Tetris escrita por Stefani Niemczyk


Capítulo 1
Gandalf? Dumbledore? Obi-Wan? Alguém?!


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos ao primeiro capítulo da minha nova fic "Tetris".

Espero que gostem da história, dos personagens, enfim.

Sim, é mais uma história gay.

O que posso prometer: Amizade, Insegurança, Mistério (um pouco), Risadas, Reflexões sobre a vida (o.O) e muito, mas MUITO amor gay (lê-se paqueras, paixonites, romances, beijinhos, abraços, sexo carinhoso, sexo selvagem e DRs).



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Desliguei o telefone. Silêncio.

Olhei em volta, vendo todo o meu apartamento.

Afe, tinha louça pra lavar.

Estava tudo tão quieto.

Bem, não literalmente. Os carros que passavam na avenida na qual eu morava estavam fazendo bastante barulho. Muita gente ainda estava voltando do trabalho. A Patrícia Poeta também contribuía para a quebra do silêncio com as notícias daquela quarta-feira. Alguns vizinhos estavam fazendo barulho no corredor, mas não dava para ouvir sobre o que falavam. Ou eu é que não estava prestando atenção.

Mas, apesar destes ruídos urbanos típicos de uma cidade desenvolvida, eu ainda sentia um silêncio.

Não ouvia. Sentia.

Um quietude ao olhar aquele apartamento arrumado - exceto pela louça - e simples.

Sentei-me no sofá e olhei para a televisão. se me perguntassem sobre o que estavam falando, eu não saberia responder.

Eu estava ali, mas não estava ali. Não conseguia estar.

Olhei pela janela. Várias luzinhas pequenas espalhadas num breu imenso. Era engraçado imaginar que em cada uma daquelas luzinhas havia uma pessoa num cômodo ou no banco de um carro.

Eu sabia o que era este silêncio que eu estava sentindo. Sabia, mas ainda não queria admitir a mim mesmo. Eu não queria estragar a pequena fagulha de felicidade que meus pais haviam colocado em mim há alguns minutos atrás, através do telefone.

Toalha. Banheiro. Gravata. Camisa. Cinto. Calça. Cueca. Óculos. Chuveiro.

Agora o som da água batendo no chão e do resistor esquentando o banho também ajudavam a tornar o ambiente mais barulhento.

Ironicamente, estar ali, em pé, com a água quente caindo em mim, só fez o silêncio interior aumentar.

Droga.

Eu já sabia o que ia acontecer. Eu não queria que isso acontecesse. De novo.

Saí do banheiro quase seco. Coloquei a toalha na tábua de passar roupas. Não estava afim de ir até o guarda-roupas.

Me joguei na cama, de costas, olhando para cima, braços abertos. A única luz que iluminava o ambiente vinha da sala, pela porta do quarto, aberta.

Eu tentei segurar ao máximo. Mas este tipo de coisa não tem como evitar. Este silêncio interno que insiste em crescer. Era como se ele estivesse ali, apontando o dedo para mim e rindo na minha cara.

Rindo por eu estar naquela cama.

Rindo por eu estar sozinho naquela cama.

Rindo por eu estar sozinho naquela cama do meu apartamento.

Rindo por eu estar sozinho naquela cama do meu apartamento naquela quarta-feira, 14 de abril.

Rindo por eu estar sozinho naquela cama do meu apartamento naquela quarta-feira, 14 de abril, dia do meu aniversário.

Finalmente desisti. Parei de tentar. Deixei que viesse e me levasse.

Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto meu corpo, involuntariamente, assumia a posição fetal.

Me embrulhei no lençol como um bebê que chora porque quer a mãe.

A diferença era que eu tinha 24 anos...

Quero dizer 25 agora.

25 anos e estava chorando não porque queria a mãe. Mas porque queria a mãe, o pai, o melhor amigo, o amigo de infância, o amigo do trabalho, o amigo da academia, o namorado, o primo, o tio, o sobrinho, qualquer um.

Qualquer um que lembrasse que eu existia naquele momento. Qualquer um que lembraria de mim ao ver "14 de abril" no calendário.

Não porque o Face avisou, mas porque sabe que aquele foi o dia em que eu, Rafael Nogueira, nasci, há 25 anos.

Alguém que me chamasse pra ir ao cinema não porque quer ver o filme, mas porque quer ver qualquer coisa junto comigo.

Alguém que me chamasse para provar uma nova receita não porque queria saber se havia feito tudo certo, mas porque queria que eu fosse o primeiro a provar.

Alguém que iria até minha casa sem uma programação prévia, porque o que importaria era estar comigo, não o que iria fazer.

Sim, me julgue. Eu me sentia ridículo por estar chorando, pelado, enrolado num lençol, no meu apartamento no dia do meu próprio aniversário.

"Levanta e vai conhecer alguém". "Vai para algum barzinho". "Vai para a casa dos seus pais".

É mais fácil falar do que fazer.

E muito, mas muito mais confortável ficar enrolado num lençol, sem ninguém me julgando ou me achando babaca quando não sei como começar uma conversa.

