Chasing the Happy Ending escrita por Annie Cipriano


Capítulo 8
Capítulo 8 - Tobias


Notas iniciais do capítulo

Oi vocês!

Eu nem demorei, né? Eu ia postar antes, provavelmente hj de manhã, pq eu estava com o cap. quase pronto ontem e tals, mas aí tava passando Divergente na TV e eu não resisti e fui ver :3 Aí só terminei hoje...

E eu provavelmente ia demorar mais para postar esse aqui, mas aí a Mari - uma das minhas leitoras super fofas que comenta todos os capítulos - fez aniversário, e eu resolvi postar logo porque é o mais próximo de um presente que eu posso dar... Então está aqui. Parabéns (de novo), Mari!
Então leitoras lindas do meu coração, me avisem quando vcs fazem aniversário (de preferência no dia ou perto do dia, pq minha memória é muito ruim) e talvez eu poste um capítulo mais rápido por causa de vocês... ;)

Ah, e não deu pra reler direito o capítulo (não que eu não tenha relido, pq eu reli, mas eu fiz isso muito rápido e provavelmente alguma coisa passou sem eu ver), então se vcs acharem algum erro, me avisem por favor.

Boa leitura :)



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O vento sopra em meu rosto, fazendo meu cabelo voar para todos os lados. Estamos quase no inverno, e os dias e noites são bem frios nessa época aqui em Chicago, então, apesar do casaco já totalmente fechado, da calça grossa, do gorro e da bota quente, ainda estou tremendo um pouco. Provavelmente o frio está mais acentuado por estarmos no alto.

Por instinto, estou muito próximo dos dois rebeldes ao meu lado – Anna e Kay – para ajudar a me manter quente.

Abraço minhas pernas e espero, olhando para baixo. Essa roda gigante traz lembranças muito boas, e de quando em quando me lembro do dia da caça à bandeira e sorrio. Kay lança-me olhares como se pensasse “por que está sorrindo, seu louco? Nós estamos quase congelando!”, e Anna só ignora.

Espero que Tris se lembre do primeiro lugar onde ficamos sozinhos. É uma memória extremamente boa e importante para mim, tenho esperanças de que seja para ela também.

Fecho os olhos, cansado, e não consigo evitar pensar nesse último e fatídico dia.

1 DIA E 2 HORAS ANTES

Assim que o barulho dos tiros chega aos meus ouvidos, levanto-me da cama às pressas, tropeçando nos cobertores e quase caindo no chão. Saindo do quarto, as coisas parecem normais – claro, desconsiderando os barulhos das armas –, porém quando chego na sala, é exatamente o contrário. Pessoas correm armadas por todos os lados, carregando malas, facas, armas, objetos de decoração. O estranho é que é uma bagunça um tanto quanto arrumada, como se isso fosse algo ensaiado previamente.

Alguém bate em mim, fazendo-me perder o equilíbrio, e, pela segunda vez em menos de um minuto, quase caio no chão, sendo salvo pela parede, que é onde segurei para não cair.

A pessoa que trombou em mim teve mais sorte, apenas deu um passo para trás e recuperou o equilíbrio. É um homem que não deve ter mais idade do que eu, com cabelos cor de areia e olhos verde escuro.

– Desculpe, eu não te vi aí – diz o homem.

– Não tem problema – respondo. Ele começa a se afastar, indo para onde ele estava indo antes, então corro até ele e toco seu ombro para virá-lo para mim – O que está acontecendo?

Ele me olha com a testa franzida.

– Estão nos atacando.

– Quem?

O homem dá de ombros, sem saber a resposta.

– Tem algo que eu possa fazer para ajudar? – pergunto.

– Você é o Tobias, não é? O namorado da Tris?

– Sou.

– Sou James – ele estende a mão e eu a aperto – O dono da casa.

Ele me encara por um momento, até que finalmente pergunta:

– Você sabe atirar?

Fico nervoso com a ideia de tocar de novo em uma arma, depois de tantos anos longe delas.

– Eu sabia, mas faz três anos que não atiro com qualquer coisa.

– Bom, então precisa voltar a praticar, mas agora não é momento para treinos... preciso que você ajude a empacotar as comidas na cozinha.

– Está bem – digo, assentindo – Mas por quê?

