Olhei para Selena sem saber o que dizer. Nunca imaginei que ela estivesse ali. Sempre achei que ela estaria presente na reunião porque o futuro dela iria ser discutido.

—Não devias de estar na reunião? – perguntei tentando desviar o assunto.

—Não. Segundo eles, aquela reunião não é para crianças. Como se eu não fosse só três anos mais nova do que o Killian. – respondeu Selena – Agora voltando ao assunto, como assim tu estás grávida? Porquê que não me contaste nada? Porquê que o Killian não me contou nada? Porquê que eu sou sempre a última a saber destas coisas? Eu sou a tia, eu tinha o direito de saber.

Olhei para Selena sem saber o que responder face a tantas perguntas. Não era suposto ela ter descoberto assim. A ideia era eu e o Killian contarmos depois do casamento. Mas claro que os nossos planos nunca davam certo.

Olhei para Malia, mas esta mantinha o olhar alternado entre mim e Selena. De certeza que estava à espera de alguma reação.

—Não vais dizer nada, Alexia? Eu pensei que nós éramos amigas. – lamentou-se Selena.

—E nós somos amigas. – defendi-me - Tu sabes disso. A questão é que eu e o teu irmão queríamos manter segredo até depois do casamento. Não queríamos que houvesse qualquer comentário por causa do príncipe ter engravidado uma plebeia.

—Então porquê que ela sabe? Se era para ser segredo. – acusou Selena apontando para Malia.

—Eu descobri. – respondeu Malia, omitindo a parte de ter sido Ethan a contar-lhe, sem me dar hipóteses de dizer alguma coisa.

O semblante de Selena acalmou. Eu conseguia ver que ela estava mais calma. Isso era bom sinal.

—Quem é que mais sabe? – perguntou Selena, tentando manter a voz fria, mas sem muito sucesso. Eu conheci-a como a palma da minha mão.

—Só a minha mãe e o Ethan. – respondi. Selena ia começar a protestar, mas eu parei-a – Vá lá Selena, não impliques. É a minha mãe e o meu melhor amigo. Por favor tentar compreender. Isto era algo que eu e o teu irmão queríamos contar em conjunto a toda a gente.

—Mas podias ter-me contado. – lamentou-se Selena. Por momentos, senti-me arrependida por não lhe ter contado mais cedo – Desde quando é que sabes?

—Desde que acordei no hospital. O teu irmão já sabia. Foi ele que me contou.

—Está bem. – respondeu Selena – E tu? Desde quando é que sabes? – perguntou voltando-se para Malia.

Mas antes que Malia tivesse tempo de responder, alguém bateu à porta. Aproximei-me, abri a porta e dei de caras com Killian. O seu ar era sério pelo que eu não conseguia saber como tinha corrido a reunião.

Abri um pouco mais a porta para dar espaço para o Killian entrar. Ele entrou, sem dizer uma única palavra. Só quando já estava no interior do quarto é que Killian notou a presença de Malia e Selena.

—Olha se não é o outro traidor. – começou Selena. Mas, ao ver que Killian nada lhe respondeu e lembrando-se que até então ele esteve na reunião que ela queria estar, Selena tomou outra postura – Como é que correu a reunião? Eles aceitaram o meu casamento com o Adam?

Era impressionante como a Selena conseguia mudar o humor tão rapidamente. Mas eu até a compreendia. Se havia algo que eu e Selena tínhamos em comum, esse algo era a curiosidade. Tal como eu, também Selena era muito curiosa.

—Eles aceitaram o vosso casamento. – respondeu Killian. Selena começou a dar pulos de alegria.

—Eu sabia! Eu sabia! Alexia, eu vou casar-me com o Adam. – disse Selena correndo até mim e abraçando-me. O facto de lhe ter escondido a gravidez já se evaporara da sua memória.

—Não querendo ser mal-educado, será que me podiam deixar ficar a sós com a Alexia. Preciso de falar com ela. – pediu Killian.

