Ore no Goshujin-sama escrita por Assa-chan


Capítulo 4
O desafio


Notas iniciais do capítulo

A única resposta, afinal de contas, seria ajudar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/58005/chapter/4

(Syaoran's POV)


Sakura gostava do professor Yukito Tsukishiro. Por que diabos é que eu demorei tanto assim para notar?

A repentina mudança de personalidade quando está perto dele, o fato de me ignorar quando percebe que ele está nos olhando... Eu ainda estava meio incrédulo, mas começava a fazer sentido. Era tudo malditamente obvio!

Eles estavam abraçados no papel que parecia ser tão precioso para Kinomoto. Ela deveria ter 10 anos de idade, ele obviamente 8 a mais. Aquela foto em minhas mãos só confirmava aquilo eu já sabia há um bom tempo, mas que por um qualquer motivo nunca veio à tona. E seria uma carta a se usar a meu favor.

Ela se aproximou, tirando a fotografia de entre os meus dedos antes que eu pudesse dizer alguma coisa. Os olhos estavam repletos de lágrimas encravadas que recusavam-se a descer. Sakura puxou minha gravata com força, fazendo-me fitar diretamente os orbes esmeraldinos.

Eu nunca tinha visto tanto ódio assim em alguém.

- Diga isso por ai... - ela franziu a testa, apertando com força a minha roupa - E vai morrer. Vagarosa e Dolorosamente. - finalizou, soltando-me.

Passou reto por mim limpando os olhos envergonhada. Eu me limitei a observá-la sem entender exatamente. Qual era o problema daquela garota? Com certeza não era o fim do mundo ela gostar de Tsukishiro. Ou melhor, chegava a ser banal - boa parte das garotas de nossa classe também guardavam sentimentos por ele.

Durante a aula e os intervalos Sakura me ignorou constantemente, tanto que foi embora sem que eu percebesse.

Quando cheguei em casa, notei que a porta estava destrancada - sinal de que Wei estava me esperando.

- Okaeri, Li Shaoye*. - meu mordomo me acolheu com um sorriso entre os lábios, enquanto eu ainda estava tirando os sapatos para poder entrar.

- Ah, oi Wei. - respondi sem muita vontade. - Hoje eu não vou jantar, ok? Qualquer coisa estarei no meu quarto. - continuei a falar atravessando o corredor e indo em direção às escadas.

- Aconteceu alguma coisa com a senhorita Kinomoto, Shaoye? - o ouvi dizer atrás de mim assim que comecei a subir as escadas.

- Por que acha que tem algo a ver com ela? - indaguei parando de andar, ainda de costas pra ele. Wei, provavelmente, me conhecia tão bem que eu chegava a ser transparente para ele.

Ele me criou, em outras palavras. Minhas irmãs decidiram morar na China com o resto de nossos parentes, e meus pais sempre viajaram muito - são um historiador e uma arqueóloga -, por isto contrataram um mordomo para cuidar de mim há tanto tempo atrás que eu nem saberia dizer exatamente quando. Se não fosse por ele eu nem poderia ter ido a Tomoeda.

- Pois sempre que o senhor fica de mal humor ou feliz, é por causa dela. - ele disse em um tom sereno, fazendo-me suspirar por conta da verdade contida naquelas palavras. 'Sakura Kinomoto' tinha se tornado o núcleo de minha vida.

- Eu preciso de um conselho. - virei-me, vendo-o em pé pouco antes do primeiro degrau da escada.

- Certo. - assentiu, começando a andar em direção à cozinha. - Lhe farei um chá, portanto espere na sala, Li Shaoye.

"Ele tem uma péssima mania de fazer chá toda vez que alguém quer falar com ele", pensei, arqueando uma sobrancelha. Entretanto, logo minha cabeça já estava pensando em outras coisas. Passei a mão entre os cabelos, vendo-me sem saída. Ele era muito mais sábio do que eu jamais poderia sequer sonhar em me tornar. O obedeci, deixando a mochila na escada mesmo e indo até a sala.

