Patronwood - Entre luz e trevas escrita por Violet Fairhy


Capítulo 7
Capítulo VII - Révélation


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, perdoem-me a demora, é que meu tempo anda corrido, mas em fim, estou postando mais!
Agora sim, vocês estão prestes a fazer as primeiras descobertas sobre os mistérios que cercam Patronwood e Violet.
Espero que se envolvam bastante.
Buuuuuuuu!



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Eu fico me perguntando sobre o quanto do que já ouvi é real e o quanto são apenas histórias que nossos pais nos contavam quando éramos crianças para que pudéssemos ir para a cama mais cedo.

Ocorre que ao passar no tempo começamos a achar essas histórias ridículas, mas agora, no meu mundo, elas soam verídicas e assustadoras.

Tudo o que me envolve no entanto, não me leva a aceitar as circunstâncias. Não quero que meu destino esteja cravado em uma pedra, eu quero ser a capitã que guia o leme.

O medo me cerca de forma aprisionadora, não posso ser o que eles esperam, o que acham que eu sou… Quero ser apenas eu e nada a mais. A Violet humana, simples.

No início, foi difícil de acreditar na história toda de como surgiu esse lugar e essas pessoas esquisitas, entretanto, chegou um momento em que eu não podia mais fingir que não enxerguei o que aconteceu bem debaixo do meu nariz desde que cheguei a Patronwood.

A luz e as trevas. Eis a questão. Ambos convivendo e se chocando. Esgueirando-se pelos arredores de Patron. Traçando as vidas, hábitos e destino de cada cidadão. Uma luta psicológica, às vezes física, tomada de tamanha tensão que escapa da floresta, do frio, do céu claro e da escuridão dessa cidade.

Como se não bastasse que o mundo tivesse passado por tanta discórdia inerente à guerra, pela devastação da doença, que inclusive, levou meus pais, ainda tinha que haver todo o enredo em que eu estava envolvida. Enredo este, que eu tinha sérias desconfianças sobre estar atrelado a tudo o que ocorreu na história da humanidade, mas essa informação meus tios resolveram deixar de fora.

Minha cabeça ainda está flutuando entre lapsos de realidade e conto. Eis o que me foi revelado.

Patronwood é remanescência de um povo muito antigo que ocupou a região sul de onde hoje é encontrada a Nova França, há mais de um milênio. Esse povo era dotado de poderes provindos de uma família de ancestrais, os Améliord. Essa família vagou por um longo tempo à procura de sua salvação, pois tinham sua fé depositada no rastros, literais, das estrelas que lhes apontariam a Árvore da Vida.

Quando finalmente a encontraram, obtiveram revelações que só seriam concebidas mais uma vez, em um tempo que não havia sido declarado, datado ou grafado. Apenas um verdadeiro membro dos Améliord, que nasceria em algum outro ciclo após sua extinção, seria capaz de alcançar esse conhecimento novamente. Essa é a profecia passada por todas as gerações, a qual, só vim descobrir agora.

Os Amérliord se auto-intitularam de Patronos, pois eles eram os guardiões da revelação e também da grande quantidade de pessoas que ao passar do tempo se juntou a eles.

Essa linhagem original, desenvolveu habilidades com o que a Árvore da Vida lhes brindou, sendo elas materiais: Terra, Ar, Fogo e Água. E habilidades transcendentais: Ânima, Devir e Universo. Sendo esta última, a mais rara e grandiosa, fundindo-se e expandindo-se entre todas elas.

Acontece que tanto poder, como é de se esperar, geraria conflitos e discórdia e foi exatamente o que aconteceu. O povo Patrono se dividiu assim que um aldeão se rebelou, questionando a revelação e o porquê de todos terem que seguir debaixo do amparo e comando do mais velho Améliord. O homem causou balbúrdia entre a população que crescia cada vez mais e avançava pelo continente. Ele conseguiu alguns adeptos às suas ideias à medida que suas habilidades se desenvolviam. O nome dele era Archenhaud Malaver.

