Filhos do Medo escrita por Pégasus


Capítulo 8
Capitulo 8




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/579454/chapter/8

Quando a noite caiu, Lucy obrigou seus olhos a ficarem abertos, sabia que algo aconteceria em breve, fingiu que dormia, mas estava mais acordada do que nunca depois de ter tomado quatro xícaras de café. Então o relógio marcou 1h da madrugada, e Lucy finalmente começou a ouvir barulhos vindos do lado de fora da casa. Sentiu medo. Será que queria mesmo descobrir a verdade? E o que aconteceria depois de descoberta? Não importava, a obsessão com a verdade falava mais alto, então ela vestiu uma camisola e saiu do quarto, correndo sem fazer barulho, viu pessoas de costa sentadas no chão, todas elas assistiam algo ser queimado. Um frio percorreu sua espinha, mas mesmo assim ela saiu do esconderijo sem se preocupar se estava sendo vista ou não, se aproximou das pessoas e disse:

— Annie? - Um rosto de bode a encarou.

— Lucy. – Disse o bode.

A pessoa que respondeu se levantou e tirou a mascara.

— Que bom que você esta aqui, eu senti sua falta. – Era Annie.

— Quem são essas pessoas de mascaras? O que vocês estão queimando?

— Esses são meus amigos, esta com mascara de palhaço é a Sara, o porco é o David, hahaha, o coelho é o Leonard e a caveira é o Charlie.

Lucy começou a lagrimejar, Annie a abraçou e a beijou nos lábios, Lucy estava com tanto medo que não conseguia se mexer.

— Não precisa ficar assim, eu disse para eles que você é importante para mim, você será nossa rainha. Sente-se aqui, vou pedir para cada um se apresentar, contar um pouco de sua historia traumática e dizer o motivo pelo qual está aqui.

Annie caminhou puxando Lucy pelo braço, e se sentou acariciando a cabeça de Lucy em seu ombro.

— Então... Sara, quer começar?

— Bem, meu nome é Sara, e acho que estou aqui por que finalmente me encontrei no mundo, tenho que admitir que a vida era muito sombria antes de conhecer vocês, não que as sombras tenham me deixado, é só que agora eu consigo conviver com elas, eu me aceitei. Bem... Quando eu era criança minha mãe morreu e meu pai se casou outra vez, sua nova esposa tinha outras duas filhas, e parecia que eu estava presa na historia da Cinderela. - Todos riram. - Meu querido pai, trabalhava muito e eu ficava em casa, com minhas "queridas" irmãs e minha madrasta, eu apanhava pra cacete. Uma vez, me obrigaram a comer uma bacia inteira de arroz, - Sara riu, mas aquilo não lhe parecia engraçado - Quando percebi que meu pai sabia de tudo, não queria mais viver neste mundo, então comecei a tentar me suicidar, mas não importava o que eu fazia eu sempre era trazida de volta para aquele inferno. Então um belo dia no psicólogo, eu vi uma menina mais assustada que eu na sala de espera.

— Eu me lembro disso, Sara, e você me parecia mais assustada -  Disse Annie. As duas riram.

— Enfim, nos encaramos por muito tempo, ate que ela chegou perto de mim e viu minhas marcas no braço, ela disse "você é muito corajosa" eu fiquei sem palavras, aquela menina foi capaz de perceber muito além das minhas feridas na carne, ela viu dentro de mim, notou algo em comum e por isso se aproximou, por estar perto de alguém com quem pudesse compartilhar a mesma dor. Essa garota me ensinou a ser forte e a enfrentar qualquer coisa. Ela me disse que as coisas ficariam melhores e aqui estamos nós.

— Sua historia de vida é um exemplo para todos nós Sara, fico feliz de poder ter participado. – Falou Annie.

— Você é minha heroína.

— Parece que Lucy parou de chorar e tremer.

— É uma pena, por que vai chorar outra vez depois de ouvir minha historia. - Disse Leonard.

Lucy começou a se sentir segura, aquilo eram apenas desabafos de historias horríveis e ajuda coletiva. Não lhe parecia errado, mas por que Annie esconderia algo assim?

— Meu nome é Leonard, e eu estou aqui por ser aceito e por me identificar. Acho que eu nunca gostei tanto de uma garota quanto gostei de um homem, e pelo fato de eu sempre saber disso, eu tive alguns problemas na escola. Então quando eu estava na quinta serie, eu conheci esse garoto, Jemy, ele era legal e tal, mas eu sabia que nós dois éramos diferentes, então nós começamos a sair para dar uns amassos, éramos só duas crianças. Então meu pai descobriu, meus irmãos ficaram sabendo, e espalharam para a escola inteira, eu... sofri bullying pelo resto da minha vida, Jemy teve que se mudar, acho que aquilo tudo foi demais para ele, mas o pior de tudo foi quando meu pai me obrigou a ir com ele a uma zona e fazer uma mulher muito mais velha que eu me tocar.

Todos ficaram em silencio.

— Desculpa se estraguei a felicidade de vocês. - Disse Leonard incomodado com o silêncio.

— Nós que deveríamos pedir desculpas, por não poder curar todas as feridas do seu coração. - Disse Annie. – Charlie?

— Não tenho um passado traumático, apenas gosto do que fazemos. – Ele disse sem rodeios.

— Um homem de poucas palavras... – Adicionou Annie.

— Bom, eu gosto de fogo, gosto de ver tudo reduzir a pó, minha mãe era assim e meu avô, não estou aqui por que escolhi ser diferente, mas nasci diferente. – Disse David. – Só falta você, Annie.

— Meu nome é Annie. Fui violentada desde os seis anos. – Todos ficaram em silêncio, aquele sem duvida era um dos passados mais traumáticos de todos ali presentes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Filhos do Medo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.