Survival Game: O Pesadelo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 4
03


Notas iniciais do capítulo

Sai mais um capitulo!



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Os flashes aumentavam cada vez mais. E isso me estressava a cada minuto que passa. Minha intenção era explodir na frente deles e expulsar todos eles. Mas daí não haveria entrevista. O mínimo que eu podia fazer era ficar na minha e esperar a Marni chegar, com todo aquele frufru.

Fui obrigado a ficar quieto e me recompor, mas os flashes me cegavam a qualquer momento. Várias perguntas foram feitas pelos jornalistas, blogueiros e paparazzis, o que me deixavam estressado; não me deram chances para falar. Mas eu iria explodir, se a Marni não chegasse a tempo, toda chiquérrima. O cabelo estava verde, em um tom pastel, todo adornado por um broche de orquídea lilás. Até que combina perfeitamente.

– Ah, sr. Holger! - diz ela, toda carinhosa, estendendo os braços para me abraçar. Eu passei a ficar do seu tamanho, se não fosse pelo salto alto. Ela deve ser baixinha sem ele.

– Marni Gaertner! - e eu a abracei. - Como você está?

– Ah, perfeitamente bem, meu caro. - ela tinha o cheiro característico de alfazema no casaco 7/8. - Houve uma mudança de plano sobre a entrevista. Já tomamos a decisão e você e a sua amada poderão ser entrevistados juntos.

A minha amada? Anne. Meus olhos esbugalharam. Suspiro de alívio ao saber da mudança de plano. Por essa eu não esperava, mas eu queria que houvesse mudanças de plano da entrevista, para sermos entrevistados juntos, como um verdadeiro casal. Anne poderia vir na minha nova casa ou talvez eu ir na dela. Tanto faz.

– É bem assim - ela começa a explicar. - entrevistar cada um, sendo que os dois moram em suas casas, seria muito exaustivo, portanto, a mudança de plano foi efetuada e deve funcionar. E a audiência no último reality aumentou por causa do romance dos dois, que foi muito emocionante.

O beijo debaixo d'água, penso. Depois que cheguei em casa, depois da viagem, o assunto não morre; ninguém da vizinhança e de Munique inteira não se atualizava na Guerra que dilacerava os soldados dos dois times antagônicos: Tríplice Eixo, que formam a Alemanha, a Nova Iugoslávia (Montenegro, Sérvia, Kosovo e Macedônia) e a China; contra a Tríplice Aliança, que envolve o Brasil, a Inglaterra e a Rússia. Ouvi dizer que a Nova Iugoslávia foi formada por quatro países que pertenciam à antiga Iugoslávia, que se desintegrou no fim da Guerra Fria. Com a ditadura totalitária que se instalou na Sérvia, o país reivindicou o território do Kosovo, que era um país recentemente independente, e anexou a Macedónia e Montenegro, formando a Nova Iugoslávia em junho de 2027, ano em que nasci, mas no mês de março.

Senti um pouco de frio na barriga. Mas uma pontada de alegria percorre o meu corpo.

– Então eu posso dar a notícia para a Anne. - me sobressaltei, quando Marni pós a mão no meu braço para me acalmar.

– Mas não sem antes de irmos para a casa dela. - completa com um sorriso estampado na cara maquiada. Os seus dentes brancos à base de clareamento me dá uma sensação não muito familiar, do tipo um sorriso postiço na cara. Mas o dela é verdadeiro; Marni sempre sorri nas telas. - Vamos, precisamos avisar a ela de que...

Antes que Marni pudesse completar a frase, nem esperava de que a Anne propriamente dita pudesse vir para cá.

– Olá, senhorita! - falo para a Anne de soslaio, com um tom lisonjeiro.

– Já cheguei, Richie. - Anne vem sorrindo e ela se encurva para me beijar. Marni fica lisonjeada, como se estivesse amando o nosso romance. Digo, achando isso um romântico romance açucarado. Anne continua: - Um jornalista me contou sobre a mudança de plano da entrevista. Seremos entrevistados juntos, não é mesmo?

Marni e eu assentimos.

– E não é que ficaria bom? - perguntou, cruzando os dedos rente ao queixo, enquanto vira o rosto para cada um de nós. - O casal de vencedores do reality sendo entrevistado na mesma hora, só para não chatear os fãs?

Nós sacudimos as cabeças. Poderia não chatear os fãs, mas acirraria o assedio de cada um deles, penso. Anne deve pensar o mesmo que eu, a meu ver do seu semblante. Marni continua:

– Então, vamos nessa! A entrevista está começando. - e aponta para a equipe de filmagem para nos escoltarmos. - Muito bem, pessoal! Vamos direto para fora, bem na fachada da casa do sr. Holger... - e parou para hesitar na escolha. - ... Ou na fachada da casa da srta. Zimmer?