Não quero parecer curioso ou xereta demais, mas é impossível não querer saber o porquê de tudo quando a casa na qual você estava se hospedando está sendo atacada.

– Vamos explodir a mansão, todos precisaremos fugir – conta James, e então sai apressado para o segundo andar, deixando-me boquiaberto.

Como assim explodir?

Mesmo sem saber direito que está acontecendo, como começou ou qualquer coisa, vou até a cozinha, onde estão Anna e uma mulher mais velha que não conheço. Antes de entrar totalmente e dizer que estou ali para ajudar, ouço uma parte de sua conversa que me deixa inquieto:

–... mas ninguém estava esperando. E por que atacariam aqui em Chicago? Vão acabar em guerra com a América também – exclama uma Anna – Aqueles desgraçados estão atrás da Tris e do Uriah, ok, até aí nós sabemos, mas atacar uma base aqui? E como eles sabem desse lugar? Nós mantemos segredo tão bem!

– Eu não faço ideia. Será que há algum espião aqui? – fala a mulher ao seu lado – Bem, não importa, não é? Se tiver, não podemos fazer nada, precisamos confiar uns nos outros. Mas de qualquer jeito, é muito estranho eles saberem onde nos encontrar.

– Oi, eu vim ajudar – declaro, entrando na cozinha.

– Tobias! – se assusta Anna. Ela me olha por algum tempo, então finalmente balança a cabeça em afirmativa e aponta para um armário – Você pode começar por ali. Pegue só o que for durar pelo menos uma semana.

– Uma semana? – repito. Vamos ficar fugindo por uma semana? Por quê?

– Provavelmente só ficaremos escondidos por um dia e então voltaremos para a Inglaterra, mas precisamos ser prevenidos.

Trabalho pegando os alimentos duráveis em silêncio, mas depois de certo tempo não resisto e pergunto:

– O que está acontecendo exatamente? Quem está atacando? Estamos respondendo ao ataque? Eu...

– São muitas perguntas – interrompe-me Anna.

– Ele está aqui, tem o direito de saber – defende-me a mulher mais velha – Eles apareceram aqui há menos de um minuto e começaram a atirar em tudo. Os soldados que estão nos atacando estão usando armaduras, máscaras e nenhum símbolo, o que significa que não tem como saber quem são. E sim, estamos contra-atacando. Tem gente atirando de volta do telhado.

Absorvo as informações e continuo a selecionar os alimentos, agora calado. Quando termino os daquele armário, vou para o do lado, e assim por diante.

– Eles pararam de atirar – percebo, depois de um tempo.

– Sim, agora precisamos nos apressar – diz Anna.

O jeito como ela reage à notícia da falta de tiros deixa bem claro que ela já sabia que isso aconteceria, o que me deixa mais tranquilo e ao mesmo tempo mais nervoso.

Apresso-me e em menos de um minuto, tudo está empacotado.

– Pronto. Agora é só esperar – declara a mulher mais velha, que eu ainda não sei o nome.

– Esperar o que? – pergunto, ainda confuso.

Elas trocam um olhar de quem diz “espere, você já vai entender” e não me respondem.

– Ei, onde você deixou sua mochila? – indaga Anna, de repente.

– Que mochila? – digo – Eu não trouxe nada para cá.

Ela arregala os olhos e começa a se levantar e me puxar junto apressadamente.

– Vamos correr e pegar o que sobrou, então. Você não quer ficar só com essa roupinha no frio, quer? Callie – diz ela virando-se para a mulher mais velha que agora sei o nome – Não deixe eles fazerem nada antes de chegarmos, ok?

Callie afirma tranquilizadoramente com a cabeça e fala para nos apressarmos.

Dou de ombros, sem entender o porquê de tanta preocupação em pegar roupas que nem minhas são, mas deixo-a me levar para onde quiser.

Agora as pessoas estão bem mais apressadas, correndo para todos os lados e descendo as escadas e entrando na cozinha furiosamente.

Subimos até o segundo andar e começamos a entrar de quarto em quarto, abrindo armários e gavetas e pegando qualquer roupa que parece servir em mim. Passamos em três quartos segurando as roupas que conseguimos para mim nas mãos, pois não tenho mochila, porém no terceiro encontramos uma largada no chão, então a pegamos.

– Isso não é roubo? – pergunto a Anna – As pessoas não vão ficar bravas por eu estar pegando as coisas delas?