Malaver conseguiu descobrir a localização da árvore e pensou que poderia levantá-la para si, juntou alguns homens e no silêncio noturno seguiram até o local. Eles tentaram obter a revelação, porém não sabiam qual era a fórmula para conseguir, então mudaram os planos. Primeiramente, Malaver arrancou cada um de seus sete galhos e simultaneamente sete trovões soaram alto no céu, há quem diga que pareciam gritos de dor. Logo depois, ele e seus homens a cerraram e quase no fim do processo, a terra sobre eles começou a tremer. O chão logo se encheu de fissuras que se transformaram em rachaduras grandes e estas por sua vez, deram em buracos sem fim, nas entranhas da Terra.

Muitos Patronos morreram naquela noite, inocentes e culpados, e os poucos que sobreviveram, dispersaram-se e vagaram por dias buscando alguma forma de sobreviver, já que seus poderes haviam desaparecido.

Somente Malaver recebeu uma grande carga de poder liberada pela árvore em um momento efêmero, tendo todos os seus homens morrido nas profundezas do globo antes mesmo de ver o clarão escarlate dominar o ar, porém, aquele poder foi emanado através de dor e traição e usado o homem como hospedeiro, desde então, ele se tonou a criatura mais maligna que caminha sobre a Terra. Seus poderes, são extremamente fortes, marcados pelos sete galhos da árvore, marca que só os Améliord possuíam anteriormente e que foi passada para ele, maculada pela traição.

Disseram-me que o traidor é capaz de seduzir qualquer pessoa que cruzar com ele e não exita em destruí-las também, disseminando seu ódio e crueldade. Entretanto, Malaver colheu o fruto de sua escolha, além dos poderes, foi-lhe dada uma maldição, seu corpo é frágil e deteriorável e o quanto mais ele se degrada, mais seu poder diminui, por isso o homem precisa do sangue de “criaturas puras” para continuar vivendo e apenas uma delas será capaz de saciá-lo para sempre, ou, reza a lenda que este ser também poderá escolher o caminho da agregação, ligando-se a Maláver para então tornar-se a “Escuridão de Todos os Tempos”, um termo usado para infinitos dias de sofrimento e crueldade que dominarão todos os povos. O ser esperado é um legítimo herdeiro Améliord que também possuirá os sete galhos, alcançando assim, o poder Universo, sem nenhum tipo de restrição.

O povo Patrono, ao passar do tempo, percebeu que juntos seus poderes retornavam gradativamente, assim seriam mais fortes e conseguiriam se proteger, pois o Caça às Bruxas que começou no século XV e atingiu seu apogeu nos séculos XVI e XVII, dizimou grande partes deles.

Aos poucos inciaram duas grandes comunidades, a Patronwood e a Patronville, esta última, localizada do outro lado do oceano, nas bases originais dos ancestrais, onde a 3² Guerra Mundial havia causado estragos ainda maiores e os países ainda sentiam seus reflexos, fazendo com que essa base vivesse ainda mais isolada e oculta dos humanos simples.

Diante disso, a população das duas comunidades, como não podem sobreviver separadamente e manter seus poderes, permanecem unidos, porém, continuam divididos. A princípio tudo foi com confuso para mim, mas explicável.

Benevolente, nobre, altruísta e generosa, uma metade do povo opta pelo uso do legado Patron voltado para a “Luz”, com o objetivo de um dia conviver com os humanos simples, lado a lado, manter o lugar que conquistaram e ajudá-los se necessário no controle das nações e a evitar novas guerras; a outra metade, hegocêntrica, hedonista, soberba, metida a autocrata e até cruel, no entanto, escolheu as “Trevas”, com o propósito de manter tudo para si, pensar apenas em si e no momento em que conquistar o que é seu por direito e ainda o que deveria ser, dar o comando do mundo aos Patronos, pois se julgam total e completamente superiores.

Além de tudo isso, voltando às revelações, os antigos relatam que a chegada do herdeiro Améliord seria marcada por acontecimentos excepcionais e reaparecimento da criatura expoente, que originalmente pertencera àquela família. Lumynus.

O ser único e magnifício - como eu mesma pude comprovar - havia aparecido há quinhentos anos. Houve esperança para o povo Pratono, mas o herdeiro não chegou a aparecer de fato. Meus tios disseram que há quem assevere que o herdeiro veio ao mundo, mas não sobreviveu, e que Lumynus se pôs a percorrer grandes pastos do continente europeu por dias e noites, relinchando agoniada e dolorosamente, até que desapareceu. Mas agora, está de volta, quando eu acabara de chegar a Patronwood…

***

Uma semana depois...

