O Canto da Fénix Negra escrita por Morgana Bauer


Capítulo 4
Memórias: Pedaços da Alma


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o quarto capítulo. Espero que gostem e deixem a vossa opinião.



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Capitulo IV

Memórias: Pedaços da Alma

Sentado numa poltrona nos seus aposentos, Severus Snape tentava colocar em ordem os seus pensamentos. As descobertas que havia feito nos últimos dias bailavam-lhe na mente, sobrepondo-se umas às outras e impedindo-o de pensar com clareza.

Draco, seu afilhado, era uma das peças fulcrais no plano de Dumbledore para resgatar um dos seus antigos rivais de escola do além-véu; o seu outro antigo rival reaparecera inexplicavelmente do além-túmulo; e Lily, a mulher que mais amara em toda a sua vida, regressara também. Não que isso fosse mau! Pelo contrário.

A culpa que sempre carregara por ter sido o responsável indirecto pela morte dela, era algo que o consumia dia após dia. Poppy Pomfrey tinha razão quando o chamava de sádico! Ele gostava da dor porque a dor atenuava o seu sentimento de culpa.

Protegera o filho dela com todas as suas capacidades, mesmo que quando olhasse para ele fosse James quem visse. Protegera-o, mesmo sabendo que a culpa o consumiria sempre que olhasse nos olhos do garoto.

Agora ela estava viva! E ele ainda nem sequer considerara a hipótese de a ir ver. Estava para ali, perdido em pensamentos. A tristeza de saber que ela nunca o perdoaria sobrepôs-se à alegria dela estar de volta.


-E já só faltam duas semanas para voltarmos para a escola! – Disse Ron num tom que podia ser entendido como quase um lamento, enquanto saia para o jardim de sua casa com Harry e Hermione.

-É verdade! – No semblante de Harry os amigos puderam aperceber-se de que algo se passava.

-O que é que se passa Harry? – Hermione questionou o amigo.

-Não é nada!

-Desembucha! Há algo que te está a deixar assim. Esqueces-te que nós já te conhecemos há muito tempo. – Disse Ron encarando o amigo.

O moreno sorriu. Não quisera contar aos amigos aquilo que estava a passar pela sua mente porque, achara que não os devia preocupar com algo que naquele eram apenas suposições, mas agora, com o regressar a Hogwarts não conseguia mais esconder que algo o inquietava.

-Muito bem, eu conto! – Fez uma pausa enquanto olhava em seu redor para perceber se não estavam a ser escutados. – É por causa daquele assunto que eu vos falei no final do ano passado, acerca de o Dumbledore suspeitar que Voldemort estava a preparar algum plano em grande.

-É verdade, mas nunca nos chegaste a contar bem isso, nem porque motivo é que ele ponderava essa hipótese! – Na memória de Hermione ainda estava presente a conversa rápida que haviam tido depois da batalha na escola. Naquela altura, ela e Ron haviam tentado que o amigo lhes dissesse o que se passava, mas ele tinha recusado.

-Segundo Dumbledore, o ataque que Voldemort fez a Hogwarts não foi feito com todo o poder que ele tem. O Dumbledore acha que pode ter sido só uma manobra de distracção para outra coisa.

-Aquilo não foi todo o poder de Voldemort! – Exclamou Ron encarando os amigos. – Mas aquele exército era…

- Eu sei! Também tive essa reacção quando ele me disse isto. Mas ao que parece, Voldemort conta agora com muitos mais aliados do que aqueles que mostrou!

-Então o director acha que Voldemort está preparar qualquer coisa para breve! – A rapariga presente rapidamente deduziu qual o real motivo da preocupação do amigo.

-Sim! E eu acho que ele está a planear algo que envolva a Escola. Afinal de contas, aquele foi o único lugar que nunca, nem mesmo nos seus tempos áureos, ele conseguiu dominar!

-Bem, - Disse Ron olhando para o horizonte – parece que ainda não é este ano que nós vamos ter um ano normal!

Face a este comentário do ruivo, os três relaxaram um pouco. No entanto, naquelas palavras simples ditas em tom de gozo estava uma grande verdade: enquanto Voldemort não fosse derrotado, eles nunca teriam uma vida normal!


Uma coruja castanha cruzou os céus enquanto se dirigia ao seu destino: o castelo de Hogwarts. Presa à sua pata levava uma mensagem que marcaria a diferença na vida de muita gente.

