Garota Desastre escrita por Principessa V


Capítulo 8
Quando o segundo sol chegar...


Notas iniciais do capítulo

Ragazzas



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— Ah, eu não tenho nada pra fazer. — Suspirei, me jogando no sofá.

— Por que você não vai limpar seu quarto? — Minha mãe perguntou, ela estava sentada no outro sofá, folheando uma revista.

— Eu estava me gabando, mamadi. — Falei e sorri. — A senhora não ia dar aula hoje?

— Ah, ia, ia sim, mas praticamente todas as meninas não iam poder ir, parece que elas vão à festa de aniversário do Rafael, então eu remarquei pra amanhã a aula. — Falou distraidamente e passou uma página.

— Ah. — Suspirei.

Me levantei e já ia subir pra dormir quando bateram na porta. Olhei para minha mãe e ela simplesmente apontou para a porta, sem nem me olhar. Bufei e atendi a porta. Duas garotas com cabelos divididos no meio, uma de cabelo cacheado e a outra com cabelo liso, blusas de botão e calça jeans folgada estavam ali, elas eram sorridentes e traziam um livro enorme na mão. Eu estava com um short de dormir e uma blusa pequena que mostrava minha barriga não malhada para o mundo, mas elas nem pareceram ligar.

— Boa tarde! — Falaram extremamente animadas. — A senhora teria alguns minutinhos? — Falou a do cabelo cacheado.

— Gostaríamos de falar um pouco sobre a vida de Jesus. — Completou a do cabelo liso.

— Ah... Não, eu não tenho tempo pra fofocas. — Falei e fechei a porta. Oras... Ir bater na casa dos outros por fofoca? Que coisa feia, e ainda ficaram com cara de quem comeu e vomitou.

Bateram na porta de novo. E eu estava pronta pra gritar com aquelas duas e manda-las para aquele lugar, mas quando eu abri a porta era nossa vizinha. Marina, mulherzinha detestável, mais magra que meu dedo mindinho e a melhor do melhor do mundo em ser insuportável.

Você. — Ela apontou aquele graveto que ela chama de dedo na minha cara. — Você matou o meu gato.

— Olha, dona, os rituais de sacrifícios de gatos são só em agosto, fui eu não. — Avisei logo, ela andava espalhando pela rua que eu e minha mãe fazíamos rituais só por que mamãe tinha as estatuas dos deuses dela e incensos e velas acesos o dia todo, e também por que tinha inveja das belezas que viviam nessa casa, que eu sei. — Apesar de que eu adoraria ter matado seu gato, ela fica sambando no forro de casa atrás dos ratos e morcegos.

— Ora, eu sei que foi você, semana passada Sidney Magal foi atingido por um despertador, perto do seu quintal, então eu o levei no veterinário pra operar e ele acabou morrendo. — Opa, ok, confesso que eu fiquei chateada, sinceramente.

Quer dizer, demorou uma semana? Como assim ele não morreu com o primeiro golpe? Ah, acho que eu estava perdendo a prática mesmo.

Apesar de que, se eu fosse um gato e meu nome fosse Sidney Magal, eu me jogaria na frente de todos os despertadores que aparecessem.

— Ah, sim, sim. Fui eu, mas foi sem querer. — Falei e dei de ombros.

— Ele era tudo que eu tinha, minha única companhia, e estava comigo a anos. — Os olhos dela começaram a ficar brilhantes e ela começou a chorar, foi aí que minha mãe resolveu aparecer na porta.

— Ahm... O que está acontecendo aqui? — Perguntou, confusa.

— A sua filha matou o meu gato. — Marina gritou, chorando. — Ela é um monstro. — E com isso a vassoura voltou pra casa dela, bateu um ventinho e eu jurei que ela ia começar a voar junto, mas não, e o que segurou ela no chão foi a roupa, que eu sei.

— Você matou o gato dela? — Mamãe perguntou, me olhando seriamente.

— Não intencionalmente. — Falei e dei de ombros.

— Bem, acredito em você, então tudo bem. — Ela falou e fechou a porta, voltando a se sentar, mas então levantou o olhar pra mim, feroz, até me arrepiei. — Mas se tivesse sido uma vaca você ficaria de castigo.

Mas gente...

Já estava indo me sentar, quando bateram de novo na porta. Olhei para o teto e quase arranquei meus cabelos, de raiva. Abri a porta e minha cara de bunda foi evidente até da lua.

