Dilema escrita por Mizuhina, Utakata Bad Boy


Capítulo 8
Capítulo VII - Coragem


Notas iniciais do capítulo

Utakata: Acho que a Hina já deve ter aviso, mas meu notebook quebrou, então peço desculpas pelo longo hiatus. Vamos tentar compensá-los logo. Obrigado pela paciência. Desejem-nos sorte.



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Coragem –(勇)

 

“Um samurai deve possuir uma coragem heroica. A coragem heroica não é cega, ela é inteligente e forte.” — As sete virtudes do Bushido. 

 

Para mim a verdadeira coragem não está em sacrificar a própria vida por um ideal, mas em ir contra tudo para acreditar e manter a esperança firme, mesmo que muitas vezes isso entre em conflito com o que os outros acreditam. Às vezes a vida exige coragem para decidir, para se ferir, para machucar. Somos como uma espada de dois gumes que machuca aos outros e a nós mesmos. Os caminhos da vida são ambíguos e as vezes as escolhas nos levam ao mesmo lugar.

Enquanto retornava para a casa de Kakashi algo me deixou bastante inquieto, era a respeito do problema dos Hyuuga com a Kitsune. Os anciãos do meu clã já tinham me contato algumas histórias sobre essas criaturas, embora de fato eu nunca tenha visto uma. Algo no fundo me dizia que alguma coisa estava errada nisso, não sei se era meu instinto, ou algo além do que posso ver. O que sei é que me intrigou o porquê  de a herdeira dos Hyuuga estar nos observando. Aquela situação era irritante.

Quando cheguei observei que Sakura estava tomando chá com Kakashi e abriu um longo sorriso quando me viu. “Porque ela sorri tanto?”. Levantei a cabeça e retirei o chapéu focando minha atenção nela, e para minha surpresa ela desviou o olhar com o rosto um pouco corado. ”Era só o que me faltava”

— Bem vindo de volta Sasuke-kun. –Fui recepcionado com palavras gentis, mas como de costume não respondi nada. Apenas me apressei em pegar minhas coisas para a batalha e segui meu caminho, pois mesmo sendo imortal aquela era uma missão perigosa. Algo como uma raposa poderia me estraçalhar em segundos, e a ideia de passar a eternidade em pedaços dentro de seu estomago não era agradável. Então eu precisava de algumas coisas como cordas, veneno e alguns outros truques usados por ninjas.

Talvez esse não fosse um estilo muito limpo de luta, mas na condição de ronnin isso realmente não deveria importar, afinal minha própria natureza monstruosa já me da uma vantagem sobre qualquer criatura humana que viesse a lutar comigo. O mundo é injusto e irracional, tanto pra mim quanto para eles. Ainda assim a péssima sensação de estar sendo observado persistiu.

— O que foi? – O olhar incansável de Sakura sobre mim já estava me irritando. – Algo errado? – Ela permanecia calada e aquilo conseguia ser muito mais incomodo. Eu queria apenas viver minha vida sem ninguém para se meter nela, e aquilo me trazia um péssimo pressentimento.

Olhar nos olhos de Sakura era como perder as minhas próprias defesas, pois não importava o quanto eu tentasse afastá-la, parecia que ela podia enxergar coisas em mim das quais nem eu mesmo sabia. A pureza da alma dela era evidente, e por essa razão eu sentia como se nunca conseguisse esconder nada. Aquilo me trazia a estranha sensação de que a luz do sol era capaz de me iluminar por alguns instantes e isso me assustava.

— É realmente muito lindo quando jovens como vocês trocam olhares tão apaixonados. – Kakashi fez mais uma das brincadeiras de mau gosto, e me irritou profundamente.

— Você quer que eu te mate? – Respondi com a expressão séria e minha atenção novamente voltou-se para Sakura. – Eu nunca me apaixonaria por uma criatura tão irritante como essa. – As palavras saíram sem pensar. Era a única opção que eu tinha.

