Survival Game: O Pesadelo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 5
04


Notas iniciais do capítulo

Aí galera,
Foi mal a enrolaçao, é que só decidi colocar a parte em que eles estarão na turne no próximo capitulo, pra a leitura desse não ficar do tipo cansativo, ok?

Prometo que o próximo vai ser no momento da viagem deles, ok?

Bjos da Cat ❤



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Dez minutos se passaram, depois que a entrevista terminou. Tudo deu certo, seguimos conforme as instruções de Marni. Enquanto a minha mãe serve uma xícara de chocolate quente com cookies de chocolate para a apresentadora, que conversava com o meu pai, a respeito da nossa turnê pela Alemanha, pedi permissão a ela para acompanhar a Anne até a casa dela. Minha mãe fez que sim com a cabeça. Peguei o cachecol sem enrolar no pescoço, envolvendo apenas a nuca e saí com ela.

O frio começou a diminuir um pouco. Mas o clima continua ameno. Terminei a entrevista com um sorriso charmoso e característico. Anne continuava na sua, mas de vez em quando sorria. Assim que chegamos na frente da casa da sua tia (a casa com as tulipas laranjas da avó materna), ela teve uma coisa que aparenta ser receio.

– Amanhã é a nossa turnê. - comenta. Eu assinto.

– Eu nem imagino como vamos ser recebidos, sendo que matamos os seus filhos. - pondero, com um nó na garganta.

Imagino dar de cara com os pais de Lorne e de Frieda. Garanto que eles estejam bem desolados, capazes de nos julgar por suas mortes. Mas os de Lorne serão gratos pela minha nobreza em coração. Me lembro do último dia em que estive no reality, enquanto as bombas lançadas pelo avião exclusivo do programa pairavam no ar, com a finalidade em matar um dos rapazes ali. Anne era a única sobrevivente. Estava imune às bombas. Apenas eu e Lorne estávamos condenados a morrer. Um de nós deveria morrer.

Ele pediu para que o matasse. Ele queria que eu ganhasse. Ele admitiu os seus erros naquele exato momento. Ele nos salvou do surto de assassinato da Frieda. Ele me perdoou por aquele arranhão acidental, quando estávamos no treino antes do reality. Ele finalmente percebeu tudo aquilo. Ele acordou do seus devaneios. Mas eu não queria matá-lo. Não queria matar ninguém. Mas o programa me forçou a isso. Forçou a todos nós. Fico traumatizado com a sua morte, até hoje. Geralmente sonho com o Lorne, arriscando a sua pele para salvar a mim e a Anne.

Coço a nuca. Minhas mãos começaram a doer de tanto estar geladas, eu não trouxe luvas. Assim que Anne percebe a minha preocupação, ela começa a me entender.

– Eu entendo o que você esteja assim. - afirmou, como se estivesse adivinhando o que eu estava pensando. - É por causa do reality, não é?

– Não - minto, apesar de estar pensando no que rolou no reality. - Não é bem assim.

Mas ela parece não acreditar em mim.

– Eu sei quando uma pessoa está mentindo. - ela me olha nos olhos, mas prendo o sorriso com esforço. - Basta só olhar nos olhos, caso sua pupila tremer e a pessoa não se mostrar séria...

Mas tive que confessar.

– Tá bom, eu me entrego. - brinco, cedendo à sua suspeita. - Estou me lembrando do reality, mas... - comecei a ter pesadelos com as mortes que aumentavam a audiência, mas o beijo subaquático nos tornou famosos. Eu sabia o que ia perguntar, mas estava com receios. Minhas mãos suavam frio. - você tem pesadelos durante à noite?

Me senti mal em ter feito esta pergunta. Não que a Anne pudesse me dar sermão, mas sim, pelo meu receio, depois do período em que passamos dentro do reality.

– Tenho, geralmente. - Anne retruca, balbuciando. - Mas aquilo só aumentou ainda mais a minha insegurança. A desolação que senti, depois que recebi a notícia da trágica morte dos meus pais. Eu era criança na época. Foi a partir daí, que comecei a odiar Hitler II por causa disso. Lembra do que eu disse, na noite antes de entrarmos no reality?

Sacudo a cabeça. Lembro que de suas palavras na noite, sobre o seu ódio sobre o führer. Senti sua tristeza. Fiquei com pena. Na mesma noite, quase chorei ao pensar nisso.

– Pois é - continua. - se eu ao menos tentar mudar, posso ver até que ponto Hitler II chega.

Mordo o beiço. Até que ponto ele chega, reflito. Pelo menos, eu posso vê-la mudar. Anne virou uma revolucionária em segredo.

– Heinrich, será que eu posso aproveitar? - ela indaga, ao tocar no cachecol e me puxar aos poucos para si.

– Fica por sua conta. - retruque, sabendo que ela ia me beijar.

Passo a mão em sua cintura, puxando ao meu corpo, enquanto ela me puxa pelo cachecol. Nosso lábios estava quase se tocando, quando uma garota que passava de bicicleta gritou "gatão!" para mim. Fui pego de supresa, quando acidentalmente mordo o lábio inferior da Anne.

– Ai! - ela grita de dor.

