Patronwood - Entre luz e trevas escrita por Violet Fairhy


Capítulo 6
Capítulo VI - Lumynus


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores! Mais um capítulo, mais descobertas. Se encantem com Lumynus e se arrepiem com a outra criatura! E por favor, deixem REVIEWS! :*
PS: desculpem a demora, meu tempo está corrido, mas vou fazer o máximo para postar com menos intervalo de tempo.



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Aquele beijo se originou de forma lenta, um sutil aproximar de lábios, mas gradativamente Derek aumentou sua intensidade. Dentro de mim, uma sensação nova e faiscante crepitava. Logo que senti o toque de sua língua contra a minha, os pelos do meu braço se eriçaram contagiando minha coluna e o resto do meu corpo.

Todo esse clima não estava nem perto do primeiro e único beijo que eu eu ganhei na vida, aos 13 anos, numa brincadeira de verdade ou desafio que aconteceu em uma festinha de verão na casa da minha vizinha, quando tudo ainda era normal, antes da tragédia que aconteceu com meus pais, antes de eu ficar defeituosa e não deixar que ninguém mais me tocasse.

Tudo bem, eu deveria apenas estar aproveitando o momento, porque aliás, não era todo dia que eu podia sentir o toque de outra pessoa e apreciar isso, mas exatamente porque era quente e raro que meus pensamentos voltavam-se para a pergunta: Porque quando ele me toca é diferente?

Fiz o máximo de esforço que pude para empurrar os pensamentos impertinentes para longe e concentrar-me apenas na minha cena e no garoto misterioso que beijava maravilhosamente bem.

Derek desceu sua mão pela lateral do meu tronco e apertou minha cintura, foi o suficiente para quebrar a magia e me fazer despertar daquele torpor.

Empurrei-o para longe. Ele piscou para mim, claramente confuso.

– O que há? - sua voz soou mais rouca do que de costume.

– Eu não serei mais uma para sua coleção, Derek. - disse.

No dia em que o vi com Scarlet ele fizera exatamente mesmo.

Derek tinha um jeito de quem fascina as garotas de maneira fácil e pelo modo como se comportou com Scarlet no refeitório, seco e distante, notei que ele não faz o tipo que se apega e sim que apenas “pega” para se exibir.

Okay, nós não tínhamos nada, mas isso não significa que eu goste de ser taxada como mais uma de uma lista de sei lá quantas.

– Do que você está falando? - ele franziu a testa.

– Não se faça de idiota. Você estava com Scarlet a poucos dias e agora está aqui, me beijando. Qual é a sua? - encarei-o.

– Eu não tenho nada com ela, Violet. Ela é só…

– Diversão? - disse, interrompendo-o.

– Bem, eu não sei se…

– E eu? Sou o que? A garota nova que você ainda não somou?

– Você está surtando, sabia? - ele passou a mão pelos cabelos.

Mordi o lábio ponderando sua pergunta. Será que aquilo era demais? O que deu em mim?

Foi apenas um beijo, Violet. - pensei comigo mesma. - Não deve significar muita coisa.

Depois de um longo tempo de silêncio, pelo qual ele me observou cada segundo, eu finalmente falei:

– Eu… Eu... Desculpe. Fui estúpida. - não olhei nos olhos deles, estava com vergonha.

– Não foi. Apenas precipitada. - ele voltou a se aproximar - Aposto que você fez mil suposições sobre mim, sem saber se no fundo algumas delas tinha veracidade. Esse foi o erro.

Naquele momento, tive certeza de que minhas bochechas assumiram um rubor gritante. Comecei a estralar os dedos.

– E você? Fez suposições sobre mim? - cruzei as pernas em cima da cama.

– Nenhuma. Eu apenas tenho certezas em relação a você. Aliás, a cada dia tenho pelo menos uma certeza nova.

Suas palavras pegaram-me de surpresa.

– Certezas? - finalmente ergui o olhar, um sorriso torto brincava em seus lábios.