A carta que carregava estava dirigida a Severus Snape, e era uma mensagem urgente. Por isso, a coruja não descansou enquanto não cumpriu a tarefa que lhe havia sido confiada.


“Maldita coruja! Mas porque é que não pode ser como todas as corujas normais e esperar pela hora da entrega do correio?” Severus pensou para consigo próprio, enquanto caminhava irritado pelos longos corredores da escola. “Deve ser mais uma dessas corujas idiotas com o jornal. Só sabem é estorvar. Malditos animaizinhos penugentos!”

Tinha trabalho para fazer, muito trabalho. Tinha de preparar a recepção para os alunos da sua casa, agora que as aulas estavam prestes a começar. E a maldita coruja que não o deixava em paz!

Por fim resolveu ver o que ela queria. Talvez dessa forma pudesse trabalhar em sossego!

A missiva era, no entanto, muito diferente daquilo que ele esperava. Não se tratava de publicidade irritante nem de nenhum daqueles jornais incomodativos que só sabiam publicar meias verdades e mentiras, mas sim de uma carta de Draco.

“Carta! Como se isto se pudesse chamar de carta.” Na mensagem que Severus tinha nas mãos podia ler-se:

Precisamos de falar! No sítio do costume, à hora que você sabe.

D.M.”

O professor estava de facto preocupado com o afilhado. A última vez que havia tido notícias dele fora pouco antes deste ter fugido de casa.

Sim, de facto Severus estava a par das intenções de Draco de abandonar o lar. Enquanto se encaminhava para os seus aposentos, ia relembrando o dia em que fizera essa descoberta.

Fora após uma das muitas reuniões em que o Lord se mostrara particularmente violento. Todo o seu corpo lhe doía devido às punições que recebera. Tinha sido punido por não ter informações valiosas, e também porque aquele louco quisera ter a certeza de que, embora trabalhando com o inimigo, ele sabia quem era o seu verdadeiro mestre.

Chegou ao seu gabinete e atirou-se sobre uma poltrona.

Lembrava-se bem de como Draco havia ido em seu auxílio, às escondidas de todos. Questionara o rapaz acerca dos motivos que o tinham levado a fazer aquilo uma vez que aquela não era uma atitude normal nele. Embora na altura o jovem se tivesse recusado a contar-lhe, o professor e espião fizera uso das suas habilidades de Legilimante.

Entrara na mente do afilhado e vira a verdade: Draco sentia-se repugnado com tudo aquilo que era obrigado a passar; sentia vontade de fugir. Ao aperceber-se que o padrinho estava a ler a sua mente, Draco pensou no pior. E Severus pôde ver isso. O jovem esperava ser enfeitiçado e levado ao pai!

Snape não fizera nada disso e mandara-o para o quarto. Fora prontamente obedecido, mas ele não esperava outra coisa. No dia seguinte voltara à Mansão Malfoy e pedira para falar com ele: durante a noite havia tomado uma importante decisão.

Severus olhou em redor no seu gabinete procurando por alguma bebida. Por fim encontrou uma garrafa de Firewhisky que estava pela metade. Não seria o suficiente para se embebedar, mas pelo menos atenuar-lhe-ia aquela dor que trazia sempre no seu peito.

Enterrou-se de novo na poltrona, agora com a garrafa na mão. Não havia a necessidade de procurar por um copo, já que pretendia beber todo aquele líquido que lhe permitiria acalmar um pouco.

Depois de beber dois grandes tragos de bebida, voltou a deixar-se levar pela sua mente. A memória daquela conversa estava-lhe bem presente; nela recebera uma notícia que o espantara como há muitos anos não acontecia.

Entrara no quarto. As cortinas estavam cerradas e quase todas as luzes apagadas. Apenas uma fraca luz a um canto lhe dava a indicação de que Draco estava presente. Caminhara até ele e surpreendera-se com o estado do garoto: os seus olhos estavam vermelhos o que o levou a suspeitar de que ele havia estado a chorar.

-Draco, precisamos de falar. – O seu tom era o mesmo que utilizava nas aulas com os seus alunos. O jovem encarara-o com um olhar perdido e Severus mandou-o segui-lo.