Neste momento estou sentada na poltrona de frente à janela. Lá fora o tempo está nublado e escuro, estarrecido com a chuva que não para de cair. Abraço apertado a fotografia da minha família.

Foi difícil acreditar nos meus tios quando disseram que meu pai e minha mãe eram Patronos. Segundo eles, meu pai nunca foi simpático à vida em Patronwood, aos poderes e escolhas. Assim que soube que minha mãe estava grávida de mim, foi embora do vilarejo, abandonando sua família, seus poderes, suas raízes… Tio Aaron fora demasiado hostil ao falar de meu pai, chamando-o de covarde e fraco, o que obviamente eu não consegui ouvir calada, desencadeou-se então uma discussão acentuada entre nós. Eu fiquei realmente brava, a raiva cresceu em mim, não consigo explicar como… Zara conseguiu acalmar um pouco a nós dois e ele saiu do quarto deixando-me sozinha com ela que prosseguiu com a verdade.

– Seu tio está apenas nervoso. Não o leve a mal. E bem, o único objetivo de seu pai ao deixar Patron, era protegê-la, Violet. Ele estava tão angustiado quando comunicou sua decisão… Lembro-me perfeitamente do semblante dele ao cruzar as portas da mansão, olhos vidrados e o maxilar rígido. Pareceu que ele sabia de algo grave e precisava deixar a vila imediatamente. - contou ela. - Sua mãe não estava menos preocupada. Antes de ir, ela havia me feito o pedido… De cuidar de você caso algo de ruim acontecesse. Eu nunca mais a vi desde então, nem tive qualquer contato e bem… Aqui estamos nós.

Neste momento um nó se formou em minha garganta e eu tentei ao máximo segurar as lágrimas.

– Sua marca, - disse Zara, continuando com o assunto e tocando minha costela sobre o casaco. - É o nosso símbolo. Todas as pessoas de Patronwood a possuem, ou ainda irão desenvolvê-la. A árvore cresce em diferentes tamanhos e lugares dos corpos do nosso povo, às vezes surgem apenas pequenas ramificações, ou galhos, até folhas, dependendo da família e do… - ela hesitou - Do poder que o sujeito herda.

Engoli a seco pensando na grande figura, que dava a impressão de ser uma tatuagem inacabada em tinta negra, estendida pelo meu flanco.

Não pode ser…

– Onde está a sua? - perguntei curiosa.

Zara virou-se de costas e baixou um dos ombros de seu vestido revelando a árvore quase idêntica à minha, mas um pouco menor, com seis galhos afilados e compridos, quase chegando ao seu pescoço, em um tronco pequeno. As roupas comportadas e os cabelos longos e soltos de minha tia, não me deixaram notar antes.

– Os galhos são muito significativos Violet, como você ouviu na história sobre a origem do nosso povo. Eles demonstram o poder do Patrono. Eu e seu tio temos seis galhos, seus pais também possuíam seis, mas quando foram embora e se afastaram de sua origem, a árvore desapareceu. Ouvi dizer que o processo de desaparecimento e tão doloroso quanto o de aparecimento e demora anos até que a árvore suma totalmente da pele, por isso você não deve ter notado a marca em Andrew e Caroline. - Zara se virou para mim novamente. - Seis galhos Violet. É um poder enorme. Eles não representam necessariamente cada um dos poderes, mas quem estiver nas casas de cinco e seis tem mais chances de desenvolver um os poderes transcendentais.

– Ânima, Devir e Universo. - confirmei.

– Exatamente. - ela sorriu um pouco de lado. - E o sétimo galho, você também sabe o que significa. - a expressão de minha tia nublou de repente. - Malaver. E o herdeiro.

Um silêncio excruciante se estendeu entre nós. Zara me olhava como todos os outros no meu primeiro dia de aula, sondando, inquirindo...

– Eu não quero mais ouvir sobre isso! - disse me levantando da cama e abrindo a porta do meu quarto, minha voz subindo algumas oitavas.

– Violet, o sétimo galho é o Universo. Esse poder nunca se manifestou em nosso povo antes, mesmo com seis galhos, só no traidor que possui todos eles e nos Améliord. Você precisa reconhecer que é a espera de todos, ou pelo menos que há uma grande probabilidade de sua árvore desenvolver todos os galhos, chances de você ser…

– Não! Eu não quero saber! Eu não pedi pra vir pra cá! Não pedi nada disso!- gritei sentindo algo nebuloso crescer em mim novamente. Estendi minha mão para fora demonstrando que eu queria que ela saísse.