Eu já não gostava de ter crises de solidão, mas uma dessas no dia do aniversário parecia muito pior.

O aniversário é algo tão bobo. É apenas mais um dia do ano. Um dia em que você e mais uns dez milhões de pessoas estão fazendo aniversário.

Um dia criado pelo homem, criado pela sociedade. O bolo, a festa, o presente, as velas, que sentido tem isso? Eu não sabia. Também não queria saber.

O dia do aniversário não serve para marcar um ano da sua vida. Não serve para ser diferente dos outros dias do ano. Não serve para ser mais um motivo de encher a cara com os amigos.

O dia do aniversário só servia para uma coisa: lembrar o dia em que você nasceu. O dia em que a natureza criou mais uma das mais fantásticas coisas que ela sabe fazer: vida.

Mas o que era a vida se ninguém sabia dela? De que adianta você viver numa sociedade sem, realmente, viver nela?

É engraçado pensar que nós só "existimos" se outras pessoas sabem disso. Isto é, ninguém sabe que existe uma pessoa que mora no esgoto se ninguém jamais a viu. Ninguém sabe se um cara esteve num lugar se ninguém o viu lá e nenhuma câmera o gravou.

Era exatamente como eu estava me sentindo.

Inexistente.

Sim, eu sei que parece super dramático e mal agradecido.

Haviam comprado salgados e refrigerante na empresa para o meu aniversário. Meus pais me ligaram para me felicitar.

Mas até que ponto o pessoal da empresa só não precisava de uma desculpa para comer salgadinhos em serviço? Até que ponto meus pais ligam porque é uma "obrigação", um "dever" deles como pais?

Sim, também sei que minha autoestima está baixa. Sei de todas aqueles blablablás de "você faz sua felicidade", "tudo depende de você" e todas essas outras frases que inundam a timeline do Facebook diariamente.

Mas não é tão simples. Não é como juntar ovos, leite, farinha e ter o resultado nas mãos.

Se fosse, eu não estaria naqueles lençóis.

Eu estaria em um barzinho, com uma roda de uns dez amigos...

Dez não, pode ser só uns seis, vai, já está bom.

Seis amigos, me perguntando sobre histórias engraçadas do meu passado e rindo de doer a barriga enquanto eu conto, ao mesmo tempo em que bebemos e damos risada de um outro amigo que está paquerando, sem sucesso, a balconista.

Ou então estaríamos aqui em casa mesmo. Eu na cozinha, colocando as fatias das pizzas nos pratos enquanto dois deles escolhiam qual jogo iríamos jogar enquanto falávamos mal dos outros e ríamos de qualquer coisa.

Mas a realidade não era tão bonita. Não naquele momento.

O melhor que eu podia fazer era deixar toda minha mágoa escorrer pelo meu rosto e, depois, enxugá-las nos lençóis até que eu me sentisse melhor...

///

Eu não estava com fome. Havíamos comido as coxinhas e os bolinhos de queijo no final do expediente. E eu havia bebido muito refrigerante, meu estômago estava até estufado.

Coloquei o último copo no escorredor e capotei no sofá. A esta altura, a Carminha já dava os últimos berros com o Tufão naquele capítulo. Os créditos começaram a subir logo depois da imagem de alguém ser congelada em preto e branco.

Desliguei a TV e fiquei pensando sobre aquele dia. Não o 14 de abril, mas como aquele dia havia sido para mim.

Emocionalmente.

Tudo o que eu fiz depois de chegar em casa foi tomar banho, chorar igual a uma criança e lavar a louça. Não joguei Mario, não li Batman, não vi Game Of Thrones.

Passei a maior parte do meu tempo livre chorando.

Sozinho.

No meu próprio aniversário.

Aquilo não podia mais acontecer. Ou melhor, podia, mas eu não queria.

Eu não queria deixar que aquilo acontecesse.

Eu precisava mudar aquela situação.

Eu precisava de amigos. Precisava de uma vida social. Precisava de relações verdadeiras com outras pessoas.

Mas como fazer isso? Por onde começar? O que fazer?

Afe.

Quando eu não sabia o que fazer em uma fase do God Of War, era só procurar um tutorial no Youtube.

Mas com a vida real não era assim. Não tinha tutorial no Youtube de como fazer amigos. E, se tivesse, seriam apenas aquelas mesmas frases de Facebook e conselhos de biscoito da sorte.

Eu precisava de amigos... Precisava de uma vida social... Mas como conseguir isso?

Seria muito mais fácil se aparecesse algum mago das relações humanas e me desse a resposta.

Gandalf? Dumbledore? Obi-Wan? Alguém?!


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Notas finais do capítulo

Por favor, não fique desapontado com a fic por causa deste capítulo depressivamente baixo astral :(

Garanto que vai valer a pena continuar a ler e descobrir como o Rafa vai mudar sua vida.

Mas, mesmo assim, quero um review *u*

O que acharam? Apresentei bem o personagem? O mundo dele? O conflito?

E o que esperam nos próximos capítulos?

Sou toda ouvidos u.u

Beijão!



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