Tetris escrita por Stefani Niemczyk


Capítulo 8
INVOLUNTARIAMENTE!!! ou Bem Vindo à Tetris!


Notas iniciais do capítulo

Finalmente o Rafa vai numa balada gay!!! Como será essa experiência?!



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Me arrumei como da última vez em que (quase) fui para a Tetris. Roupa, cabelo, desodorante, tudo perfeito para não fazer feio no primeiro dia. Enquanto nos preparávamos, nós íamos conversando sobre onde iríamos nos encontrar.

Eram vinte para as onze da noite e eu desci pelo elevador todo feliz. O porteiro até estranhou minha alegria, mas eu nem me importei. Entrei no carro e dirigi ansiosamente até a Tetris.

Era engraçado porque eu estava com uma sensação mista. Um pouco vinha da curiosidade de ir em um local LGBT, da felicidade de ter um grupo que se propôs a ir comigo. Mas, ao mesmo tempo, um medo de estar entrando num ambiente totalmente desconhecido e um pouco de vergonha, pois não saberia como iria me comportar ali.

Mas a animação e a curiosidade eram maiores.

Quando percebi, já estava com o carro estacionado numa rua ali perto. Fui até o ponto onde eu e os meninos havíamos combinado de nos encontrar e fiquei esperando que eles chegassem.

Eu estava encostado na parede de uma loja, do outro lado da rua. A rua estava exatamente como no sábado: totalmente congestionada por causa dos carros que paravam no meio do trânsito para deixar pessoas ali enquanto outras vinham de todos os cantos e, passando entre os carros, dirigiam-se para o fim da fila.

A diversidade de pessoas continuava. Homens com roupa colada, caras com camisa bem larga, cabelo arrepiado, cabelo caído, cabelo liso, cabelo crespo, mulher de vestido, mulher de minissaia, travesti com um pretinho básico, travesti com uma vestidão brilhante, menino de quinze anos, menino de quarenta anos, negro musculoso, branco afeminado, japonês cheio de piercing...

Alguns caras que passavam por ali me olhavam da cabeça aos pés enquanto iam para o fim da fila. Eu não sabia dizer se estavam me paquerando ou me julgando.

Não sei qual dos dois seria mais desesperador!

– E aí, Viado!

Olhei para o lado e os quatro estavam ali. Todos muito melhores produzidos que eu. Era engraçado pensar que eles eram mais novos que eu e tinham muito mais experiência nisso.

Nos cumprimentamos com um beijo no rosto. Eu não estava acostumado com aquilo, fiquei um pouco sem jeito. Eles não estavam nem aí. Olhei em volta e percebi que ninguém estava ligando também. Mas eu fiquei um pouco desconfortável...

– Vamos logo que a fila está aumentando! - Falou o Dani.

Fomos para o final da fila, que ficava junto à parede do local. A música já estava tocando lá dentro e era possível sentir a parede vibrando com a altura do volume. Mal dava para ouvir a música, por mais alta que estivesse, porque lá na fila parecia uma competição de quem falava mais alto.

– Meu, eu já te agradeci no whats, mas eu tenho que falar pessoalmente: MUUUUITO obrigado pro ter dado carona pra gente no sábado!

O Dani falou. O cabelo de Justin dele estava impecavelmente bem penteado, parecia que tinha sido modelado por um escultor. Por mais que ele mexesse a cabeça, o cabelo balançava e ficava certinho no penteado. Sem falar que estava tão limpo que o brilho refletia o cor-de-rosa que vinha da faixada de neon da Tetris.

– E aí, preparado? - O Henrique perguntou.

– S.. Sim... - NÃO.

Os quatro riram, porque perceberam meu desconforto.

– Relaxa, a primeira vez é a mais assustadora, depois fica tudo bem. - O Léo disse.

Tudo o que consegui fazer foi dar uma risada sem graça. Eu estava morrendo de felicidade por estar ali com um grupo, mas o medo do desconhecido me impedia de demonstrar.

– Ali! - O Dani falou, interrompendo meu pensamentos.

Ele indicou uma direção com o olhar e disfarçou. Os outros três olharam.

– O Barbie? - O Henrique perguntou.

– Não, o outro. - O Dani respondeu.

– É, o outro é bonito. - O Léo comentou.

– Mas o Barbie também não é de se jogar fora. - O Vitor falou.