Sentei no primeiro sofá que vi, e Wei não demorou muito a entrar naquele recinto com uma bandeja retangular em mãos. A apoiou sobre a mesinha de centro, acomodando-se logo depois na poltrona de frente para a minha. Estendeu-me a xícara, e eu a aceitei sem mais devaneios.

- É sobre a senhorita Kinomoto? - ele perguntou, mas não parecia querer uma resposta.

- Não. - menti. Meu orgulho era demasiadamente maior do que nossa intimidade. - E sim sobre uma outra garota. Eu descobri que ela gosta de uma pessoa e agora ela está com raiva de mim.

- Por acaso o senhor gosta desta senhorita? - respondeu com outra pergunta, fazendo-me engasgar.

- O-O QUE.. - eu não consegui terminar a frase, tendo que tossir. Wei me olhou preocupado, porém logo consegui limpar a garganta - Claro que não! Ela é minha rival!

- Então é, de fato, a senhorita Kinomoto.

- Cale a boca e me escute. - ordenei aborrecido. - Não importa quem é! Me diga o que tenho que fazer.

- Se não gosta dela... - ele deu um gole em seu chá, logo apoiando a taça sobre a mesinha e fitando-me. - Talvez deveria ajudá-la a conquistar essa pessoa para que a senhorita Kinomoto possa te perdoar.

- Mas isso é chato. - o imitei, agora colocando minhas mãos sobre os joelhos e franzindo as sobrancelhas. - E ela nunca vai aceitar minha ajuda.

- Faça disso um desafio. - Wei me incentivou prontamente, sabendo que eu iria gostar de tal proposta - Se você fizer essa pessoa se apaixonar por ela em certo periodo de tempo, irá ganhar. Simples.

- Wei, você é um gênio! - levantei-me animado, correndo até a porta.

- Shaoye XiaoLang! - ele exclamou, seguindo-me. - Acho melhor esperar até amanhã. Mulheres são criaturas muito inconstantes. Se ela está com raiva, com certeza não vai te escutar mesmo que grite ao ponto de deixá-la meio surda. - eu parei de colocar os sapatos, virando o rosto para trás. - Acredite, se for falar com ela amanhã ela vai estar mais calma e quem sabe até aceite.

- 'Quem sabe'...? - repeti perdendo parte do estusiasmo enquanto o via aproximar-se.

- Sim, senhor. - confirmou - Quem sabe.

A manhã demorou mais do que o de costume a chegar - a ansia me deixava impaciente. Mas acabei utilizando o tempo para calcular cada pequena palavra a se dizer para que Sakura não recusasse minha oferta.

Por ser preguiçosa e acordar tarde, um de meus deveres diários é ir chamá-la todas as manhãs meia-hora antes do começo das aulas - além de depois ter de levá-la até a estação. Quando vi, já estava de frente para sua casa; chegava a ser um ato mecânico.

Apertei a campainha duas vezes como todos os dias. Os momentos de espera nunca me pareceram tão longos. Quando ouvi a porta se abrir, tive medo de vê-la ainda de pijama.

- Li? - eu vi a figura de seu irmão Touya se desenhar assim que a entrada me foi aberta - Sakura estranhamente acordou cedo hoje. Não precisava vir. Ela me disse que tinha te avisado quando eu perguntei, mas pelo jeito... - eu balancei a cabeça, e ele provavelmente notou que eu estava desapontado - Você e a monstrenga brigaram? Ela estava meio triste ontem.

- N-Não. - gaguejei sem querer, sentindo raiva de mim mesmo por dentro - Eu esqueci o celular em casa. Vai ver ela me mandou uma mensagem quando eu tava no caminho.

- Sei. - ele afinou os olhos - Amanhã vai ter um jantar aqui em casa. Meu pai disse que deveria te chamar também. Se quiser vir, é às 8. Mas pode ficar em casa, ninguém vai sentir a sua falta. - pois é; Touya nunca gostou muito de mim.

- Muito gentil. - forcei um sorriso de lado, caminhando pelo jardim e indo pegar minha bicicleta - Mas agora tenho que ir, antes que me atrase. Até!

- Certo, pirralho. - o ouvi dizer antes de bater a porta com força. A familia Kinomoto era cheia de pessoas desagradáveis.

