Chasing the Happy Ending escrita por Annie Cipriano


Capítulo 9
Capítulo 9 - Tris


Notas iniciais do capítulo

Ooi gente, quanto tempo

Mds, que sdd de vcs ♥

Nem sei como começar a pedir desculpa por ter ficado tanto tempo sem postar... Eu juro que tentei, mas sempre que eu ia escrever acontecia alguma coisa e eu tinha que parar ou eu achava que estava muito ruim e ia fazer outra coisa. Perdão, eu sei que devia ter postado mais rápido T.T

Putz, passou tanta coisa... meu aniversário passou, Insurgente passou... Eae, o que vcs acharam de Insergente? Eu não gostei muito não :c

Ah ah, respondam nos comentários por favor: quantos capítulos vc quer/espera que essa fic tenha?
É importante que vocês respondam porque aí eu me organizo aqui e posto logo...

Eu sei que considerando o tempo que eu fiquei longe, eu devia aparecer com um capítulo diwo maravilhoso... Mas não. Não deu. Saiu comprido demais (desculpem, não consegui diminuir kkkk), chato e eu não gostei muito, mas estou postando porque sei que eu devia ter postado muito antes e que eu deixei vcs na mão...

Caso alguém se confunda: itálico = passado, normal = presente

Okay, acho que é isso... Espero que vcs gostem, boa leitura :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/578143/chapter/9

2 ANOS ATRÁS

Assim que minha cabeça encosta no travesseiro sinto uma tontura terrível e puxo o tronco para cima rapidamente, fazendo tudo só piorar. Solto um gemido de dor e levo as mãos à cabeça.

– Tris? – pergunta Uriah. Ele nem precisa completar a frase para eu saber o que está perguntando. “Está doendo muito? Você está bem?” é a real pergunta, mas depois de tanto fazê-la, agora só precisamos chamar o outro pelo nome para passar a mensagem de preocupação.

– Estou bem – resmungo – Não sei quanto mais vou aguentar. Não faço a menor ideia do que fizeram na minha cabeça hoje de manhã, mas o mundo todo está girando.

– E quando fazemos alguma ideia do que eles fizeram conosco? – replica ele com a voz pingando ironia.

Bufo e volto a deitar, tentando ignorar a sensação ruim.

Apesar de a cama – se é que posso chamar o pedaço de metal acolchoado grudado à parede de cama – ser bem pequena, sinto Uriah deitar ao meu lado, com os pés ao lado da minha cabeça e a cabeça ao lado dos meus pés.

– Eu também estou cansado de tudo isso. Quanto tempo mais acha que vai durar?

– Não sei – respondo com a voz baixinha – Mas sei que não consigo aguentar por mais um ano.

– É, eu também não.

Ficamos em silêncio por alguns minutos; a dor de cabeça passa e a tontura diminui. Olho para o teto, sem saber o que dizer, e com o passar do tempo acabo dormindo.

Depois de algum tempo acordo com o “bipe” que a porta faz antes de abrir. Fui arrastada daqui tantas vezes logo depois do bipe que meu cérebro já o reconhece como um alerta.

Porém, para minha grande surpresa, não é um dos soldados cruéis prontos para dizer ou “Beatrice” ou “Uriah” e levar um de nós para sabe-se-lá-onde. É uma garota, que, sem aviso, é empurrada para dentro, caindo com força no chão. A porta se fecha atrás dela.

Não faço nada. Talvez eu devesse ir até ela e tentar acalmá-la, mas ainda estou pasma demais com sua chegada para fazer qualquer coisa. Em dois anos, nunca vi ninguém que não fosse Uriah, um guarda ou os médicos. Nunca vi nenhum outro “paciente”.

Uriah toma iniciativa de ir ajudá-la, e levanta da minha cama, caminhando vagarosamente em sua direção.

A menina está assustada, seus olhos castanhos estão arregalados, os cabelos ruivos caídos no rosto pálido. Ela se arrasta para longe, até que bate as costas na parede e é obrigada a parar.

