Selvagem escrita por RedLily


Capítulo 8
Dó - Amor


Notas iniciais do capítulo

Heey pessoas
Desculpem a demora, e obrigado pelos views, já que os comentários são compostos por únicas duas pessoas (lindas e maravilhosas).
Boa leitura ❤️



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Ela abriu os olhos, sentindo o ombro de alguém sob a parte esquerda de seu rosto. E corou ao olhar para Nicolau e perceber que ele a olhava, mas se separou dele imediatamente, o rosto ardendo.
Olhou para a janela e percebeu que eles estavam chegando; ao longe ela podia enxergar o mar, que ficava cristalino à medida que chegava na areia. Haviam muitas pessoas na praia naquele dia, e ela podia enxergá-los como pequenas formigas espalhadas pela areia. Mitra olhava para os próprios pulsos e novamente para as pequenas pessoas que via ao longe. Elas pareciam tão coradas, tão vivas. Mitra parecia uma morta-viva ambulante que só tinha cor no rosto.

— Chegamos. — disse, sem precisar perguntar para Nicolau o óbvio.
Os olhos castanhos estavam diminutos, mostrando que ele havia acabado de acordar. Dormira por um bom tempo depois de acordar e perceber que Mitra repousava em seu ombro. Sem que ela percebesse ele havia acariciado suas bochechas, visto o tom rosado delas e a aura angelical que a envolvia enquanto repousava. De algum modo, ela parecia tão intocável. Parecia algo tão... Distante. Tanto quanto as estrelas que costumava ver com seu pai nos dias de verão. Ou elas vistas de um telescópio na primeira vez em que a mãe lhe apresentou o objeto.
Era uma beleza tão selvagem, e ao mesmo tempo tão primordial e singular. Como aqueles rostos que estampavam embalagens e propagandas nos anos cinquenta. Tão clássico e ao mesmo tempo tão frágil. Uma boneca dos olhos de ouro.
Os olhos a observavam de forma meticulosa, com um fascínio oculto. Nicolau balançou a cabeça levemente, como se dissesse a si mesmo que era efeito do sono.
Mas ele sabia que não era.

— Chegamos. — ele confirmou, a voz rouca depois de tanto tempo em silêncio, um príncipe do inverno a repousar na poltrona do avião.

•••

— Você tem um mapa, não tem? — ele perguntou. Estavam na frente do aeroporto, ele percebia as mãos de Mitra tremendo de puro nervosismo enquanto ela tentava se virar, sem saber o que fazer.

— Eu... Eu tenho. — ela abriu a bolsa, desajeitada, e pegou o mapa. Abriu-o, de forma a poder examiná-lo.

Nicolau estava explicando tudo para ela e traduzindo todas as placas e tudo o que achava que fosse de seu interesse desde que saíram do avião. Mas de alguma forma ela parecia tão aérea na maior parte do tempo... E estava. Porque fazia anos desde que não via seu tio. E sabia de seu casamento, das filhas de sua nova esposa. Sabia de tudo que ele estava disposto a escrever sobre si. Mas as respostas dela, na maior parte do tempo, eram quase robóticas. Com tanto tempo sem se relacionar, calor humano virou a frieza de um robô. E mesmo que não admitisse, dentro de si, ela sabia que sempre iria existir alguém influenciável, inocente e calorosa. E talvez seu tio se lembrasse desse seu lado. Do lado dos sorrisos bobos e risadas infantis, da impetuosidade e alegria transbordando. E se ele a recebesse com um abraço? Ou um aperto de mão? Ela se incomodaria? Ela sentiria que ele era o mesmo pedaço de papel e letras curvilíneas encantadoras?

Por mais que detestasse sua parte fraca, ela estava empoeirada em um dos cantos mais sombrios da vastidão dentro dela. De destroços, queimadas, cinzas, escuridão e flores mortas. Mas ele... Nicolau era um raio de sol que a lembrava que era humana. Isso a confundia. Já havia sido derrubada muitas vezes para ousar apreciar ajuda. Sabia que uma Dunkelheit poderia ter companhia, mas sempre seria solitária. E sabia que uma Dunkelheit só entrega o coração uma vez.