Malia foi a primeira a sair. Eu sabia o quanto ela estava ansiosa por sair dali. Mas, ao mesmo tempo, também sabia que ela estava aliviada por se ter safado do interrogatório da Selena.

Já Selena demorou mais um pouco. Ela analisava o irmão para tentar descobrir o que mais se tinha passado naquela reunião. Foi preciso o Killian voltar a pedir-lhe para sair, para ela dar como caso perdido tentar analisar a face de Killian.

—Porque é que estás com essa cara? O que é que se passou? – perguntei ansiosa.

—Não sei bem. – respondeu Killian sentando-se na cama. Sentei-me ao lado dele – O Rei da Galiza, como deves imaginar, não ficou muito contente por eu ter abandonado a sua querida filha em pleno dia de casamento para ir atrás de ti. Ele é daquelas pessoas como a minha mãe. Acha que a realeza se deve relacionar apenas com a realeza. Mas eu não me calei. Disse que a meu ver, a base de um casamento é o amor e não os contratos entre os países. Ele ficou furioso.

—Imagino. – respondi – Provavelmente o casamento dele foi assim. Arranjado.

—Pois foi. – confirmou – Mas a situação foi completamente estranha. Primeiro protestou comigo, e, por certo lado, com razão porque afinal eu deixei a filha dele no dia do casamento. Depois começou a acalmar-se quando se começou a falar do casamento entre a Selena e o Adam. Ele aceitou bem essa relação. O que por um lado é estranho porque notei que o Rei é muito orgulhoso. A única explicação que eu vejo nisso é o facto de ele realmente precisar dessa união.

—Ou seja, ele só aceitou o casamento porque lhe convinha. Se não fizesse diferença nenhuma, aposto que ele seria como a tua mãe e faria de tudo para separar a Selena do Adam. – disse sem pensar. Só depois me apercebi do que tinha acabado de dizer – Desculpa Killian. Eu não queria falar assim da tua mãe.

—Não faz mal, querida. É a realidade. Por ela, eu tinha sido infeliz. Mas, voltando ao assunto, o mais estranho ainda aconteceu a seguir. Depois de muito protestar, o Rei praticamente se fez convidado para vir ao nosso casamento. Ele, o Adam e a Eva.

—A princesa Eva? – perguntei para ter a certeza do que tinha acabado de ouvir.

—Sim. – confirmou Killian – Eu fiquei como tu. Quem é que no seu perfeito juízo traz uma pessoa para o casamento da pessoa que gosta. A Eva já deve estar a sofrer o suficiente, não precisava disto para ficar pior.

—Tens razão. Eu às vezes sinto-me mesmo mal por causa disso. Nós vemos naqueles livros que há sempre alguém a tentar separar o casal. Mas esse alguém é sempre mau. Agora a princesa Eva. Eu falei uma ou duas vezes com ela. Ela é um anjo de pessoa. Apesar de eu estar feliz agora, fico triste por a ter deixado ficar naquele estado. Em parte, é minha culpa ela estar assim. – confessei.

—Eu tento não pensar muito nisso. Eu sei que fui cruel com ela, mas eu tinha de ouvir o meu coração. E, naquele momento, ele estava a dizer para eu ir a correr para o hospital. Estava completamente alarmado com a possibilidade de te perder.

—Tu não te vais livrar de mim tão cedo. – brinquei tentando aliviar o ambiente – Amo-te.

—Também te amo. – respondeu Killian beijando-me.

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Uma semana depois

Não eram sete da manhã quando me acordaram. O palácio estava uma completa loucura naquele dia. Empregados corriam para todos os lados para ultimar os preparativos para o casamento. Os meus irmãos não paravam quietos e foi preciso a minha mãe assumir a postura mais séria para eles acalmarem. A Selena praticamente não se calava. Até parecia que era o casamento dela. Por fim, a Malia e a Freya eram as pessoas mais normais dali. Eu sabia que elas estavam nervosas por mim, mas disfarçavam bem para que me sentisse confortável.