– Não, só deixaram para trás o que não irão usar.

Continuamos pegando roupas. Quando passamos pelo último quarto, minha mochila já está quase cheia, e tenho roupas o suficiente para três ou quatro dias. Também achamos uma bota com a parte de dentro felpuda, que serve perfeitamente em mim.

– Pronto, é o suficiente – quase grita Anna, descendo as escadas como um raio. Não entendo o porquê de tanto estresse, mas corro atrás.

Só quando entramos na cozinha percebo que a casa está quieta. Não há mais ninguém correndo para todos os lados, a mansão está deserta.

Na cozinha, a única pessoa que nos espera é James, que está de costas para a porta, abrindo uma caixa. Anna solta um sorriso aliviado quando passamos pelo portal.

–Ah, graças a Deus – fala ela, fechando os olhos por um momento – Eu estava com medo de não conseguirmos chegar a tempo.

James ri.

– O que está acontecendo? – pergunto, um pouco irritado. Eu pareço ser a única pessoa que não está entendendo nada aqui, acho que é bem razoável que eu esteja cansado de ficar de fora dessas conversas estranhas dos rebeldes – E onde está todo mundo?

– Eles saíram – responde James, apontando para um armário no qual eu não reparei quando entrei.

A porta do armário está aberta, revelando uma passagem secreta no fundo. Não consigo segurar o “uau” que sai da minha boca. Anna dá uma risadinha e se dirige para lá.

– O que você vai fazer? – questiono James.

Só agora, de frente para ele, consigo ver o que está escrito na caixa: CUIDADO! EXPLOSIVO C-4.

Dou alguns passos para longe dele.

– Eu falei que ia explodir a casa – fala James com simplicidade.

– Mas eu não achei que era no sentido literal! – exclamo com a voz saindo um pouco desafinada – Por quê? A gente já vai fugir, você não precisa explodir tudo.

– Se eles conseguirem uma base rebelde irão estudar cada pedacinho do lugar, e acabarão descobrindo algumas coisas sobre nós. Algumas coisas importantes das quais nós não podemos nos dar ao luxo de deixá-los saber.

Ainda sem palavras, vou até a entrada secreta de costas, com os olhos colados em James.

– Quem é “eles”? – pergunto.

– Os atacantes – fala devagar, como se estivesse falando com um retardado.

– Eu sei que são os atacantes. Mas você falou de um jeito que deu a entender quem eles eram.

James suspira e revela:

– Eles são da polícia britânica.

– Você tinha dito que não sabia quem eram. Por que mentiu?

– Eu não menti para você, eu só descobri quem eram depois que conversamos.

– E o que eles estão fazendo aqui?

– Tobias, eu estou tentando fazer um explosivo com alguns anos de idade funcionar – reclama ele, sem paciência – Preciso de silêncio, depois nós conversamos. Desça pelas escadas e diga reto.

– Não – suspiro, desistindo de obter mais informações – Vou ficar e ajudar. O que posso fazer?

– Isso é algo bem antigo, nós dois podemos nos machucar.

– Não me importo.

Dando de ombros, James desiste de tentar me convencer a só fugir e não fazer nada:

– Se você se machucar, conte a Tris que eu tentei te impedir antes que ela me mate, ok? – rio um pouquinho – Leve esse fio até a saída do armário.

Pego o fio com um dispositivo estranho na ponta e o coloco no armário. James continua mexendo nos explosivos. Alguns minutos depois ele os solta e espalha pela cozinha.

– Aqui é o centro da casa, então quando explodir, tudo vai cair aos pedaços – explica James – Agora nós dois vamos entrar ali na escada de emergência e vamos fazer isso funcionar.

– E como exatamente isso vai funcionar? – indago, ainda em dúvida se não devo sair correndo e gritando porque um louco quer explodir sua própria casa.

– Isso aqui é de muito tempo atrás – conta ele, enquanto entramos na passagem. James segura o dispositivo que é ligado por um fio com o explosivo com uma das mãos e com a outra fecha o fundo falso do armário – De antes da Guerra da Pureza. Era usado por pessoas chamadas de terroristas e pelo exército. É tipo uma bomba, muito potente. Com a quantidade que temos, vai dar para explodir tudo.

– E como nós vamos escapar da explosão?