— Oi, Nayana. — Era Fábio, ele parecia cansado. — Sua mãe tá aí?

Eu chutei a porta e ela se escancarou, mostrando minha mãe no sofá. Fabio se escorou na soleira da porta e deu um sorriso.

— Nathan pode dormir aqui hoje? Vou ter uma conferência que vai ser na cidade vizinha, provavelmente eu vá dormir por lá. — Explicou e passou a mão pela cabeça.

— Não pode, não. — Gritei.

— Pode sim. — Maya falou casualmente, Fábio pareceu nem ter me escutado.

— Ele vem pra cá depois do treino do time, tudo bem?

— Não! — Falei, sendo, novamente, ignorada pelos dois.

— Sim, sim, tudo bem. — Mamãe sorriu e Fábio foi embora, chutei a porta pra fechar.

— Bilauta, vai comprar arroz pra mim. — Era minha mãe, e ela não estava pedindo.

Abri a porta com força, calcei uma chinela e saí, com raiva demais pra pensar em algo legal pra dizer.

Caminhei sem perceber nada além do sol, que estava quente pra caralho. Gente, se já esta quente agora imagina só quando o segundo sol chegar... Cheguei ao mercado depois de um tempo refletindo sobre a possibilidade de nevar no Brasil caso todas as pessoas abrissem suas geladeiras e frízeres de todo o país ao mesmo tempo. Eu acho que daria certo.

Era um super mercado bem grande. Vendia muita coisa lá, mas tinha coisa que só por encomenda, tipo escravos, trafico humano, sabe? Eu sei, sempre quis ter um escravo também, só que eu queria um branco, mas eles eram caros.

— Nayana, você por aqui? — Patrícia, a mulher que trabalha no caixa falou ao me ver, mas então ela franziu o cenho. Eu até que gostava dela, geralmente ela era calada. — Por que você está vestida assim?

Olhei pra baixo e percebi que ainda estava com o short de dormir e a camisa curta. Hm... Eu estava sem calcinha por baixo do short que, por sorte, era azul escuro.

— Tava com pressa. — Respondi e apontei pras prateleiras. — Onde tem arroz?

— No terceiro corredor. — Ela sorriu e apontou, sabe, não é que eu seja burra e não saiba onde está, mas é que toda vez que venho aqui as coisas estão num lugar diferente. Eu só acho que as coisas se mexem por aqui, vai ver são os escravos comprados, nunca se sabe.

Peguei o arroz e uma barra de chocolate, por que eu acho que mereço. Fui até o caixa e Patrícia estava conversando com uma mulher morena e com uma voz fina, parecia que tinha acabado de ingerir gás hélio. Na verdade Patrícia, como sempre, só escutava enquanto os outros falavam.

— Juro, eu fiquei realmente muito constrangida... — A mulher balão falava.

— Quanto dá? — Perguntei, com minha cara de tédio e mostrei o que peguei para Patrícia. A mulher me olhou dos pés a cabeça, duas vezes, nada sutil.

— Você não concorda? — A mulher perguntou pra mim.

— Com o que?

— Que se, tipo assim, uma pessoa nunca confundiu uma pessoa na rua, ela não teve vida? Por que, tipo assim, todo mundo têm que passar por isso. — Ela explicou.

— Ah, na verdade não. Eu, por exemplo, finjo que não conheço as pessoas na rua, assim nunca me engano e nunca sou importunada. — Expliquei.

— Deu R$6,50. — Procurei nos bolsos... Aí lembrei que não tinha bolsos.

— Põe na conta, depois mamadi vem pagar. Tchau. — Me virei e fui embora.

Dessa vez estava prestando atenção no que acontecia ao meu redor, pelo menos assim eu podia esquecer que o sol me amava e estava me abraçando calorosamente. Passei por uma esquina e um enorme cartaz anunciava “Coma à vontade por R$9,90”, embaixo duas garotas estavam sentadas, comendo. Pelas duas, até que o preço estava justo.

Eu estava até soando. Soando. So-an-do. S-o-a-n-d-o. Eu odeio ficar soada, do fundo da minha alma, sinceramente. Já estava na metade do caminho quando alguém parou ao meu lado, de bicicleta. Era Lucas, ele sorriu pra mim e eu apenas levantei as sobrancelhas, mas parei de andar.

— Oi, Nay. — Lucas era o único, repito, o único, que ainda falava comigo vez ou outra, ainda assim era raro. — Por que está vestida assim?