Agora, depois de uma sessão de manicure e pedicure, estavam a tratar-me do cabelo. O penteado escolhido fora um simples coque. A minha mãe bem tentou que eu fizesse algo mais complexo, mas eu logo a impedi de continuar com aquelas ideias. Eu não era fã de coisas complexas, eu gostava de levar a minha vida o mais simples possível.

—Acho que o lilás não é a minha cor. – comentou Selena saindo da toilet com o vestido de dama de honor já vestido.

Ela, a Malia e a Freya eram as minhas damas de honor. O Killian aceitou bem as minhas escolhas. Já da Rainha não se pode dizer o mesmo. Quando contei que duas das minhas damas de honor eram uma criada do palácio e uma amiga minha, ela quase que ia tendo um ataque. Mas eu não liguei muito. Ela já não gostava de mim e não por isso não fazia diferença ela gostar ou não das minhas damas de honor.

—Selena estás linda nesse vestido. O Adam vai adorar. – brinquei – Por falar em Adam, ele ainda não chegou?

—Chega por volta da hora de almoço. – respondeu Selena.

—E a princesa Eva sempre vem? – perguntei.

—Sim. – respondeu Selena – Algum problema?

—Nenhum. – respondi.

Desde o dia em que o Killian me contou que a princesa Eva ia estar presente no nosso casamento que não consigo parar de pensar nisso. Sempre pensei que ela a meio dissesse que já não ia comparecer. Mas afinal enganei-me.

As maquilhadoras entraram em ação. Antes de começarem, pedi logo que fizessem algo simples. Eu não queria nada elaborado. Queria ser eu mesma no casamento.

Por fim faltava apenas o vestido. Este também era simples. Branco como manda a tradição, pequenas mangas rendadas e um decote acentuado. Solto a partir da cintura e com uma pequena cauda. A barriga mal se notava. Era o vestido perfeito.

—Estás linda. – disse Freya abraçando-me.

—Obrigada. – agradeci tentando conter as lágrimas.

—Vais dar uma ótima princesa. – sussurrou Malia quando me abraçou.

—Eu sempre disse que eras a minha cunhada ideal. – comentou Selena abraçando-me com a maior das forças.

—Selena cuidado. – pedi.

—Desculpa. Quase me esquecia que… - mas Selena não completou a frase. Eu percebi o que ela queria dizer. E ainda bem que ela parou. Estavam pessoas naquele quarto que não sabiam da minha gravidez e que eu só queria que soubesse depois do casamento.

—Não queres que eu fique aqui até o Ethan chegar? – perguntou a minha mãe quando me veio desejar boa sorte.

—Não é necessário. – respondi – Até daqui a pouco.

Saíram todos do quarto deixando-me sozinha. Agora era só aguardar pela chegada de Ethan que era quem me ia levar ao altar. Claro que quando Killian mencionou que eu precisava de ser acompanhada por alguém que o nome de Ethan surgiu logo na minha mente. Era a pessoa mais próxima a mim que me podia levar. E eu não desejava que fosse outra pessoa a fazê-lo.

A hora tinha chegado. Por incrível que parecesse, eu estava pronta a horas. Nada daqueles atrasos normais de uma noiva. Agora quem estava atrasado era o meu companheiro. Nós tínhamos combinado cinco minutos depois das cinco da tarde. Eu pretendia chegar um bocadinho atrasada. Era parte da tradição de uma noiva. Mas parecia que o meu acompanhante é que estava a adotar essa tradição. Não havia maneira de Ethan aparecer.

Tentava ao máximo não colocar as unhas na boca para as roer. Era um péssimo hábito que tinha.

De repente, alguém bateu à porta. De certeza que era o Ethan, afinal ele era a única pessoa de quem eu estava à espera.

Abri a porta pronta para reclamar com ele por causa do atraso, mas não era ele. Aliás, a pessoa que estava à minha frente era das últimas que eu esperava.    

—O que… - mas antes que eu conseguisse acabar a frase, fui agarrada e um pano foi colocado sobre o meu nariz fazendo com que eu adormecesse.