Ore no Goshujin-sama escrita por Assa-chan


Capítulo 5
Primeira etapa (Parte A)


Notas iniciais do capítulo

Aproximação.



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(Syaoran's POV)

 

Os 'treinamentos' começaram naquela mesma tarde. Sakura me deixou ir até sua casa pois seu irmão não estaria e seu pai chegaria de viagem somente no dia seguinte. Eu já tinha entrado naquele quarto algumas vezes, mas não me lembrava de terem tantas coisas sobre artes marciais e livros de auto-estudo espalhadas por aí. Sempre pensei que o cômodo de uma garota deveria ser mais... Rosa. E menos parecido com o meu, obviamente.

Certo, não estamos falando de uma garota, e sim de Sakura Kinomoto - também denominada "o demônio".

A vi entrar e me sentei numa cadeira perto da escrivaninha. Trazia consigo uma bandeja com alguns doces, biscoitos e chá tradicional japonês. Levantei-me e fui fechar a porta para ela ao ver que estava tendo algumas dificuldades.

- Obrigada. - ela jogou algumas coisas de cima da escrivaninha ao chão e colocou a travessa sobre a mesma. - Então... Syaoran-sensei. Estou ansiosa para saber o que se passa dentro dessa sua mente diabólica. - me mostrou com um dedo a cadeira sobre a qual eu estava antes, e se sentou em outra que ficava perto desta.

- Como primeira coisa... Quero que me diga o que te impede de se declarar. - eu aceitei o lugar, acomodando-me.

- Que pergunta mais descarada! - exclamou, enrubescendo. Era estranho, qualquer coisa que envolvesse Yukito a fazia mudar completamente. Por acaso era bipolar?

- Então isso não vai a lugar nenhum. - suspirei, pegando um biscoito e dando uma leve mordida.

- C-Certo... - ela gaguejou, evitando me olhar - Ele me vê como uma criança... Acho que é isso o que me deixa insegura.

- Hm. - eu terminei de comer o biscoito, vendo que um pouco sua incerteza fazia sentido - Então já sei qual vai ser a primeira fase do plano.

- Fase? - repetiu, voltando a me olhar - Isso não é um vídeo-game, idiota.

- Verdade. - eu lhe dei meu melhor sorriso, e ela revidou com um semblante receoso. - Isto é um desafio, e sou eu quem faço as regras. - ela até chegou a abrir a boca para contestar, mas acabou ficando quieta. - Muito bem. Essa etapa vai se chamar "Aproximação". Temos que fazer ele te notar como mulher.

- Você já fez isso antes? - indagou, enquanto cruzava as pernas.

- Não saia do assunto. - ordenei sem querer responder àquela pergunta - Eu devo entender mais de homens do que você, certo?

- Isso foi realmente muito suspeito. - Sakura cobriu a boca escondendo um risinho.

- Cale a boca, Sakura! - eu não pude evitar minha face esquentar-se pela raiva. Aquela garota realmente me tirava do sério. - Pois então... Ele é amigo do seu irmão, né? Deve ter sido assim que conheceu ele.

- Sim. Uns anos atrás, assim que o onii-san entrou para o ensino médio. - explicou pensativa.

- Quando vai ser a próxima vez em que se encontrarão fora da escola? Se não quer que os outros descubram, vai ter que ser tudo longe de lá.

- Amanhã! - exclamou, abrindo um sorriso enorme - O Yuki-kun vai vir aqui amanhã pro jantar!

- Pro jantar? - indaguei em uma pergunta retórica. - Eu também fui convidado.

- Você? - a Kinomoto perguntou e gargalhou logo em seguida. - Não me faça rir! E desde quando o onii-san te chama pra alguma coisa?

- Olha aqui, Sakura. - eu estava começando a me aborrecer realmente - Seu irmão me convidou em nome de seu pai hoje de manhã quando eu vim te acordar e a senhorita tinha saído cedo por uma razão desconhecida. E não é a primeira vez que eu venho em um jantar à sua casa! O Fujikata-san se sente em culpa por eu ter vindo aqui por sua causa.

- Minha causa? Você veio porque quis, garoto. - ela arqueou as sobrancelhas, ligeiramente alterada.

- Não importa. - eu terminei a discussão ali mesmo, em modo de evitar complicações. - Eu vou vir sim. Assim posso te olhar de perto... Você é muito vulnerável quando se trata dele.

Ela virou o rosto, embirrada. No entanto, não argumentou. Sabia mais do que eu que aquelas palavras eram verdade.

- E como coloco em prática essa fase do plano? - ela finalmente se pronunciou, ainda sem me olhar de frente.

- Fácil. Você tem que passar uma boa impressão pelo externo primeiro.