Olhei de soslaio para Anne. Ela deu de ombros. Por mim estaria tudo bem. A entrevista é por conta da apresentadora. Por fim, voltei a olhar para Marni.

– Tanto faz. - falo. Ela assentiu.

– Muito bem - ela decidiu, pronta para pegar no batente. - Vai ser na fachada da casa da srta. Zimmer, para não parecermos machistas. Desculpe, se ofendi.

– Não ofendeu, não, senhora. - balbuciou o meu pai, completando com um sorriso na cara. A minha mãe foi cortês. Elise ficou indiferente. Mas não me importo. Depois, ele pôs a mão sobre o meu ombro e faz cócegas no meu ouvido com o seu sussurro: - boa sorte, filho. É apenas uma entrevista como qualquer outra.

Eu me lembro das suas palavras antes de eu ir para a escola, no Dia da Seleção. Senti como se fosse a última vez que posso vê-los. Aquele reality dilacerou, aos poucos os vencedores, devido à agressão, tanto física, quanto psicológica. Mas aprendi que a agressão psicológica é o mal de todos nós. Podemos ter pesadelos quase todos os dias ou alucinações. Já tenho idade o suficiente para tomar cerveja; aqui em Munique, a cerveja nunca falta.

– Obrigado pai. - é tudo que posso dizer, retribuindo o toque.

Logo depois, Marni pediu que a equipe nos escoltassem até a fachada da casa da Anne. Marni foi na frente. A equipe preparava as câmeras, os microfones e as técnicas em geral, para enfatizar a imagem dos dois vencedores. Quando passamos pela soleira da porta, me dei conta de que havia esquecido o meu gorro, mas deixo rolar a vida por si.

Anne aperta a minha mão com força, lado a lado. Sinto o meu nariz congelar no frio, que até posso sentir dor nas narinas ao respirar. Marni nos indica o local para a filmagem, onde a fachada da casa da Anne tem um parapeito da janela principal florido de tulipas laranjas.

– É uma homenagem à minha avó materna - Anne afirma, antes que Marni perguntasse. - Ela era holandesa.

O sr. Holländer também tinha uma série de espécies de tulipas, das mais variadas cores e formas. Sempre admirei tulipas, assim como crisântemos. Eles são os preferidos da minha mãe. Mordo o canto interno da bochecha e me posiciono ao lado da Anne. Enquanto dois técnicos preparam as câmeras para a filmagem e o microfone no alto, uma fotógrafa esbelta, morena de olhos azuis, se oferece para tirar a nossa foto.

– Por favor, será que poderiam se juntar para uma foto? - pergunta, enquanto nos posicionávamos conforme o que ela disse. Discretamente, eu passo a mão na cintura da Anne e a puxo consigo. A fotógrafa concordou satisfeita. - Isso, isso, beleza! Agora sorriam!

Tento forçar o meu sorriso, mostrando os meus dentes. Anne faz a mesma coisa, só que encosta a cabeça no meu pescoço envolto pelo cachecol. A ouço sussurrar entre dentes uma palavra, sem distinção:

– Danado!

Aquilo não foi uma ofensa, mas uma surpresa e pura admiração. Também lhe sussurrei entre dentes:

– Calma, eu sei o que estou fazendo. Está no pacote. - por pouco não fracasso na foto, quando a fotógrafa tirou, emitindo um flash. Eu ficaria esquisito, estranho. O fato de eu segurar a cintura da Anne e puxá-la consigo está nos moldes do pacote da entrevista e da turnê. Portanto, ela não precisaria se preocupar com isso. Mas eu já estou meio embaraçado com esse negócio.

– Pronto! - a fotografa arquejou, satisfeita com o trabalho realizado. - Perfeito!

Depois, ela voltou para o seu lugar, quando as filmagens começaram. Marni se posicionou ao meu lado, arrumando o seu cabelo e estalando as juntas. Quando o diretor da equipe começou a contagem regressiva pelo alto-falante, o supervisor segurou o claquete e o fechou.

– Em 5... 4... 3... 2... 1... GRAVANDO!

Marni pegou o microfone e começou a falar diante da câmera:

– Olá, Alemanha! Bom dia! Estamos aqui, ao vivo, em Munique, com o casal vencedor da 64ª edição de Survival Game, Heinrich Holger e Anne Zimmer. O nosso querido casal conquistou os corações dos alemães com a sua bravura, inteligência, criatividade e com o amor do sr. Holger pela srta. Zimmer. E enfim, lá vamos nós! - e a câmera se aproximou dela. - Tem alguém aí em casa ou em algum lugar, surtando de alegria?

