Filhos do Medo escrita por Pégasus


Capítulo 4
Capitulo 4




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Lucy acordou cedo naquela manhã nublada e fria, se lembrava do que achava ser um sonho estranho da noite anterior, mas não sabia dizer se era realmente apenas um sonho ou se de fato tinha acontecido, mas ao lembrar-se de como era bizarro descartou a possibilidade de ser real. Em que mundo um monte de gente de máscara me olhando seria real? Pensou ela se sentindo um pouco tola por acreditar por um instante naquela possibilidade.

Se esquecendo disso lembrou que na noite anterior Annie parecia chateada com algo que dissera, então decidiu fazer o melhor possível para o café da manhã, que acompanharia com seu humilde pedido de desculpas. Preparou bolos, pães, e biscoitos, fez café, chocolate quente e suco de laranja, tudo com um determinado perfeccionismo que ela mesma era incapaz de notar. Colocou tudo na mesa quando olhou o relógio na parede, imaginando que a aquela altura Annie já devia estar acordada. Passaram-se alguns minutos suficientes para esfriar toda a comida, em que Annie não apareceu. Não havia nada de errado em um atraso desses, pensou, caso ela acorde mais tarde hoje esquentarei tudo outra vez. Lucy não conseguia esconder a inquietação de Annie ainda não ter aparecido e contava os minutos no relógio, quatro horas se passaram e já não era mais hora do café da manha, então retirou as coisas da mesa. Achando estranho ela decidiu se certificar de que sua patroa estava realmente em casa, dentre algumas poucas horas ela deveria estar trabalhando e com certeza não pretendia ir sem almoço ou café da manhã.

Lucy foi ate a porta do quarto de Annie, ao encostar-se à maçaneta se lembrou da única regra que foi imposta "Meu quarto é impenetrável, a entrada de qualquer pessoa nele é proibida e imperdoável." Então bateu na porta e chamou:

—Annie?!

Nada. Tentou outra vez. Nada outra vez. Colocou os ouvidos sobre a porta para tentar escutar algum sinal de que havia alguém ali, mas o silencio permanecia constante no quarto. Se ela não esta aqui aonde pode estar? Desceu as escadas intrigada, e olhou pela janela da cozinha pensativa, viu o velho jardineiro cuidando do jardim da frente da casa como sempre, correu ate ele e lhe disse:

— Hum, Senhor?!

O velhinho se virou instantaneamente:

— Hum... Você ainda está aqui?! - Ele voltou a fazer seu trabalho, desinteressado na menina que o chamava.

—Acho que sim, bem... Você viu Annie hoje? Ela não apareceu para o café e esta quase na hora do almoço...

— Filha, tenho certeza que aonde quer que a Srta. Annie esteja é a ultima coisa no mundo que você quer saber. É uma pena que não ouça meu conselho, aposto que só irá acreditar em mim quando souber de tudo, mas ai... Será tarde demais.

Lucy ignorou mais uma vez, não há nada de errado com Annieela apenas... Aparenta ter frustrações muito fortes, só isso, insistia Lucy consigo mesma.

Lucy passou o dia inteiro à espera de Annie, mas ela não apareceu, a noite caiu e exausta de preocupação Lucy foi para a cama e caiu em sono profundo, devia ser meia noite quando acordou em um pulo quando ouviu o barulho de algo se quebrando na cozinha, correu desesperada ate lá e ouviu um choro baixo, mas não via de quem era, procurou adentrando ainda mais na cozinha e viu Annie ajoelhada em vários cacos de vidro com a cabeça baixa, ela chorava constantemente parecia aflita, então Lucy se aproximou:

— Annie o que aconteceu? Você queria pegar algo? Olha, não tem problema, eu limpo não precisa chorar.

Annie continuava a chorar.

— A onde você esteve o dia todo? Eu fiquei preocupada. - acrescentou pensando que talvez aquela não fosse a melhor hora para falar disso. - Eu te ajudo a levantar.- disse se aproximando de Annie.

Annie então virou para ela.

— Não chega perto de mim! - disse assustada.

Lucy ficou confusa.

— Eu só quero te ajudar... – murmurou Lucy.