Caminharam juntos até aos imponentes jardins da Mansão. Eles estavam lindos, todos floridos.

-Porque é que me está a trazer para aqui? – Perguntou Draco desconfiado das intenções do mais velho.

Severus retraiu-se interiormente. Apercebeu-se naquele momento que desconhecia completamente aquele jovem. Sabia que estava na natureza de um Slytherin ser desconfiado, mas questionar as intenções do próprio padrinho…

-Precisamos de ter uma conversa muito séria! E penso que tu saibas o motivo. – Disse o homem de forma clara. – Vamos aparatar os dois. Aqui não é seguro conversarmos.

O mais novo ainda tentara protestar, mas Severus agarrou-lhe com força no braço impedindo-o de se mover.

O sítio que Severus escolhera para ter aquela conversa era um pequeno bar muggle num dos recantos de Londres. Sabia que nenhum bruxo os surpreenderia ali.

-Há quanto tempo, Draco? Há quanto tempo é que pretendes fugir de casa?

O jovem não disse nada, mas baixou o olhar.

-Presumo que o teu pai não faça ideia desses teus planos, certo? – Não obteve resposta e como tal decidiu mudar a sua abordagem. Adquirindo um tom mais duro disse. – Eu estou a falar contigo por isso responde-me! O teu pai desconfia ou não destes teus planos?

O jovem abanou a cabeça.

-Eu disse que queria que me respondesses. Que eu saiba não tens nenhum problema de voz que te impeça de fazer isso. Por isso eu vou repetir: o teu pai sabe ou não?

-Não! Não, ele não sabe. Porquê? Acha que ele me protegeria se soubesse? Acha que ele não me entregaria ao Lord? – Estas palavras foram ditas num tom amargo. – Acha que ele me iria ajudar se soubesse a repulsa que sinto quando o vejo a torturar outras pessoas? Se soubesse que tornar-me Death Eater é a última coisa que eu quero da vida?

-Desde quando é que pensas assim? – Esta dúvida inquietava-o desde o dia anterior.

-Não tenho a certeza! Talvez desde que o Lord voltou. Eu… eu… quando vi aquilo que ele fazia àquelas pessoas não consegui…

-E como é que o Lucius não descobriu?

-Ele está demasiado ocupado para se preocupar comigo. Desde que eu não lhe levante problemas ele também não se preocupa comigo! – “De novo aquele tom magoado!” Pensou Severus.

-Mais cedo ou mais tarde o teu pai vai descobrir! Sabes disso, não sabes? – Severus iria ajudá-lo mas antes queria saber o que ele lhe responderia. – Nessa altura o que é que vais fazer?

De novo não obteve resposta.

-Responde-me quando estou a falar contigo!

-Não sei! Não faço ideia. Aquilo que sei é que já não aguento mais tudo isto. Eu tento esconder do meu pai, mas… - Parou para ponderar qualquer coisa durante uns instantes e depois perguntou – Vai contar-lhe? Vai dizer-lhe que eu quero fugir?

-Eu podia fazer isso sabes! – Severus viu o jovem empalidecer. – Mas não o vou fazer!

-Não?! – O tom de desconfiança não passou despercebido ao professor.

-Não, eu não o vou fazer! Draco, tu és meu afilhado! É meu dever proteger-te e é isso que eu vou fazer.

-Vais ajudar-me a fugir de casa? – Um quê de esperança notava-se agora na voz do mais novo.

-Por enquanto isso é muito arriscado! Temos de ter calma e de arranjar um plano! Entretanto, há algo que vais ter de aprender: oclumância!

-Oclumância?

-Sim. A arte de fechar a mente a invasões alheias. É certo que alguém como o Lord ou o teu pai facilmente conseguiriam ultrapassar essa barreira, mas pelo menos é uma garantia que temos de que estamos protegidos!

O loiro concordou.

-Então vem comigo! – A expressão de Draco mostrou-lhe que este não havia percebido. – Vamos começar a tua primeira aula. Segue-me!

A ordem foi dada num tom que não deixava margens para réplicas. Draco ergueu-se e seguiu-o. Nas horas que se seguiram tinham treinado uma e outra vez. O cansaço apoderara-se do mais novo, mas ele não se queixara.

“Incrível!”Pensou Severus. Durante muito tempo acreditara que aquele não passava de um garoto mimado que tinha tudo o que queria na vida. No entanto, não era isso que via na mente do jovem.