— Por que não estou vestida de outro jeito. — Respondi e ele revirou os olhos.

— Então, os meninos me falaram que te viram no restaurante com um mauricinho... — Ah... Então era isso que eles queriam saber? Eu sorri docemente e fiz um olhar sonhador.

— Ah, sim, sim, é verdade, eu e ele estamos namorando. — Meu sorriso se abriu mais.

— Engraçado, não te imaginava namorando. — Lucas comentou, eu voltei a andar devagar e ele ia me seguindo na bicicleta.

— Nem eu, sabe... Ele era o maior pegador da escola, mas então, do nada, ele e eu nos apaixonamos. Eu sei que ele me ama, de verdade, mas... Se ele não me amar eu... Eu... Me mato. — Falei com a maior cara de tristeza que consegui fazer.

— Toma cuidado, Nay. Você é uma garota muito bonita, os garotos podem partir seu coração. — Lucas aconselhou e eu ergui a sobrancelha pra ele.

— Como você e os meninos fizeram comigo? — Joguei na cara mesmo, oras. Lucas arregalou um pouco os olhos e coçou a nuca, constrangido.

— Eu não tive essa...

— Corta o papo furado, beleza? História pra boi dormir nesse sol não. — O cortei e comecei a caminhar mais rápido, mas ainda assim ele me acompanhou, pensei seriamente em dar um empurrãozinho nele.

— Acho que eu já vou... — Avisou quando já estávamos quase chegando à minha casa.

— Eu sei, você tem o aniversário do Rafael hoje pra ir, certo? — Falei, indiferente, mas meu estômago esquentou. — Tenho certeza que será muito divertido, afinal eu não estarei lá pra atrapalhar. — Despejei tudo e entrei em casa, sem deixar que Lucas falasse mais alguma coisa.

— Você demorou, bilauta. — Mamadi comentou, mas ela ainda estava na mesma posição no sofá e, se duvidasse, ainda era a mesma revista.

— Eu sou abraçada pelo sol na rua e ela ainda reclama... — Resmunguei e tirei meu chocolate da sacola, jogando o arroz na mesinha.

Com minhas tarefas feitas, me encaminhei para o meu quarto, queria comer meu chocolate em paz, mas, como o mundo não gosta de me ver feliz, bateram na porta de novo. Eu até ia correr pro meu quarto, se mamãe não tivesse dito:

— Pode abrir. — Me conformei com o azar daquele dia.

— Só por curiosidade, enquanto eu estava fora alguém bateu na porta?

— Nem o vento. — Mamadi falou, ainda distraída. Batendo o pé eu abri a porta.

Qual não foi minha surpresa ao ver quem estava na porta. Sabe aqueles momentos em que o cérebro buga? E simplesmente para de funcionar? Aí você fica parecendo um peixe morto alguns segundos pra ver se seu cérebro consegue entender o que está vendo?

Isso acontece em algumas situações: quando você pega seu namorado te traindo; quando ele pega você traindo ele; quando encontra seus pais na cama fazendo terêtetê; quando seus amigos dizem que não querem mais falar com você; quando alguém querido morre; e o caso em que isso mais acontece é quando você vê, na sua porta, uma esquisita feito a Jennifer junto com um garoto do time feito Nathan. É pra destruir qualquer neurônio.

— Olá! — Jennifer gritou e se jogou em mim, me abraçando. Deixei meus braços penderem enquanto ela satisfazia a vontade dela de me tocar.

— Hey, Naja. — Nathan sorriu e coçou a nuca. — Estava no treino do time e Jennifer estava por lá, ela me escutou dizendo que vinha pra cá e...

— Então eu disse que você ia adorar se eu viesse pra cá com ele. — Jennifer berrou, feliz e me soltou.

— Jennifer, perfume é pra passar e não pra tomar. — Alertei.

Nathan foi entrando, assim como Jennifer, e os dois começaram a conversar com minha mãe. Revirei os olhos, bati a porta com o pé e subi, finalmente, para o meu quarto. Bati essa porta também e me joguei na cama, logo começando a comer meu chocolate, que já estava meio derretido por causa do calor, mas não tinham problema, eu podia lamber a embalagem.

Escutei o chuveiro ser ligado e, de repente, a porta do meu quarto foi escancarada. Era Jennifer.