– Sim. As primeiras delas se deram no dia de sua entrada no Liceu, na sala de aula. Tive certeza de que era linda, estava assustada e acanhada; e alheia a tudo o que estava à sua volta. - suas palavras soavam firmes e sinceras. - Depois tive certeza de que você não gostava de ser tocada, por algum motivo, supus eu, relacionado a um trauma causado pela morte dos seus pais. - fiquei pensando sobre sua afirmação. Obviamente todos ali sabiam que meus pais haviam morrido, porém, Dereck conseguir atrelar o fato de eu não gostar de ser tocada à essa tragédia deixou-me bastante impressionada. - Você suporta meu toque, para o meu enorme deleite. - ele ergueu a mão e acariciou meu rosto. - Pude perceber no dia em que a encontrei no corredor. - ele pareceu voltar àquela cena - Você desenvolveu uma recente crise de pânico, sei que é recente porque não soube como controlar; dia do coelho do armário. Gosta de uma boa adrenalina; pegadinha com o Dylan. É bondosa; sentiu pena do garoto que iria levar suspensão. Tem um olhar cativante; gramado, depois da crise de pânico. É corajosa; deixou boas marcas no pescoço de Philip e quis me expulsar de seu quarto agora pouco. É curiosa, está ávida por respostas a respeito de Patron e sobre você mesma. É inexperiente e gostou do meu beijo; percebi pelas reações do seu corpo e de como sua respiração oscilava. Não é igual a nenhuma das garotas que já conheci; vejo isso agora.

Eu arregalava os olhos e mudava minha cor do beje para o vermelho, do vermelho para o roxo em fração de segundos conforme Dereck ia apontado suas certezas sobre mim. Realmente eram convictas.

– Co… Como você sabe tudo isso? - gaguejei.

– Observando, Violet. Observando. - divagou ele.

– É melhor você ir embora. - deixei escapar a primeira coisa que veio á minha cabeça.

– É isso mesmo que você quer? - ele apertou os olhos e me analisou atentamente.

– Sim. Eu não sei o que dizer… Eu… Eu preciso pensar. - minha cabeça estava um emaranhado de análises e considerações. A Violet metódica em ação. - Eu quero saber tudo sobre Patronwood e sobre mim, mas agora não consigo. Tenho muito o que digerir. Entende? - soei um pouco aflita.

Dereck acenou com a cabeça e pela sua expressão, parecia compreender-me.

– Voltarei para responder às suas perguntas e para… Ver você. - ele disse e inclinou a cabeça para beijar minha testa, seus lábios estavam quentes.

Andei com ele até a janela. Ele subiu e parou sentado sobre o batente.

– Feche a janela. - advertiu-me e pulou para o chão.

Levei um susto imaginando que ele havia se machucado com o tremendo baque que ouvi. Coloquei a cabeça para fora, mas logo vi sua sombra correndo em direção á clareira e depois para a estrada. Balancei a cabeça e ri. Louco, pensei. Fechei a janela, fazendo uma nota mental para perguntá-lo o porquê de sua instrução. Era idêntica à de Zara.

**

No dia seguinte, fui para o Liceu e para a minha tristeza - ou alívio por não ter que lidar com um olhar diferente ou meu rubor intrometido -, Derek não foi à aula. Fiquei aflita de certa forma, pois não tinha certeza se aquela falta tinha algo a ver com com o que aconteceu entre nós. Aliás, minha noite durou mais que o normal porque eu não conseguia parar de pensar no nosso beijo, não conseguia esquecer a doce pressão de seus lábios contra os meus… Derek.

Passei um tempo com Theo e com Millie conversando sobre assuntos banais. Eu não havia revelado sobre o ocorrido entre mim e Derek principalmente porque ele iria me dar respostas e pelo que percebi, Theo era uma daquelas pessoas que queriam me deixar no escuro. Na saída, ele me acompanhou até o carro e deu um beijo em minha mão, como eu estava de luvas, não senti nada de ruim, apenas uma pontada de ansiedade. Theo estava sempre com um sorriso bonito e grande no rosto, seus olhos negros brilhavam enquanto ele se dirigia a mim e constantemente isso me deixava sem palavras. É difícil explicar, só sei que é bom ter a companhia dele, mesmo com o fato de seu toque me deixar alarmada.