Os quatro estavam olhando para o mesmo lugar. Claramente estavam falando de dois caras, mas eu não consegui descobrir quem eram. Havia tanta gente ali que era muito difícil focar em alguém.

– E você, Rafa? - O Léo perguntou, virando-se para mim. - O que acha deles?

– Você gosta de Barbie? - O Henrique perguntou antes que eu pudesse responder o Léo.

– Você sabe o que é um Barbie? - O Vitor falou logo depois do Henrique e os dois riram.

Fiquei meio sem entender a situação.

– Não liga pra eles, é sua primeira vez. - O Dani me disse.

– Mas na sua primeira vez você já sabia até demais! - O Vitor comentou com o Dani, ainda terminando de rir do que havia falado anteriormente.

– Shh! - O Dani falou, olhando com um sorriso safado para o Vitor.

– Você nem sabe! - O Henrique começou a falar comigo. - Na primeira vez que o Dani veio na Tetris, ele...

– NÃO, NADA, não aconteceu nada! - O Dani interrompeu.

Os quatro estavam rindo enquanto eu ficava observando, perdido, dando pequenas risadas por osmose. Mudando de assunto, o Léo me falou:

– Olha que legal, Rafa, você vai estrear sua primeira vez na Tetris num dos melhores shows!

– Verdade. - Concordaram com ele.

– Por que? - Perguntei.

– A Zuzu é a melhor drag da casa. - O Léo respondeu.

– UMA DAS melhores. - O Dani corrigiu.

– Ah, nem vem, a Luna é foda mas não dança tão bem! - O Léo retrucou.

– Mas a voz dela é infinitamente melhor que a da Zuzu!

– É, claro, ela não dança, não interage, não faz nada! A Zuzu consegue parir uma criança no palco enquanto canta e ainda sair sambando no salto quinze!

Eles começaram uma discussão entre qual drag era melhor enquanto o Vitor e o Henrique ficavam de segredinho olhando para um canto. Estavam, com certeza, falando de algum homem ali.

Dei uma olhada ao redor. Era incrível ver como aquele ambiente - que, inicialmente, deveria ser apenas dentro do estabelecimento, mas se estendia para as áreas externas ao redor - era muito diferente das ruas onde eu estava acostumando a andar todos os dias.

O clima ali era de descontração, sim, mas, acima disso, de respeito. Havia gente muito diferente e algumas até estranhas (se é que essa palavra existia naquele local). Mas, mesmo assim, ninguém dava a mínima. Na verdade, até elogiavam com um "Arrasou, bicha!!!" alguém que tivesse a "coragem" de ser homem e ir para a balada num salto alto.

O curioso é que existia gente muito diferente. Quando eu via reportagens sobre as Paradas Gays, todos os homens pareciam ser iguais: músculos, cabelo raspado, sunga. Ou então eram drag queens cheias de glitter no rosto, batom grosso e roupa colada.

Ali havia gente com roupa de skatista, roupa de academia, camisa social, moleton, regata, tênis, bota, sandalia, Havaianas, brinco, corrente, colar de pedra, colar de prata, óculos de grau, óculos escuro, touca, faixa na cabeça, rabo de cavalo, cablo loiro, azul, roxo, castanho, verde, todo raspado, moicano, afro...

Era muito diferente do estereótipo gay mostrado nas mídias. Eu, sendo gay, sabia que aquele modelo que mostravam não era o único estilo - até porque EU não me encaixo nisso - mas ter a experiência de ver a diversidade de perto, com os próprios olhos, era muito maior do que eu poderia imaginar.

Fomos nos aproximando da porta até entrarmos no local.

Era uma pequena salinha com um balcão. Atrás desse balcão haviam quatro pessoas que atendiam os clientes.

– Vão indo, eu faço o cadastro com ele. - O Léo disse aos quatro, que foram até os atendentes do balcão. - Você vai ter que fazer o cadastro, já que é sua primeira vez.

Eu e ele fomos até o primeiro atendente e, após alguns dados que tive que falar, meu cadastro estava pronto. A moça colocou uma pulseirinha em nós e fomos em direção a uma grande passagem preta que se encontrava do outro lado desta salinha.

Ao se aproximar dessa passagem, vi que era, na verdade, um corredor com as paredes cobertas por um pano escuro. Na entrada haviam quatro seguranças que passavam o detector de metais em volta do corpo das pessoas.