Minha tia me lançou um olhar um tanto abalado, porém eu estava tão nervosa que não me deixei amolecer.

Bem, tudo isso ocorreu na manhã de ontem.

Hoje me neguei veemente a ir para o Liceu, ignorando todos os gritos bravos do meu tio e suas batidas fortes na porta. Temi suas ameaças de me levar à força e tive a impressão de que ele conseguiria abrir a porta de qualquer maneira, mas como sempre, Zara estava lá para acalmá-lo.

Desde que acordei estou estagnada nessa poltrona com a fotografia de meus pais nos braços novamente, já está escuro lá fora. Minha tia bateu na porta há pouco tempo, mas me recusei a abrir, buscando usar um tom mais suave, porque eu já estava arrependida de ter sido tão dura com ela, pedi para ficar só por mais tempo.

Eu não quero fazer parte desse mundo.

Minha vontade de voltar para as Colônias é enorme, porém quando penso que minha família não estará mais lá, meu coração se aperta. Nunca encontrei na Casa Auxilium um lar de verdade e apesar de tudo, senti na pessoa de minha tia, o florescer de um lar. Em Aaron não. Ele claramente escolheu as trevas, Zara, a luz. O estranho é que eu me sinto parecida com meu tio às vezes, nesses ápices de raiva principalmente, é tudo muito confuso e assustador. Não quero ser uma pessoa ruim. A possibilidade de o que eles estiverem falando ser verdade atrelada ao fato de eu poder escolher algo pior que as trevas me deixa amedrontada.

Fico me perguntando que conselhos meus pais me dariam agora. Queria tanto que eles tivessem aqui, ou pelo menos tivessem me contado sobre tudo. Mas, mais do que qualquer coisa, queria que eles me confirmassem que meus tios estão enganados, que eu não sou a tal herdeira, sou apenas a Violet, apenas a filha deles que sonhava em crescer e cursar uma faculdade de Medicina, apara ajudar às pessoas que estavam morrendo com a febre ou com qualquer outra doença, dar mais vida a elas, quem sabe, se eu tivesse tido um pouco mais de tempo, poderia ter curado meus pais…

Senti um cansaço imenso me abater, guardei minha foto numa gaveta com chave da penteadeira e fui para a cama. As lágrimas escorreram pelo que pareceram horas, até eu cair num sono profundo.

***

Acordei um tanto aflita. Alguns fios de cabelo estavam grudados em minha testa por conta do suor frio que a deixou úmida. Eu sonhara que estava na Casa Auxilium, do lado de fora, podiam-se ouvir grandes explosões. Seria outra guerra? Por favor, não!

Nas paredes à minha volta surgiram palavras estranhas em uma língua que eu não conhecia, ouvi uma voz pronunciá-las com destreza e tamanha fora minha surpresa quando descobri que era minha voz! Não tive tempo de analisar a situação, pois uma grande árvore em tinta negra se desenhava no teto, então eu disse: Lux viae et sapyam, venye ad me.

No instante seguinte, houve um breve clarão no quarto juntamente com um tremor. Por favor, não desabe… A guerra não! Fechei os olhos, pedindo com vigor, até que tudo cessou. Um silêncio absoluto tomou conta do local. Abri meus olhos.

O improvável estava flutuando em minha direção.

Um ponto de luz.

Parecia uma daquelas estrelas grandes que aparecem no céu e se sobressaem em relação às outras. Era como se eu a estivesse olhando através de uma janela e ela estivesse a quilômetros e quilômetros de distância, mas não, estava bem ali, naquele quarto e cada vez mais perto de mim.

Meu olhar se fixou naquele ponto imaculado de luz e tive a impressão que mesmo que quisesse desviá-lo, não conseguiria. Sem nem ao menos me valer de um único raciocínio lógico, ergui as mãos e aninhei aquela cintilação.

Nem as mais sublimes palavras poderiam explicar como foi senti-la.