– Isso é um dos benefícios de ser rebelde – sorri ele.

Estou em pé alguns degraus abaixo de James. Ele segura o botão no dispositivo e tem um dedo em uma botão na parede.

– Espero que funcione – sussurra e aperta os dois botões ao mesmo tempo.

Ouço um ”bum” muito alto e sou jogado para trás, batendo no chão com força. O calor invade meu corpo. Fico deitado no chão por algum tempo, acalmando as batidas do coração. Depois de alguns minutos de silêncio, levanto-me esperando encontrar alguma parte do meu corpo destroçada ou James morto ao lado, mas encontro-o sentado em um degrau respirando rapidamente. E a única parte chamuscada de mim é o cabelo, que exala um cheiro de queimado.

– Funcionou – suspira ele.

– O que aconteceu? – sussurro.

– O C-4 explode muito rápido, então eu tenho um botão que fecha as portas corta-fogo mais rápido do que um humano conseguiria. Para momentos como esse... – ele para de falar por alguns instantes, mas logo solta um suspiro de alívio: – Eu não tinha certeza se iria funcionar, mas considerando que estamos vivos, funcionou muito bem.

Balanço a cabeça em afirmativa, também aliviado. Não posso negar que eu estava com medo de morrer queimado.

– E agora? – pergunto – Para onde todo mundo foi? Para onde nós vamos? E a Tris, como vai nos achar?

– Temos alguns pontos de encontro combinados, os outros devem ter ido para o porão da antiga Erudição, que é onde combinamos de nos encontrar.

– Como Tris vai saber que tem que ir para lá?

– Como eu já disse, nós temos alguns pontos de encontro marcados – diz ele enquanto começa a andar, comigo seguindo-o – Jack está com a sua namorada, ele sabe todos os lugares. Pode demorar um pouco, pois nós temos seis pontos de encontro, mas logo eles chegarão aonde vamos.

– Não – paro de andar, cruzando os braços como uma criança fazendo birra.

James se vira e olha para mim com uma sobrancelha erguida.

– Precisamos dar um jeito de mandar uma mensagem a ela.

Ele parece considerar a ideia por alguns segundos, então assente com a cabeça e concorda, voltando a andar:

– Tem razão. Tem outra passagem para cá na mata, que é provavelmente a que eles pegarão. Vamos até lá e você deixa uma mensagem que só ela vai entender, está bem?

– Sim.

Não andamos nem cinco minutos quando ele vira um corredor que, seguindo reto, dá em uma saída. Fico com vontade de ir lá, mas não sei como estão as coisas lá fora, então nada digo.

Penso um pouco no que devo escrever, onde devo pedir para ela me encontrar, até que lembro-me de um lugar perfeito, onde poderei ficar vigiando quem chega, além de eu ter quase certeza que ela se lembraria. Pego uma das pedras do chão e escrevo a mensagem na parede. Penso em escrever “VI” no começo, mas não sei se Tris ainda tem seis medos, então opto por sua inicial, “B”.

Depois disso, voltamos a andar.

Considero fazer as perguntas que ele disse que responderia sobre o ataque da casa, mas quando olho para seu rosto, ele parece tão desamparado que fico quieto. Não deve ser fácil explodir sua casa.

AGORA

Só Kay e Anna aceitaram esperar no frio por Tris, os demais rebeldes disseram que era loucura.

– Você tem medo de altura, não é? – percebe Kay, tirando-me das memórias do dia passado.

– Um pouco – admito. Não sei como ele percebeu (talvez tenha sido o fato de eu ter hesitado antes de subir, ou meu medo de deixar as pernas pendendo da beirada da plataforma onde estamos, ou talvez tenha sido por causa de como minha respiração acelera aqui em cima).

– Então por que subiu?

– Para ajudar a ficar de olho em quem chega. E porque tenho boas memórias do lugar.

Kay me olha por um momento, então dá de ombros e volta a olhar para o horizonte.

Já faz algumas horas que estamos aqui em cima, e a posição que estou está ficando insuportável, além de minha inquietação aumentar a cada minuto que não vejo seu cabelo loiro chegando.

Começo e bater o pé no chão, mas paro ao receber um olhar irritado de Anna.