- Não consigo acompanhar. - Sakura fitou-me repentinamente com o semblante confuso, e eu me vi obrigado e explicar-lhe detalhadamente.

- Você pode ser chata, arrogante e metida... Mas não é feia. - a garota fez uma careta por conta dos primeiros adjetivos, mas eu continuei sem me importar muito - Amanhã tente ficar o mais bonita possível para ele perceber que você cresceu. Uma mudança repentina pode fazer um homem cair aos seus pés.

- Yukito não é assim, Syaoran. - ela revidou, parecendo séria - Ele não liga para imagem ou qualquer outra coisa relacionada a isso. Fora que a diferença de idade é grande.

- Mas você o ama, certo?

- ... - ela hesitou, como se aquilo ferisse seu orgulho - ...Sim.

- Então deveria pensar em arranjar algo que chame sua atenção. Fique bem bonita, Sakura. Quero ver os olhos do Tsukishiro-sensei brilhando.

- Certo. - ela abaixou o olhar, parecendo envergonha - Obrigada. - disse em um tom leve e incerto - Acho que isso poderia funcionar.

- Eu tenho certeza. - levantei-me, vendo que meu papel por enquanto estava acabado - Dessa vez eu vou ganhar!

- Pela primeira vez também estou torcendo por ti. - Sakura mostrou-me um sorriso doce, e uma fisgada acertou meu coração. Eu não sabia por que, mas não tinha gostado muito daquelas palavras.

O dia seguinte passou calmo tirando as continuas perguntas de Sakura sobre o que os homens acham bonito. Eu estava quase enlouquecendo ainda antes do almoço.

- E o roxo? Garotos gostam de roxo, né? - ela perguntou ainda com um sushi na boca.

- Garotos não se importam com a cor tanto quanto com a roupa. - eu respondi, pegando um pouco de salmão com os hashis - Você tem algum vestido simples?

Ela não respondeu, fingindo estar ocupada mastigando. Entretanto Sakura sabia que pra mim ela era como um livro aberto.

- Que tipo de garota não tem sequer um vestido? - eu arqueei as sobrancelhas e massageei as têmporas, meio aborrecido.

- Olha aqui... Eu estive muito ocupada estudando e me esforçando para não perder pra você!

- Então por isso seu quarto é tão parecido com o meu... - eu pensei em voz alta, sem querer. Mas Sakura pareceu - ou fingiu - não ouvir.

- Eu vou comprar algo hoje. - comentou enfim, dando-se por vencida.

- Devo ir junto?

- Não sei... Talvez não. Você tem clube hoje, certo? Mais ou menos às 7 tenho que ir pra casa, e você sai da escola às 6:30.

- Tem razão... - com aquele desafio eu tinha me esquecido completamente do clube de basquete, o que não era bom, pois estava prestes a me tornar capitão - Ei, como vai o time de basquete feminino?

- Eu me tornei capitã semana passada. - ela comentou, bebendo um pouco de suco - E vamos para as regionais em Janeiro. Por quê?

- Que merda, Sakura! Como é que você consegue ser sempre melhor do que eu?

- Sei lá. - ela me lançou um olhar de superioridade, e eu senti a obrigação de retrucar.

- Deve ser por que você é igual a um garoto.

- Cala a boca, imbecil!

Eram 7:50 da noite quando Wei me deixou em frente à casa Kinomoto. Eu nunca tinha jantado com a família inteira - normalmente aceitava os convites somente quando Touya não estava para evitar discussões sem sentido. E, naquela noite em especial, também tinha o Yukito. Ou seja, aquilo estava se tornando... Tenso.

Comecei a ficar preocupado com o andamento do plano. Não que eu estivesse desconfiando do bom gosto de Sakura, mas ela simplesmente não tinha senso de moda. E até mesmo um garoto como eu podia dizer isso: todas as vezes em que a via fora da escola estava usando jeans, blusas largas ou moletom. E ainda por cima queria ser feminina.

Suspirei ao tocar a campainha. Eu não estava com vontade de entrar, de fato. Mas sabia que seria obrigado para finalmente vencer Sakura. Quem abriu a porta foi o senhor Fujikata, alguns instantes depois.

- Oh, Syaoran! - ele exclamou, dando espaço para que eu pudesse passar - Que bom que veio! Essa é a primeira vez que vem quando o Touya está. Será uma noite realmente divertida, pelo jeito. Vá até a sala... O jantar ainda não está pronto, mas Yukito e meu filho estão lá. Irei chamá-los daqui a pouco.

- C-Certo. - eu entrei com receio, pensando que deveria ficar numa sala sozinho com dois homens, sendo que um desses me odeia - Com licença... - completei, retirando os sapatos e obedecendo-o ao ver que tomara rumo para a cozinha.

