Thomas Lenart piscou como uma árvore de natal em sua mente, e se ele sabia de alguma outra coisa, a luz dessa árvore ofuscou. Segurou o jeans largo com certa força, ele precisava se lembrar de mais alguma coisa, tinha de haver alguma explicação para aquilo tudo.

Uma dor lancinante atingiu sua cabeça, o fazendo trincar os dentes e encostar a cabeça no poste. Ele esperou, e abriu os olhos devagar.

Se levantou da forma que pode, e olhou em volta mais uma vez. Se sentia vazio, de certo modo, como se algo fosse tirado dele. Ele respirou fundo algumas vezes, decidindo se começaria a andar ou não.

E então ouviu algo em sua mente, uma voz muito tranquila e baixa.

Vá.

A voz lhe parecia confiável. Ele não se importava se estava louco, ou se poderia morrer ao andar sem rumo por aí. E antes que pudesse controlar seus pés, estava caminhando ao longo da grande rua, sem realmente pensar em algo.

Não tentara se lembrar de nenhuma outra informação, evitando que outra dor lancinante se apossasse de seu corpo.

E ele andou.

Andou.

Andou.

E era como se ele não estivesse se movimentando, era simplesmente como se algo dentro dele o guiasse para algum lugar em específico. Ele ignorava aquela sensação. Não sabia quem era, não sabia onde estava, não sabia o que o levara até ali. Se ele fosse louco, então estaria ao menos aprendendo algo sobre si mesmo.

Colocou as mãos nos bolsos, e sentiu algo dentro deles. Sua curiosidade lhe venceu e ele tirou o pequeno objeto dali com cautela.

Assim que o pequeno bracelete entrou em seu campo de visão, sua cabeça doeu. Ele sentiu o planeta girar e imagens e sons distintos piscavam em sua mente. Pessoas gritando, um choro, fumaça e o cheiro enjoativo de sangue.

Ele se sentiu cair no chão. Segurava a cabeça com as duas mãos, esperando que aquilo tudo passasse. E quando finalmente tudo se acalmava, ele estava arfando, os olhos doendo.

Se colocou sentado novamente, olhando para o objeto de prata que descansava no chão. Algo nele lhe chamava atenção. Ele segurou de forma hesitante o pequeno objeto e viu uma pequena pedra azul, logo ao seu lado havia T. Lenart entalhado na prata.

Ele suspirou. Talvez aquela fosse a única pista que tivesse para descobrir quem ele era, a única coisa que poderia lhe dar o começo de um caminho para começar a descobrir quem ele era realmente. Se ele tinha família, ou alguém que iria se importar com ele.

Então ele se levantou, tirou a poeira dos jeans, colocou o bracelete novamente no bolso e voltou a andar. Tudo o que podia fazer era encontrar um lugar para ficar por enquanto, e perguntar para as pessoas que viviam ali se sabiam algo sobre ele.

Por mais que a sensação de vazio o coroe-se por dentro, o deixando quase dolorido, ele ainda era capaz de perceber aquela pequena voz em sua consciência o mandando continuar andando. Dizendo que ele deveria prosseguir.

E foi o que ele fez.

**

– Eu já lhe disse uma vez, Dominic: Eu não sou babá. – a loira estava realmente irritada. O homem de cabelos negros apenas sorriu, passando a mão pelo rosto. Ela olhava para ele com certa raiva, apesar do rosto permanecer despido de emoções.

– Não estou pedindo que seja uma babá. Estou pedindo que seja uma guardiã. – o olho cego anormalmente claro, num tom leitoso, pareceu faiscar. Ela sabia que não tinha opção contra aquilo. – Ele é importante para as matriarcas. Não as decepcione.

A menção do título fez um calafrio correr por suas espinha. Quase era capaz de sentir a ânsia de vomito na boca do estômago.

– Sabe que eu não tenho nada haver com isso. – as palavras eram rígidas, e naquele momento ela queria o reconforto da arma no coldre em sua perna. O olhar do homem estava menos pacífico agora. Ele levantou de sua cadeira grande e foi até o lado dela, olhando em seus olhos.

As palavras dele foram ditas bem ao pé de seu ouvido, e aquilo lhe deu tanto nojo quando o cheiro que invadiu o beco algum tempo antes.