Uma hora depois, vejo um movimento entre algumas árvores finas perto dali. Não falo nada a princípio, pois pode ser só minha imaginação, porém quando vejo de novo, digo:

– Acho que vi algo ali – aponto para onde a pessoa passou.

Nós três ficamos em silêncio, encarando o ponto onde as folhas se mexeram. Um tempo depois, quatro pessoas saem do meio das árvores, andando nervosamente na nossa direção.

Uma delas olha para cima e parece nos ver, pois vem correndo para cá.

Anna e Kay estão com as armas apontadas para a pessoa, mas eu apenas olho. Quando vejo o cabelo claro voando e os traços conhecidos, vou para a escada da roda-gigante e começo a descer apressadamente.

Assim que chego ao chão, Tris pula em mim e lhe dou um grande abraço.

– Eu estava tão preocupada – sussurra ela em meu pescoço.

– Eu também – respondo.

Tris ergue a cabeça e me beija lentamente, só parando quando ouvimos passos chegando. Olho para trás, ainda abraçando-a e vejo Uriah, Jack e Zeke chegando.

Franzo a testa ao ver Zeke, então sorrio para ele, que responde sorrindo também e passando um braço pelo ombro de Uriah, que abaixa rindo para fazer Zeke largá-lo, o que começa aquela brincadeira boba entre os irmãos.

Anna e Kay descem da roda-gigante também e cumprimentam os recém-chegados.

– Por que quis que nós nos encontrássemos aqui? – pergunta Tris.

– É perto da antiga Erudição – falo, apontando para o grande prédio, que pode ser visto de onde estamos.

– O que vamos fazer na Erudição? – questiona Zeke que apareceu ao meu lado – Um hospital e um laboratório ainda funcionam lá.

– Nós vamos usar o porão. Vocês vão ver – responde Kay – Vamos.

Vamos juntos até onde ficava a Erudição. No caminho, Tris, Uriah e Zeke me contam como foram os reencontros e eu conto sobre a explosão da casa. Enquanto isso, Kay, Anna e Jack conversam separados. Sinto-me como se eles fossem os adultos falando sobre algo importante e nós as crianças conversando sobre coisas bobas, mas ignoro o sentimento e volto a conversar.

Entramos pela parte de trás da Erudição e descemos uma escada que eu nunca soube que existia ali.

Eu havia passado aqui mais cedo para deixar a mochila, então já sabia como era, mas Tris, Uriah e Zeke, que nunca vieram neste lugar antes, parecem bastante impressionados.

O porão é muito grande. Tem as paredes de um azul escuro e o chão branco, com uma sala com sofás, uma velha e estática televisão e um tapete em um canto, separada da “cozinha” por uma grande mesa de jantar. A cozinha consiste em uma bancada com um microondas, uma geladeira e um armário. O resto do lugar é cheio de camas, cadeiras e pessoas. No canto, perto da sala, há uma única porta, que imagino ser o banheiro.

– É bem maior do que eu esperava – comenta Tris.

Escolhemos as camas – na verdade, ocupamos as que sobraram –, tomamos banho e nos trocamos. Depois de limpo, vou almoçar junto com Tris na cozinha improvisada. E é tão bom só sentar e comer junto com ela que por alguns minutos esqueço que estou escondido no porão da Erudição e que tem umas vinte pessoas aqui além de nós.

Alimentado e limpo, pego Tris pela mão e deito-me em uma cama junto com ela, adormecendo com seu pequeno corpo em meus braços.

[...]

Está frio quando acordo. Provavelmente tem a ver com Tris ter se enrolado completamente na coberta e me deixado apenas com a roupa do corpo. Sorrio enquanto a observo dormir.

– Você parece um maníaco desse jeito – comenta alguém atrás de mim. Tomo um pequeno susto, mas finjo que já sabia que Zeke estava ali.

– Eu não vejo ela há muito tempo – defendo-me, virando para Zeke – Eu tenho o direito de parecer um pouco maníaco.

Meu amigo ri de um jeito tão feliz que me faz rir também. Não é que ele não tivesse superado a morte do irmão depois de anos, mas era muito raro ele rir daquele jeito completamente alegre, como se a vida fosse boa demais. E só por uma frase meio sem graça.

– Que horas são? – pergunto.

– Não sei. Mas você dormiu por um tempo, já deve ser de noite.

– Passei a noite acordado.

– Então está explicado porque está tão dorminhoco.