Ele para no meio do caminho e levanta as mãos, em sinal de rendição.

– Calma, eu não vou lhe fazer mal – afirma com a voz tranquilizadora – Eu sei o que você está passando, sei que está assustada e que eles provavelmente te machucaram, mas eles fizeram isso conosco também.

Seu rosto relaxa um pouco, e ela parece ligeiramente mais calma. Ligeiramente.

– Quem são vocês? – pergunta com a voz rouca e baixa, de quem ou não a usa há muito tempo, ou gritou demais recentemente. Eu aposto na segunda opção.

– Meu nome é Uriah, e ela é Tris. Qual é o seu nome?

– Blair – responde ela com a voz tão baixa que mal ouço.

– Você se lembra de alguma coisa, Blair? Sabe de onde veio, por que está aqui ou qualquer outra coisa? – pergunta ele. Ela apenas nega com a cabeça.

Eu sei que ela provavelmente está nervosa com o que acontecerá e tudo o mais, porém não me convenceu de que não se lembra de nada. O olhar de quem se esqueceu de toda a sua vida é confuso e aterrorizado, e nos olhos de Blair não há nem resquícios desses sentimentos.

Depois disso, não sabemos mais o que dizer, então um silêncio um pouco incômodo se instala.

– Não é essa a hora que vocês dizem que vai ficar tudo bem? – pergunta ela com uma mistura de deboche e esperança.

– Deveria ser – admito – Mas não vamos mentir para você. Provavelmente as coisas vão ficar o contrário de bem.

– Mas, se eles a deixarem ficar aqui, nós seremos seus amigos, o que torna a coisa toda mais fácil – completa Uriah, tentando fazer a situação parecer menos terrível. Olho para ele com cara de quem sabe que o outro mente e ele me devolve um olhar de repreensão, por ter dito que as coisas piorariam.

Blair leva os joelhos até o peito e os abraça, fechando os olhos. Assisto uma lágrima cair de seu olho, e só então afasto todas as suspeitas que tenho sobre ela para me colocar em seu lugar, e compreender como isso deve ser horrível. Levanto-me de cama e paro em sua frente, esticando uma mão.

– Vem, sente aqui na cama.

Ela me olha com olhos arregalados, então pega minha mão e deixa que eu a conduza à minha cama.

– Há quanto tempo vocês estão aqui? – pergunta ela, a voz vacilante.

– Dois anos – responde Uriah. Quando ela faz uma expressão de desespero, ele completa: – mas antes nós éramos em dois, agora somos em três, temos muito mais chances de escapar.

Blair abre um pequeno sorriso e respira fundo, provavelmente tentando absorver os fatos: ela ficará presa aqui por muito tempo junto com a gente, e provavelmente não conseguirá sair.

***

Não demorou nem um dia para chegarmos ao Canadá. Em menos de 24 horas o carro roubado já estava estacionando em frente a uma pousada em Toronto.

No meio do caminho, percebemos que alguém podia estar nos seguindo, então dividimos os rebeldes. Agora estou apenas eu, Tobias, Uriah, Zeke, Jack, Anna, Kay e Callie. James até tentou nos dividir, mas desistiu quando dissemos que ou vínhamos todos juntos ou ninguém iria.

Callie, que é irmã mais velha de James, nos trouxe até esta pousada que fica mais ou menos na fronteira. Ela afirmou que o dono deve um favor aos rebeldes e que estaremos seguros ali.

O lugar passa uma sensação de tristeza, e parece bastante abandonado. A parede está descascando, o amarelo claro está apagado, a madeira apodrecida. Ignorando o alerta de “o teto desse lugar pode cair na sua cabeça a qualquer momento!” que minha cabeça dá, entro no quarto que dividirei com Tobias.

Ele está sonolento, pois permaneceu a viagem toda acordado, então não percebe o estado do nosso quarto – uma cama de casal com o colchão tão fino que é possível sentir as tiras de madeira que o sustentam embaixo, a pintura envelhecida, uma crosta de poeira cobrindo a cômoda e o tapete mofado no chão.