Que chique!

Depois que fui revistado - o aparelho apitou por causa das chaves, mas mostrei para o segurança o que era e ele liberou - nós cinco entramos pelo corredor.

À medida em que íamos andando em direção ao final, a música ia aumentando. Na metade do caminho, eu já não estava mais aguentando. Não estava acostumado com om naquele volume.

O corredor estava escuro, iluminado apenas por algumas lâmpadas de luz negra. Ao final, haviam faixas pretas de tecido que caíam verticalmente do teto e iam até o chão. Passamos por estas faixas e...

TCHARAM!

Aquele lugar era MUITO maior por dentro do que por fora!!!

Azul e rosa. Um pouco de roxo. Essa foi a primeira coisa que eu, como designer, identifiquei. As cores. A iluminação base era azulada e havia luzes cor-de-rosa para dar efeito. A mistura das duas deixava o ambiente todo roxo-violeta.

Era um espaço bem grande, com várias áreas diferentes que eu não conseguia identificar direito como eram delimitadas. Ao fundo, havia um palco e lá em cima havia uma mesa com várias luzes verdes. Eu não conseguia ver direito, mas com certeza era onde o DJ estava.

Muita gente junta. Uma massa de pessoas se estendia entre a entrada, onde estávamos, e a mesa do DJ, lá do outro lado.

Olhei para a direita e vi que havia um bar bem grande, com uma fachada com luzes amarelas. Destacava bastante com o azul que predominava o local, já que amarelo e azul são cores complementares.

À esquerda havia uma área com o piso mais elevado. Lá haviam sofás que já estavam quase todos lotados de gente.

Uma coisa interessante era que as luzes do local deixavam todo mundo com aquela cor roxo-violeta. Todas as diferenças de cores e formas que eu havia contemplado lá fora, agora eram apenas um monte de coisas roxas. Era como se a iluminação dissesse: aqui dentro, todo mundo é igual.

Eu realmente não estava acostumado com música alta. Muito menos eletrônica. O som estava me incomodando um pouco.

O Léo olhou para mim e disse:

– Rafa... Bem Vindo à Tetris!!!

Saímos da entrada assim que entramos - tudo o que eu percebi do local ocorreu em questão de segundos - porque havia mais gente entrando e não podíamos barrar a porta.

Assim que saímos de lá, pegaram minha mão. Eu me espantei, mas, quando percebi, vi que era o Léo. Os quatro haviam dado a mão para andarem sem se perder e eu estava no final da fila. Fui sendo puxado por eles sem saber para onde estávamos indo.

Enquanto andávamos entre as pessoas, eu ia reparando nelas. Eram realmente MUITO diferentes. Havia gente que já estava se beijando e alguns quase trepando no meio de todo mundo. Bem, normal. As festas que eu fui na faculdade não era diferentes.

Só percebi que havíamos chegado no bar quando eu percebi o reflexo da luz amarela no chão. Olhei para cima e vi o balcão. Era bem maior do que eu havia visto. Ele fazia até uma curva! Uns doze barmans estavam lá servindo a galera e fazendo aqueles malabarismos com garrafas.

Nós cinco nos juntamos e o Vitor gritou:

– O que vai ser?

Era engraçado que ele estava claramente gritando muito, mas nós mal conseguíamos ouvir por causa do som alto. Eu já estava começando a me acostumar com o volume da música.

Cada um deles falou um drink até que os quatro olharam para mim.

– Eu não vou querer nada. - Gritei também e mal me ouvi.

– Como assim, vai vir na balada e não vai beber? - O Dani perguntou.

– Por enquanto não... - Respondi.

– Beleza, se quiser fala! - O Henrique disse.

O Vitor pediu as bebidas dos quatro ao barman mais próximo e, rapidamente, ele voltou com os pedidos.

A Tetris era open bar, ou seja, bem cara. Mas valia a pena porque a estrutura do lugar parecia ser muito boa. Era enorme, com uma puta iluminação foda (o que demanda MUUUUITO dinheiro), muitos funcionários (barmans, seguranças e atendentes). Não deixei de reparar que haviam bastante saídas de emergência identificadas por aquela plaquinha verde com um carinha correndo para uma escadinha. A plaquinha era luminosa e verde, então era fácil de ver.

