Tetris escrita por Stefani Niemczyk


Capítulo 12
Me afundando em HQs e lágrimas...




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Depois que acabamos com a travessa de pavê, ficamos conversando sobre carreira profissional. Não sei muito bem como chegamos a este assunto, mas falamos sobre isso por um bom tempo.

O Vitor e o Henrique já faziam faculdade. Eles começaram a falar para o Léo e o Dani como era o ambiente, os professores e tal. Chegou uma parte em que fui eu quem falei a todos sobre mercado de trabalho e estas coisas que só aprendemos na marra quando terminamos e curso e nos jogamos no mundo para encontrar um emprego.

O Léo queria fazer faculdade porque sabia dos benefícios que um curso superior trazia para o currículo. O prolema é que o coitado não fazia ideia do que gostava. Uma hora falava em fazer medicina, outra hora pensava em letras. Mudava para arquitetura e depois pulava para psicologia. Ia de administração à jornalismo em um piscar de olhos.

Ele estava perdidinho e não sabia nem por onde começar a pensar. Eu não tinha como ajudá-lo. Quando estava na escola, descobri o que era design gráfico por causa das HQs que lia e, desde então, soube que era isso o que eu queria fazer.

Perguntamos para o Dani o que ele pensava em fazer e ele respondeu que nem sabia se queria fazer faculdade. Nós falamos que era importante, mas ele não ligou muito.

Quando ficou mais tarde, mais ou menos meia-noite, começamos a ficar com sono. Eu havia limpado a casa e estava fisicamente cansado. O Henrique e o Vitor haviam ido para a aula também.

Começamos a arrumar os colchões no chão da sala. Escovamos os dentes e nos trocamos para dormir. O Dani foi o último que entrou no banheiro e ficou lá por muito tempo. Não sei quanto tempo. Só percebi que ele já havia ficado lá há um tempão quando ele saiu.

Ele estava vestindo uma camiseta branca bem larga. Pela gola laceada, parecia ser bem antiga. Mas nem prestei muita atenção na camiseta.

Ok, vou abrir meu coração aqui: não CONSEGUI prestar atenção na camiseta. Na verdade, em nada que estivesse da cintura para cima.

Ele estava usando uma cueca boxer roxa bem justinha. Eu nunca havia reparado nisso, mas com aquela cueca não dava para negar: ele tinha uma bunda bem maior do que parecia.

Também não parei de olhar para as pernas. As coxas eram lisinhas e, de certa forma, bonitinhas.

O engraçado era que eu fiquei impressionado com aquilo, mas não senti tesão. Sei lá, não senti nada diferente no amigo lá de baixo. Mas, ainda sim, achei as pernas dele... Agradáveis.

O Léo estava com um short de pijama que não era muito maior que a cueca do Dani. As pernas dele, por mais normais que fossem, não me chamaram nenhuma atenção quando ele passou por mim. Já as do Dani, senti alguma coisa diferente quando vi.

Apagamos as luzes e fomos dormir. Eu estava cansado, mas ainda estava em choque por ter tido aquela sensação.

Não entendia o que havia acontecido. Não era tesão, meu pau não havia ficado duro. Ousei imaginar o Dani pelado, sem aquela cueca, mas, mesmo assim, não havia nenhuma reação fisiológica que indicasse uma ereção.

Ainda sim, eu não tirava da cabeça a visão do Dani, em frente a porta do banheiro, só de camiseta e cueca. Seria algum tipo de "tesão psicológico"? Ou, talvez, seria o meu lado depressivo pensando em como eu já era velho e havia passado minha juventude toda sozinho, me escondendo, sem ter amigos ou relações sexuais?

TUM!!!

Quando pensei nisso, senti um aperto no meu coração. Esta era a forma do meu cérebro dizer: sim, meu filho, é isso mesmo!

Imediatamente, os pensamentos de "que pernas bonitas" viraram "desperdicei minha juventude". Vi no Dani algo que eu nunca fui. Não porque não queria, mas porque não tinha coragem de ser.

Pensei nos garotos ali. O mais velho era o Vitor, com vinte e três anos. Eram apenas dois anos mais novo do que eu, mas ele também aproveitou sua juventude completamente. Lembrei-me das fotos que vi no Facebook deles, nas quais o Vitor, ainda com uns dezessete anos, sem barba, já postava fotos ao lado do Léo e Henrique...

Apesar de eu ainda ter um corpo bonito, já não era a mesma coisa do que ter dezoito anos. Este tempo havia passado para mim. Enquanto os outros estavam aproveitando sua adolescência e o comecinho da vida adulta, eu estava em casa, me afundando em HQs e lágrimas.