Tobias mal chega e já se joga na cama, caindo no sono em poucos segundos.

Seguro um riso e puxo a coberta para cima dele, passando a mão com carinho por seus cabelos enquanto ajeito o cobertor em seu corpo adormecido. O tempo daqui é muito frio; muito mais do que em Chicago.

Depois de ter passado pelo menos metade da viagem dormindo, não estou com sono algum. Coloco mais um casaco, um gorro, e saio para explorar melhor o lugar.

***

Hoje faz dois meses que Blair chegou. No segundo dia dela aqui, nos levaram os três para salas separadas para participarmos de experimentos diferentes, e, quando voltamos, havia mais uma cama na cela, o que sinalizava que ela ficaria por muito tempo.

Nesses meses que passaram, conseguimos nos conhecer bastante bem, o suficiente para fazermos uma amizade forte. Já Uriah foi por outro caminho.

Alguns dias atrás, quando me trouxeram de volta para a cela, encontrei Uriah e Blair arfando e com os lábios inchados, próximos demais um do outro. Fiquei feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz, pois agora, apaixonados, tudo seria mais suportável para eles, os dois aguentariam firme para poderem se encontrar mais rápido e também tentariam escapar o mais rápido o possível. O problema é que vê-los apaixonados me lembrou de Tobias, o que fez a ferida de saudade em meu peito começar a doer de novo. Fez com que eu me desse conta de que não me lembro mais do tom exato de seus olhos e cabelos, e de que minhas memórias de Chicago estão começando a ficar anuviadas. Isso me apavora.

Percebo Blair olhando para mim, e cruzo os dedos para que ela não me pergunte o que há de errado. Ao contrário, ela diz:

– Sabem, é quase raro ficarmos os três juntos aqui, nós deveríamos fazer um jogo.

– Um jogo? – repete Uriah.

– Sim. Cada um conta a experiência mais feliz que teve. O que acham?

Não quero fazer isso. Só me fará ficar triste porque não posso repetir minha experiência feliz, me fará ficar cheia de saudades.

– Estou cansada, vou descansar. Mas podem fazer o jogo.

– Tris – reclama Uriah – Vamos lá, vai ser bom lembrar de épocas mais felizes. Sente aqui.

Suspiro e vou me sentar ao seu lado.

– Muito bem, eu começo – anuncia Blair – minha memória feliz é a neve. Já nevou em Chicago? – balançamos a cabeça negando. Já li e vi imagens de neve, mas por algum motivo não neva mais onde moramos – É linda. Muito fria, claro, mas o branco faz as cidades ficarem tão bonitas... Quando eu era pequena, ia com a minha mãe para fora de casa e nós fazíamos bonecos e anjos de neve. Vocês simplesmente precisam ver a neve. Quando sairmos daqui, vou levar os dois para algum lugar em que esteja nevando, e vocês vão deitar na neve e balançar os braços para fazer anjos, e nós vamos construir bonecos de neve juntos e fazer guerra de bolas de neve. E então vamos caminhar por algum lado congelado e talvez andar de trenó. Será perfeito.

Quando Blair termina de falar, está com uma expressão sonhadora e os olhos cheios d’água. Então Uriah toma a palavra:

– Minha memória feliz é a primeira tatuagem que eu fiz. Foi uma aposta com Zeke, e como eu perdi, tive que me tatuar. Lembro que doeu muito, mas eu aguentei e fingi que não. Não sei exatamente por que essa é uma memória tão feliz... provavelmente é porque eu estava com todos os meus amigos da época e nós estávamos rindo e nos divertindo muito.

Preciso pensar para escolher uma memória feliz. Tenho algumas com Tobias, algumas com minha família. Escolho a que me deixa com vontade de sorrir só de lembrar.