Havia também aquela luz que ficava piscando loucamente pra te deixar tonto. Mas apenas no centro do espaço da pista de dança.

Fomos para este espaço - onde a concentração de gente era bem maior - e os meninos começaram a dançar, tomando cuidado para não derrubarem seus drinks.

Eu ainda estava muito impressionado com tudo aquilo, não parava de olhar as coisas ao redor. Principalmente as pessoas, claro.

Apesar de ser gay, eu não conhecia nenhum gay. Eu já havia visto beijos gays antes, mas ali era muito diferente.

Não fisicamente. Quero dizer, para qualquer lado que eu olhava, havia um casal de caras ou meninas se engolindo. Eu já tinha visto beijos gays em filmes, séries, HQs, vídeo pornô, mas saber que aqueles beijos da Tetris eram reais, de pessoas realmente homossexuais, era muito diferente.

Me passava uma sensação de liberdade e aceitação que eu jamais poderia sentir em outro lugar. Não importava quantos documentários eu assistisse sobre homossexualidade, quantos filmes gays, quantas reportagens, quantos livros LGBT eu lesse... A sensação de estar naquele ambiente vendo as pessoas exercendo o direito de beijarem quem gostavam era indescritível e única!

Eu estava fazendo um passinho tímido enquanto olhava tudo em volta. Os garotos já estavam mais soltos, porque já eram acostumados com aquele estilo de vida.

Não demorou muito até que eu visse o Henrique, do meu lado, se afogando nos lábios de um negão de uns dois metros de altura, bombadão, careca, sem camisa.

– Gostou daqui?!

O Léo gritou no meu ouvido.

– Sim, é bem grande e a iluminação é bem bonita - Respondi.

– Se solta, cara, você ainda está muito travadão! - Ele falou rindo.

Eu juro que até tentei, mas ainda estava com vergonha. O engraçado era que eu não sabia do que era esta vergonha. Eu podia soltar a franga ali e ninguém ia dar a mínima. Primeiro porque ninguém ia pensar "hmmm, será que ele é?" porque já sabiam a resposta. Segundo porque já tinha um pessoal bem doido soltando a franga e ninguém dava a mínima. Mas, mesmo assim, eu estava acanhado.

O Vitor falou alguma coisa com o Dani e saiu de perto. O Dani virou-se para nós e fez o gesto de um cara que está mijando, então entendemos que o Vitor foi ao banheiro.

Ficamos nós três ali - Eu, Léo e Dani, já que o Henrique havia sumido com o negão dele.

A bebida dos dois já havia acabado há algum tempo e eles me puxaram - naquele esquema de ir segurando mãos - em direção ao bar.

Eu sei que parece bobo, mas o fato de fazermos esta "fila" pra andar entre as pessoas me passava uma sensação muito boa. Eles segurarem na minha mão para andar era como dizer "Você não está sozinho aqui, está conosco. Vamos segurar na sua mão porque não queremos nos perder de você, queremos você por perto". Isso era tão bom!

Chegamos ao bar e eles pediram as bebidas. O barman trouxe três copos e, na hora, eu já entendi o recado.

– Não, gente, eu não...

Tentei falar, mas, quando percebi, já haviam enfiado o copo na minha mão.

– Nem vem, não vale a pena vir numa festa open e não beber! - O Dani disse.

Bem, ele tinha razão, de certa forma. Eu havia pagado um precinho salgado para estar ali. Não beber nada seria uma perda de dinheiro.

Eu já havia bebido álcool antes, na faculdade, mas não era uma pessoa que bebia com frequência. Eu bebia um pouco de vinha, às vezes, em jantares da empresa...

Ok, admito, eu não bebo álcool. Eu bebia nestes jantares da empresa, mas eles ocorriam uma vez ao ano.

Eu não sabia o que haviam pedido para mim, então tomei um gole bem tímido.

NOSSA!

Quase virei do avesso. Era uma bebida grossa que desceu rasgando minhas tripas e queimando meus tecidos.

Puta que pariu, quase morri. Que negócio HORRÍVEL!

Meus olhos lacrimejaram e eu senti meu rosto esquentar.

Quando abri os olhos - que haviam se fechado involuntariamente - os dois já estavam numa gargalhada tão boa que nem tive como reclamar. Só ri junto e continuei tomando. Com os outros goles foi ficando melhor. Ou menos pior.