Era bem mais fácil não ter um. E igualmente fácil não ter à quem dar seu pedaço de vida.

Por isso talvez fosse mais apropriado enxergá-lo como o peão de um jogo sem propósitos.

Mas era tarde. Ele já era um aliado.

— Se pegarmos um táxi aqui poderemos chegar lá em aproximadamente... Uma hora. Em uma velocidade média boa e sem trânsito. — ele estava perto dela. Talvez não perto demais, mas ainda sim, ela poderia sentir o nervosismo de sentir alguém vivo próximo demais. Como uma corrente de eletricidade. E isso fez seu coração bombear sangue mais rápido. — Eu vou chamar um, me espere aqui.

Ela o fez. O mapa dobrado de mau jeito na mão esquerda enquanto ela apoiava seu peso no pé direito, os pensamentos a dominando. Observou os passos dele. O modo que ele andava era tão encantador. Era como se ele tivesse acabado de sair de um encontro com sua amada, uma pétala repleta de leveza. O andar de um príncipe, ela constatou. E então seus olhos fitaram o chão em busca de uma pista para o que viria a seguir. Sobre como seria ter de conviver com um bando de pessoas durante todos aqueles dias. O estômago embrulhou, ela engoliu em seco. Uma lutadora deveria estar pronta para qualquer golpe surpresa.

— Vamos. — ele chamou, as bagagens nos ombros. — Até que foi rápido. — abriu a porta do táxi com um floreio, Mitra entrou no carro. Nicolau entrou no banco do carona.
Como fizeram no passado, ela novamente se distraiu com a paisagem jamais vista e ele instruía o motorista para levá-los até a casa de Cal. Em certo ponto, ela escutou risadas contagiantes de ambos. Mas não entendia ao certo sobre o que estavam falando. O tempo passou rápido, e logo porta da casa de seu tio estava de frente para ela, enquanto ela escutava o táxi partindo.

— Você está bem? — Nicolau perguntou num tom preocupado. — Parece pálida. Vamos, relaxe. — ele lhe afagou o ombro como num incentivo, ela tremeu com o toque.

— E-eu... Estou bem. — ela falava enquanto o rosto adquiria um tom vermelho.
Ele separou sua mão dela, com um pouco de hesitação. Os dois fitaram a porta com expressões compreensivas no rosto.

— Quer fazer as honras? — ele perguntou num tom doce e gentil, e ela finalmente tocou a campainha. O portão grosso de madeira fez um barulho, a porta sendo destrancada. Ele abriu o portão com cuidado e Mitra passou pela frente dele depois de examinar a pequena câmera pouco acima da campainha.
O chão era trilhado por blocos de pedra por onde passariam as rodas do carro, e dentre todo o verde emergia uma casa — não, uma mansão — que se encaixava lindamente na arquitetura local — talvez por ser uma cidade praiana, a maioria da população opta por detalhes em madeira, como em portões, janelas, portas e até mesmo entre as paredes, cortando os tijolos de forma a ser visível no interior e exterior da casa, sustentando os telhados e etc. A grande casa de cor amarela com direito a uma cobertura sobre a piscina e estruturas de madeira onde, lindamente, vinhas se entrelaçavam içava de modo encantador a perspectiva da paisagem. Era uma visão arrebatadora.

Andaram em silêncio, os passos controlados enquanto, lado a lado, chegavam cada vez mais perto da mansão. O coração de Mitra batia incontrolavelmente rápido enquanto seu cérebro parecia fazer traquinagens com suas emoções. Ela simplesmente não sabia como se sentir. Mas havia ali um sentimento de alerta que martelava seu âmago, a avisando de algo que não sabia. Um golpe do adversário. Entretanto, naquele momento, ela estava ocupada demais tentando desacelerar a respiração e seus batimentos cardíacos. Ela veria o tio. Só isso.
Tentava, a todo custo, tratar como "só" aquela situação. Mas por alguma razão, não conseguia. Assim como não conseguia sentir que aquele era um lugar qualquer, com acontecimentos qualquer, um amor qualquer e qualquer milagre. Isso impregnava cada vez mais nela a cada vez que ouvia as batidas de seu coração a seus próprios ouvidos.