Ao chegar em casa encontrei Zara lendo um livro na sala de estar.

– Olá, querida. Como foi no Liceu? - ela levantou os olhos para me olhar. Tanto seu vestido, como seu rosto, seus cabelos loiros e sua postura eram impecáveis. Desejei ser tão linda e admirável como ela, um dia.

– Tia. - sorri e me sentei no outro sofá, tentando não ser desajeitada como sempre, coloquei minha mochila sobre o colo. - Foi normal. Muita aula histórica. - reviro os olhos.

Ela riu breve.

– Todo começo é assim, você precisa conhecer o passado para entender o presente e buscar prover o futuro.

Pensei por um minuto naquela frase.

– Se está dizendo… - falei apenas. Nunca fui fan de história, mas eu sou bastante curiosa para no fim, gostar da matéria. - Hmmm vou subir, estou com sono.

– Você não dormiu bem à noite? - ela franziu a testa.

– É… - como eu poderia explicar que fiquei a noite toda pensando no garoto que subiu pela janela e entrou em meu quarto no meio da madrugada? - Mais ou menos. Acho que estava com insônia. - menti.

– Vou preparar-lhe um chá depois do jantar, ele a fará dormir bem. - ela sorriu.

– Obrigada. - disse e me levantei, indo para o andar de cima.

Fiz todos os meus deveres da semana depois de uma tentativa mal sucedida de tirar uma soneca. Por volta das seis da tarde sentei-me na poltrona e olhei para a janela, já estava bastante escuro lá fora. Depois que a neve derretera, restara apenas o frio e eu gostava dele.

Visualizei a floresta depois da clareira, beirando a estrada e por um instante pensei ter visto algo de diferente, algo reluzir. Imaginei que fossem os faróis de Tio Aaron mas como não ouvi o barulho de nenhum carro descartei a possibilidade. E então de novo, o brilho forte e dourado estava lá, surgiu por apenas um segundo no meio da floresta. Pisquei e esfreguei os olhos para ver que a luz aparecera de novo, só que mais a frente, como se estivesse em velocidade e novamente, ela sumiu.

Eu não sei o que me deu na cabeça, mas corri para o guarda roupa e peguei um casaco comprido preto, uma touca, um cachecol e calcei minhas botas. Sai do quarto e segui o corredor terminando de me vestir, desci as escadas na pontas dos pés e cruzei a grande sala com cuidado para não fazer barulho. Saí de fininho. Eu precisava saber o que estava lá fora, tamanha era minha curiosidade.

Soprei o ar gelado e apertei os braços à minha volta assim que comecei a caminhar pelo gramado do jardim, alcancei o caminho de pedras e segui sentindo que até as árvores ao meu redor seriam capazes de tremer por conta do frio. Cheguei ao portão grande de grades de ferro com uma ponta afunilada bem no fim e depois de enfrentar certa dificuldade, consegui abri-lo num mínimo espaço possível para que eu pudesse passar, ele rangeu um pouco mas não o suficiente para ser ouvido da mansão, eu esperava.

Já fora dos limites da propriedade de tio Aaron, corri o mais rápido que podia tentando atingir o ponto certo o qual vi do alto da minha janela.

Entrei na floresta, me apoiei no tronco de uma árvore para recuperar o fôlego e passei a caminhar por entre as folhas de faias e samambaias, desviando de galhos e tomando cuidado para não tropeçar nas cascas de tronco ou escorregar nas folhas forravam o chão. Andei por mais ou menos uma hora, com precaução para não perder a atenção sobre o sentindo correto que deveria seguir durante a volta para casa.

– Desisto! - reclamei soltando um suspiro impaciente e me sentado ao pé de um lariço comprido. - O que diabos eu estava esperando encontrar? Duendes? - revirei os olhos como resposta a mim mesma.

Levantei-me e procurava o sentido leste quando por reflexo notei um movimento à minha esquerda, tive que forçar vista por conta da falta de luz, já havia anoitecido, alguns galhos se mexiam, então foi para lá que eu segui, sem nem ao menos pensar antes.

Eu estava certa, aquela luz piscou novamente! Um célere brilho dourado.