Encostamos os três no balcão do bar e ficamos virados para o espaço central, olhando a galera. Eu tentei encontrar o Henrique ou o negão dele, mas havia tanta gente que eu jamais iria achar.

Ao meu lado direito estava o Dani e, ao lado direito dele, o Léo. Quando me toquei, havia um quatro elemento - um cara de cabelinho arrepiado - do lado do Léo.

Os dois estavam conversando enquanto o Dani terminava a bebida dele. A SEGUNDA!!! Eu mal havia bebida um terço da minha... Depois não sabe porque fica vomitando por onde anda!

Juro que se passaram apenas alguns segundos até que eu olhasse para o lado e visse o Léo com os braços em volta do pescoço do cara de cabelo arrepiadinho enquanto os dois se enrolavam no maior beijo lambido que eu já havia visto.

Fiquei na minha e fingi que nem percebi. Voltei meu olhar para o pessoal que estava se acabando na Lady Gaga que estava tocando.

– Filho, bebe logo se não vai esquentar! - O Dani gritou para mim, aproximando a cabeça do meu ouvido.

– Relaxa, estou bem... - Respondi. "Filho", eu nem QUERO essa gororoba alcoolizada que vocês me deram!!!

– Se você não quiser me dá! - Ele falou.

Não pensei duas vezes e estendi o antebraço para o lado, em frente à ele. Ele pegou o copo e eu falei:

– Cuidado pra não beber tudo de uma vez, esse já é seu terceiro!

– Eu sei me cuidar, meu bem! - Ele respondeu.

– É, eu percebi no sá...

– Aquilo foi uma exceção! - Ele me interrompeu. - Eu realmente exagerei naquela noite, não vou fazer isso de novo.

Eu não ia falar mais nada, mas ele continuou:

– E você não vem querendo ser meu pai não!

Ele estava falando rindo, mas a mensagem era séria.

– Não é isso, é que não quero que nenhum de vocês passe mal. Ainda mais você que já ficou ruim na semana passada.

– Eu já falei, foi só naquela noite. Mas não fica se achando só porque você é mais velho. Eu tenho MUITO mais experiência nisso que você!

– Beleza...

Eu não queria arrumar encrenca na minha primeira noite ali. Decidi não falar mais sobre isso. Até porque, ele tinha razão. Ele tinha mais experiência que eu e já tinha dezoito anos, eu não precisava ficar cuidando.

– Mas então... - Ele disse. - Você vai ficar assim, paradão? Dança, mano, se solta, ninguém vai rir, não.

– Eu sei, é que eu estou me acostumando ainda... - Respondi, um pouco sem graça. Percebi que o Léo e o carinha dele já não estavam mais ali no bar.

– Ah, tranquilo, mas é que a noite está passando... Se você não quer dançar então vai pegar um cara!

– Não, eu estou de boa...

– Ah, que isso! Vai me falar que, desde que chegamos aqui, NENHUM cara te interessou?

– Não é isso, aqui até tem homens bonitos...

– Então, mano! - Ele me interrompeu. - Marca um e vai pra cima.

– É que eu não estou muito afim, mesmo...

– O que foi? Não vai me falar que você é hétero! - Ele riu, colocando o copo (que antes era meu) vazio no balcão.

Eu ri também - dessa vez, consegui rir de verdade, não uma risada forçada - e respondi:

– Não, é que eu... Eu não sou muito... Sabe, de beijar...

– Ué, por que não? Todo mundo beija, todo mundo gosta de beijar! Ou você é desses que "só beijo se for namorado"? - Ele falou com uma voz de deboche.

– Não necessariamente, é que eu não estou acostumado a pegar cara em balada...

– Ah, mas você está aqui pra começar a se acostumar. - Ele riu. - Se quiser, claro, não quero te obrigar a nada.

– Sim, tranquilo.

– E desculpa se eu pareci nervoso quando você me falou pra ter cuidado com a bebida. - Ele falou. - Eu entendo sua preocupação. Afinal, você me conheceu e eu estava desmaiado e agora estou te encorajando a ir pegar homens, então imagino a visão que você deve ter de mim hahaha!

– Tudo bem, sobre desmaiar, às vezes acontece... E sobre pegar homem, é normal, você mesmo disse...

