Seddie, a história continua escrita por Nany Nogueira


Capítulo 35
Desvendando velhos mistérios




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Melanie acompanhou Sam à adaptação de Isabelle. Quando entraram no parquinho viram Charles segurando a neta no colo e a suspendendo no ar, arrancando risadas da garota. O homem viu as moças e parou a brincadeira, alarmado.


– Eu estou enxergando dobrado? Ou vocês são gêmeas? – perguntou ele, surpreso.
– Sua visão está ótima – disse Sam.
– Caramba. Gêmeas idênticas. Nasceram duas de uma vez – falou ele, surpreso.
– Prazer meu nome é Melanie, mas pode me chamar de Mel – cumprimentou a moça, estendendo a mão para Charles, que a apertou e depois a beijou carinhosamente - Na verdade Sam é alguns minutos mais velha – informou Melanie.
– Ou não! Nascemos num ônibus, mamãe não sabe até hoje qual saiu primeiro, só acha que fui eu – explicou Sam.
– Num ônibus?! Nossa! Pobre Pam – lastimou Charles.
– Não adianta nada lamentar agora. Talvez a história fosse diferente se estivesse por perto – disse Sam.
– Sam! – ralhou Melanie.
– É verdade. Agora larga a minha filha, deixa ela ir brincar – determinou Sam.
– Ah, claro – falou Charles, sem graça, colocando Isabelle no chão, que correu para o balanço, disputando com as outras meninas no tapa.
A gritaria das meninas começou e então todos pararam de conversar e correram para apartar.
Quando os ânimos se acalmaram e as crianças voltaram pra sala com as professoras, Sam e Melanie começaram a caminhar para a saída do colégio. Charles foi atrás:
– Esperem. Eu quero oferecer um jantar na minha casa, hoje à noite, especialmente para as minhas filhas.
– Acho melhor não – falou Sam, grosseiramente.
– Calma Sam. Ele só tá querendo ser simpático – disse Melanie.
– Eu entendo que vocês duas têm todos os motivos do mundo para ter raiva de mim. Mas, eu só peço uma chance para que me conheçam melhor. Sei que não vou poder recuperar o tempo perdido, nunca! Eu só quero ter a chance de conhecer um pouquinho que seja das minhas filhas. Se depois disso não quiserem mais olhar na minha cara, tudo bem.
O discurso de Charles tocou o coração de Sam:
– Está bem. Mas, hoje não dá mesmo. Meu marido tem reunião na Pera Store, vai voltar tarde e cansado – explicou Sam.
– Meu marido também. Ele trabalha com o Freddie na Pera Store – contou Melanie.
– Quer dizer que as duas se casaram ainda muito jovens e coincidentemente têm maridos trabalhando na mesma empresa. Também tem uma filha Melanie?
– Sim, tenho. Uma bebê chamada Mabel, ou simplesmente Bel – falou Melanie, orgulhosa.
– Não vejo a hora de conhecer minha outra netinha – disse Charles, sorrindo.
– O papo tá muito bom, mas temos mais o que fazer – falou Sam, interrompendo.
– Eu entendo. Mas, podemos remarcar o jantar na minha casa para sábado? – perguntou Charles.
– Por mim pode ser – concordou Sam.
– Eu também topo – consentiu Melanie.
Naquela noite, Sam ficou sem sono. Olhou para o lado e viu que Freddie dormia calmamente. Então, levantou-se tentando não fazer barulho e foi para a sala assistir televisão, baixinho.
Sentiu uma mão tocar seu ombro, então puxou o braço da pessoa num golpe e a atirou no sofá, sentando-se por cima para imobilizá-la.
– Para com isso Sam! – disse uma voz masculina que lhe era tão familiar.
– Freddonho! Quer me matar do coração?
– Nunca querida, você certamente me mataria antes com esse golpe.
Sam fez menção de sair de cima de Freddie, mas ele a segurou:
– Até que não está tão desconfortável. Desse jeito estou tendo até umas ideias do que podemos fazer nessa posição – disse ele, malicioso.
– Não tô boa pra isso! – falou Sam, levantando-se.
– O que houve amor? Perdeu o sono e veio pra sala...
– Nada.
– Sam, eu te conheço. Não confia em mim?
– É que essa história do meu pai ter aparecido e agora querer estreitar laços comigo e com a Mel. Isso é tudo muito estranho, não sei como me sinto.
– Mas, você aceitou jantar com ele.
– Sim.
– Então, apenas pense nesse jantar como qualquer outro, onde você vai poder conhecer melhor uma pessoa, sem muitas expectativas. Talvez você ainda não consiga senti-lo como pai, o que é natural, porque você o conheceu adulta, mas pode tê-lo como um amigo.
– Não sei se o quero na minha vida, de qualquer forma. Sempre tive curiosidade de saber quem ele era, mas sempre me doeu demais a rejeição dele. Nada justifica o ato covarde dele de abandonar uma mulher grávida.
