Hastryn: Ascensão escrita por Dreamy Boy


Capítulo 34
As Tropas do Sul


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!
Chegamos na parte mais esperada. O grande evento do livro!



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Wolfric

Apesar do constante luto por Vincent Prince, uma cerimônia foi organizada para marcar o início do período de um novo monarca: Wolfric Luckov. O rapaz dividiria igualmente com a esposa o governo do sul, havendo um consenso entre eles. Nenhuma atitude seria tomada sem que ambos a aprovasse. Era o único jeito de manter Horgeon apaziguada e fazer com que o legado deixado pelo rei anterior prevalecesse.

A maior parte da população seria recebida na festa, pois os salões eram extremamente espaçosos e refeições foram preparadas com antecedência para alimentar os convidados. Seria um momento de alegria no qual ricos e pobres se misturavam e se esqueciam da classe socioeconômica que os diferenciava. Wolfric e Susan não pretendiam expulsar ninguém, o que era praticamente impossível de acontecer, pois havia regras de comportamento. Uma vez quebradas, o indivíduo desobediente seria imediatamente expulso e obrigado a retornar ao lar em que pertencia.

As mesas eram decoradas com toalhas beges e os pratos de porcelana brancos encontrados sobre elas estavam vazios, para que os que se sentassem escolhessem os alimentos que desejavam consumir. Eram compostas de uma enorme variedade de comida. Frutas como laranjas, uvas, maçãs e pêssegos em alta quantidade, acompanhadas de tortas de frango, pombo e coelho. Como bebida, sucos dessas respectivas frutas, água e vinho doce.

A mesa real, frontal para todas as outras e com dois tronos onde Wolfric e Susan estavam, tinha alimentos mais diversificados e saborosos. Carne de porco, amêndoas, figos, romãs, peixes e legumes estavam entre os principais. A sobremesa servida igualmente ao povo consistia em bolos de chocolate e pudins de baunilha, doces incrivelmente raros na região.

— Sentia falta de algo assim... — Susan comentou, saboreando um pedaço da torta de frango. — Desde que mamãe faleceu, não víamos mais motivos para comemorarmos.

— Querida, os tempos mudaram! — Wolfric acariciou os cabelos da esposa. — Em breve, teremos o norte inteiro a nosso dispor e isso será mais um motivo. Você verá.

— Tenho medo de que a vitória não seja nossa.

— Se acreditarmos em nossa habilidade e capacidade, conseguiremos alcançar nossos objetivos. Os deuses estarão ao nosso lado, portanto, não pense dessa forma.

— E depois? O que será feito?

Wolfric pensava em como seria seu futuro ao lado da família e de Susan quando aquilo acabasse, mas nunca chegava a uma resposta concreta. Seus sentimentos por Charlotte estavam guardados em um baú, mas nunca deixariam de existir. Entretanto, agora estava casado e precisava cumprir as promessas que foram feitas.

— Depois de seguir o acordo e me vingar de Lothar Wildshade roubando seu trono, não tirarei a vida dele e o aprisionarei para Charlotte escolher o que fará. — Wolfric bebeu um gole do vinho servido em uma taça de prata. — Concorda com a ideia de permitir que Katherine permaneça no trono como uma regente?

— Não a conheço, mas confio em suas palavras. Se diz que Katherine é uma boa pessoa que pode governar ao nosso lado, acredito fielmente nisso.

— Ótimo. — Wolfric se lembrou da época em que brincava com as gêmeas nos bosques de Arroway. Os tempos haviam se passado tão rápido, de uma forma que era assustadora. — Porém, temos que ter a certeza de que Katherine nos apoiará e não se aliará a Lothar. É o que descobriremos durante nossa invasão.

Caso se decepcionasse ao saber que a rainha era uma traidora e revelasse tudo ao seu marido, Wolfric não a perdoaria e a executaria. Apesar de que Charlotte também estava envolvida, pois sua caligrafia era inconfundível. Estaria a princesa mentindo em sua carta? Ele duvidava.

A não ser que fosse pressionada.

Wolfric procurou não pensar nessa hipótese.

A noite estava intensamente adorável, divertida para todos os que compareceram, fazendo com que esquecessem seus problemas relacionados à política, economia ou famílias. Música era tocada em flautas, cornetas e jovens cantores e apresentavam para o público. Canções emocionantes, que faziam os ouvintes lacrimejarem diante das belíssimas vozes. Uma destas permaneceu em sua mente pelo restante do dia.

Eles me disseram

que você se foi

Partiu em campanha com o manto que lhe fiz,

mas o que retorna de ti é apenas a espada

e a lembrança do bom homem que foste.

Em meio à guerra e à dor

vi a esperança florescer mais uma vez

quando do fruto do nosso amor

me vi presenteada com seus olhos

em um novo rosto para admirar.