Subjetivamente, era como se eu segurasse a própria alma da pureza e erudição em minhas mãos. Contudo, seguidamente, meus pensamentos foram tomados pelo caos, era uma balbúrdia de informações que eu não conseguia ordenar e que sobrecarregavam minha mente, mas meu copro estava livre, banhado por bem-estar e entusiasmo, que de uma hora para a outra transformaram-se em um desejo de poder e posse. Soberba e prepotência já começavam a dominar o meu raciocícinio. A luz pura agora, pesava e queimava. Agarrei o clarão com força e o lancei para longe. Seu baque contra a parede gerou um impacto e estrondo tão absurdamente alto que feriu meus ouvidos e me lançou para além da porta de madeira.

Foi neste instante que acordei.

– Violet? - a voz de veludo de minha tia chamou do lado de fora do meu quarto.

Não respondi de imediato e então ela falou de novo

– Por favor, querida, deixe-me entrar, deixe-me saber que você está bem?

Tia Zara soou tão preocupada que uma culpa instantânea se instalou em mim. Levantei-me e destranquei a porta. Ela carregava uma bandeja com uma refeição. Seus olhos colaram em mim, analisando.

– Você parece tão abatida, Violet. - disse ela, entrando e colocando a bandeja sobre o criado mudo, logo depois, se aproximou e me abraçou forte. - Nos desculpe por termos escondido tantas coisas de você, por a termos pressionado antes. Espero que entenda que só estávamos querendo protegê-la. No momento em que você descobriu tudo, passou a correr um perigo maior. - seus braços se apertaram à minha volta. - Quando alguém não sabe da existência de algo, para essa pessoa, aquilo realmente não existe. Mas já não podíamos esconder nada, querida. O momento chegou. Você agora está ciente.

Momento de que? Eu queria perguntar, no entanto, iríamos aterrissar em um assunto do qual eu não gostaria de falar e em último caso, eu ainda não acreditava nessa história que inventaram para mim.

Recuso-me.

Suspirei profundamente e então a abracei de volta. Tia Zara é mais alta que eu, minha cabeça fica na altura de seu ombro e ali, naquele abraço, senti seu amor materno, nunca dedicado a alguém, irradiar. Seu toque, tornara-se absolutamente agradável e bom para mim.

– Desculpe também tia, eu fui horrível com a senhora. - falei baixinho.

– Está tudo bem. - ela se afastou para me olhar e acariciou meus cabelos. - Só me diga que irá comer o que eu trouxe.

– Sim, estou com fome.

– É tão bom ouvir isso. - seu sorriso foi de orelha a orelha.

Fui pegar a bandeja e me sentei, apoiando-a sobre o colo. Tomei toda a sopa e depois comecei a comer um pedaço de pão em silêncio. Nenhum assunto delicado ia se inciar quando a paz parecia reinar, pelo menos era essa minha intenção, mas, como todos dizem que tudo o que é bom dura pouco, minha tia começou novamente a falar sobre tudo o que eu não desejava ouvir. Povos, árvore, poderes… E sobre eu ter que voltar ao Liceu porque seria importante para a minha formação.

– Chega, tia! Quer saber? Nada disso importa. Eu não quero ver ninguém. Eu não quero sair dessa casa. Eu não aguento as pessoas olhando pra mim daquele jeito, ainda mais agora que sei a razão. - despejei as palavras em negativa, sem pensar direito. - Além de tudo, eu não acredito em nada disso! Não sou essa tal herdeira da maldição! Eu sou uma garota comum! - me deitei e me cobri. - Quero ficar sozinha.

– Violet… - ela tocou meu braço por cima do cobertor.

– Por favor, tia. - pedi, firme.

Ninguém voltou ao meu quarto pelo resto do dia.

No dia seguinte também não sai, Peterson e minha tia apareceram com comida, mas eu não sentia a menor fome, então só beliscava. Era bom poder pensar, ler e até mesmo chorar sem ninguém para me olhar.

A próxima manhã, porém, já não fora tranquila. Levei um susto quando meu tio irrompeu pela porta a passos pesados.

– Basta! - ele bufou.

Esfreguei os olhos e tentei recuperar o fôlego por conta do sobressalto.

– Você vai se levantar dessa cama e ir ao Liceu querendo ou não! Minha paciência já se esgotou! - ele estava realmente irritado.

– Eu não quero ir! - minha voz se elevou igualmente à de tio Aaron, porém a dele era grave e até me deu medo, tentei não demonstrar.