Apressei-me para aquela direção e então parei quando o brilho se evidenciou forte e constante, me escondi atrás de um tronco pouco antes das árvores envolverem uma espécie de círculo coberto de flores e sementes, onde a luz da lua passava livremente, deixando aquele cenário quase irreal. Pisquei algumas vezes imaginando se não estava sonhando e encarei a figura principal daquele palco magnífico.

Um cavalo.

Um lindo cavalo branco com crinas douradas e reluzentes.

Levei as mãos à boca, incrédula e soltei uma exclamação, os olhos do animal imediatamente me focaram, eram quase tão claros quanto seu pelo, porém mesmo de longe eu podia notar um leve toque ciano naquelas pupilas enormes. Ele relinchou alto e claro e trotou dando duas voltas ao redor do círculo. O som e os movimentos encantadores, além do brilho extraordinário de suas crinas fizeram eu me aproximar. Não senti medo, estava fascinada, deslumbrada por tamanha beleza e singularidade de um único ser.

O cavalo parou de frente para mim, contudo ainda havia alguma distância entre nós, então eu dei dois passos largos e ele colocou uma pata à sua frente e baixou a cabeça em um movimento solene. Prendi a respiração. Meus olhos ficaram úmidos. Não sei dizer porque, mas naquele momento em senti um arrepio percorrer meu corpo, uma onda de sentimentos bons e puros envolverem aquele círculo, uma lágrima escorreu por minha bochecha.

O majestoso animal continuou naquela posição, imóvel, eu não sabia o que fazer, entretanto, a resplandecência de sua crina comprida acendeu em mim o desejo de tocá-lo. Inclinei a mão devagar e toquei o alto de sua cabeça, deslizando a mão pelos pelos macios e imaculados. Minha mão adquiriu um tom amarelo captando a luz, sorri, era fantástico. O cavalo ergueu a cabeça em fim e relinchou novamente. Eu podia jurar que aquele som era de alegria.

– Você é… - estava a procura de uma palavra para descrever o quão impressionante ele era, contudo o animal pareceu me compreender e de forma diferente, pois inclinou a cabeça para o lado, queria mostrar algo, só então eu notei.

Havia uma fita afilada, no mesmo tom de sus olhos amarrada à uma tênue mecha de sua crina. Peguei-a com a ponta dos dedos e estiquei de forma que eu pudesse ler as pequenas letras desenhadas nela.

– Lumynus. - pronunciei e ele relinchou novamente. - Então esse é o seu nome… Perfeito. - sorri e acariciei seu pelo novamente.

Neste momento alguns pássaros voaram acima de nós causando um tumulto na noite silenciosa.

Lumynus ergueu sua cabeça e ficou quieto por um momento. De alguma forma eu podia ver aflição no rosto do animal. Ele se abaixou e deu a entender que queria que eu o montasse.

Fiz que não com a cabeça.

– Eu não posso, eu não sei…

Outro relincho, só que dessa vez soou de forma desesperada e não feliz como antes.

Segurei forte em sua crina, estava aflita por machucá-lo mas também por poder cair, ele era grande, se eu despencasse, no mínimo iria conseguir uma perna quebrada.

Quando passei a perna por cima dele, Lumynus se ergueu e repentinamente inciou uma corrida, eu gritei de susto e me segurei com mais firmeza, sua crina não estava mais brilhando, era loira agora, quase no tom do resto de seu corpo branco como algodão.

Pássaros passaram por cima das árvores fazendo mais barulho e o cavalo trocou de direção na mesma hora o que fez meu corpo tombar para um lado, meu coração estava acelerado, apertei os dedos na crina e voltei para o lugar certo.

Eu estava com medo agora, não com medo do animal, mas porque tinha a sensação de que ele estava fugindo de algo, de algo que era ruim. Meus sentidos estavam alerta.

Inclinei a cabeça e apertei meu rosto contra o pelo de Lumynus. Gritei.

A dor.

Minha costela queimava, como naquele dia, havia fogo e estava me dilacerando. Como se já estar galopando no meio de uma floresta durante a noite já não fosse o suficiente.