– Então por que você não pega um?! Tenho certeza que tem um monte de caras de paquerando!

– Claro que não! - Respondi imediatamente.

– "Claro que não!"? - Ele perguntou, indignado. Ele se aproximou de mim e, apontando com a cabeça, foi me mostrando. - O de óculos ali na esquerda. O de touca ali atrás. O de cabelo curtinho ali mais pra esquerda.

Eu fui acompanhando com o olhar enquanto ele falava. Realmente, estes três caras que ele havia indicado estavam olhando para mim e eu não tinha nem percebido! Imediatamente abaixei a cabeça e comecei a olhar para o chão, com vergonha.

– Relaxa, eles não mordem! Quero dizer, a não ser que você queira haha!

Dei uma risada, mas ainda estava com vergonha pelos caras. O Dani continuou:

– Olha, eu não sei se você tem experiência com isso. Pelo que eu estou vendo, parece que não. É bem simples. É só você corresponder com o olhar ao cara que você mais gostou. Fica olhando pra ele, depois olha outra coisa, depois olha pra ele de novo... Até que ele vai vir até você.

Eu olhei para o Dani.

– É simples. Depois que ele vier vocês começam a conversar e se você gostar do papo dele, desce a língua!

Eu ri involuntariamente, de vergonha.

– Não, deixa quieto... - Falei. - Eu não saberia como reagir se um deles se aproximasse.

– O que é que tem? O máximo que vai acontecer é você não gostar do papo e ter que falar que não quer. Eles vão saber respeitar.

– É que eu não sou muito de conversar...

– Ah, mas conversar é o de menos. Não vei ser uma CONVERSA, vai ser só uma troca de palavras pra ver se ele é bacana. O menos importante é a conversa haha!

– Não, deixa... Eu...

Eu não conseguia olhar para ele, por causa da vergonha. Eu queria rir, mas não por achar engraçado, mas sim pelo nervosismo de imaginar que realmente haviam chances de eu ficar com aqueles caras.

– O que? Você tem algum problema em pegar caras?

– Não, é que... Eu...

Eu estava com vergonha de falar isso para um menino de dezoito anos que provavelmente já havia passado a língua em metade dos homens da cidade.

– Cara, pode falar se você não quiser, você não é obrigado.

– Não é isso... É que eu...

Tomei coragem, levantei a cabeça, olhei nos olhos dele e falei:

– Eu nunca fiquei com um cara.

Ele ficou claramente surpreso.

– O quê?!

Aquela situação era ridícula. Eu tinha vinte e cinco anos e nunca havia pegado nenhum menino na vida!!! E ele, no auge dos seus dezoito, já tinha até prática o suficiente pra ensinar como se fazia!

– Eu nunca... Nunca fiquei, sabe... Nunca beijei um cara.

– Quantos anos você tem, mesmo? - Ele perguntou.

Ok, ele REALMENTE estava me julgando.

– Vinte e cinco.

– E nunca ficou com um cara?

– Não...

– Bem, o que importa é: você QUER ficar com um cara?

– Ah...

Querer, eu queria. Mas eu nunca havia beijado um homem. Quando eu era adolescente, eu beijei uma menina numa festinha junina da escola. Eu só tinha treze anos e fiquei com ela simplesmente pra falar para os amigos que eu já não era mais BV. Eu não senti tesão nenhum e, provavelmente, nem a menina, porque ela nunca havia falado comigo antes e nunca mais falou depois.

Isso havia sido o mááááximo de experiência sexual que eu havia tido em toda a minha vida. Sim, isso mesmo. Eu também nunca havia feito sexo. Nem com mulher, nem com homem. Nem mesmo uma punhetinha num cara.

Eu não sabia como reagir, o que fazer, por onde começar. Quando eu fiquei com aquela menina, ela também estava nessa pressão de "perder o BV", então nem pensamos, apenas nos beijamos mecanicamente para ganharmos o status de "não BV".

Afe, que droga de mentalidade eu tinha naquela época!

Não tinha tesão, não tinha paquera, não tinha sedução, nada. Eu não sabia nada disso. As únicas referências que eu tinha eram séries e quadrinhos, mas eu não era ingenuo ao ponto de não saber que na vida real era diferente.

– Bem... É o que todo gay, quer, não é? - Respondi a ele.

– MANO, ENTÃO O QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO?!

