Seddie, a história continua escrita por Nany Nogueira


Capítulo 33
A Pré-escola




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– Isso é muito precipitado Sam! – insurgiu-se Freddie, cruzando os talheres em cima do prato, visivelmente contrariado.
– Não vai terminar de comer? Depois volta pro trabalho com fome – disse Sam, ignorando o comentário do marido.
– Sam, nós já tínhamos combinado que a Belinha entraria na escola no próximo ano. Ela só tem 2 anos e meio e ainda é muito cedo. É mais saudável que você cuide dela, como sempre fez.
– Há crianças que vão para a creche com meses, porque as mães trabalham, e não é o fim do mundo! Freddie, eu abri mão dos meus sonhos pra tomar conta da nossa filha...
– E eu também! Esqueceu-se que larguei o meu curso de engenharia da computação para ser um mero gerente da Pera Store porque sou obrigado a sustentar uma família?
– Sempre pensei que fosse feliz sendo o gerente da Pera Store, do seu paraíso nerd, também pensei que fosse feliz com a sua família – falou Sam, magoada, levantando-se da mesa e indo para o quarto.
Freddie foi atrás:
– Sam, me perdoa. Não foi isso que eu quis dizer.
– Eu entendi muito bem o que você quis dizer. Sacrificou seu sonho para nos sustentar e eu devo sacrificar o meu para cuidar da nossa casa e da nossa filha, afinal, não é justo que eu faça uma faculdade quando você mesmo não pode fazer.
– Você tem razão. Foi uma atitude egoísta. Podemos ir amanhã ver um colégio para a Isabelle e você terá todo o meu apoio para fazer faculdade.
– Você não vai precisar pagar nada por isso, o Brad me ajudou a conseguir uma bolsa.
– Eu sei. Mas, vou te apoiar cuidando da Belinha quando você precisar estudar.
– E fazer um estágio.
– E fazer um estágio – concordou Freddie.
No dia seguinte, Sam, Freddie e Isabelle foram a um colégio no bairro, cuja fama era muito boa.
O Diretor, um homem de 40 anos, loiro de olhos azuis, alto e robusto, mostrou toda a estrutura do seu estabelecimento pré-escolar ao casal. Sam e Freddie gostaram do que viram.
O colégio era grande. Contava com parquinho, piscina infantil, pátio, salas amplas e arejadas, de modo que no berçário e maternal, no qual Isabelle seria matriculada, havia uma professora para cada três crianças.
Na sala do Diretor, Sam e Freddie não puderam deixar de elogiar o colégio, ao que o homem sorriu e respondeu:
– É a minha maior realização! Eu sempre quis poder cuidar de crianças. Me formei advogado, mas não fui feliz no direito, então acabei fazendo pedagogia e consegui abrir essa pré-escola.
– O senhor não tem filhos? – perguntou Sam.
– Não tenho certeza – respondeu o homem, rindo.
– Eu não entendi – disse Sam
– Deixa pra lá, é uma longa e triste história. Posso fazer a matrícula dessa linda garotinha? – perguntou Diretor Charles.
– É claro – responderam Sam e Freddie entusiasmados.
– Tudo bem, leiam atentamente o contrato – disse Charles entregando um papel.
Freddie começou a ler e disse:
– Sem chance!
– O que foi amor? – perguntou Sam, surpresa.
– Não vou pagar tudo isso de mensalidade! – explicou Freddie, apontando para o valor no contrato.
– Deixa de ser pão-duro – ralhou Sam.
– O senhor tem que entender que temos a melhor estrutura de Seattle para uma pré-escola. Não vão encontrar outro lugar que possa atender à filha de vocês com mais qualidade – justificou Charles.
– Concordo, mas está fora do meu orçamento – disse Freddie.
– Será que o senhor não pode nos dar um desconto? Quem sabe uma bolsa parcial para a Isabelle? – perguntou Sam.
– Veja bem Senhora... Como é seu nome mesmo?
– Samantha Puckett Benson – informou Sam.
Isabelle interrompeu:
– Quero fazer pipi!
– Freddie, leva ela ao banheiro – pediu Sam.
Freddie se levantou e saiu com a filha. Sam prosseguiu:
– O senhor tem tantos alunos, já recebe tantas mensalidades nesse valor, digamos que não vai fazer falta se der um pequeno desconto pra minha filha.
– Eu ouvi bem? Disse que seu sobrenome é Puckett? – perguntou Charles, ignorando o discurso de Sam.
– Sim, por que?
– Esse sobrenome é da sua mãe ou do seu pai? Pelo o que percebi Benson é do seu marido, certo?
– Certo. Puckett é da minha mãe. Não tenho o nome do meu pai no registro. Ele sumiu antes de eu nascer. Na verdade, eu nem sei o nome dele.
– Quantos anos a senhora tem?
– Que pergunta mais indiscreta.
– Ainda é muito jovem, então pode me responder.
– Tenho 20 anos. Fui mãe cedo se é essa a próxima pergunta.
– Você é filha de Pamela Puckett?
– Acertou. Já sei, foi mais um namorado da minha mãe! – concluiu Sam – Eu não tenho culpa de nada que ela tenha feito pro senhor, então, não leve isso em consideração e, por favor, dê o desconto.
– Está certo, vou dar 60% de desconto.
– Uau! Não esperava tanto, mas já que o senhor tá oferendo, eu agradeço muito. Onde eu assino?
Freddie voltou do banheiro com Isabelle e Sam avisou:
– A Belinha vai estudar aqui amor! Ganhamos um descontão!
– O senhor não está nos enganando? Não é como aquelas promoções de TV a cabo que você recebe um desconto e depois tem que pagar o valor normal e às vezes até mais alto? – perguntou Freddie a Charles, desconfiado.
– Pode ficar sossegado rapaz, tem a minha palavra e o meu contrato com cláusulas claras. Só um minuto que vou alterar o valor das mensalidades, colocando o desconto, no computador, e podem assinar sem susto.
Charles acompanhou Sam, Freddie e Isabelle até a saída:
– Será uma honra ter essa menina linda como aluna de meu colégio. Muito obrigado – disse Charles, com um sorriso emocionado.
– Nós que agradecemos – falou Sam.
– Isso mesmo – concordou Freddie.
Assim que se afastaram, Freddie comentou:
– Não achou esse Diretor meio estranho?
– Que nada. Mais um pobre apaixonado pela minha mãe – concluiu Sam.
No dia seguinte, Isabelle entrou no colégio, com a mochila nas costas, segura na mão dos pais. Olhava para tudo desconfiada.
Chegaram à sala de aula, onde a professora principal aguardava na porta:
– Essa deve ser a minha nova aluninha, Isabelle Puckett Benson – disse a mulher morena clara, simpática, aparentando pouco mais de 30 anos.
– Ela mesma – confirmou Sam.
– Sr. e Sra. Benson, prazer Isadora – cumprimentou, apertando as mãos do casal - Podem ficar sossegados que a filha de vocês estará segura aqui. Nós temos um período de adaptação, no qual os pais podem vir até o colégio na hora do recreio para verem os filhos, isso quando a criança já não se mostra independente desde o princípio – explicou a professora.
– Isso é realmente muito maneiro – falou Sam.
– Mas o pai e a mãe têm que vir? Porque eu trabalho em período integral na Pera Store e não dá pra sair no meio do expediente – explicou Freddie.
– Não, basta que a mãe venha – informou Isadora.
– Enquanto minhas aulas da faculdade não começam, posso vir, sem problema – disse Sam.
– Agora vem com a tia – chamou Isadora, estendendo a mão para Isabelle.
Isabelle escondeu-se atrás do pai, recusando a dar a mão. Freddie pegou a filha no colo:
– Belinha, vai com a tia. Tem um monte de amiguinho lá dentro pra você brincar. Daqui a pouquinho a mamãe e o papai vêm te buscar, prometemos.
– Não! – disse Isabelle choramingando e se agarrando ao pescoço do pai.
– Vem com a mamãe Belinha – chamou Sam, pegando a filha no colo – Vou entrar na sala com você pra conhecermos seus novos amiguinhos.
Sem pedir autorização, Sam entrou com a filha e sentou-se no chão com ela:
– Por que não vai brincar com aquelas meninas? Elas têm massinha de modelar, que você adora.
Isabelle olhou desconfiada e Sam a encorajou:
– Vai lá, a mamãe vai ficar aqui te olhando.
A menina caminhou até as colegas, olhando para trás, sentou-se na rodinha e logo lhe deram uma massinha de modelar. Quando a pequena já estava enturmada e entretida, Sam se levantou e caminhou até a porta quando ouviu um berro desesperado:
– Mamãe!