Ele foi até meu guarda roupas pegando um cabide com meu uniforme e jogou sobre a cama.

– Ah, mas você vai, nem que eu tenha que arrastá-la, Violet! Deixe de ser mimada! - ele se aproximou me pegando pelo braço, me arrastou até o banheiro. - Quero você pronta em vinte minutos! - sua voz soou demasiado assustadora.

Bati forte a porta do banheiro e entrei embaixo do chuveiro com um sentimento mesclado de medo e raiva. A água quente me fez relaxar e pensar sobre o assunto. Eu sabia que tio Aaron não era de falar da boca para fora, ele com certeza me arrastaria até o Liceu e apenas a ideia já me deixava nervosa.

Vesti-me enfadada e penteei meu cabelo fazendo uma trança folgada, a qual joguei sobre um dos ombros.

Abri a porta e saí do quarto, encontrando minha tia, que vinha ao meu encontro, no corredor.

– Eu não acredito que deixará que ele me force a ir. - disse a ela, semicerrando os olhos.

– Eu tentei convencê-lo, querida. Acredite. Entretanto, seu tio está impassível. - ela revirou os olhos. Reparei que nunca a tinha visto fazer esse gesto. Zara era sempre tão contida e elegante. Ela devia também estar brava com Aaron. - Por favor, peço que tenha calma, ele acha que está agindo corretamente. Sei que é difícil lidar com seu tio, mas ele só está pensando em fazer o melhor.

– O melhor para quem? Para ele? - cruzei os braços.

– Violet! - a voz do dito cujo vinha das escadas.

Bufei, arrumei a mochila nas costas e desci com tia Zara que ao chegar na sala colocou uma pacote, imagino que com comida, dentro de minha mochila. Sempre tão cuidadosa...

– Vamos. - ele disse ao me ver parada no meio da sala, não me movi e então lançou-me um olhar duro. Suspirei e caminhei até a porta.

Ao sair da casa, percorri meu olhar pela floresta sentindo um frio cruzar minha espinha, engoli a seco. O que eu estava procurando? Eu tinha medo? Do que exatamente eu tinha medo?

– Vai ficar tudo bem. Nós a estamos protegendo, mesmo quando você não o perceba. Não tema. - era a voz e minha tia sussurrando em meu ouvido.

Ela podia me ler tão bem, em tão pouco tempo… Abracei-a e logo entrei no banco de trás. Tio Aaron falou algo com sua esposa e então partimos.

Permaneci calada durante quase todo o percurso até o Liceu, só quando vi uma das torres da construção dirigi a palavra a meu tio:

– O senhor nem faz ideia de como essas pessoas olham para mim. A maioria delas me odeia, tio. Porque me obriga a fazer isso? Eu não sou quem pensa que sou. - minha voz saiu baixa, uma súplica disfarçada.

– Elas não a odeiam. No mínimo, sentem inveja. - ele respondeu com desdém. - Mesmo que duvide, haverá um dia em que todos irão reverenciá-la.

– Não quero nada disso. - apertei minhas mãos sobre o colo.

Uma vida onde pessoas me invejem ou reverenciam, é repulsiva para mim.

– Não tem a ver com o que você quer. Está no seu destino. Não há opções, Violet. - meu tio desviou sua atenção do caminho por um instante para me dirigir essas palavras e me lançar um olhar inexorável, o que me fez encolher no banco e fechar os olhos. - Não entendo como pode não desejar tantos privilégios. Qualquer um daria a alma para ser o herdeiro no legado patron.

– O senhor, por exemplo. - pontuei.

– Não nego, mas agora eu tenho você, minha sobrinha, sangue do meu sangue. Não preciso de mais nada. Realizaremos grandes feitos. - tio Aaron voltou seu olhar para a entrada do Liceu, ainda sim, pude ver um sorriso sagaz no canto de seus lábios.

– Não! - franzi a testa, minha voz subindo duas oitavas.

– Não o que? - ele perguntou estacionando.

– Eu não vou ser sua marionete! Aliás, não faz a mínima diferença, já que eu não sou a pessoa que o senhor espera. - cruzei os braços.

– Você é sim e nada vai mudar esse fato. Eu consigo sentir. - seus olhos adiquiriram um brilho estranho quando ele se virou de novo para falar.