– A minha é do jogo de captura da bandeira na Iniciação. Todos estavam discutindo sobre as táticas para pegar a bandeira do outro time, e eu fui subir a roda gigante para tentar ver onde o time adversário estava. Só que Tobias viu, e subiu comigo. Eu me senti tão bem... estava nervosa, claro, era um jogo e meu instrutor estava vendo tudo o que eu fazia, mas a sensação da altura e dos ventos era muito boa. E, além disso, foi a primeira vez que eu fiquei sozinha com Tobias.

Depois que acabo de falar, ninguém mais sabe o que dizer, então apenas sorrimos um para o outro e aproveitamos a sensação que as memórias trazem.

***

Neve cai como se fosse uma garoa – poucos flocos brancos descendo vagarosamente. Olho para o céu e sorrio. É simplesmente tão linda!

Ando pela pousada esquecida, explorando todos os cantinhos. É maior por dentro do que aparenta ser por fora. A grande e velha casa possui três andares, muitos e muitos quartos, uma cozinha enorme – que aparenta não ser usada há séculos –, três salas, além dos diversos quartos que tinham a porta fechada e não pude ver.

Só paro de andar quando o frio começa a doer. Minhas mãos estão tão geladas que doem, os dentes batendo e o corpo todo tremendo. Porém, ignorando a possível hipotermia, sento-me debaixo de uma árvore nos fundos da casa.

Não sei bem por que estou aqui, congelando, olhando a neve descer do céu. Porém também sei que sei sim o porquê de eu estar aqui, só não quero pensar nisso.

Temendo que memórias tristes e indesejadas aflorem, respiro fundo e fecho os olhos, encostando a cabeça na casca da árvore.

***

Três semanas se foram, e Uriah e Blair se apaixonam mais a cada dia. Seu amor é algo lindo, porém me incomoda vê-los juntos e saber que, em algum lugar lá fora, Tobias sofre por mim e não posso encontrá-lo. Tento não demonstrar meu sofrimento egoísta, mas está cada vez mais difícil. Apesar da paixão crescente entre eles, Blair não está conseguindo aguentar os experimentos, e não para de inventar jeitos malucos de fugir, além de chorar e dizer que não aguenta mais constantemente, o que me deixa irritada e angustiada ao mesmo tempo. Uriah fica desesperado cada vez que ela derrama uma lágrima depois de voltar de onde quer que a levem. Outro dia, ele conversou sobre isso comigo.

Blair acabara de ser levada, e ele se virou para mim e disse:

– Lembra da promessa que te fiz? Sobre avisar se eu não aguentasse mais? Acho que estou bem perto disso.

Meus olhos se encheram de lágrimas e só consegui sussurrar um “não”, de tanto medo que caiu sobre mim ao pensar na possibilidade de ter que aguentar tudo isso sem ele.

– Acho que eu amo a Blair, e não consigo suportar vê-la sofrendo, Tris. Precisamos sair daqui.

Assenti, e disse:

– Você tem razão, nós precisamos. Precisamos escapar há anos, e ainda não conseguimos. O que você quer fazer Uriah? Acha que já não tentamos todos os jeitos? Se você tiver pensado em mais um, ótimo, nós podemos tentar, mas nãofale nesse tom como se a culpa de não estarmos fora daqui fosse minha.

– Calma Tris, não foi isso que eu quis dizer – fala ele, tão baixo que tenho que fazer força para ouvir – Eu acho que encontrei um jeito de sairmos daqui.

***

As memórias que tentei reprimir mais cedo vêm de qualquer jeito, sem que eu faça nada para impedi-las. Lágrimas vêm aos meus olhos, mas nem preciso segurá-las, o vento impede que elas caiam.

– Tris! – grita alguém, tirando-me dos pensamentos – Você estava aqui o tempo todo? Todos estão te procurando!

Olho para Uriah, sonolenta, e não digo nada.

– Está aqui por causa dela? – pergunta de repente. Eu sei que para ele é mais difícil falar sobre ela. Suas memórias devem ser ainda mais dolorosas do que as minhas.

Assinto, e ele vem sentar ao meu lado.

– Ela queria que nós víssemos a neve, que brincássemos nela, mas não consigo fazer isso. Então vou ficar aqui sentindo ela caindo em mim e vou lembrar da Blair.