– Você sabe muito bem que está metida nisso até o pescoço. –as palavras eram ríspidas. Ela conhecia muito bem aquele voz, ela sabia que Dominic não brincava em relação a ordens diretas. ­– Não seja idiota o suficiente para negar uma ordem.

Ele se afastou, e ela olhava para os próprios pés. O garoto, um pouco mais atrás a observou por um momento, sério. Então ele olhou para as costas de Dominic, alguém tinha de tomar a decisão por ela nesses momentos. A conhecia a tanto tempo, que era basicamente normal ver esse tipo de reação nela.

– Como é esse garoto, Dom? – sua voz era bem diferente do tom normal e alegre que usava sempre. Não havia nada além de seriedade naquelas palavras, e o tom obediente do albino fez Dominic sorrir novamente. Ele jogou um envelope para o mesmo e voltou a se sentar na grande cadeira de couro. Olhos âmbar passaram pelas fotos de um garoto de cabelos castanhos e bagunçados com cuidado. Ele colocou o envelope nas mãos da loira antes de se voltar novamente para o outro homem na sala. – Temos de saber o porquê dele ser importante.

– Não agora. – a resposta veio rápida, e fez com que o albino não fizesse mais nenhuma outra pergunta. – Vou dar o endereço de onde ele está. De lá, o trabalho é de vocês.

A dupla apenas olhava para a pessoa atrás da grande mesa de mogno com cuidado. Se as matriarcas queriam alguém, era porquê essa pessoa tinha algum valor. E mesmo que não fosse dito, ficara óbvio que não era uma escolha do garoto ir ou não com eles.

Quando se era um Caçador, você tinha duas opções: Obediência, ou morte.

Nunca houve um meio termo.

**

Thomas ainda andava sem rumo quando suas pernas simplesmente pararam. Ele ficou assustado por um instante, mas não achava que estava ficando louco. Não ainda.

Aquela pequena voz que o incentivava a continuar andando havia parado de falar. E agora tudo o que restava era o farfalhar das árvores envolvendo a noite silenciosa. E quando os pelos de sua nuca se arrepiaram, ele automaticamente soube que algo não estava certo. Prestando atenção no ambiente a sua volta ele fechou os olhos por um momento.

Então um cheiro estranho lhe atingiu, parecia carne apodrecendo dentro da geladeira. Ele abriu os olhos, uma expressão de nojo no rosto. Ele olhou em volta, mas nem ao menos latas de lixos por perto haviam.

Naquele momento decidiu que devia olhar para onde estava, tentar descobrir se já estive ali antes ou se conhecia a rua. Mas nada lhe veio a mente, o fazendo suspirar derrotado. Ele se dirigiu até o meio fio da rua, e se sentou. Tirou o bracelete do bolso, sentindo a prata fria contra suas mãos.

Um barulho fez com que ele levantasse os olhos.

Ele observou as coisas que o cercavam com cuidado, mas a escuridão não lhe permitia ver com clareza. Ele esperou, as orelhas e os olhos atentos a tudo.

E então ele tinha diante de si uma cena desconcertante, que o fez se levantar, dando alguns passos para trás. Aquele coisa que estava vindo em sua direção parecia ser a fonte do cheiro que havia sentido antes. A observando mais facilmente por ela ter entrado em uma fonte de luz, ele pôde ver algumas partes de sua carne apodrecendo. Aquilo eram os restos do que um dia fora um ser humano, e o cheiro fez ele colocar um braço sobre o nariz, ainda chegando para trás.

O que era aquilo? De onde havia saído? O que eram aqueles barulhos amedrontadores que saíam de sua boca? Se ao menos aquela parte deformada pudesse ser chamada de boca...

Ele sentiu o chão sob si e percebeu que havia caído. Seu dia não podia estar melhor. Ele olhou com horror os olhos sem vida da criatura que ainda se movia para cima dele, os dentes afiados pareciam muito maiores agora que os via mais de perto.

Então ele ouviu um som alto e fechou os olhos. Reconheceu aquele som como um tiro, e realmente esperou que tivesse lhe atingido, mas ainda estava inteiro.

Abriu os olhos hesitantemente, e viu que aquele ser desprovido de humanidade estava caído, tão próximo de seus pés. Ele puxou as pernas mais para si, num medo repentino de que aquela coisa voltasse a andar.