– Eu não acredito! Deixe-me em paz, tio! - já estava cansada daquela história. Quantas vezes mais eu teria que negar?

Tio Aaron saiu do carro e abriu minha porta.

– Saia, já. - seu tom contido foi mais sombrio do que nunca.

Tirei meu cinto e desci do carro devagar.

– Andrew parece não ter sido capaz de lhe dar a educação precisa.

– Não ouse falar do meu pai! - em nenhum hipótese eu admitiria que ele usasse qualquer palavra para manchar a memória de meu pai. - Ele foi uma pai maravilhoso, era um homem bom e gentil, de uma maneira que o senhor nunca conseguirá ser.

– Violet! - ele falou de sobreaviso, mas eu não me afeitei.

– É a pura verdade, tio! O senhor só sabe criticar o meu pai, mas ele era um homem muito melhor que o senhor! O senhor não se importa com ninguém além de si mesmo, é um tirano prepotente! - soltei as palavras entaladas na minha garganta a tanto tempo.

Mal acabei de falar e senti a bofetada forte arder em meu rosto. Cambaleei para trás e levei a mão à bochecha. Aaron agarrou meu braço com força.

– Nunca mais atreva-se a se dirigir a mim dessa maneira! Está ouvindo? - ele gritava e me chacoalhava. - Você é só uma garotinha mimada e não importa o que eu tenha que fazer, vai me tratar com o devido respeito! Vai fazer o que eu mandar e quando eu mandar, porque sou seu tio, você está sob minha guarda e querendo ou não, me deve respeito! Está entendendo, Violet?

– O senhor está me machucando! - choraminguei, aversa ao seu toque bruto.

– Está entendendo? - ele apertou mais ainda meu braço. - Responda!

– Estou. - choraminguei. Senti lágrimas arderem em meus olhos e escorrerem por minha face.

Pingos de chuva inesperados começaram a cair lentamente, um deles caiu em meu rosto, se misturando com minhas lágrimas. Era frio.

– Agora peça desculpas! - ordenou ele, me arrastando para a entrada da edificação.

– Eu não sou uma criança. Não sou sua filha. Não sou obrigada a fazer o que eu senhor quiser! Ai! - gritei quando seu aperto tornou-se ainda mais doloroso e sua mão se ergueu para mais uma bofetada.

– Aaron! - a voz da diretora Laurier soou com eco. - Solte-a.

Meu tio franziu a testa assim que a viu surgir do corredor, baixou a mão e em fim soltou meu braço, afastei-me rapidamente dele.

– Não interfira no meu modo de educar minha sobrinha. - ele a fuzilou com os olhos.

– O seu modo de educar não funciona aqui dentro do meu Liceu.

Os dois se olharam como se houvesse uma conversa interna, a qual eu não conseguia entender.

– Mando buscarem-na no horário. - ele trovejou, dirigindo-se a mim e voltou para o carro.

Assim que o motor do carro ligou, eu corri pelo corredor ignorando os chamados da diretora. Cruzei metade do Liceu, virei à direita no pátio e o atravessei até entrar no meio das árvores vistosas.

Eu estava atordoada psicologicamente por causa do toque ríspido de Aaron, estava com raiva, estava com medo, estava com vergonha, indignada… Parei a corrida abruptamente e tapei o rosto com as mãos, me desmontando em lágrimas que sacudiam meu tronco com brutalidade. Meus cabelos foram atingidos por ondas de vento e um barulho crepitante tomou conta do ar. Eu queria que meu choro parasse, mas não consegui contê-lo.

– Violet! - ouvi gritarem meu nome, mas não importava, eu não queria olhar, só queria poder sumir daquele lugar e derramar todos os sentimentos fora de controle que me dominavam naquele momento.

O barulho e o vento continuavam, só que era como se estivessem em segundo plano, nada daquilo interferia no meu indômito estado de espírito.

– Violet! Tente assumir o controle! Abra os olhos! - a voz continuava gritando e eu a conhecia.

Derek.


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Notas finais do capítulo

E então queridos leitores, o que acharam?? Me digam tuuuuuuuuuuudo!
Foi meio complicado dar nomes e entrelaçar as ideias que estavam em minha cabeça, mas acho que consegui *-* e vocês, deem sua opinião, por favor!
REVIEWS REVIEWS façam uma autora feliz



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