E não há dor que me parte em duas novamente,

pois eu te tenho agora

como nunca tive antes.

Não há ninguém maior que nossos deuses,

e não há alegria maior do que saber

que vamos nos encontrar um dia

e correremos pela campina,

com nossa criança enrolada no manto que lhe fiz

e não haverão mais espadas

pois o amor terá travado todas as batalhas por nós

e haverá de ter vencido.

Ele se sentiu no lugar dos personagens, como se realmente vivenciasse a história existente nos versos proferidos. Susan também teve a mesma reação e ambos aplaudiram bravamente quando a canção se encerrou. Wolfric teve dúvidas sobre a vida da jovem que a cantou. Se os fatos eram reais. Preferiu não saber a resposta.

— Eu irei com você — disse Susan, de surpresa. Ele demorou um pouco até compreender a qual assunto a rainha se referia. — Não tente me impedir.

— Está louca? — Wolfric se levantou, indignado. Tomou cuidado para não falar muito alto e atrair os olhares dos convidados. — Jamais arriscaria sua vida a entregando nas mãos daqueles desgraçados do norte! Não concordarei com isso! Fique aqui e desista dessa ideia!

— Reconheço que nada acontece sem que seja da vontade de nenhum dos dois em nossa aliança. — Seu tom de voz conseguia ser incrivelmente calmo, pois nunca perdia a razão ou se estressava ao discordar do marido. — Entretanto, essa foi uma decisão tomada por mim. Nada, nem mesmo você, será capaz de proibi-la.

— Susan, não posso permitir isso. Que tipo de homem estaria sendo se deixasse minha esposa ser morta por seres rudes e selvagens que não se apiedam nem mesmo de matar crianças indefesas?

— Não sou uma criança indefesa. Derrotei inúmeros garotos maiores que se diziam mais fortes do que eu, mostrando ser melhor do que eles. Mereço minha oportunidade na guerra, assim como os outros.

Wolfric colocou os cotovelos sobre a mesa e apoiou a cabeça às mãos, respirando fundo. A simples possibilidade de Susan morrer na batalha o fazia repensar sobre os planos de invasão. Deveria mesmo arrancar o trono das mãos de Lothar? Horgeon poderia perder seus dois monarcas em uma só vez.

— E não pense em abandonar sua vingança por minha causa.

...

Semanas se passaram e os cidadãos pertencentes a Horgeon foram reunidos em uma praça grande localizada na região central. Sempre que o rei se retirava do palácio e realizava um grande discurso em público, chamava a atenção de todos. Adultos, mulheres, crianças, idosos, pessoas de todas as idades, prontos para ouvir o comunicado que seria feito.

O rapaz estava ao lado da rainha, cujos cabelos foram cuidadosamente divididos em duas tranças ruivas, presas com fitas pequenas e quase invisíveis. A coroa dourada reluzia com os raios solares que a atingiam. O vestido era branco e tinha um pequeno decote que exigia parte dos seios. Suas mangas eram curtas, cobrindo apenas os ombros. Estava linda aos olhos do marido e do público. Wolfric estava nervoso, mas a esposa o direcionou um olhar tranquilizador que o trouxe um pouco de calma.

— Caros sulistas, venho informá-los sobre uma notícia. Temos planos para que nossos territórios sejam expandidos e o continente norte seja dominado, para que exista apenas um reino em Hastryn. Assim, acabaremos com o regime violento de Lothar Wildshade e Horgeon será a capital principal. Para que isso aconteça, necessitamos de grande número de guerreiros dispostos a enfrentar os inimigos. Os exércitos de Allaren e Sarenth já foram notificados e estão viajando para cá. Os homens que desejam lutar por nossa pátria, por favor, acompanhem-me até o castelo para se prepararem. Caso não tenhamos muitos voluntários, não existirá outra solução a não ser obrigá-los a lutar.

— As famílias correm riscos de serem destruídas — reclamou uma senhora, que estava abraçada a um casal de crianças que não passavam dos sete anos. — Nossos maridos e filhos podem não voltar vivos!

— Devo lembrá-los de que, apesar de não nos envolvermos em muitos conflitos, nossos treinamentos são pesados e tornam os indivíduos altamente capacitados para batalhar frente a frente com qualquer um. Uma revolução é necessária para que Hastryn possa progredir e uma nova época possa se iniciar.

Wolfric sabia que dificilmente o legado de Vincent permaneceria em Horgeon após aquelas ordens. O seu antecessor no posto de rei jamais iniciaria um conflito contra outra nação. Organizaria exércitos somente quando a única alternativa de defesa consistisse em derrotar invasores em seus territórios, mas Wolfric tinha um pensamento distinto e não voltaria atrás.