Mas então o fato óbvio de que alguém havia acertado aquilo lhe fez pensar que haviam outras pessoas por ali. Ele prestou atenção aos sons que o rodeavam, ouvindo passos sempre tão leves sobrepondo as folhas das árvores que balançavam com o vento. Thomas se levantou rapidamente, os olhos castanhos e curiosos se mantinham focados em busca de algum sinal de outra pessoa por ali.

– Você é bem sortudo sabe? – a voz masculina fez com que ele se virasse em direção a ela. Ali estavam duas pessoas, um homem e uma mulher que não pareciam ter mais do que vinte e poucos anos. O homem que havia falado, era albino, e os olhos quase dourados fizeram ele se perguntar se olhos de pessoas brilhava no escuro. – Se tivéssemos demorado mais um pouco você tinha virado o prato principal de alguém. – o sorriso foi visível para Thomas mesmo daquela distância, e ele percebeu que sua visão estava boa, mesmo para aquele escuridão.

Considerando que o albino carregava uma espécie de estaca, a garota havia atirado na criatura.

A loira tinha o rosto sem emoções, mas ela possuía a aura de quem estava com raiva de algo, ou estava sendo obrigada a algo. Ele observou os olhos dela, que também brilhavam de forma leve. Talvez a cor pudesse ser confundida com um azul, mas era definitivamente algo próximo ao lilás o que fez ele ainda mais surpreso.

Ambos os desconhecidos usavam um sobretudo grande, de um material que parecia couro. Ele deu um passo para trás quando eles pararam de andar.

– Quem são vocês? – a voz dele saíra meio tremida, e ele se xingou por fazer isso. O sorriso no rosto do albino passou a ser mais compreensivo e ele se aproximou do garoto que teve de se conter para não andara novamente para trás. O homem lhe estendeu a mão.

– Meu nome é Adriel Clevan, – ele ainda sorria quando o garoto segurou sua mão –E eu suponho que você talvez não lembre seu nome.

Aquele fez o de cabelos castanhos soltar a mão do outro. Adriel apenas riu, os cabelos repicados e alvos caindo em seu rosto.

– Pode começar a se acostumar com isso, garoto. Quando se está com a gente não há muito que você possa esconder. – Thomas agora tinha uma expressão confusa.

– Por que eu estaria com vocês? – as palavras saíram de sua boca antes que pudesse impedí-las.

– Não acho que seja uma opção não ficar conosco. – a loira se pronunciava pela primeira vez, e sua voz era controlada de uma forma monótona. – Fora que você quase morreu, aqui. Se está sendo atacado por essas coisas, – ela apontou com a pistola para o ser aos seus pés – Significa que: Ou você é mais importante do que pode se lembrar, ou você deixou alguém extremamente furioso.

– Eu não... – ele começou, ainda olhando para a criatura com certo receio, ainda imaginando quando ela se levantaria e cravaria os incisivos anormais em sua jugular, arrancando sua cabeça fora numa única mordida. Adriel riu.

– Sim, sabemos que não se lembra. – a voz do homem era mais calma, tranquilizadora. – É um dom.

– Mas, de novo, por quê eu ficaria com vocês? – ele olhou para os dois com curiosidade.

– Porque você é um puta azarado. E é melhor ficar conosco do que morrer sendo o jantar de uma belezinha dessas. – ela chutou levemente o ser, e Thomas sentiu um arrepio com o som que isso fez. Ele soltou o ar devagar.

– Ora, vamos, seja educada. – Adriel disse para a loira que apenas revirou os olhos, bufando.

–Meu nome é Liese Weisstein. –ela colocou habilmente a arma de volta no coldre. –E eu tenho uma boa e uma má notícia para você. Qual quer primeiro?

– A má. – ele suspirou, os olhos no pequeno sorriso de escárnio que repuxou os cantos da boca de Liese.

– A má é que você morreu. – ele arfou, aquilo era loucura. Talvez eles estivessem, todos loucos, e haviam fugidos juntos de um sanatório ou coisa parecida. –E a boa, meu caro Sr. Azarado, é que você vai viver.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Deixem suas opiniões e teorias nos comentários e é isso aí.
Até.