Pensar nisso doía e me trazia uma raiva irremediável. Sai dali imediatamente, antes que Kakashi proferisse mais alguma asneira. Não me importava se aquilo era uma brincadeira, pois eu não via nada de engraçado em algo tão sério.

Talvez eu estivesse sendo cruel, mas apenas em cogitar a possibilidade já me trazia a lembrança do porque é impossível criar laços com alguém. Tentei me livrar daquelas divagações, pois não me traziam nada além de desconforto e me apressei em sair para minha missão. Peguei os pertences que reuni em uma bolsa feita da pele que reaproveitei de animais que cassei.

Tudo estaria bem se eu não tivesse que encontra-la, mas o destino às vezes pode ser insistente e incoerente. Sakura estava de frente para a trilha por onde eu passaria, a neve caia fina e o clima estava muito gelado. Era difícil entender o que se passava na cabeça dela.

— Você vai pegar um resfriado se ficar aqui fora. - A frase saiu quase que automaticamente, evitei levantar meu rosto para o olhá-la, meu chapéu de palha tapava minha visão do rosto dela e eu não enxergava nada acima do queixo.

Ajeitei minha bolsa e segui caminhando, foram uns 30 passos até passar por ela e deixa-la para trás, ouvi uma frase sair quase num sussurro “Já estou acostumada com o frio”. De alguma forma aquilo parecia uma indireta, mas permaneci em silêncio e continuei meu caminho.

Com minha audição aguçada pude perceber as batidas do coração se elevarem, ou talvez fosse o meu próprio que estivesse em euforia, pois senti uma mão delicada agarrar a manga do meu kimono me impedindo de prosseguir.

— Por quê? – Sakura disse baixo, mas eu podia escutar perfeitamente. Ainda assim não me virei para fita-la, permaneci imóvel, estático, e ela prosseguiu. – Porque você me salvou?

 – E existe alguma razão para salvar alguém? – Era apenas a verdade. Tentei me desvencilhar, mas ela segurou meu braço ainda mais forte.

— Me desculpe se eu só lhe trago problemas. Essa não era a intenção. – As palavras saiam entrecortadas, a voz doce tinha um ar melancólico e pude sentir lágrimas geladas caírem sob minhas mãos. – Eu sei que você me odeia.

Eu não sei bem por que... Mas... Aquelas palavras me machucaram.

— Porque eu odiaria? Não se dê mais importância do que tem. As pessoas só odeiam aquilo que elas já amaram, e esse não é o caso. Ou você se deixou levar pela brincadeira do Kakashi? – Naquele momento me virei para Sakura e sorri diante daquela ironia. – Não me diga que está mesmo apaixonada? – Os olhos verdes e brilhantes dela se focaram em mim, e pude ver uma expressão de espanto. Não sei se eu estava sendo cruel o bastante, a realidade era muito pior.

— Talvez tanto que eu nem consigo suportar... Você não precisa enfrentar tudo sozinho. – Ela jamais entenderia.

Senti uma movimentação estranha, meu instinto de tengu me ajudou a antecipar os movimentos dela, e quando percebi eu já a segurava pelos braços. Nossos olhos se encontraram e eu sabia que ela queria me abraçar. O vento ficou mais forte e meu sangue estava quente.

— Não faça mais isso! Esse é meu ultimo aviso. – A minha voz saiu firme, meus olhos ardiam instintivamente em fúria, e eu podia jurar que estavam vermelhos se não estivesse lutando tão arduamente para me controlar. – Me esqueça e não se meta mais nos meus assuntos. 