Eu só consegui rir, de timidez.

– Ok, vou te dar uma ajuda. Me fala qual dos três você mais gostou. - Ele falou.

Que vergonha, um BEBÊ de dezoito anos ajudando um IDOSO de vinte e cinco a pegar o primeiro cara na vida.

– Aquele... - Falei, MORRENDO de vergonha.

– O de cabelo curto?

– Isso.

– Beleza. Agora olha para mim... - Eu estava olhando para o chão. - E depois, como se fosse olhar o ambiente, olhe para ele. Encara ele por uns, sei lá, três segundos e olha para mim de novo.

– Como assim? Eu não vou...

– Só tenta. - Ele me interrompeu.

Eu fiz como ele disse. Olhei para ele. Com os olhos, ele me indicou a direção onde estava o cara.

Virei a cabeça como quem não quer nada e olhei para o alvo. Era um homem branco, com o cabelo bem curto, quase raspado, preto. Ele estava encostado numa parede. Nem consegui contar os segundos que fiquei olhando para ele, mas voltei o olhar para o Dani.

– Ae, beleza, já conseguiu! - Ele elogiou. Agora dá mais uma olhada e, junto com o olhar, dá um sorriso.

– Sorriso?

– É, sorriso! Mostra que você gostou dele.

Ainda bem tímido, fiz o que ele falou. Olhei para o cara - que não tirava os olhos de mim - e tentei forçar um sorriso. Mas a vergonha não deixou, e saiu um sorriso meio torto. Achei a situação engraçada e comecei a rir, de verdade, de tudo aquilo.

– Ok... - O Dani falou, rindo também. - Foi um sorriso meio esquisito mas eu sei que você consegue fazer melhor. Tenta de novo.

– Beleza... - Falei, me recuperando da risada.

Olhei para o Dani e, lentamente, virei a cabeça em direção ao cara.

Só que, desta vez, só vi a parede onde ele estava encostado. Ele havia saído de lá.

– Ué, ele sumiu.

Imediatamente, o Dani olhou na direção dele.

– Ah, talvez ele não estava a fim e a gente interpretou errado...

– Ou talvez o meu sorriso torto afastou ele! - Falei.

Com certeza tinha sido isso. Foi um sorriso esquisito, como se uma parte da minha boca sorrisse e a outra não.

– Magina, claro que não! - O Dani respondeu. - Ok, esse não deu certo, mas vamos tentar com outro.

PÁ!

Ouvimos um barulho alto de algo batendo em madeira atrás de mim. Me virei, e vi o cara que eu estava olhando agora há pouco. Ele estava ali, ao lado do balcão do bar. Eu fiquei entre ele e o Dani. Percebi que na mão esquerda dele havia um copo - que ele havia batido no balcão pra chamar nossa atenção - e, na mão direita, outro copo.

Ele arrastou o copo que estava no balcão em minha direção e falou:

– E aí, vai um Bloody Mary?

Eu fiquei sem reação. Ele era lindo, com o rosto perfeitamente simétrico e os dentes impecáveis. Olhei para ele, olhei para o copo. Fiquei morrendo de vergonha.

Dei um sorriso sem graça e me virei para trás, onde estava o Dani. Quando percebi, o Dani já estava há uns dez metros de mim. Quando olhei para ele, ele fez um sinal de "vai em frente" com as mãos e sumiu no meio da multidão.

Voltei-me para o cara do copo.

– Bloody Mary? - Perguntei, com a voz trêmula de timidez.

– É! - Ele tirou o copo do balcão e estendeu a mim, na altura do queixo. - Você gosta.

Eu peguei o copo, instintivamente, e respondi:

– É que eu não sou muito de beber...

Ele apoiou o braço esquerdo no balcão, deu um gole no drink dele e respondeu:

– E vem numa festa open?

– Ah, é que eu vim pra conhecer...

– Conhecer? Você nunca veio aqui?

– Bem... Agora vim... Hehe...

AFE! Essa foi a pior coisa que eu poderia ter dito! Que nada a ver!

Ele riu e falou:

– É, verdade, eu é que falei errado.

Dei uma risadinha tímida enquanto ele ostentava autoconfiança naquele sorriso de comercial de pasta de dente. Ele era muito bonito, uma mistura de Ricardo Pereira com Matt Boomer.

