Ore no Goshujin-sama escrita por Assa-chan


Capítulo 3
A aposta dos dois e o segredo dela


Notas iniciais do capítulo

Um vínculo se forma, e outro está prestes a se romper.



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(Sakura's POV)

Eu me lembro como se fosse ontem.

Naquela manhã de segunda-feira, na primavera dos meus 15 anos... Syaoran estava esperando na frente da minha casa quando eu abri a porta. Eu obviamente me assustei. Faziam quase 2 anos desde a última vez em que o vira, e ele estava extremamente bonito - tanto que eu levei um pouco de tempo antes de reconhecê-lo.

- O que faz aqui? - eu perguntei indiferente, saindo de dentro de casa. Um leve sorriso se abriu em sua boca.

- Eu quero fazer uma aposta. - o Li respondeu sem hesitar, levantando ligeiramente o queixo.

- E o que vai ser, dessa vez? - suspirei, cansada daquelas palavras. Seria possível que ele possuísse um vocabulário tão pobre?

- Eu vou pra sua escola. - eu meio que me espantei, mas o uniforme que cobria seu corpo confirmava aquela sentença - Se eu ficar em um lugar mais alto que o seu no ranking de admissão, você vai ter que declarar publicamente que eu sou melhor que você. E, claro, atender a um meu pedido.

- Bem arrogante da sua parte. - afinei meus olhos, reprovando a última frase. Mas tudo bem, pensei. Eu não poderia perder de qualquer forma. - Certo... E se eu ganhar, o que aconteceria?

- Tudo bem, isto não é plausível, entretanto digamos que eu serei seu escravo até que possa te vencer ou até nossa formatura. - ele afirmou, ainda segurando o semblante desafiador.

Um vento inesperado passou por nós bagunçando meus cabelos, no entanto, eu não conseguia tirar meus olhos dele. Aqueles orbes de um âmbar avassalador me fitavam acompanhados da linha curva em que tinham se transformado seus lábios.

- Há! - exclamei. - Está me subestimando, Li-kun. - me delonguei no sufixo, vendo-o arquear uma sobrancelha, impaciente. - Mas... Eu aceito. - lhe estendi a mão, chegando mais perto. - Mesmo sabendo que muito provavelmente você vai passar três anos de servidão.

- Você é realmente muito confiante. - ele apertou minha mão, balançando-a uma ou duas vezes antes de soltá-la. Ele tinha uma grande força no braço, devo admitir. Mas nada comparado aos meus 12 anos treinando kendo.

- Eu simplesmente vejo os fatos como são. - tentei parecer arrogante, ignorando a beleza que ele expunha despercebidamente.

Caminhamos lado a lado até chegar à escola. Eu o escutei engolindo a saliva com dificuldade quando nos deparamos de frente para o quadro de classificação.

Por mais que segundos antes parecesse totalmente seguro, Syaoran começou a procurar seu nome pela parte mais baixa da lista. Observei seus olhos escorrerem lentamente para cima, hesitantes. Dei de ombros, finalmente olhando para a mesma direção que ele. O topo parecia estar mais em cima do que realmente era. Tentei fazer seu movimento contrário, encontrando um nome diferente do meu em primeiro lugar.

1. Eriol Hiiragizawa

2. Sakura Kinomoto

3. Tomoyo Daidouji

4. Syaoran Li

Não pude conter um sorriso instantâneo brotando em meu rosto. Eu tinha acabado de ganhar um brinquedo muito interessante. Entretanto, dando mais uma olhada naqueles nomes, o terceiro me deu certa apreensão. Eu não sabia que ela tinha ido pra mesma escola que eu.

- Bem, escravo-kun. - dei o máximo de ênfase possível para a última palavra, mantendo o semblante divertido involuntáriamente. - Parece que estes vão ser três longos anos. Pode começar levando minha mochila. - lhe estendi a bolsa, mas ele pareceu não escutar.

- Como é que pode? - ele continuava fitando o resultado, como se este fosse mudar por conta de sua desolação. - Seu pai, seu irmão... Eles sempre me disseram que você era péssima na escola!

- Péssima? - repeti ofendida - Eu sempre estive na média!

- Então como diabos é que ficou em segundo lugar? - Syaoran exclamou, olhando-me com uma aversão anormal dominando o rosto.

- Digamos que eu tive um bom professor. - respondi, sincera. - Eu precisava vir pra essa escola, mesmo sendo a mais difícil de toda Tomoeda. - o olhei de soslaio. Ainda estava estarrecido. Eu, um mês antes daquilo, também teria ficado.

Sempre fui boa somente em esportes. Quando criança vinha facilmente confundida com um garoto, mas isso nunca me afetou de fato. Não antes de conhecer... Ele.

Eu queria que ele me notasse. Mas de outro modo... Queria que me enxergasse feminina, inteligente, bonita.

Porém, mesmo passando um mês inteiro na casa de Yukito para estudar, eu percebi que ele ainda me via como uma criança. Uma menininha que não sabia nem mesmo o que era trigonometria.

Foi ai que eu decidi guardar este segredo somente pra mim e ser a melhor da escola para que pudesse me declarar na formatura, quando não fosse mais tão infantil. Entretanto... Nem tudo na vida é como se quer.