Ele abriu a porta. Cal, barbudo e pouco mais velho. Mas não parecia ter envelhecido tanto. Próximo a ele havia ela. Uma mulher que muitos diriam que poderia estampar capas de revista. Com seus cabelos loiros e cacheados envolvendo seu rosto, os olhos verdes luminosos e sardas na bochecha. Ela tentou não notar no modo como os olhos castanhos do tio a fitavam — com um fascínio, amor além da compreensão — por simplesmente não querer pensar que ela jamais teria aquilo. O vestido amarelo caía perfeitamente em seu corpo, valorizando suas curvas. Ambos davam jus ao ligar onde estavam, carregavam uma aura praiana agradável, como se fossem moradores do local. Seu tio vestia uma camiseta de um amarelo suave — ela percebeu que muito provavelmente ele estava malhando — e calças verde-musgo. Ele ainda tinha toda aquela essência de sabedoria e não parecia tanto com um cara de cinquenta anos. Estava em boa forma.

Nicolau só se via perdido, num lugar onde não conhecia ninguém. Seus olhos repousaram por alguns instantes no casal, e ele havia ficado admirado com a beleza da mulher, apesar de não tê-la olhado tanto. Mitra se encolheu, sentindo-se um patinho feio em comparação à loira.

— Mitra! — o tio sorriu, encostando a porta e seguindo até eles. Ele parou de frente para ela, uma animação estampada em seu rosto que ela percebera ter pés de galinha no exterior de seus olhos. Se encolheu um pouco mais, sem reação. O fitava quase com uma surpresa admirada. — Não vai dar um abraço no tio Cal? — ele indagou, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa ele havia a abraçado. E ela, de olhos arregalados e completamente sem jeito, aos poucos retribuía o gesto. Nicolau apreciou o modo como ela pareceu ainda mais pequena e vulnerável. Cal se separou dela, e sua esposa se aproximou um pouco mais, entrelaçando seu braço no dele e mantendo uma pose de casal admirável.

— Esta é Nina, minha esposa. Lembro de ter comentado algo sobre ela. Nina, esta é Mitra. Minha sobrinha, como sabe. — a mulher a abraçou, perguntando um "tudo bem?" adocicado que Mitra respondeu com um "aham". — Agora... Quem é este belo garoto? Seu namorado?
Ela pareceu ter acordado de um devaneio com essa pergunta, seu rosto foi tingido de vermelho involuntariamente. Parecia, além de envergonhada, ter ficado com uma pontinha de raiva pela suposição.

— Não. Ele é meu amigo. — ela respondeu, de forma quase hesitante.

— Nicolau. Prazer em conhecê-los. — ele disse, com um meneio de cabeça, um sorriso gentil no rosto.

Eles adentraram a casa, e os anfitriões fizeram questão de apresentar todos os diversos cômodos e explicar onde ficariam as instalações designadas para cada um. Depois de algum tempo, seus tios decidiram sair, e eles, cansados, seguiram cada um para seu respectivo quarto.

A noite fazia-se grandiosa, a lua majestosa vista da grande janela de vidro que era localizada ao segundo lance de escadas, adornada por madeira assim como quase tudo.

— Boa noite, Tigresa. — ele disse, adentrando o quarto.

— Boa noite, Nicolau. — ela disse, com certa gentileza.

Ele parou o movimento, virando-se para ela.

— Tigresa?

— Sim?

— Pode me chamar de Nico.

E naquela noite, depois de adentrar o quarto no exato momento em que ele o fez, ela dormiu ridiculamente bem.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? ^^



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