Sinto Uriah ficar rígido ao meu lado – nós temos um combinado de não mencionar o nome dela, pois dói nele até isso, porém, no meio da coisa mais feliz que ela podia pensar, não consigo evitar.

Ficamos sentados e calados por tanto tempo que começo a tremer.

– Vamos entrar – peço a Uriah, já me levantando.

– Pode ir, vou ficar aqui mais um pouco.

– Você vai congelar aqui, Uriah – estendo uma mão para ele – Vamos, não quero que você fique com hipotermia.

Ele suspira e pega minha mão, levantando-se. Seguimos em direção a casa. Contudo, no caminho, vejo a neve fofa e lisa na minha frente e me lembro de Blair falando sobre fazer anjos de neve, então deito-me e começo a balançar os braços por algum tempo. Quando me levanto, a figura de um anjo está no chão e Uriah me encara com uma expressão triste.

– É para ela, onde quer que esteja – murmuro.

Uriah se afasta por alguns segundos, e quando volta está com uma flor na mão, que coloca no meio do anjo.

– Para ela – repete.

***

Uma semana. Duas semanas. Um mês. Dois, três meses. Os dias pareceram se arrastar sem que pudéssemos começar a tentar fugir. Até que, finalmente, depois de trazerem Uriah de volta de algum lugar, ele se senta ao meu lado e murmura:

– Hoje.

Meu coração acelera e não consigo evitar o nervosismo.

O plano é arriscado, eu sei, porém também é bom, e tem 50% de chances de dar certo e 50% de chances de dar errado.

Fizemos um tipo de amizade com um dos seguranças que guarda nossa porta, e pedimos ajuda a ele. Seu nome é Kyle, e parece ser confiável. Nós estávamos apenas esperando que ele nos desse o sinal que indicava o dia da fuga, que é quando alguém chamado Josh estaria vigiando as câmeras, pois ele ajudaria.

Não consigo evitar que a esperança se espalhe por mim. Eu posso estar me encontrando com Tobias daqui a algumas horas. Um grito de emoção fica preso em minha garganta, ao imaginar o que ele dirá ao me ver. Provavelmente só me olhará chocado e então me beijará. Talvez sussurre “Tris?” e eu o beije...

Cada segundo que passa é uma agonia. Estou inquieta, sem conseguir parar de me mexer. Quando ouço um chiado, sei que é a câmera se desligando, o que significa que é hora de se mexer.

Levantamos os três ao mesmo tempo e corremos para a porta, que se abre assim que paramos em sua frente. Atrás dela, está Kyle e o outro segurança que fazia companhia a ele desmaiado no chão.

– Vamos, não temos tempo – diz Kyle, já correndo pelo corredor.

Uriah para um instante para beijar Blair, e então seguimos. Corremos apenas por dois corredores quando os alarmes começam a soar. A luz de tudo pisca em vermelho e uma buzina toca de dois em dois segundos.

Vejo que nosso guarda amigo está nervoso, isso não deveria estar acontecendo. Sendo assim, apressamos mais ainda a corrida.

Kyle nos leva por lugares que nunca vi, e quando nos faz atravessar uma porta automática que ele diz ser muito próxima da saída, encontramos pelo menos vinte soldados esperando.

Uriah pega Blair pela mão e corre para o lado por onde viemos, mas este também já está cheio de soldados. Kyle suspira e fecha os olhos, e eu faço o mesmo, sentindo a esperança escoar dolorosamente de mim.

Ouço Blair sussurrar alguma coisa para Uriah, mas não me viro para ver o que é. Provavelmente é algo do tipo “eu te amo, saiba disso caso alguma coisa aconteça” e eu não conseguiria ouvir isso e permanecer com a máscara inexpressiva que estou fazendo.

Os homens apontam armas para nós, nos obrigando a levantar as mãos nuas e em seguida algemam cada um e nos levam até a sala da Dra. Andrea.