Adentrei o recinto e vi Touya e Yukito conversando amigavelmente. Mas, por algum motivo, sentia que aquele clima não iria durar por muito.

- Então você veio, moleque! - o irmão mais velho de Sakura disse ao notar minha presença - Achei que não teria a coragem de vir.

- Boa noite pra você também... - eu comentei entre dentes, tentando não retrucar.

- Syaoran-kun! - Tsukishiro me acolheu calorosamente, sorrindo como de costume - Sente-se ao meu lado. Essa é a primeira vez que nos vemos fora na escola, certo?

- Sim... - eu não conseguia fazer frases completas. Parecia que Touya iria me comer com os olhos de uma hora para a outra quando eu me sentei na parte mais afastada do sofá em que Yukito estava.

- Sakura-chan está demorando. - o professor disse aleatoriamente, olhando para a escada que ficava a poucos metros da porta da sala.

- Ela chegou meio tarde hoje. Eu já tinha chegado do trabalho. - respondeu o Kinomoto - Estava cheia de bolsas. Estranho... Ela não é de comprar roupas.

- Deve ser por que essa é a primeira vez em que o Syaoran-kun vem comer na sua casa com a família toda reunida! - Yukito fez uma declaração realmente inadequada. Touya não disse nada, mas pelo olhar fulminante pude perceber que com certeza pensou que fazia sentido.

- Desculpem a demora! - escutou-se uma voz fina e enérgetica exclamar descendo as escadas. Nós três olhamos diretamente para onde vinha, encontrando qualquer coisa menos a Sakura que todos conheciamos.

O vestido leve e branco realçava a pele alva e os olhos por conta do grande laço verde que envolvia sua cintura. Os cabelos recolhidos em um coque simples deixando somente a franja e duas mechas laterais soltas colocavam em evidência os ombros sutis e frágeis. Aquela foi a primeira vez em que eu notei as pernas de Sakura que normalmente vinham cobertas até o joelho por culpa das regras da escola; aparentavam tão macias que uma súbita vontade de tocá-las invadiu minha mente.

Pisquei uma ou duas vezes os olhos antes de espantar esses pensamentos. Qual era o meu problema? Yukito tinha que pensar isso, não eu! Eu escorri meus olhos para o lado, vendo que ele estava tão estarrecido quanto eu. Não, este é o adjetivo errado; Tsukishiro estava totalmente encantado, e o semblante preocupado de Touya confirmava minha suposição.

- Sakura! - o pai dela interrompeu meu devaneio, finalmente fazendo-me despertar - Ajude-me a arrumar a mesa.

- Sim pai, já vou! - ela atendeu ao pedido do pai sem vontade, nos dando um leve sorriso antes de virar-se para ir.

- Sakura-chan, eu também vou. Em dois é mais rápido. - Yukito apressou-se a se pronunciar, levantando-se em seguida.

Eu sempre soube que ela era bonita... Mas não linda daquela forma. Meu plano estava dando certo. E aquilo, por mais que possa parecer suspeito, sem querer me preocupou.

- A Sakura está bonita esta noite. - ouvi o mais velho dos irmãos Kinomoto comentar enquanto ainda observava a garota corar só pelo professor ter chegado perto dela. Involuntariamente acabei assentindo, como se não me lembrasse do pé de guerra que era ficar perto dele.

- Q-Quero dizer...! - eu tentei consertar, notando que tinha concordado com algo tão embaraçoso.

- Não se desculpe, pirralho. - ele coçou a cabeça com uma mão, prensando os olhos com ar receoso - Até mesmo o Yukito ficou todo encantado ao vê-la. Isso quer dizer que Sakura ficou realmente muito linda. Ele não é de olhar o exterior das mulheres e sempre a viu como uma menina.

Eu continuei calado, vendo que Sakura no estava sendo pessimista quando me disse aquilo um dia antes.

- Mas não tente colocar sequer um dedo nela, entendeu? - ele ergueu-se da poltrona, fuzilando-me com os olhos castanhos - Sakura é muito mais sensível do que pensa.

- Hm. - eu me limitei a resmungar, vendo sua silhueta atravessar a entrada da sala e sumir por trás da porta da cozinha.

Eu joguei minha cabeça para trás, já exausto. Aquele seria um longo e desgastante jantar...


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Notas finais do capítulo

Como primeira coisa, teve duas vezes o Syaoran como narrador porque assim a historia sairia mais fluida.
Segunda... Eu sei que demorei, mas tive uns probleminhas ai.
Anyway. Obrigada pelos reviews numerosos e pelas pessoas que seguem esta coisa! XD
Comentem, ok?