Uma longa pausa durou poucos minutos. Durante este momento, senti um leve frio na barriga. Estou nervoso e nem vejo a hora dessa entrevista acabar. No momento em que Marni mencionou "com o amor do sr. Holger pela srta. Zimmer", me lembrei do primeiro beijo debaixo d'água e da primeira noite com a Anne. E estava ciente de que a audiência aumentou nos últimos dias do reality. E as fãs ficaram loucas com isso.

– Pois se tiverem - Marni continuou. - podem ficar tranqüilos ou se estiverem em casa, podem se agarrar à almofada para acalmar a ansidedade. Eu sei que vão ficar muito excitados com as novidades e polêmicas, então, lá vamos nós! - e virando o corpo para nós, a câmera fez o mesmo, começando as perguntas. - Sr. Holger, como se sente depois de um período dentro da Floresta Negra? Conte para a gente.

Minhas mãos suaram frio, embora estivessem enluvadas. Para conter a ansiedade, cruzei os dedos e respirei fundo.

– Para ser sincero - comecei. - foi bem difícil, no começo. Primeiro, fui marcado para morrer, porque acidentalmente acertei uma faca que passou raspando o braço de um cara; - de repente me lembrei de Lorne, o "cara" que era o meu inimigo me salvou de uma psicopata, na qual era a sua companheira de cidade, Berlim. Só de lembrar dele, senti um profundo pesar. - segundo, consegui uma aliança com um grupo de rapazes, no qual vivemos aventuras e desventuras; e terceiro, enfrentei altos e baixos para salvar a garota que eu amo.

– E ao mesmo tempo - Anne acrescentou, quando Marni inclinou o microfone para a sua direção. - me aliei ao bando opositor para salvá-lo e, depois de um longo dia de exaustão e assassinatos, um garoto tentou tomar coragem para dizer o que sentia por mim. E eu já sabia de tudo, desde a escola, bem antes do Dia da Seleção.

– Hum... - Marni expressava satisfação na cara. - Uma estratégia bem bolada! E então, como cada um conseguiu passar por vários obstáculos em que lhes foram impostos no reality?

– Para mim - Anne comentou, com o tom suave. - os obstáculos foram bem difíceis. Primeiro, o rio e a cachoeira, em que salvei o Richie e seus amigos da morte; segundo, o mais difícil foi no momento em que Heinrich havia sido baleado no braço, eu até pensei que a "cirurgia" - ela fez o sinal de aspas com o dedo indicador e o médio em cada mão. - improvisada fosse matá-lo, mas tive que remover a bala, com mais dois sobreviventes como enfermeiros. Mas o terceiro...

Ela parou um pouco. Eu também pensava no terceiro obstáculo, o das bombas, no qual Lorne teve um infarte fulminante, depois que eu atirei na bomba. Até hoje tenho pesadelos com isso. E ainda posso sentir o Lorne dentro de mim, falando:

Vai, Heinrich, sei que você consegue.

Foi no momento em que eu estava quase atirando em Lorne, mas não queria matá-lo, assim como nunca queria matar ninguém. Mas o reality me forçou a isso. Voltei à realidade, quando a Anne mencionou o que eu estava pensando:

– O terceiro quase nos matou, mas as bombas levaram um amigo leal naquele ultimo dia. Lorne salvou a nós dois. Se não fosse por ele, eu estaria morta, assassinada por Frieda Ronan.

– Oh, muito lindo! - Marni levou a mão ao peito, emotiva por assim dizer. - Nos últimos dias, a Alemanha inteira não fala em outro assunto, a não ser no beijo subaquático dos dois. Como foi a reação, depois disso?

Mordisquei o lábio. Ainda me lembro do embaraço, quando emergimos de volta à superfície. A Anne, sentindo a minha boca na dela e eu, vice-versa.

– Até que foi meio que embaraçoso. - afirmou Anne. - Mas, a partir do momento, em que eu enfaixava o braço ferido de Heinrich e depois, dentro d'água, na hora em que ele me beijou, senti que nada estava me incomodando. Era só ele e eu juntos.

Corei. Umedeci o lábio. Eu sabia que ela tinha gostado daquilo. E pensar que eu esperei todos esses anos que ela estivesse ciente de que eu estava apaixonado e ela já sabia de tudo. E não me contou.

Ela já sabia e não me contou.

Só na hora de me beijar e na hora de corrermos pela sobrevivência no reality.


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Notas finais do capítulo

E aí? Comentem, critiquem, favoritos, tanto faz.
Bjos da Cat ❤



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