Ela fica sentada atrás da mesa, com uma expressão de nojo e desapontamento. Quatro cadeiras viradas para a doutora nos esperam. Depois de sentados – e amarrados – Andrea começa:

– Vocês realmente acharam que conseguiriam fugir? De verdade?

Ninguém responde.

– E você Kyle... – fala ela, olhando para ele com desaprovação – um dos nossos próprios soldados. Todos nós confiamos em você, e você ajudou a eles. Você sabe o que acontecerá a você, não é?

Ele olha para o chão e prende a respiração, com medo.

– Não foi culpa dele – digo de repente, atraindo a atenção de todos na sala para mim – Eu que planejei isso, nós o envolvemos nisso, o ameaçamos. Ele não teve escolha.

A mulher em nossa frente ri. Kyle me olha com agradecimento.

– Não, não foi isso que aconteceu – fala, levantando a cabeça e olhando profundamente nos olhos da doutora – Eu planejei a fuga. Eu desliguei as câmeras. Eu bati em Josh. Eu traí a organizaçãozinha de vocês, porque isso é simplesmente errado. Ninguém deveria ser submetido ao que Tris, Uriah e Blair são. Então, se for para punir alguém pelo que aconteceu hoje, esse alguém sou eu. Não eles, que têm que sofrer todos os dias.

A médica apenas encara de volta, com o rosto severo e irritado. Então olha para alguém atrás de nós e balança a cabeça uma vez.

Um dos homens tira Kyle da cadeira e dá nele um soco tão forte que ele cai no chão. Antes que possa levantar, outro guarda se aproxima e o chuta. Kyle é puxado pelo pescoço e batem-no com força na parede, para então darem-lhe tantos socos que desmaia, e é novamente jogado no chão. Tudo isso acontece bem na nossa frente, para que nós três vejamos tudo. Tento me soltar das amarras para ajudá-lo, mas sei que é inútil.

Percebo pela visão periférica que Blair está com o rosto virado para não ver a violência, e sinto-me profundamente tentada a fazê-lo também, mas me obrigo a olhar para ele, que admitiu a culpa para que nós não nos machucássemos. Obrigo-me a olhá-lo e gravar a cena na mente, para que eu me lembre disso quando conseguir realmente escapar e me vingar.

Algum deles dá um último chute em sua cabeça, ele suspira, e sei que está morto. Mal sinto a lágrima escorrer pelo canto do olho. Não tenho vergonha dela, Kyle merece que alguém chore por ele.

– Você é um monstro – grita Blair para a médica. A garota parece tão extremamente fora de si, que sinto medo pelo que mais ela pode fazer. Dra. Andrea olha para ela com as sobrancelhas arqueadas e um sorriso debochado.

– Tudo bem então, vamos provar que eu sou – manda um olhar para um dos homens que espancou Kyle e ele a solta da cadeira, jogando-a no chão em seguida.

– Não! – berra Uriah – Ela está chocada, não quis dizer o que disse. Se quiser bater em alguém, bata em mim.

Andrea apenas ri, e com um sinal da mão, faz um dos homens chutar a menina caída no chão. Blair se encolhe, e leva mais um chute, e então um soco na boca.

– Não, espere – pede a doutora – Eu tenho uma ideia melhor do que bater nela. Eu ainda preciso usá-la, de qualquer jeito.

A cientista levanta da cadeira e se dirige a um armário, no qual ela digita uma senha para que abra, e então pega de lá três frascos e três agulhas.

– Sabem, com todo o estudo que fizemos nos cérebros de vocês – explica ela, dirigindo-se a mim e a Uriah – eu consegui criar alguns soros muito divertidos. Desespero, medo, dor, angústia, tristeza, tudo em frascos. Eles acionam a parte do cérebro responsável pelas emoções sem que vocês estejam as sentindo, e isso dura horas. Ainda não tive a chance de testar, vocês serão minhas cobaias. E só para ser mais divertido, vou fazer em um de cada vez, para que vocês assistam seus amigos sofrendo – ela abre um sorriso tão maldoso, que sinto-me arrepiar – Quem quer ser o primeiro?