— Ninguém pode me ajudar, eu sou uma alma perdida, mas não foi culpa minha, eu juro, eu não provoquei ele, eu era só uma criança. - Annie chorou ainda mais. - mas eu sabia que sempre que a noite caia e eu cheirasse bem. - começou a falar como se lembrasse de cada momento de um passado distante. - eu seria encontrada no mesmo lugar. - O silencio se instalou no ar por um instante, ate que Annie o quebrou com movimentos bruscos procurando por algo determinada no armário de cima. Lucy se aproximou enquanto ela estava de costas, então Annie que finalmente encontrou o que queria e apontou rapidamente uma faca para Lucy que ficou paralisada.

— Não chegue perto de mim! – Exclamou seria e saiu correndo pela porta dos fundos, com suas lagrimas no rosto, ela parecia mais assustada do que amedrontadora, então Lucy engoliu seu medo e a seguiu correndo pela rua, mas Annie era muito veloz e logo foi perdida de alcance.

Do que você quer se defender, Annie? Perguntava-se Lucy, sentindo que Annie ainda era dominada por memórias do passado, ela precisava de ajuda, talvez Deus a mandara em sua vida para isso, talvez essa fosse sua missão.

***

Annie se escondeu nas sombras de uma árvore em um parque enquanto observava um homem de meia idade que bebia uma garrafa de cerveja sentado em um banco, o lugar era deserto àquelas horas da madrugada. Annie jogou uma pedra em sua direção o homem desviou a atenção para o barulho, mesmo bêbado ele conseguiu cambalear ate lá, quando finalmente parou parecia não se lembrar o que fazia ali parado, então deu as costas e tentou voltar cambaleando para o banco, foi quando Annie saiu de trás das árvores e pulou nas costas do homem agressiva como um animal, ainda com a faca na mão, rasgou-lhe a pele do ombro ate a cintura, o homem tentou joga-la para trás, mas Annie pulou mais uma vez nele, dessa vez ela caiu em cima do alcoólatra, e ficou de cara a cara com sua vitima, a sua expressão era sedenta por sangue, então ela cravou a faca o mais fundo que pode no peito do homem que finalmente parou de resistir.

Correu para a casa de um conhecido, se escondendo nas sombras com um grande saco pesado nas mãos. Tocou a campainha e um jovem magro de cabelos castanhos desarrumados e curtos atendeu, ao ver a face de Annie tirou-lhe das mãos o saco e a empurrou com gentileza para dentro de casa. Colocou o saco pesado no chão e olhou o que tinha dentro, enquanto Annie se sentava. Não se surpreendeu com o conteúdo do saco.

— Gostou do seu presente, David? - Perguntou Annie séria.

— Eu queimarei hoje durante a madrugada, obrigado Annie. - Ele a encarava. - Seu rosto, está abatido, você esteve chorando? - dizia enquanto sentava o mais perto possível da garota.

Annie começou a chorar outra vez:

— Eu tive outra crise e ...

— Shhh, não precisa chorar. - Dizia com a voz calma e doce, do modo mais compreensível possível, alisando a cabeça da amiga. - Ele não vai mais te machucar Annie, eu não deixarei nada acontecer com você, ok? - Ela assentiu com a cabeça. - Venha, vou te dar banho e te colocar na cama.

Enquanto Annie estava sentada encolhida na banheira envolvendo seus braços ao redor de suas pernas, David esfregava suas costas e jogava água com uma concha, massageou seus cabelos com shampoo e condicionador, a secou e a vestiu com uma camisola que ele comprou especialmente para essas ocasiões, cuidou dos ferimentos causados pelo vidro na perna de Annie e lhe alimentou, enquanto fazia tudo isso Annie não dizia nada, parecia um bicho recuado, assustado e com medo, David conseguia enxergar a garota de 6 anos que sofrera abuso ali, quando a colocou na cama lhe disse:

— Amanhã, começara os preparativos para nosso ritual, você recebera nossos companheiros na sua casa? Você acha que pode?

— Posso... Eles vão saber do corpo?

—Não, será nosso segredo.

— Obrigado David.

David deu um beijo na testa de Annie e deixou que ela dormisse em seu quarto. Apagou a luz e fechou a porta, desceu as escadas e queimou o corpo esquartejado, não podia culpa-lá, ele sabia bem como eram as crises, e já que Annie quisesse que não fosse relatado aquele incidente, então não seria.


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