Novembro. O vento frio do inverno iniciava a se fazer sentir, por mais que ainda faltasse mais de um mês para que esta estação começasse efetivamente. Seis meses se passaram desde o primeiro dia de aula, e eu não tinha avançado aos olhos de Yukito. Ou melhor, deveria ter deteriorado mais ainda, pois toda vez que me via com Syaoran soltava um sorriso de aceitação. Eu queria que ele sentisse ciúmes, não que gostasse.

E, naquela manhã em especial, tinha acontecido novamente.

- Sakura, que cara é essa? - o Li me perguntou, dando-me o bentou que tinha preparado para mim.

Estávamos sentados em uma das mesas da cantina da escola. Um dos cargos de Syaoran era, obviamente, fazer e trazer meu lanche todos os dias. Normalmente alunos que trazem a comida de casa comem no pátio, porém aquela era uma forma de amenizar a relação entre nós. Uma garota e um garoto sentados sozinhos de baixo de uma árvore seria suspeito demais.

- Essa é a cara que Buda, Deus ou quem quer que seja me deu. Não tenho culpa se é feia. - disse a primeira coisa que me veio em mente, com raiva. Não aceitava o fato de Yukito ser tão lerdo. - Ah, quer saber? - levantei-me afastando a embalagem que antes ele tinha me oferecido. - Não estou com fome. Dê isso pra uma das garotas do seu fã clube. Ah... Hoje vou pra casa sozinha, então está dispensado.

Saí de perto dele antes que pudesse dizer alguma palavra. Aquela maldita aposta estava indo longe demais; eu estava prestes a me deixar vencer para acabar com aquela brincadeira de uma vez por todas.

O fato é... Que eu gostava de ficar sozinha. Ter Syaoran atrás de mim o tempo todo era divertido, mas não menos cansativo.

Subi as escadas sem rumo, acabando por parar no terraço. Abri a porta sem vontade, encontrando um espaço vazio. Estava meio frio e eu não tinha sequer pegado um casaco; trajava o uniforme de verão pois aquele de inverno ainda estava no fundo do armário. Irresponsável, eu sei. Iria acabar pegando uma gripe se ficasse ali por muito tempo.

"Não que seja uma coisa ruim", comentei em meus devaneios, dando um meio sorriso. Ao menos poderia ficar em casa por uns dias. Avancei até o lado extremo daquele recinto. Apoiei-me à grade de segurança que revestia todo o terraço e olhei para baixo. Observei os alunos que comiam, conversavam e relaxavam. Notei que uma ou duas pessoas estavam até mesmo dormindo.

Tirei uma foto de dentro do bolso da saia. Yukito. Não importava para onde minha mente ia, tudo acaba rodando em volta dele, sempre e independentemente. Eu era mesmo uma pessoa fraca, constatei prensando os olhos depois de um longo suspiro.

Mas, claro, não poderia desistir. Ainda tinha mais de dois anos para completar meu plano.

Naquele instante de descuido o vento soprou um pouco mais forte, fazendo com que a fotografia escapasse por entre meus dedos. Ela vôou na direção oposta à qual eu estava voltada, e eu girei-me para acompanhar seu movimento.

Quando vi, ela estava no chão perto da porta pela qual eu tinha entrado. Agradeci aos céus que mais ninguém estivesse ali, passando levemente uma mão sobre o rosto, aliviada. Comecei a caminhar lentamente, quando ouvi passos apressados virem de trás daquela entrada.

Arregalei os olhos, imaginando o pior.

E, realmente, o pior aconteceu: Antes que eu pudesse alcançar a porta Syaoran saiu de lá, pisando bem em cima da foto. Sua falta de fôlego demonstrava o quanto tinha corrido pelas escadas até chegar ao terraço.

No entanto, minha mente continuava concentrada em uma coisa: Ele estava PISOTEANDO o meu tesouro.

- Qual o seu problema... - ele falava lentamente, agora levando uma mão até o peito para tentar conter a respiração descompassada. - ...Sumindo assim...? - fez mais uma pausa, esta um pouco mais longa, parecendo recobrar em parte a calmaria. - Toda vez que você vê o Tsukishiro-sensei acaba me tratando mal. O que foi, ein? Não quer que nos veja juntos? Deveria ter pensado nisso antes de aceitar minha aposta!

Ele era inteligente. Tinha notado isso só pelos meus atos involuntários. Se visse a foto, seria o fim. Mas naquele pequeno instante estava furiosa demais para que isto me passasse pelos pensamentos.

- Cale a boca, droga! - eu gritei, apressando-me a chegar perto dele. - E olhe no que você tá pisando, imbecil!

Syaoran me olhou confuso, dando dois passos para trás e vendo a foto. Alguns minutos se passaram. Talvez estivesse ponderando por que eu me encontrava tão alterada. A pegou do chão, logo olhando para mim.

- Sakura... - ele fitou aquilo que estava entre suas mãos mais uma vez, antes de completar a frase. - Você... Gosta do Tsukishiro-sensei?

Meus olhos sem querer se marejaram; Ele tinha descoberto meu mais profundo segredo, e parte de meu plano estava arruinado.

Preciso dizer que foi o momento em que eu comecei a odiá-lo mais do que qualquer outra pessoa?


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Notas finais do capítulo

AGORA começa a se desenvolver tudo, finalmente. XD
Obrigada a quem leu e por favor, deixe review quem ler!
Ja ne.