Ninguém diz nada. Blair já conseguiu se apoiar em um cotovelo, mas ainda não levanta.

– Você – escolhe Andrea, apontando para Blair.

– Eu vou primeiro – se oferece Uriah. Eu esperava que ele fizesse isso, mas não vejo o objetivo. Se todos nós teremos de sofrer por alguma coisa, quem é primeiro e quem é por último não faz diferença.

– Eu quero Blair – aponta a Dra.

Ouço Uriah trincar os dentes, mas não diz nada.

– Hum... Medo. Sim, vou te dar o medo, querida.

Andrea caminha até Blair e faz um dos guardas a colocarem em pé com brutalidade. Ele a segura enquanto a cientista aplica a injeção em seu braço.

Blair troca um olhar com Uriah, dando-nos uma visão de seus belos olhos castanhos, e então eles se fecham com força, e ela se encolhe de repente. Quando abre os olhos novamente, eles ficam arregalados, olhando ao redor da sala. Seus braços tentam se cruzar, mas o homem ainda a segura.

Somos levados de volta à cela. Lá, Blair começa a gemer e gritar ocasionalmente apontando para qualquer lugar e chorando. Em um primeiro momento, tentamos acalmá-la, dizer que está tudo bem, mas ela não presta atenção e age como se não nos visse.

A gritaria e o choro duram por cerca uma hora. Depois de quinze minutos, vou para um canto do quarto e tampo os ouvidos, tentando esquecer da garota berrando a poucos metros de mim. Uriah fica ao seu lado o tempo todo, às vezes de olhos fechados e segurando sua mão, as vezes olhando para o nada, as vezes fazendo carinho em sua testa.

Depois da hora de choro Blair começa a falar e sussurrar algumas frases. A primeira coisa que sai de sua boca é um “não, papai” soluçado. Depois disso, ela diz “isso é errado... os mortos devem permanecer mortos”, atraindo minha atenção. Tiro as mãos dos ouvidos e fico atenta ao que ela fala.

– Tio Marcus não vai voltar, pare de tentar... – exclama de repente, parando no meio da frase. E então: – Não, não, não quero...

Olho para Uriah, sem saber o que dizer. Ele olha de volta, e vejo desespero em seus olhos. É nesse momento que percebo a proporção do amor deles – é muito maior do que eu imaginava.

– Mas eu sou sua filha, você devia... – e ela diz algo que sai baixo demais, podendo ser “me amar mais que tudo” ou “cuidar a mais de tudo” – Pare, por favor... eu quero ficar...

– Quanto tempo mais você acha que isso dura? – pergunta Uriah, com as mãos na cabeça, em uma posição de impaciência.

– Não sei.

– Não, dr. Richard! – grita Blair – Ele já me mandou embora, agora não quero voltar!

– Dr. Richard? – repete Uriah – Acha que ela já o conhecia?

Dou de ombros, sem saber o que dizer.

Vários minutos se passam sem Blair dizer nada, apenas gemendo e chorando até que ela diz:

– Não pode... pare, eles são pessoas, não ratos de laboratório... você... é... monstro... eu te odeio... pai.

Sinto-me mal por Blair. Não só por ela estar sendo torturada com medo agora, mas por sua relação com o pai.

Passada uma hora sem frases, Blair finalmente para de fazer qualquer tipo de som. Eu e Uriah nos aproximamos, e vemos seus olhos encarando fixamente um ponto qualquer no teto. Quando entramos em seu campo de visão, ela se vira para nós dois e diz fracamente:

– Desculpem... pelos gritos e... por tudo.

– Blair, não – solto, um tanto indignada – Não ouse se desculpar por isso, a culpa não é sua, foi a Dra. Andrea que te deu o soro, você não...

– Não, não estou me referindo a isso – corta ela – Me desculpem por não ter impedido meu pai de fazer isso com vocês, e por não ter dito a verdade desde o começo.

– O que você quer dizer, meu amor? – Pergunta carinhosamente Uriah.