– Opa - tento desfazer o estrago, sem me dar conta de não ter mais como consertar. Seu lábio começava a sangrar pouco, no local onde mordi. - Foi mal, Anne. É que uma garota gritou para mim do nada.

Enquanto ela passava a mão na ferida, tentando estancar o sangramento, eu ficava corado de constrangimento.

– Tudo bem, Heinrich - diz ela, enquanto via o sangue no dedo e o pôs novamente para conter o ferimento. - Tudo bem. Os meus pais fizeram a mesma coisa, na primeira vez em que iam se beijar.

– Os meus também. - balbucio, tentando disfarçar o riso. Arqueio uma das sobrancelhas. - Devemos tentar de novo?

Anne hesita. Mas eu me preocupo com a ferida que causei no seu lábio, mas a culpa foi da garota da bicicleta que tirou a minha atenção. Logo agora que posso ver o filete de sangue sair do lábio.

– Uma outra hora - ela retruca, ainda hesitando. - talvez. Até o meu lábio melhorar.

Isso me fez sentir ainda mais culpado. Minhas mãos continuam soando frio. Mordi o lábio inferior.

– Tudo bem, então. - deixei rolar, enquanto saía. - Mas mesmo assim, foi mal pela mordida.

– Não tem problema. - ela sorriu, ao me beijar na bochecha fria. Por causa disso, eu corei de timidez. - Mas tenho certeza de que ele estará melhor, ou não.

Nós dois rimos. Amanhã é a viagem. Enfim, estaremos juntos, enfrentando a multidão das cidades leais ao Survival Game. Só de pensar nisso, sinto o sangue congelar. Tudo mudou de repente. Passei a morar em um bairro de classe média alta dos arianos, minha família e eu e a da Anne deixaram de ser judeus e se integraram na sociedade. Tudo mudou.

Então, nós dois nos despedimos um do outro, por meio de abraços afagados. Depois, cada um seguiu o seu rumo. Nem pensei em enrolar o cachecol no pescoço. Aliás, de que adianta, se eu já estou voltando para casa? Não há necessidade. Quando estou a um passo do hall de entrada da casa, a equipe se prepara para sair. Marni estava acompanhada de dois jornalistas que seguiam atrás, quando ela me abordou.

– Conversei com o seu pai. - ela me contou, pousando a mão então enluvada sobre o meu ombro direito. - Amanhã, ao meio-dia em ponto, na estação ferroviária, onde na primeira plataforma, há um trem exclusivo para vocês.

Um trem exclusivo? Meu pensamento veio à tona com o "exclusivo". Um trem só para nós. Imagino que a plataforma seja só nossa.

– Vejo vocês até lá, ok? - ela me beijou na minha bochecha gelada. - Nos vemos amanhã. Eu preciso falar com a mãe da Anne.

– Na verdade, é tia dela. - corrigi, embaraçado. - Anne perdeu os pais quando tinha onze anos.

Senti uma pontada de culpa em mim. Comecei a me lembrar daquela noite em que nós dois conversamos, ao lado da enorme janela, na véspera do reality. Mas ainda me lembro do seu segredo. Mas nem sonho em mencionar.

– Ah, meu Deus - Marni levou a mão à boca. - O que houve com eles?

Cada vez que ela pergunta, eu sinto ainda mais culpado.

– Foi um acidente que os matou. Um naufrágio. - retruco, mas reluto em fornecer os detalhes para não me sentir ainda mais culpado.

– Eu sinto muito, eu não devia ter falado. - consente, ao tentar se desculpar.

– Não, não precisa se desculpar. Afinal, você não sabia.

– Oh, tudo bem. - depois, me beijou mais uma vez, só que na outra bochecha. - Bem, vou conversar com a tia dela, viu? Cuide-se bem.

– Pode deixar, por minha conta. - com uma piscadela em um dos olhos, esbocei um sorriso e entrei em casa.

Pendurei o cachecol e o agasalho no cabide do hall de entrada e fui logo me dirigindo ao meu quarto, quando o meu pai gritou:

– Ao meio-dia em ponto, na estação ferroviária!

– Já sei, pai. - continuei a andar. - Marni me avisou.

Fechei a porta do meu quarto. Suspirei um pouco e me joguei na cama. Ainda sinto uma pontada de culpa por ter falado sobre a morte dos pais de Anne. A minha grande amiga e, sobretudo, namorada. Ela só não sabia corresponder antes ao meu amor. Mas ela já entendia.

Meus olhos se voltam para a janela, onde o céu está predominantemente nublado. Alguns flocos de neve começam a cair. Fico pensando na viagem de amanhã, sobre como vamos ser recebidos por aqueles que amavam os participantes mortos. Sobre a Sophia, os pais ficarão consolados pela sua triste morte, depois que ela ingeriu os mirtilos manchados, sem querer. Ela passou o tempo todo sozinha, procurando sobreviver pela floresta. Pude ver a cara que Hermann fez ao olhar para Sophia, quando ela nos alertou sobre os marimbondos teleguiados. Eles foram colegas de classe, todos mortos. Mortos, não. Em outro lugar.

Em outro lugar, pondero.


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