Seddie, a história continua escrita por Nany Nogueira


Capítulo 34
O pai de Sam




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Sam comparecia aos recreios de Isabelle, levando o lanche para filha, como gostaria que a mãe tivesse feito por ela na infância, e sentando-se no banco do pátio para vê-la brincar com as novas amiguinhas.
Charles aproveitava esses momentos para se aproximar de Sam:
– Você tem uma bela garota, muito parecida com a mãe – elogiou Charles.
– Ah, valeu – agradeceu Sam, desconfiada.
– Imagino que tenha sido difícil pra você tê-la tão cedo.
– Foi um pouco, mas deu tudo certo. O Freddie me ajudou muito.
– Ele é um rapaz de caráter e coragem. Agiu como todos deveriam agir, mas por covardia, a maioria foge e depois se arrepende amargamente disso pelo resto da vida.
– Não posso me queixar do Freddie, ele é bom pai e bom marido.
– Que bom que você está feliz, não sabe como isso acalenta meu coração.
– Que papo esquisito.
– Sam, a sua felicidade é muito importante pra mim.
– Ih cara, sai pra lá. Eu sou casada e fiel ao meu marido – falou Sam, levantando-se do banco.
– Espere – falou Charles segurança o braço de Sam.
– Me solta, se não vou ser obrigada a usar a força e já aviso que sou boa de briga.
Charles soltou Sam e riu:
– Não tenho dúvidas disso, conheço bem o peso da mão da Pam.
– Se está me bajulando para que eu leve recado seu pra minha mãe, esquece.
– Não, sua mãe surtaria só de ouvir falar o meu nome, ela nunca me perdoaria pelo o que eu fiz.
– O que você fez?
– Sam, eu abandonei sua mãe grávida.
– O que? – perguntou Sam, após a revelação que lhe impactou.
– Ao que tudo indica eu sou o seu pai.
– Não pode ser.
– Pode ser sim. Eu e sua mãe cursávamos Direito em Havard, não tínhamos nem 20 anos e estávamos namorando. Ela engravidou e veio me contar. Eu fiquei desesperado, não sabia como agir naquela situação. Meus pais iriam me matar se soubessem, e eu teria que largar tudo pra sustentar uma família com um trabalho bem inferior ao que poderia ter como advogado. Então, num ato de covardia, disse à Pam que iria me casar com ela e assumir a criança, mas só depois que eu voltasse para casa nas férias e contasse aos meus pais, já que eles poderiam nos ajudar no início da vida de casados.
– E aí, você não voltou mais. Essa parte da história eu conheço.
– Fui para casa e convenci meus pais a me mandarem para Cambridge, onde conclui meu curso de direito. Arranjei emprego num grande escritório da Inglaterra, me casei e fiquei por lá. Voltei para os Estados Unidos há dois anos, após concluir meu curso de pedagogia, já que estava infeliz na advocacia e sentindo o peso da minha consciência.
– E escolher Seattle para morar foi coincidência?
– Não. Eu soube por amigos daquela época que a Pam estava vivendo aqui e imaginei que assim teria alguma pista. E, como o destino não falha, a minha filha veio bater à minha porta.
Charles foi abraçar Sam, mas ela se esquivou.
– Tenho que ir agora – falou ela, saindo apressada.
Mais tarde, Sam ligou para Freddie e pediu que ele fosse sozinho buscar Isabelle no colégio depois do trabalho. A última revelação mexeu com seus sentimentos de uma forma que ela mesma não sabia explicar. Deu-se conta de que Melanie também era parte interessada, então foi à casa da irmã.
Tocou a campainha e foi atendida por Guppy:
– Melanie? Você não estava aqui agora mesmo?
– Eu sou irmã gêmea dela, Sam. Pelo visto, você tem a mesma inteligência rara do seu irmão.
– Pode entrar, ela tá no quarto com a Bel.
Sam entrou, cumprimentou a mãe de Gibby, sentada no sofá, e subiu.
– Sam! Que surpresa boa! Só vem nos visitar no final de semana. Sua sobrinha-afilhada sente saudade – disse Melanie, abraçando a irmã – Venha ver como ela cresceu e está linda! – puxando a irmã para perto do bebê conforto onde a menina estava, sorrindo ao ver a tia se aproximar.