Eu sabia que estava numa idade boa para sair e me divertir ainda. Mas não conseguia parar de me sentir arrependido por não ter feito nada antes. Por deixar os primeiros anos de descoberta morrerem no passado.

Pensei nos garotos héteros da minha escola. Com seus dezesseis anos eles já iam em festas toda semana, a ponto de já conhecerem mais de duzentas marcas de bebidas. Já haviam descoberto as primeiras matinês e começavam a falsificar o RG pra entrar em festas mais pesadas.

Ao mesmo tempo, começavam a ter suas primeiras namoradas. Eu só fui beijar um cara ONTEM!!! Eles já haviam beijado várias meninas aos dezesseis anos e estavam começando a NAMORAR!!! Com certeza, aos dezoito, já haviam feito muito sexo. Já sabiam quais camisinhas eram melhores e se divertiam em rodas de conversa contando casos engraçados que aconteceram na hora H.

Eu ficava no meu canto, quieto. O máximo de vida sexual que eu tinha era um site pornô na madrugada. Até alguns minutos atrás eu culparia minha homossexualidade por esta falta de descobertas na adolescência. Mas, ver o Dani ali me fez perceber que isto era apenas uma desculpa. Um escudo sob o qual eu me escondia da verdade.

Os garotos ali eram perfeitamente gays, assim como sempre fui, e aproveitavam a vida como qualquer outra pessoa, hétero ou não. Com certeza aquele não era o primeiro negão que o Henrique pegou. Com certeza o Léo soube exatamente como reagir com aquele cara que chegou nele lá no bar, porque ele já praticou muito. Com certeza o Vitor já devia ter transado com mais caras do que eu possa imaginar.

E o Dani?! Me ENSINANDO a paquerar um cara! E não era nem em um lugar normal, era num BALADA GAY. Dez entre dez homens que estão ali estão em busca de alguém pra beijar! E eu ainda precisei de ajuda!!! De um bebê de dezoito anos!!!!!!!!!!!!

Os quatro já estavam dormindo, por isso eu me segurava bastante para que o som do meu choro não os acordasse. Fiquei atento às lágrimas para que não escorressem e molhassem o travesseiro.

Eu não perdi esta fase da minha vida - que é uma das melhores - porque u era gay. Eu perdi esta fase da minha vida porque eu era um covarde!

Era, não! Ainda sou! Se não fosse, eu teria entrado na Tetris na primeira vez em que fui lá! Ou teria pegado aquele primeiro cara sem ajuda!

Apesar de ser o mais velho naquela sala, eu me sentia o mais novo. Não sabia nada sobre ter amigos, sobre ter relações sexuais, sobre ir em baladas, sobre mundo gay. A situação era tão crítica que eles iriam até "me ensinar" a ser gay!!!

Aposto que ninguém os ensinou a serem gays. Eles apenas aprenderam isso naturalmente quando começaram as primeiras aventuras neste universo, lá atrás, quando tinham seus dezessete anos.

Eu não era feio, tinha um apartamento legal, um carro legal, uma carreira estabilizada, mas, mesmo assim, me sentia muito inferior aos garotos dali. O Dani e o Léo nem sabiam como seria o futuro profissional deles, mas me parecia que estavam bem mais felizes que eu, que fazia o que gostava e e ganhava bem por isso.

Eles sabiam mais que eu sobre a vida em si. Afinal, o que é a vida sem relações humanas? E disso eles entendiam, pois eram amigos desde sempre. Eu, por outro lado, nunca tive grandes amigos ou alguém em quem pudesse confiar.

Decidi que não valia a pena sairmos no dia seguinte. Eu me sentiria humilhado por estarem me "ensinando" a ser gay. Era como se tivessem que fazer um intensivão - lembrei do Dani falando isso - para que eu aprendesse tudo bem rápido porque precisava tirar o atraso. Porque, na minha idade, já era para eu saber tudo aquilo.

Virei para o lado e tentei dormir. Eu não saberia como eu explicaria para os garotos no dia seguinte, mas eu não iria naquele shopping. Não iria passar por aquela situação. E, pensando bem, eu me senti assim porque vi o as pernas do Dani. Eu não conseguiria me sentir diferente vendo eles rirem juntos, andarem juntos, fazerem piadas juntos e conversarem juntos...

Era isso... A noite passada havia sido ótima, mas eu tinha que admitir... Ficar com eles só me faria ficar cada vez pior... Eu tinha que me afastar!


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Notas finais do capítulo

E ai, lindecos?

Capítulo, triste, né? Bem, mas ninguém controla as emoções!

Espero que estejam gostando!

Beijos!



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