— Nay, que quarto lindo, ele é bem exótico e esotérico, com todo esse vinho e roxo, e essas velas e estátuas bonitinhas. — Revirei meus olhos e fiz o que eu fazia de melhor, ignorei Jennifer. Mas a ruiva se sentou na minha cama, do meu lado. — Ei, por que não toma um banho e se arruma? Que tal se passearmos e comermos alguma coisa? Tudo por minha conta dessa vez. — Meus olhos brilharam, que eu sei.

Vou te falar uma coisa, quem diz que “eu te amo” é a melhor coisa que já escutou na vida, é por que nunca ouviu um “deixa que eu pago”.

— Olha, se você acha que pode me subornar com comida, fica sabendo que eu amo colinha de queijo. — Avisei logo, mas suspirei. — Tudo bem, eu vou, mas só por que você está insistindo muito. — Falei.

— Nathan vai com a gente. — A folgada solta isso assim, até jogada na minha cama ela estava.

— Ah, não... Poxa... — Reclamei. — Tanta gente legal pra levar... Tem um mendigo ali embaixo muito gente fina, ele consegue fumar pelo nariz, um cigarro em cada lado da narina, algo incrível. — Jennifer riu.

— Sabe, Nathan é lindo e tá aí, a sua disposição... — Ela começou e eu apenas dei meu olhar homicida. — Ok, tudo bem, não está mais aqui quem falou...

Percebi então que, pela primeira vez, eu via Jennifer vestida de forma normal. Pera, normal pra ela. A ruiva de caixa estava com um vestido verde escuro rodado, meia-calça branca e sapatos boneca preto, pra completar tinha um laço no cabelo e uma bolsinha de lado, preta. Me virei e procurei algo legal pra vestir.

Acabei escolhendo um vestido cor de vinho curto e com as costas nuas, só por que estava muito quente e uma sapatilha azul escura. Escutei a água do banheiro parar, peguei minha toalha e segui pra lá, abri a porta e percebi que era Nathan quem estava ali. E ele estava ali como veio ao mundo, com a cueca no caminho para cobrir “suas vergonhas”. E que vergonhas...

— Você realmente cresceu bastante, não é? — Comentei rindo.

— Qualquer dia desses te mostro o quanto. — Ele falou sorrindo e bateu a porta na minha cara.

Cinco minutos depois ele, finalmente, saiu do banheiro e o cheiro do perfume dele invadiu todo o meu sistema respiratório. Era um cheiro de... Hortelã, maçã e madeira recém-cortada. Eu admito só pra vocês que eu gostei do cheiro, mas só pra vocês mesmo, então não contem pra ninguém. Fiz a melhor cara de bunda que pude.

— Até que enfim, moça, achei que estava se depilando aí dentro. — Comentei azeda.

— Só estava ressaltando meu lado bom. — Ele piscou pra mim, saiu da passagem e indicou que eu entrasse.

— E qual seu lado bom? — Perguntei com escárnio enquanto entrava no bainheiro.

— Ora, todos... — Ele riu e fechou a porta pra mim.

Cocei minha testa e fui tomar banho.

☺☺☺

— Estou pronta, vamos logo antes que eu desista. — Jennifer se levantou de um pulo e veio até mim.

— Você está linda. — Elogiou, me olhando.

— Não estou, não. Eu sou linda. — Avisei e passei por ela, indo direto pra porta. — Tchau, mamadi.

— Tchau, bilauta. — Minha mãe gritou.

Nós três saímos e Jennifer tinha chamado um táxi.

Fomos para uma pizzaria não muito longe dali, onde Jennifer tinha reservado uma mesa ou algo assim. E quero logo dizer que eu sentia que não devia ter saído de casa, eu sabia disso e deveria ter seguido meu instinto. Mas nããããããããããão... Fui mesmo assim.

Ali, numa parte mais aberta, estavam os meninos e as alunas da mamãe, mas um pessoal. Todos comemorando o aniversário do Rafael.


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Notas finais do capítulo

Ooooooooooooonw, eu gostei desse capítulo. Sei que deve ser meio estranho uma autora dizer isso da própria história, mas eu gostei.
Enfim, ragazzas, me contem vocês o que acharam?
Nayana, como sempre, uma cavala :3
Tia Maya, esperta, ignorando a filha. Jennifer sendo Jennifer e Nathan sendo Nathan, apesar de eu achar que ele está melhorando :3
O que vocês acham que vai rolar no próximo capítulo, ein? Ai, ragazzas, me vou, nos vemos nos comentários, viu?
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