– Mas e aí? - Ele perguntou. - Gostou daqui?

– Ah, gostei sim...

– Curtiu mais o quê?

– Ah, não sei... - Olhei em volta procurando uma resposta. - O bar...

Era a coisa mais próxima e mais fácil de ser respondida.

– O bar? - Ele estranhou. - Mas não é você que não gosta de beber?

Ele riu e eu me senti um idiota. Ele tinha toda a razão!

– Sim... Quero dizer, não haha... - Dei uma risada de vergonha. - É meio confuso...

Confuso. Essa era a palavra que me definia naquele momento.

– É, realmente é confuso... Um cara que não gosta de beber mas que não desgruda do bar!

Ele estava me zoando?

– Ah, é que eu gostei do ambiente... Gostei das luzes amarelas.

– É, realmente é muito bonito. - Ele falou olhando para as luzes.

– E também, por causa delas, aqui é mais claro... - Completei. - Não estou muito acostumado com tanto escuro...

– Sim, é mais claro... - Ele deu aquele sorriso de causar inveja. - O que é bom.

– Bom? - Perguntei, inocentemente.

– É. Ai dá pra ver melhor o quanto você é bonito.

WHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAATTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT???????????????????????

Fiquei EM CHOQUE nessa hora. Literalmente paralisado, sem saber como reagir. Eu ficava vermelho quando estava com vergonha, mas, quando ele falou aquilo, achei que o sangue ia cortar minha pele e vazar pelo meu rosto de tão quente que ele ficou.

Eu estava segurando o copo, mas não conseguia sentir ele nas minhas mãos. Também não sentia minhas pernas, que deviam estar tremendo descontroladamente.

Não consegui falar nada. Na verdade, eu não estava conseguindo nem pensar nada. NUNCA haviam me paquerado, ainda mais diretamente assim. O pior era que eu não consegui nem esconder. Ele deu risada com a minha reação e falou:

– Você realmente não vem muito em balada, né?

Ainda não conseguia responder nada. Estava, realmente, em choque.

Ele soltou o copo dele, que estava no balcão e se aproximou de mim. Ele estava com um moleton fino, claro que, naquele ambiente, estava meio violeta, por causa da luz da pista e meio amarelo, por causa da luz do bar. Ele aproximou o rosto do meu ouvido e falou baixinho (na altura normal, mas, com aquela música, a impressão era de que ele estava sussurrando):

– Olha, eu gostei de você.

Ele colocou as mãos na minha cintura e continuou:

– Se você não quiser, é só falar, sem neura.

Ele desaproximou o rosto e ficou cara a cara comigo. Bem, não exatamente porque ele era uns dois centímetros mais alto. Ele tinha olhos claros maravilhosos e estava com aquele sorriso de derreter qualquer um.

Involuntariamente - eu JURO QUE FOI INVOLUNTARIAMENTE - coloquei minhas mãos nas mãos dele. Ainda involuntariamente, minhas mãos foram subindo, bem devagar, pelo punho dele, pelo antebraço, pelo cotovelo, pelo tríceps, pelos ombro até que fechei minhas mãos atrás da nuca dele, apoiando meu antebraço em volta do pescoço ele.

As mãos dele, que estavam na minha cintura, foram escorregando para trás até se cruzarem e estacionarem na minha bunda. Meus pés começaram a se erguer, INVOLUNTARIAMENTE, para eu ficar alguns centímetros mais alto.

Ao mesmo tempo, fomos nos aproximando um do outro.

Quando percebi, minhas coxas já estava encostada nas coxas dele, minha cintura na cintura dele, minha barriga na barriga dele, meu peito no peito dele e, então......

Minha boca na boca dele!!!


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Notas finais do capítulo

(Ufa, depois de 3 horas - sério - escrevendo este capítulo)

Fofuxooooooos!

Leio e adoro cada comentário de vocês!!!

Sou eternamente grata pelos que favoritaram e pela recomendação!!!

Saibam que isso só me motiva mais ainda a fazer a melhor fic que eu puder (e não puder, haha!)

Me digam o que esperam no futuro dos personagens!!!

Me falem também o que não estão gostando para que eu possa melhorar a cada capítulo!

Lembrem-se: a fic é feita PARA VOCÊS e você é quem mandam!!!

Espero que estejam gostando.

Beijãozão!!!!!!!