Reviro os olhos.

– E então... como foi ver a Tris de novo? – indaga ele, de repente. A pergunta me pega de surpresa, fazendo-me demorar alguns segundos para responder.

– Mágico. E inacreditável – fico algum tempo sem dizer nada, observando sua expressão de alegria – E você com Uriah?

– Incrível. Eu imagino o que nossa mãe vai fazer quando vê-lo – diz ele, sorrindo.

Entretanto, dessa vez não sorrio junto. Uma palavra que Zeke falou chamou minha atenção... “mãe”. Esqueci completamente de Evelyn. E de Emily.

– Ai, caramba – reclamo – Esqueci da minha mãe. Faz uns dois dias que eu não falo com ela. E Emily já deve ter ido até na polícia. Eu saí para comprar pão dois dias atrás e não voltei mais.

– É, Evelyn ligou para mim perguntando de você, mesmo. Ela está bem preocupada. O que você vai fazer?

–Não sei. Vou ver se consigo deixar uma carta ou falar por telefone com elas.

– E a Emily, Quatro? Você vai terminar com ela?

– Claro que sim – Será que ele esperava alguma outra resposta de mim? É claro que eu terminaria com Emily. Tris é, era e sempre será a mulher da minha vida.

– Tá bem, desculpe – diz ele levantando as mãos. Desfaço a careta de irritação e incredulidade que tinha feito – Foi só uma pergunta. Eu já sabia a resposta de qualquer jeito.

– E a sua namorada, Zeke? Qual é o nome dela mesmo?

– Claire. Ela é só um caso, nada sério. Quando eu parar de falar com ela, ela vai se tocar de que acabou. Falando em mulheres, você viu aquela ali?...

E ele desata a falar sobre as rebeldes e sobre como planeja ficar com alguma delas. Ouço tudo, rindo quando faz alguma piada. Alguns minutos depois, Uriah senta perto de Zeke e começa a dar dicas sobre a personalidade de cada uma.

Tris só acorda quando Zeke solta uma gargalhada alta demais por causa de alguma coisa que Uriah falou. Ela senta confusa, e logo que percebe o assunto do momento, revira os olhos e vai, rindo, conversar com Jack.

Uma hora depois, Uriah desafiou Zeke a beijar uma rebelde chamada Violet, e quando ele foi tentar, levou um belo fora e quando tentou de novo, um tapa na cara que me fez perder o fôlego de tanto rir. Quando Zeke começa a desafiar Uriah a dar em cima de meninas, saio discretamente e vou para junto de Tris, que ri de alguma coisa que Jack falou.

– Posso saber do que você está rindo? – digo ao dar um beijo na bochecha de Tris por trás e depois sentar ao seu lado. Ela entrelaça seus dedos nos meus despreocupadamente enquanto responde:

– Jack estava me contando como Peter acabou ajudando os rebeldes ingleses.

– Peter? – surpreendo-me. Até onde eu sabia ele estava trabalhando em um escritório em Milwaukee.

– Sim, foi por causa dele que eu acabei parando aqui – responde Tris – Eu o vi e ele me levou até o esconderijo rebelde. E eu tinha esquecido completamente de perguntar como ele chegou lá. Jack acabou de contar como aconteceu... – ela olha para mim, vendo se eu quero saber da história. Levanto as sobrancelhas pedindo para ela continuar – ele disse que Peter estava começando a se envolver com alguns dos rebeldes escondidos na cidade em que ele morava, e que esses rebeldes entraram em contato com a base na Inglaterra pedindo para juntarem Peter à causa, pois ele parecia ser de confiança e blá blá blá. Enfim, eles não concordaram. Isso foi há dois anos. Aí, quando Jack escapou da FERU e se juntou aos rebeldes, eles encontraram um jeito de vencer definitivamente o rei: resgatando a mim e a Uriah. Eles pesquisaram sobre nossa vida passada e descobriram sobre Peter. Foi aí que chamaram Peter para ajudar. Porém quando ele chegou, disse que não se lembrava de Tris nenhuma. Primeiro eles desconfiaram, mas quando perguntaram detalhes do passado de Peter e ele não soube responder, fizeram um exame e descobriram que ele havia tomado o soro da memória. Usaram ele no plano mesmo assim, e funcionou. Aliás, como ele tomou o soro?