Eu sabia perfeitamente que aquilo era insensível, e que ela não fazia por mal, que era apenas forma de demonstrar gratidão, talvez amor, e todos os sentimentos que julgava não merecer. Afinal que motivos ela tinha para gostar de um monstro como eu? Alguém o qual a vida cheia de avareza e preso a uma maldição que poderia oferecer apenas sofrimento? Eu sabia que havia algo muito mais profundo que a impulsionava a agir daquele jeito, tanto quanto eu que escolhi salvá-la sabendo das consequências. Ela, uma donzela perdida, solitária e impulsiva que era igual a tudo o que perdi um dia. Era por isso que eu jamais poderia... “Apenas me desculpe. Obrigado”. Meus pensamentos jamais poderiam alcança-la.

[...]

O destino da minha missão era um monte chamado “Kurama”, onde poucas pessoas exploravam devido as lendas locais, da existências de Youkais e talvez espíritos. Não sabia ao certo se ironicamente eram verdade ou  se eu estava perdendo tempo, mas uma forte sensação de perigo me tomou e tive que ficar alerta. Era indiscutível, como se a poucos metros estivesse um predador, ou seja o que for, algo que estava pronto para me destruir. Forças opostas como o Ying e Yang.

Banhei minha espada com um veneno paralisante, que tinha adquirido de alguns comerciantes na vila,  e segui o caminho tentando encontrar algo com meu olfato aguçado. O cheiro inconfundível e flores e grama estava me confundindo, pois eu não esperava ver esse tipo de vegetação no lugar onde estava.

Eu podia sentir um cheiro claramente único, de algo que habitava aquelas montanhas e não era um dos animais típicos daquele lugar. A medida com que avançava numa trilha de pegadas frescas podia sentir uma aura ainda mais esmagadora e tamanha foi a minha surpresa ao me deparar com pegadas humanas.

— Alguém está aqui. – Fiquei alerta e evitei relevar minha forma de tengu, pois a menos que estivesse em perigo eu não iria utilizá-la desnecessariamente. Minha desconfiança nos Hyuuga permanecia intacta e todo cuidado era pouco para não meu disfarce não cair em ruina.

Caminhei mais um pouco, esgueirando-me por entre as árvores, para não chamar atenção. Era necessário muito cuidado para não dar nenhum passo em falso, no entanto me deparei com algo  surpreendentemente inesperado. Uma parte da vegetação local da montanha estava descongelada, como se a primavera tivesse se antecipado e privilegiado um único lugar em todo aquele inferno gelado.

Nunca em toda minha vida eu tinha ouvido falar sobre algo semelhante, tão pouco de algum tipo de magia que tornasse isso possível, porém se aquilo estava acontecendo era bem claro o quão era enorme e eficiente o poder da natureza.  O poder das enormes raposas.

Tranquilamente deitado embaixo de uma árvore estava um rapaz loiro, que parecia ter mais ou menos a minha idade, a expressão era serena, embora exalasse uma aura sempre alerta. Eu podia perceber uma forte sensação de perigo, com algo que se confunde com o ódio. Era como eu.

— Então as lendas são verdadeiras? Kitsunes realmente podem se metamorfosear em humanos para enganá-los. – Minha voz saiu cheia de sarcasmo, eu ansiava por uma boa luta. Eu me sentia estranhamente diante de um espelho.

Não sei explicar bem porque, mas aquilo tinha me deixado relativamente de bom humor. Aquela kitsune era exatamente como eu, solitária, amaldiçoada e odiada por todos. Me senti como se estivesse diante de um igual, e meu lugar no mundo parecia ter algum sentido, meus instintos de tengu gritavam selvagemente como nunca haviam antes. Algo de místico estava acontecendo, talvez por ser o encontro de duas bestas, a percepção daquele poder era esmagadora.

— Você tem cheiro de tengu... – O olhar dele se elevou cheio de ódio sobre mim. O rapaz se levantou, os olhos azuis tingiram-se de vermelho como o meu. Logo uma aura irracional e cheia de rancor, talvez magoa, eu não conseguia saber, o tomou. Em instantes, a transformação havia se tornado completa e diante de mim já não havia mais um humano, mas um monstro de quase três metros e uma fúria imensa. A vontade de me matar. Eu um amaldiçoado tengu.


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