O cavalo continuou correndo até estar atrás de um emaranhado de samambaias espessas, ele se abaixou e me deixou sair de cima dele, gritei novamente, ele balançou a cabeça e se inclinou em minha direção ficando ao meu lado. Eu não podia fazer barulho.

Rolei de um lado para o outro. Como queimava. Lágrimas começaram a escorrer furtivamente dos meus olhos. Lumynus me olhava atentamente. Ele não parecia um cavalo, parecia até um ser humano observando.

Tentei não fazer nenhum barulho mas a cada minuto ficava mais difícil. Eu precisava dos meus tios, precisava de suas palavras estranhas para fazer com que o fogo fosse embora…

O clarão voltou, o brilho dourado do cavalo, aproximei-me rapidamente sentindo que devia fazer aquilo e o fogo que me queimava estava ficando mais fraco, não cessou, mas diminuiu, agora era suportável.

–Obrigada. - sussurrei.

Apenas quinze minutos haviam se passado a crina se apagou. Suspirei profundamente.

Mais cinco minutos e ouvi alguns movimentos à nossa frente, depois das samambaias, a luz da lua se infiltrava no meio das árvores criando bolsas de claridade, era possível ver através algumas pequenas falhas entre o emaranhado de folhas que escondiam ao cavalo e a mim.

Folhas se mexiam no chão, era um rastejar. Movimentei apenas os olhos e quando o som se tornou mais próximo, vi uma criatura usando uma capa preta a alguns metros. Estava curvada e realmente se rastejando. Não soube que era humano até ver o contorno estranho de um rosto e cabelos compridos e negros caírem-lhe sobre os olhos.

O fogo.

A dor.

Tapei minha boca quando a nova onda em brasa tomou conta do meu tronco.

Visualizando aquela pessoa a pouca distância de mim, senti um medo que nunca havia sentido, era até maior que minha dor.

Ele tocou em uma árvore e imediatamente as folhas caíram, seus galhos tornaram-se secos, era terrível. Apertei meus olhos para evitar que minha visão ficasse borrada por conta das lágrimas e notei que aquele ser levava algo nas mãos, ele se inclinou para frente e a luz atingiu o objeto.

Não era um objeto. Era um pássaro. Um pássaro grande com penas brancas e avermelhadas, eu não conhecia aquela espécie, mas imaginei que era bela, era. Agora estava estraçalhada.

O homem arrancou algumas penas e atacava o peito do pobre pássaro com os dentes. Estremeci. Ele ergueu o corpo da sua refeição e deixou que o sangue pingasse e escorresse por sua boca. Eu tive vontade de gritar, de sair correndo, de chorar, mas eu estava paralisada com meu medo e minha dor. Por uma fração de segundos a luz da lua atingiu o rosto do homem. Empurrei meu corpo para cima do cavalo, para ver melhor.

Minha garganta fechou. Eu não podia respirar.

No lugar de seus olhos, havia dois buracos negros que pareciam não ter fim e que me chamavam para eles, querendo me cobrir de toda a escuridão que podia existir no mundo. Sua boca estava coberta de sangue e seus dentes eram afiados.

O restante de seu rosto era desfigurado. Velho. Mortal. Medonho.

Aquilo não podia ser humano.

A floresta estava girando à minha volta, meus pulmões não estavam trabalhando.

Derek, eu preciso de você.

Está ficando cada vez mais escuro.

Lumynus, eu preciso de você.

**

Clop. Clop. Clop.

Ouço apenas isso, intermitente e depois mais nada.

**

– Eu não acredito!

– É ele!

– É Violet!

Vozes ecoam dentro de minha cabeça, vozes diferentes, depois silencio. Ouço passos, passos rápidos. Mexo-me um pouco mas estou sobre algo irregular, estou balançando de um lado para o outro. Quero acordar, mas a escuridão persiste.

Oh… Agora há luz, aperto meus olhos. A luz deixa tudo vermelho por trás de minhas pálpebras. Abro-as devagar.

Lumynus. Ele está me carregando lenta e cuidadosamente. Onde estou? Ergo a cabeça e vejo o topo de uma das torres da mansão.