– Não gostava de ser quem era – falo, um pouco atordoado. Peter está com os rebeldes? – Onde está Peter agora?

– Na Inglaterra. Ele quer ajudar a derrubar o rei – conta Jack.

– Bom, ele... – mas não tenho a chance de terminar de falar, pois nesse exato momento, uma pessoa desce as escadas que dão acesso ao mundo exterior correndo e grita:

– Alguém viu vocês! A polícia da cidade está vindo!

Todos os rebeldes parecem agir ao mesmo tempo, levantando e pegando tudo o que podem, o mais rápido possível. Tris se levanta antes de mim e corre para nossa cama, onde está minha mochila de coisas de outras pessoas e sua bolsa com os objetos do carro.

– Vamos, rápido! – grita alguém. Tris agarra minha mão e corremos escada acima. Assim como antes de a mansão explodir, a confusão é organizada, ninguém tenta derrubar quem está na frente para sair mais rápido.

Em um minuto, todos estão fora do complexo da Erudição.

É possível ouvir o barulho dos carros e motos que os policiais usam, mas ainda não consigo vê-los.

Zeke aparece ao meu lado, parecendo contrariado. Normalmente seria ele em uma moto vindo atrás dos invasores. Tenho certeza de que conhece algum dos policiais. Talvez Amah esteja ali. O pensamento me deixa inquieto.

As pessoas correm o mais silenciosamente possível pela sombra do prédio, e eu sigo. Em algum ponto do caminho Tris solta minha mão para ficarmos mais ágeis e rápidos; Zeke corre ao meu lado e Uriah vai em frente a Tris.

Não sei por quanto tempo corremos, mas logo minhas pernas doem e começo a respirar muito rapidamente, os pulmões queimando. Três anos atrás eu estaria como Tris está agora: correndo normalmente, como se não estivéssemos fugindo há pelo menos dez minutos. Os anos sem ação, trabalhando normalmente, deixaram-me um pouco... mole. Não consigo nem correr por muito tempo sem me cansar. Mas se continuarmos correndo e nos mexendo assim todos os dias logo estarei em forma de novo.

Acabo ficando para trás, e em pouco tempo sou o último da fila. Ninguém percebe que não consigo correr daquele jeito e estou ficando para trás. Provavelmente é melhor assim, desse jeito não pareço tão fora de forma.

De repente, todos param, atropelando uns aos outros. Tris avança entre as pessoas para ver o que está acontecendo. Apresso-me para ir para o lado dela sem fazer barulho, e quando chego, percebo o que aconteceu: o caminho está barrado. Por muitos soldados.

– O que vamos fazer? – sussurro no ouvido dela.

Tris olha para mim e balança a cabeça, acenando que não sabe.

– Podemos voltar? – pergunta Uriah, que está mais a frente.

– Os policiais de Chicago estão nos seguindo – responde James, que estava nos guiando.

– Então só temos um lugar para ir – diz Callie, que está ao lado de James. Ele assente e suspira:

– O Canadá.

Olho para ele, esperando mais explicações. Não faço a menor ideia do que “Canadá” quer dizer.

Callie sussurra para quem está mais para trás que vamos para “O Canadá” e a notícia começa a ser passada aos sussurros até o final da fila.

Vejo Zeke – que deve estar tão confuso quanto eu – perguntando a Uriah o que isso quer dizer, então faço o mesmo com Tris.

Ela vira os grandes olhos para mim, e responde com a testa franzida em preocupação:

– É o país vizinho ao nosso. Não fica tão longe, mas não sei quanto tempo vamos passar lá.

Respiro fundo e tento não me animar com a ideia. Não entendo o porquê de Tris estar nervosa ou porque ninguém está sorrindo. Nós vamos conhecer uma parte do mundo, uma parte do mundo diferente da nossa. Vamos explorar um lugar novo. E isso é bom, certo? Bom, espero que sim. E espero que O Canadá aceite rebeldes ingleses e quatro americanos invadindo o país.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que ficou muito comprido (aliás, acho que é o capítulo mais comprido que eu já escrevi na vida o.O), mas não deu pra evitar, sorry

Então, o que acharam? Quem está ansioso para descobrir como está o Canadá? o/

Vou esperar comentários, ok? Posso? Vocês vão mandar? Vou ficar esperando, hein

Bjos :*



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