– Ela é realmente linda Mel! Puxou à tia.
– Sempre hilária Sam – disse Melanie, rindo – Mas, você tá tão séria. O que aconteceu? Tudo bem com a Belinha e o Freddie?
– Sim, estão ótimos. O assunto que me trouxe aqui envolve nós duas, apenas.
– Está me deixando assustada. Fala logo.
– Eu acho que encontrei o nosso pai.
– O que? Como assim?
– Ele é o Diretor do colégio da Belinha.
– Não brinca – falou Melanie, caindo sentada na cama – Tem certeza?
– Não posso afirmar 100%, isso só com um teste de DNA, mas, ao que tudo indica, sim.
Sam sentou-se ao lado de Melanie na cama e lhe contou tudo.
– Isso é inacreditável! – exclamou Melanie – O que a gente faz agora?
– Acho que devemos ir à casa da mamãe e tirar essa história a limpo.
– Boa ideia.
Sam, Melanie e Mabel foram à casa de Pam.
– No mínimo as casas das duas pegaram fogo para virem pra cá no meio da semana – disse Pam, abrindo a porta.
As duas entraram (a bebê no colo da mãe) e sentaram-se no sofá.
– Mamãe, o assunto que nos trás aqui é sério – falou Sam.
– Já sei, vai acabar o frango frito no mercado – caçoou Pam, caindo na gargalhada.
– Nosso pai apareceu – informou Melanie, a queima-roupa, fazendo Pam cessar o riso.
– Que besteira é essa? – perguntou Pam, fechando a expressão.
– O nome dele é Charles, não é? – indagou Sam.
– Isso não é possível, ele sumiu no mundo há mais de 20 anos – respondeu Pam.
– Agora ele é o Diretor do colégio da Belinha – contou Sam.
– Tire a menina de lá. Ele não pode se aproximar da nossa família – falou Pam, exaltada.
– Por acaso ele é perigoso? – perguntou Sam.
– Ele é mentiroso e desleal. Rejeitou as duas ainda no meu ventre, não pode querer nada com vocês depois de adultas, casadas e com filhas. Eu sei o quanto foi duro pra mim, sozinha, com duas filhas nos braços, mãe solteira, julgada pela sociedade e pela família – disse Pam, sentando-se no sofá, nervosa.
Sam e Melanie sentaram-se ao lado da mãe, abraçando-a.
– Imaginamos o quanto foi difícil – disse Sam.
– Também tivemos filhas antes da hora – completou Melanie.
– A história, infelizmente, se repetiu. Com a diferença que vocês arrumaram homens mais honrados que eu. Por isso que eu digo, o Charles não é um homem que valha a pena conhecer. Ele não quis saber de vocês, não queiram vocês saber dele agora. Se forem atrás dele estarão me traindo, estarão passando por cima de todo o meu sofrimento para criar as duas. Posso não ter desempenhado meu papel de mãe da melhor maneira, mas eu tentei, e lembrem-se que eu estava com vocês enquanto ele estava só Deus sabe onde.
As duas saíram ainda mais confusas da casa de Pam. Resolveram ir à lanchonete do Costela para arejar um pouco.
– O que você está pensando? – perguntou Melanie à Sam, logo após dar um gole na sua vitamina.
– O que você está pensando? – Sam devolveu a pergunta.
– Eu nem sei, estou tão confusa. Por um lado tenho vontade de conhecer nosso pai, por outro fico pensando se a mamãe tem razão, afinal, ele nos abandonou. Penso como eu me sentiria se o Gibby não quisesse assumir a nossa filha.
– E eu nem queria que o Freddie assumisse a nossa filha. Hoje, fico pensando como ficaria a cabeça da Belinha mais tarde. Tão confusa quanto a minha – contou Sam, bebendo a vitamina em seguida.
– Sam, será que eu posso ir ao colégio da Belinha amanhã? Eu queria, ao menos, ver o nosso pai.
– Claro. Vamos sim.
As duas terminaram as vitaminas e foram para casa de táxi. Melanie chegou primeiro, depois o destino foi o Bushwell Plaza.
Assim que Sam adentrou ao apartamento, encontrou Freddie exaltado:
– Atirou seu celular num cara com o caiaque novamente Sra. Samantha Benson?
– Boa noite pra você também.
– Onde esteve até essa hora? Por que não atendeu ao celular? Sabia que eu fiquei imaginando mil tragédias com você?
– Tá bom, desculpa bebê. Acontece que tive um dia difícil e precisei ir à casa da Mel e da minha mãe.
– Brigaram de novo?
– Antes fosse. Já estou acostumada a brigas com elas.
Sam deitou-se no sofá, sentindo-se exausta. Isabelle aproximou-se e a encheu de beijos molhados no rosto.
– Banho de baba agora não Isabelle. Para – pediu Sam à filha.
Freddie pegou a menina no colo e se sentou na poltrona ao lado:
– Me conta o que aconteceu.
– Ao que parece, encontrei meu pai.
– Sério? Nossa Sam, você sempre sonhou com isso. Onde ele está?
– Mais perto do que poderíamos imaginar. Ele é o Diretor Charles.
– Do colégio da Belinha?
– E você conhece outro Diretor Charles?
– Caramba, como esse mundo é pequeno.
– E vocês já conversaram como pai e filha?
– Mais ou menos. Ele me contou que era meu pai no colégio, enquanto eu estava na adaptação da Belinha, no recreio.
– E como se sentiu?
– Não sei dizer, estranha. Ainda não consegui colocar as ideias no lugar, nem a Mel. Fomos falar com a mamãe e ela confirmou que ele é mesmo nosso pai, só que ela nos disse coisas que deixaram nossas cabeças ainda mais confusas, porque, eu sempre quis saber quem era o meu pai, mas sempre doeu pensar que ele não me quis.
– Sam, pensa que você tá tendo a chance de conhecer o seu pai vivo. Na verdade, você está ganhando um pai e não perdendo um. Eu conheço a dor de perder um pai e tudo o que mais gostaria era que ele entrasse por aquela porta, vivo, dizendo que se cansou e fugiu de casa, mas que agora se arrependeu. Mas não! Sei que está morto e que nunca mais irei vê-lo.
– Você nunca fala muito do seu pai, nem a sua mãe que tem língua comprida fala. O que aconteceu com ele? Como ele morreu?
– Eu não gosto de falar nisso. É uma ferida aberta, apesar de todos esses anos. Eu vou colocar a Belinha pra dormir – disse Freddie, levantando-se com a filha no colo, indo até Sam, para que elas desejassem boa noite uma a outra com um beijo no rosto, e se dirigindo ao quarto da pequena.


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