Lucius Malfoy era um bom pai, ou pelo menos era isso que mostrava a todos. Ao seu filho nunca faltara nada. Nada excepto, talvez, amor e carinho.

O patriarca dos Malfoy era um homem frio e cínico que tinha prazer em humilhar todos em seu redor. Nem Draco escapara!

Nos dias que se seguiram estabeleceu-se entre eles uma rotina: encontravam-se sempre no mesmo local e à mesma hora, para treinarem. O rapaz melhorava a olhos vistos e logo Severus resolveu começar a treinar duelos com ele.

Os treinos eram duros e Severus exigia sempre o máximo de Draco. Naqueles treinos que eram particularmente duros, em que o jovem acabava por ser lançado uma e outra vez pelo ar, ele levantava-se e começavam de novo.

Depois de cada treino, o professor tratava dos eventuais ferimentos que Draco tivesse. Seria suspeito se ele saísse para dar uma volta e depois aparecesse todo magoado.

Durante aquele tempo, tinham arquitectado um plano para retirar Draco de casa em segurança, mas tudo se havia precipitado.

“Raios! Uns regressam dos mortos e outros parece que se evaporam! Como é que será que tu estás Draco?”


-Esta tarde vamos ao beco Diagon-al. – Anunciou Arthur entrando na cozinha. – Falei com o ministério e vão disponibilizar-nos um carro!

-E vamos todos? – Perguntou Harry. Aquele seria o último ano que iria para Hogwarts e, portanto, era também a sua última oportunidade de saber o que era fazer “compras para a escola em família”.

-Sim, claro! Com alguns feitiços de glamour ninguém se vai aperceber que o James e a Lily vão connosco.

Foi assim que nessa tarde o grupo composto por Arthur e Molly, James e Lily, Ron, Hermione, Harry e Ginny se dirigiu para o caldeirão Escoante. Tom, o barman, olhou para todas aquelas pessoas e cumprimentou-os calorosamente ao reconhecer Arthur e Harry. Lançou um olhar estranho aos dois que desconhecia mas não se pronunciou.

As compras foram feitas de forma animada, embora em vários cantos do beco se pudessem ver os sinais da guerra. Muitas lojas estavam encerradas, quer devido aos seus proprietários terem fugido ou então terem sido capturados pelo lado das Trevas.

Visitaram a loja de brincadeiras mágicas dos gémeos, que os receberam com um enorme sorriso. Mesmo com toda a situação que se vivia, eles não desanimavam: continuavam a vender sorrisos e gargalhadas, numa tentativa de cumprir a promessa a Harry.

O material de que Harry, Hermione, Ron e Ginny necessitavam foi rapidamente comprado. Embora no grupo tivessem bruxos poderosos, não queriam ficar por ali muito tempo.

Pela mente de Harry, passavam muitos pensamentos. Aquilo que estava a viver naquele dia, poder-se-ia ter repetido em todos os anos anteriores, se aquele louco que se auto-intitulava ‘Lord’ não se quisesse impor sobre todos. Todas aquelas lojas fechadas só estavam assim devido à ânsia de poder de um homem! “Eu vou derrotar-te, Voldemort! Vou derrotar-te por todo o mal que me fizeste a mim, a todos os bruxos e a todos os não bruxos!” Aquela promessa foi feita em silêncio e para si próprio. No entanto, era uma promessa que ele fazia tenção de cumprir!


Ao mesmo tempo que o grupo fazia as suas compras, um homem de semblante carregado dirigia-se a uma pequena casita aparentemente abandonada. Ele sabia que não era assim, que naquela casa estava a pessoa que procurava, mas não podia deixar de sentir alguma inquietação.

“Controla-te, Severus! Afinal de contas, és espião há tantos anos para quê?” Repreendeu-se mentalmente o homem.

Não se preocupou em bater à porta para anunciar a sua chegada: pura e simplesmente entrou pela casa adentro.

-Ainda bem que veio! – A voz de Draco soou calma nas suas costas.

-Não pensaste que te ia abandonar, pois não?!


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Notas finais do capítulo

E este foi o 4º capítulo. E então? O que acharam?
Deixem a vossa opinião e façam esta ficwritter muito, muito feliz...

Beijos a todos
Morgana Bauer



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