– Não – diz ela, levantando o braço para afastar Uriah – Não chegue perto de mim, eu não mereço isso. A culpa disso é minha. Se não fosse pela minha ideia estúpida de tentar trazer alguém da morte vocês não estariam aqui! Fui eu quem tive essa ideia.

Fico paralisada, sem saber o que dizer. Na minha cabeça, não faz sentido algum o que Blair está dizendo – como isso poderia ser culpa dela?

Assim como eu, Uriah não diz nada. Blair parece estar tentando organizar os pensamentos para nos explicar direito o que quer dizer, portanto damos tempo a ela. Após um minuto, começamos a ouvir uma agitação fora da cela, e a garota começa a falar, se atropelando nas palavras, tentando cuspir o que tem a dizer o mais rápido possível:

– Eu não sei o que vão fazer comigo agora, mas vocês precisam saber que eu não falei tudo para vocês. Eu que tive a ideia de trazer divergentes à vida, e quando falei para o meu pai, ele imediatamente contatou o Dr. Richard e eles começaram a fazer pesquisas. Eu só soube depois que ele estava levando a ideia a sério, mas era tarde demais. Eu juro que tentei fazê-los parar – neste ponto da história, lágrimas começam a escorrer por seu rosto, e ela nem tenta limpá-las –, tentei até contatar a imprensa para divulgar o experimento que estão fazendo em vocês, mas papai descobriu e me mandou para cá também. O que estou tentando falar é: vocês estão aqui por culpa minha, e eu sinto tanto por isso... Me desculpem, se eu soubesse que isso iria acontecer, eu nunca teria falado nada para papai. Eu... – a porta abre e ela não tem a chance de terminar a frase. Dez homens entram empunhando armas e as apontando para Blair, enquanto a agarram pelos braços e a puxar para fora. Blair não tem tempo de dizer nada antes de sair.

Assim que a porta se fecha, ouço um tiro e o gemido de Blair quase ao mesmo tempo. E então o sangue começa a escorrer por baixo de nossa porta.

***

Andamos de volta até a casa, onde encontramos Tobias acordado e quase saindo para me procurar. Depois de acalmá-lo vamos comer, e então ficamos na sala assistindo à TV.

Assistimos a um filme muito antigo chamado Titanic, mas precisamos parar no meio, pois Kay entra e diz:

– Vocês podem ir para os quartos? Vamos receber uma visita inesperada...

– Por que não podemos ficar? – pergunto, desconfiada.

– É um líder aliado, não quer ser visto por ninguém que não seja eu ou Jack.

Dou de ombros, concordando. Nós três nos levantamos para sair, e andamos pelo corredor em direção aos quartos, até que Uriah segura meu ombro, fazendo-me parar. Olho para ele, que está duro como pedra. Paro também e entendo por que ele está assim. A voz.

–... um café, por favor – pede a voz feminina ao longe. Sinto um arrepio passar por todo o meu corpo e, sem ao menos pensar, volto para a sala sem dizer nada, mesmo com Tobias perguntando o que está acontecendo e Uriah tentando me puxar de volta.

Paro na entrada do corredor, de onde é possível ter a visão de toda a sala. Nem se eu quisesse poderia ignorar aqueles cabelos alaranjados no canto do sofá. Quando ela vira seus olhos castanhos para mim, só sussurro estupidamente:

– Blair?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então? O que acharam? Gostaram da Blair?

Pra quem não leu as notas do começo: Quantos capítulos vc quer que a fic tenha?
Respondam, é muito importante ↑

Eae, reviews? Favoritos? Recomendações? Estou aceitando recomendação, quem sabe eu não escreva mais rápido com uma? huehuehue
Mas sério, comentem me falando o que acharam, por favor. Sérião, eu tenho quase 60 acompanhamentos (É MTA GENTE, CARA *-*), espero que vcs mandem pelo menos uns 20 review. É justo, né? 20 é menos da metade das pessoas...

Vejo vcs nos comentários... Bjos >.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Chasing the Happy Ending" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.