Há pessoas.

Tio Aaron. Tia Zara. Peterson. Derek. Theo. A diretora Laurier e mais uma meia dúzia de pessoas que não consigo identificar. Todos estão no mais perfeito silêncio. Algumas expressões são embevecidas, outras próximas da cólera e mesmo estas, não deixam de mostrar que estão vendo algo excepcional.

– Você faz sucesso, garoto. - passo a mão pelo pelo dele e ele relincha, parece feliz novamente.

Lumynus para a uma distância considerável do grupo. Tento erguer meu corpo mas não consigo. Estou fisicamente cansada mas minha mente está forte. Flashes dos últimos acontecimentos passam por minha cabeça.

Medonho. Inumano.

Começo a tremer. Lumynus dobra suas patas e relincha novamente. Seu brilho cessa.

Meus tios dão passos meticulosos em nossa direção, o cavalo dobra suas patas mais baixo como um sinal afirmativo e os dois prontificam-se. Tio Aaron me pega em seus braços. Passo uma mão pela crina de Lumynus e uma faísca dourada segue o caminho de meus dedos.

– Obrigada. - digo e ouço mais uma vez o som especial de seu relincho.

Então ele se vira e galopa de volta à floresta desaparecendo antes que pudesse atingir o cobertor de árvores. Inacreditável.

Meu tio me carrega de volta em direção ao grupo e a realidade me abate.

– Eu vi… - digo no automático, uma voz tão sem vida que não se parece com a minha.

– O que você viu? - pergunta meu tio.

– Uma criatura na floresta. Era mal. Era… - começo a chorar novamente, carregando minhas palavras com emoção desta vez - Eu senti tanto medo…

– Está conosco agora, está tudo bem. - minha tia diz com uma voz tranquilizadora, porém sua expressão demonstrava medo também.

– Era tenebroso! Era ruim! - grito chorando. - Eu senti como se… como se aquilo pudesse tirar toda a vida existente ao seu redor! - ar, ar. Preciso de ar. Inspiro forte.

– Violet, respire, tudo bem? - Derek. Ele já estava ao meu lado. - Respire. Devagar.

Olhar em seus olhos me fez parar por um momento. Era como se eu pudesse mergulhar naquela imensidão, no mar de águas verde-azuladas, onde eu não me afogaria, estaria segura. Controlei minha respiração.

– Vou levá-la.- Tio Aaron cortou o meu contato com Derek, seu olhar estava anuviado. - Quem não é bem vindo sabe onde fica a saída. - falou não se referindo a ninguém em especial. Tive a impressão de que Derek não era bem vindo. Um leve aperto atingiu meu peito.

Ele caminhou para dentro de casa, mas ainda sim, pude ver Theo me olhando preocupado e depois olhando para Derek com fagulhas nos olhos.

Alguém dizia:

– O cavalo luminoso. Ele apareceu para ela. Depois de cinco séculos!

outra voz:

– É impossível…

– Você não viu com seus próprios olhos? Não negue à realidade, Senhor Darius. - reconheci que era Laurier quem havia falado.

Meus tios entraram na mansão seguidos de Peterson que trancou a porta atrás de si.

Zara caminhava ao nosso lado, tocou minha cabeça com carinho.

– Det somyno ett somnyo. - ela pronunciou.

E o sono estava vindo de novo, eu quis dizer que não queria dormir mas minhas pálpebras já estavam pesadas demais.

– Ele está de volta. - a voz de tia Zara ressoou ao longe, séria.

– Está fraco, pairando na floresta, mas está próximo. - meu tio disse e foi como se meus resquícios de consciência estivessem se esforçando ao máximo para agarrar cada palavra.

– Temos que contá-la e protegê-la.

– Nós iremos... Até que somente ela mesma poderá fazer isso. Até ela escolher.

– Apenas guarde suas influências, Aaron. Você...

E o mundo dos sonhos tomou conta de mim.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Por favor, mandem suas opiniões, suas críticas e curiosidades. Ficarei mega feliz e mais animada para postar!
Até o próximo capítulo, meus lindos. Beijo ;)



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