Retornando ao palácio, foi apressadamente até o escritório e retirou um pedaço de pergaminho antigo guardado em uma das gavetas de madeira situadas abaixo da mesa de canto. Em seguida, apanhou uma pena e a molhou no tinteiro, iniciando uma rápida e legível escrita da carta que enviaria à Charlotte, notificando-a sobre o ataque que fariam. No conteúdo, pediu desculpas por não ter entrado em contato antes, pois não tivera tempo para respondê-la após o casamento.

Guardou o papel nos bolsos e foi até o salão, onde os voluntários se encontravam à sua espera, se organizando ao formar várias fileiras. Susan se encontrava à frente ordenando as posições dos grupos. Parou de interagir com eles quando o viu, aguardando até que se aproximasse.

— Dividiremos vocês para que caibam nos aposentos livres que possuímos. Caso seja preciso, três ou quatro ficarão no mesmo cômodo para que haja espaço suficiente. Os viajantes estão próximos e precisarão de hospedagem. Quando chegarem, descansarão por duas noites e nossa partida será feita.

— Excelente. — Wolfric concordou, satisfeito. — Serão preparadas refeições para que vocês se alimentem adequadamente. Há duvidas ou algo que desejam falar?

— Sim. — Um homem perguntou. Wolfric não o reconheceu na multidão, pois tinha aparência semelhante à de outros. — Quem ficará no comando de Horgeon quando nossos dois monarcas partirem para a guerra? O reino precisa estar na posse de pessoas confiáveis!

— É uma boa pergunta. Robert e Roland, dois amigos nossos, cuidarão da nação durante o tempo em que lutaremos. Quando estivermos de volta, suas posições serão as mesmas: membros no grupo responsável pela defesa do rei e da rainha. Deixaremos alguns homens no território caso aconteça uma invasão inesperada. É nossa obrigação lidar com as possibilidades.

— Teremos mais tempo para nos despedirmos de nossas famílias e fazermos uma última reza nos templos sagrados para conseguir a proteção dos deuses?

— Certamente que sim! A partir de agora, estarão livres até o dia anoitecer. Quero todos antes do toque de recolher, pois jantarão conosco e dormirão em locais nos quais serão designados.

As horas se passaram com extrema rapidez. Enquanto os soldados não voltavam, o rei aproveitou para enviar a carta às aves-correios e se livrou de mais um dever. Depois, foi até as criadas na cozinha e ordenou que deixassem as bandejas prontas.

A refeição foi servida no salão comunitário, onde normalmente aconteciam banquetes e comemorações, pois era necessário encher o estômago de todos os voluntários e deixá-los com boas energias para enfrentar a viagem pesada que vinha pela frente.

No dia seguinte, os exércitos de Allaren e Sarenth apareceram de frente para os portões. Os guardas permitiram o acesso e, montados em cavalos resistentes e velozes, adentraram as áreas da fortaleza e foram ao encontro de Wolfric. Foram colocados para dormir nos aposentos ainda vazios. 

Antes de dormir, o rapaz redigiu a carta que tornaria oficial a declaração de guerra. Enviaria na manhã seguinte. Após a escrita, se ajoelhou ao pé da cama acolchoada que dividia com Susan e fez uma breve e silenciosa oração às divindades hastrynianas.

“Amados deuses, nunca desacreditei de seus poderes. Existem momentos difíceis onde nossa fé é testada e nossa obrigação é não perdê-la de jeito nenhum. Se não existissem, como viveríamos ou sequer nasceríamos? Agradeço por terem me protegido no passado e me feito crescer até a posição que estou hoje. Por favor, peço que nos abençoem novamente e nos tragam a vitória! A glória de Horgeon depende disso!”

...

Conforme fora decidido, marcharam para fora dos terrenos da fortaleza dois dias depois, seguindo pelas estradas que os conduziriam à Grande Ponte. O clima fresco os favorecia bastante, pois a viagem seria aproximadamente três vezes mais difícil se o período fosse invernal e os obrigasse a utilizar casados e mantos pesados para serem aquecidos e suportar o frio.

Quando o percurso parecia arriscado, desviavam o caminho e percorriam matas ou áreas arborizadas onde a camuflagem era mais fácil, impedindo que a nação do norte os reconhecesse. Outras vezes viajavam em grupos menores, separados para infiltração entre os nômades e não chamar muita atenção. O maior dos grupos ficou mais atrás, carregando as catapultas que seriam utilizadas. Paravam para descansar em árvores grossas, montando o acampamento por pouco tempo, deixando sempre alguém patrulhando o terreno.

Durante esse tempo, Arroway provavelmente unia suas forças armadas e criava estratégias defensivas. Por esse motivo, a maior concentração de homens se encontrava na cidade-mãe, mas alguns se espalharam pelas estradas. Estes últimos foram mortos pela tropa de Wolfric.

Após a longa trajetória, finalmente avistaram a uma distância considerável as torres do castelo de Arroway. Observando atentamente e calculando quando estariam nos muros, Wolfric anunciou:

— A batalha está para começar!


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