Apesar de eu ter chego em horário, não conseguia ver a Sakura em lugar algum. Ela parecia ter desaparecido no nada. Corri pra dentro da classe, vendo-a sentada no mesmo lugar de sempre como se nada tivesse acontecido. Mas, realmente, não houve nada. Foi ela quem quase chorou sem motivo.

Sentei na minha carteira, e ela automaticamente virou o rosto para o lado oposto, ignorando-me. Pude até mesmo ouvir o risinho de alguma garota por conta daquele gesto.

As aulas começaram antes que eu pudesse tomar a iniciativa pra falar com ela. O único jeito foi escrever um bilhetinho e jogá-lo em cima de sua mesa.

"Não fuja de mim."

Lhe lancei um olhar furtivo e a vi pegar o pedaço de papel sem muito interesse, e logo olhar para mim após lê-lo. Eu lhe fiz um leve sinal com a cabeça, e Sakura revirou os olhos antes de me responder - mas mesmo contra sua vontade, o fez.

"Não estou fugindo."

"Então me espere no terraço hoje na hora do almoço. Tenho algo de interessante para lhe propor."

"Outra aposta?" - a caligrafia pareceu ligeiramente rabiscada, como se transmitisse raiva.

"Não exatamente. Vai saber se vier."

"Certo... Eu vou." - eu exultei por dentro ao ler que ela tinha aceitado.

Saí da classe antes dela, sabia que não iria querer que o professor da aula que tinha acabado nos visse. Observei despistadamente ela corando só em se despedir dele - Sakura parecia outra pessoa perto de Yukito. E isso, de certa forma, era extremamente irritante.

Esperei paciente escorado ao muro que delimitava o terraço, olhando para a porta constantemente. Alguns minutos se passaram antes que a jovem Kinomoto aparecesse para finalmente atender ao meu chamado, mas não importava muito. Eu definitivamente iria ganhar dessa vez.

- O que quer agora? - ela abriu a boca assim que notou minha presença, com o ar de arrogância contrastando a timidez que tinha poucos instantes antes.

- Um desafio, Sakura. - respondi, começando a caminhar para perto dela.

- Isso não é hora, Syaoran. - a garota franziu a testa, parecendo mais aborrecida do que no dia anterior.

- Tem a ver com o Tsukishiro-sensei! - exclamei ao notar que ela estava querendo ir embora. E pareceu funcionar, pois Sakura demonstrou certa atenção ao ouvir aquele nome.

- Prossiga. - cruzou os braços sobre a barriga, com ar desconfiado.

- Eu notei que você não queria que eu descobrisse isso, então a única coisa que eu posso fazer é te ajudar. Mas, claro, tudo tem um preço.

- Chegue logo ao ponto. - ela mantinha o semblante intrigado, e eu me apressei a continuar.

- Certo. Se eu conseguir fazer o Tsukishiro-sensei se apaixonar por você em um mês irei ganhar a aposta que fizemos no começo do ano e você vai estar, além de namorando com ele, sem ter que me aturar te seguindo.

- Uhm. Mas isso me parece unilateral. E se você perder?

- Você pode pedir o que quiser. Mas somente uma coisa.

- Um mês, você diz...? - Ela levou uma mão ao queixo, pensativa. Entretanto logo sua superioridade se fez presente através de um largo sorriso - Certo. Não tenho nada a perder, de qualquer forma. Mas isto tem que ficar entre nós... Entendido?

- Sim. - eu a alcancei, estendendo-lhe uma mão - Pode começar a me chamar de 'sensei'.

- Ok, Syaoran-sensei. - sua voz teve certo sarcásmo em sua entoação. É, ela estava duvidando de mim.

E não sabia o quanto estava errada.

 

*Shaoye: Esta é uma palavra chinesa usada para se referir a um superior na idade média. Digamos que seja a tradução chinesa do "bocchan" do Japão. Significa, de fato, "jovem mestre".

a279;


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Perdão pela demora o obrigada pelos comentarios! Agora a coisa se faz interessante... Espero que estejam gostando. x3
Reviews?