– Sam, pelo menos escute o que ele tem a falar. Pelo o que você me contou, ele já está arrependido.
– O arrependimento dele não conserta o passado.
– Mas pode construir um futuro.
– Não quero nada dele. Já me arrependi de ter aceitado esse convite pra jantar.
– Sam, vai ser importante pra Belinha ter um avô, já que ela nunca vai poder conhecer o meu pai.
– Freddie, agora é a minha vez de perguntar: você não confia em mim?
– Claro que confio amor. Que pergunta boba.
– Então por que não me conta o que houve com o seu pai?
– Não é falta de confiança. É dor – confessou Freddie, abaixando a cabeça.
– Do que ele morreu?
– Acidente de carro.
– Quantos anos você tinha?
– 5 anos.
– E você se lembra dele?
– Sim, era um ótimo pai. Muito brincalhão e companheiro. Ele que me incentivou a aprender sobre computadores. Ele era nerd como eu, formado em engenharia da computação, por isso sempre sonhei fazer esse curso.
– Daí eu engravidei antes da hora e adeus pro seu sonho.
– Eu abri mão desse sonho pra viver outro. Também sempre sonhei ser pai. Eu queria ser tão legal quanto ele pro meu filho.
– Você é um pai maravilhoso pra Belinha. Ela te ama, te idolatra. Como toda filha mulher, ela é apaixonada pelo pai. Às vezes fico até com ciúmes.
– Eu faço o que eu posso, o meu melhor. Também sou apaixonado pela nossa loirinha.
– Sua mãe ficou louca assim depois da morte do seu pai ou ela sempre foi desse jeito?
– Minha mãe ficou perturbada depois da morte do meu pai, mas não foi só pela perda.
– Realmente, se todas as viúvas enlouquecessem iria faltar hospício. Eu já estive em um e te asseguro que nem tinha viúva lá.
– Sam, sempre foi difícil pra eu ficar longe da minha mãe porque compreendo a dor dela. Ela só tinha a mim no momento do desespero e eu a ela – ele não conseguiu mais conter as lágrimas.
Sam o abraçou, mas insistiu:
– O que causou tanta dor a vocês além da morte do seu pai?
– Meu pai morreu enquanto fugia de casa com outra mulher. Ele limpou o cofre de casa com todas as economias dele e da minha mãe e foi embora com a vizinha.
– Nossa! Que babado! Fiquei chocada agora! E quem era a vizinha piranha?
– Sam, isso é muito delicado. Envolve pessoas que conhecemos. Não sei se devo dizer.
– Tá me achando com cara de fofoqueira?
– Claro que não amor. Só peço que tome cuidado e não deixe isso escapar nunca, porque pode ferir pessoas que gostamos.
– Eu prometo, minha boca é um túmulo.
– Meu pai estava fugindo com a mãe da Carly e do Spencer.
– Meu Deus! – exclamou Sam, alarmada, levando a mão à boca – Então é por isso que você nunca falava do seu pai e a Carly nunca falava da mãe?
– Sim, porque sempre foi sofrido e estranho para nós dois.
– Eu imagino o quanto.
– Depois disso tudo, minha mãe nunca mais confiou nos homens. Dizia que o único homem na face da terra que merecia o amor dela era eu, então passou a cuidar de mim com excesso de zelo.
– Bota excesso nisso.
– Quando ela viu a Carly me beijando, logo depois do salvamento, ela surtou! Até a Carly pensou que fosse pelo excesso de cuidado dela comigo, mas não. Ela reviveu na cabeça dela a cena da traição. Eu sou muito parecido com meu pai e a Carly com a mãe dela, por um momento, Leonard e Alanis estavam se beijando na frente dela de novo.
– Ela chegou a flagrá-los?
– Sim, numa cena constrangedora na cama dela. Minha mãe me contou isso alguns anos depois quando perguntei por que eu me lembrava dela colocando fogo na cama. Ela tinha ido viajar comigo para a casa da minha avó, mas teve uma intuição e quis voltar antes e acabou vendo o que não devia.
– Realmente, deve ter sido chocante pra ela.
– Foi. Eles brigaram feio. Naquela mesma noite meu pai fugiu com a mãe da Carly e morreu com ela na estrada.
– Bem feito – soltou Sam.
Freddie olhou com desaprovação e Sam prosseguiu:
– Desculpa amorzinho. Eu não quis ferir seus sentimentos. Mas, que foi bem feito, foi.
– Ah Sam. Isso já tem tanto tempo. No fundo, ele procurou o destino dele. Mas, não deixa de ser uma ferida aberta.
– Sinto muito bebê – falou Sam, abraçando o marido e o beijando delicadamente nos lábios.
Freddie suspirou fundo e continuou:
– Eu te contei tudo isso pra te dar um conselho: as pessoas erram e nos machucam, mas é uma graça saber que seu pai está vivo para que vocês possam tentar de novo. Eu nunca terei essa chance.
– Você tem razão. Eu vou dar uma chance para o meu pai.


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