Isabelle correu e se agarrou às pernas de Sam, chorando:
– Não me deixa aqui! Não vai emboia! Não abandona a Beinha! Mamãe, te amo! – soluçando.
– Para com isso Isabelle, agora mesmo! – ordenou Sam, esforçando-se para ser enérgica.
– Não vamos te abandonar princesa. Voltamos para te buscar, não vai demorar nada – disse Freddie, aproximando-se.
Isadora pegou Isabelle no colo, mas a menina esperneava, gritando:
– Mamãe! Papai! Não me deixa!
– Que coisa feia Isabelle, as outras crianças estão te olhando – falou a professora.
– Não ligo – respondeu Isabelle, continuando o escândalo.
– Quer saber? Que se dane. Vamos pra casa e esquecemos essa história de colégio por enquanto – disse Sam indo pegar Isabelle do colo da professora.
– Não Sam! – falou Freddie, detendo a esposa – É importante que ela se acostume a passar um tempo sem nós.
– Mas você mesmo disse que era má ideia, que era muito cedo ainda.
– Se levarem a menina agora, não terão sucesso mais tarde. Ela vai saber que fazendo escândalo não precisará ficar na escola. Sei que do que estou falando, sou professora há mais de dez anos – aconselhou Isadora.
– Viu só? Vamos embora Sam – disse Freddie, puxando a esposa.
– Sei que é duro para uma mãe, também sou mãe. Mas, vá em paz, pense que é para o bem da sua filha e que ela vai lhe agradecer mais tarde. É um gesto de amor, mesmo que agora não pareça – falou a professora.
– Tudo bem – conformou-se Sam, virando as costas e acompanhando o marido.
– Mamãe, não abandona a Beinha! – gritou Isabelle, entre soluços.
Sam e Freddie foram caminhando para o Bushwell Plaza, a poucas quadras do colégio. As palavras de Isabelle no choro sentido ecoavam na cabeça da mãe e a atormentavam.
– Vai ficar tudo bem amor, ela vai se acostumar – falou Freddie, abraçando a esposa pelos ombros.
– Meu coração está despedaçado, me sinto uma monstra. A pior mãe do mundo!
– Ser mãe também é tomar decisões difíceis.
– Tem razão. Agora entendo um pouco a minha mãe e a sua insistência em me mandar para o colégio – disse Sam, conseguindo sorrir.
– Nesse papel de mãe, você está se saindo muito bem meu amor – elogiou Freddie, beijando-a delicadamente nos lábios.


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