Selvagem escrita por RedLily


Capítulo 2
Ré - Coragem


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo pipous. Espero que gostem.
Boa leitura ❤️



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Faz seis meses.

Seis meses que vive sozinha. Fazendo a própria comida, arrumando a pequena e velha casa e se virando como pode. Faz seis meses desde que sua avó morrera.

Seis meses que não fala com praticamente ninguém, que não tem em quem se apoiar. Nem ao acordar assustada, em noites escuras de pesadelos terríveis há algum amparo. Somente escuta música no mais alto volume, liga as luzes da casa e vai para a sala de treino, tentando espantar a escuridão que a persegue. A escuridão que a perturba nos sonhos, memórias assombrosas, dolorosas demais.

E naquela noite, foi o que aconteceu.

•••

Pelo fecho da porta ela conseguia enxergar a mãe sentada na cama de ferro, um olhar assustado que se tornou raivoso segundos depois.

— Você não seria capaz. Mitra está aqui, Jerzy.

— E você acha que eu me importo? — ele riu, e se aproximou ainda mais de sua mãe. Foi então que Mitra percebeu, com os olhos arregalados, que ele segurava uma faca, ela era longa e ameaçadora. — Adit, eu não hesitaria em matar essa vadiazinha junto com você.

Então a mãe a olhou, os olhos ligeiramente arregalados encontrando os da garotinha.

— Jerzy, por favor, deixe-me ao menos... Ao menos manter Mitra longe disso, eu imploro.

— Grandes pedidos, grandes preços. Pode fazer o que quiser com essa maldita, isso não vai mudar o fato de que vocês não vão fugir.

A mãe levantou, as pernas tremendo e um olhar amedrontado, era visível que ela tentava transmitir calma para a filha, mas ela não tinha mais isso.

— Venha com a mamãe. — ela levou a garotinha até o banheiro, sentando-a ao final de banheira e ficando de frente para a filha. O rosto da pequena começava a ficar avermelhado, e esse era um dos sinais de que estava prestes a chorar. — Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem. — ela tentava acalmá-la, mas Mitra notou que parecia mais um mantra, usava aquelas frases não só para acalmar a pequena garotinha, mas a si própria. — Eu quero que fique com isto. — de dentro da bota que usava, ela tirou uma pequena adaga, encrustada com pedras negras, tão negras e tão selvagens quanto os olhos da mãe. — Seu avô me deu quando eu era mais velha que você... — "mas eu não posso esperar anos, sabendo que posso não ter minutos, nesse exato instante." Ela não o disse, mas era palpável a frase nos olhos dela.

A garotinha era valente, mas ao saber que teria de viver sem a mãe de agora em diante, lágrimas rolaram por seu rosto sem sua permissão. A voz grave do homem se elevava em um chamado, num lembrete de que o tempo era bem mais curto do que imaginavam.

Percebeu as mãos da mãe tremendo mas percebeu que ela tentava conter tudo o que pudesse deixar a garotinha mais nervosa.

— E eu quero que a honre. Que guarde esta adaga e honre o nome de nossa família. A cor de nossa família é negra, Mitra. Preto. Mas é diferente, ele é brilhante. E não é porque muitos dos nossos terminaram com um fim negro que você vai terminar. Você é minha luz. E eu quero que você lute. Lute por tudo o que você acredita, quero que corra atrás dos seus sonhos. Porque eu nunca fui capaz de realizar os meus. Desde que você estava na minha barriga, eu sempre soube, você é diferente. Você é brilhante, Mitra. Você é uma lutadora. E ainda vai conquistar muito. — os olhos a fitavam, fortes e intensos. Em poucos segundos ela tirara o cordão. Todo em prata, e com o pingente em formato de rosa, também prata. — Esse... Sempre foi um dos meus símbolos. O símbolo da nossa família, passado por várias gerações assim como a adaga. Mas ele... Ele é muito especial. Significa renascença, nascimento, luz e também escuridão. Existem muitos segredos ocultos por trás de cada pétala, desvende-os, eu sei que é capaz. E se sentir com todo o seu coração, poderá sentir a música por trás de cada detalhe em prata. Cada nota musical. Cuide bem dele. Ele agora é seu. E é seu símbolo. — ela o colocou na garotinha, com uma rapidez impressionante. — Eu te amo, Mitra. Eu vou estar com você por toda a eternidade. Use-os como proteção. — a voz impaciente do homem foi ouvida novamente, e dessa vez a mãe deu um abraço na garotinha e se levantou. — Adeus, Mitra.

— Eu te amo, mamãe. — lágrimas e mais lágrimas rolavam por seu rosto.

— Eu também, meu bem. — ela abriu a porta, e escutou o barulho de quando foi trancada. —Adeus. — ainda foi capaz de ouvir a despedida, que rasgava como um corte.

As últimas palavras ficaram no subconsciente da pequena garota.

Aos poucos a visão que antes consistia nos ladrilhos brancos do banheiro e na banheira encardida, tornaram-se escuridão.

E ela ainda estava mergulhada lá, quando sentiu alguém a cutucando pelo ombro. Procurava por todos os lados qualquer resquício da mãe, acompanhada de uma policial, que reconheceu ao olhar para o uniforme. Mas com confusão, ela fitou a parede de seu quarto, o quarto em que aquele homem estranho estava. E nele havia um mancha enorme de sangue na parede, no chão, por todos os lados. Um perito tirava fotos repetidamente. Perguntava para a policial onde a mãe estava, a voz embargada, pedinte, uma lamúria por piedade. Mas a policial nem ao menos abria a boca.

Aquela foi a última vez que viu sua mãe.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? :3 ❤️❤️
xx



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