Os dias passaram e as notícias não podiam ser mais positivas. Desde que o Killian fez aquele anúncio e me apresentei perante todo o reino como sua futura princesa e rainha que andava ansiosa. Não só ansiosa. Nervosa também. E mais um misto de sensações. E depois a isso ainda se juntava a gravidez. Mas nada me conseguia fazer parar de pensar. O que é que eles achariam de mim? Será que me aceitariam? Claro que no dia a seguir fui a correr à procura de um jornal, de uma revista, algo em que eu conseguisse saber a opinião do povo. Mas, como a entrevista tinha sido à noite, todo o jornalismo dava a notícia que haveria uma futura princesa no reino. E que não era a princesa Eva. Mas a minha ansia acabou por acalmar quando, passados uns dias comecei a ouvir coisas positivas. Que admiravam Killian por toda a coragem de me ter apresentado a toda a gente. Por casar por amor. Por deixar de lado, mesmo que sejam muito importantes nos dias que correm, a política e ter ouvido somente o seu coração.

Naquela manhã chuvosa, eu simplesmente não saí da cama. Eu sei que devia, mas simplesmente não me apeteceu. Os enjoos tinham acalmado. Na realidade, o único motivo que me mantinha presa na cama era a preguiça. A preguiça de me levantar e começar um novo dia.

—Xia, as princesas têm de levantar cedo. – disse Maria colocando-se sobre mim.

—Deixa-me dormir. – peguei nela, coloquei-a ao meu lado e voltei-me para o teu lado.

—Está bem. Então vou dizer ao Killian, que está do outro lado da porta que não queres falar com ele.

Mal ouvi o nome do Killian, sentei-me e olhei para a minha irmã. Ela estava com aquele sorriso matreiro de quem tinha arranjado uma forma de me arrancar da cama.

—Ao menos o Killian está mesmo ali? – perguntei, acreditando que a minha irmã tinha dito aquilo simplesmente para me tirar da cama.

—Está. – respondeu Maria a sorrir. Levantou-se da cama e dirigiu-se à porta, para a abrir. Do outro lado surgiu Killian – Agora já sei uma maneira de te tirar da cama. Até já. – disse Maria, despedindo-se e deixando-me a sós com Killian.

—Tive saudades tuas. – disse Killian aproximando-se de mim e dando-me um beijo de bom-dia.

—O David teve um pesadelo. Ele pediu para dormir comigo e eu não lhe ia negar isso. – disse explicando o porquê de não ter aparecido no quarto dele na noite anterior.

—Tudo bem. Assim também já começo a ficar habituado para quando a nossa filha nascer.

—Filha? – perguntei sorridente olhando para Killian.

—Sim filha. Chama-lhe instinto. – respondeu Killian colocando a mão sobre a minha barriga – Ainda bem que o casamento é dentro de uma semana. Mais uns dias e a tua barriga era notória.

Naquele dia, Killian tinha dito apenas que nos casaríamos. Não tinha dito data nenhuma. Nem ao povo, nem a mim. Eu sabia que tinha de ser brevemente, mas não imaginava o quão breve podia ser. Claro que eu compreendia a situação de antecipar o casamento o mais rápido possível. A minha barriga começava a crescer a olhos vistos e ninguém podia descobrir que eu estava grávida até estar casada com Killian.

No dia a seguir, Killian soltou num jantar que o casamento se realizaria dentro de duas semanas. Ninguém naquela mesa estava à espera daquela revelação. Eu inclusive. Claro que não me opus, visto já ser um desejo casar-me com o Killian. Não importava o quando. A minha família e Selena ficaram super felizes. O Rei perguntou o porquê de tanta urgência e Killian alegou que não aguentava muitos mais dias sem me ter como sua esposa. O Rei lá acabou por compreender. Agora a reação da Rainha foi completamente diferente. Apesar do Killian lhe ter dito, mais do que uma vez, que era comigo com quem queria ficar e de ela ver que não tinha hipóteses em discutir isso com ele, no fundo, ela ainda tinha esperança que este casamento não acontecesse. Começou com um discurso de que ainda eramos muito novos para casar. Irónico, visto que, há uns meses atrás, era ela que andava ansiosa pelo casamento do filho.

—O pai da Eva vem cá hoje. – revelou Killian enquanto massajava os meus ombros.

—Vai haver problemas por causa de não te teres casado com ela? – perguntei, preocupada. A última coisa que queria era que houvesse uma guerra entre Lusitana e Galiza.

—Eu espero que não. Mas sinceramente não sei. Eles podem considerar que eu humilhei a Eva quando a abandonei no dia do casamento. Eles podem querer quebrar qualquer união que tenham connosco por causa disso.

—Mas e a tua irmã? Ela está com o Adam. – afirmei convicta que isso pudesse resolver o problema.

—E isso é uma das coisas que temos a nosso favor. Apesar de eu não me ter casado com a Eva, ainda pode haver um casamento entre dois príncipes dos dois reinos.

—Não te preocupes. – disse agarrando com força a mão de Killian – Vai correr tudo bem. Lembra-te que estarei sempre ao teu lado, independentemente de tudo o que possa acontecer.

—Eu sei.

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Como Killian tinha aquela reunião que podia demorar horas, aquela seria a hora perfeita para eu encontrar Alison. Agora só esperava que também Ethan estivesse ocupado e que não reparasse no que eu e Malia andávamos a tramar.

Mas, para meu grande azar, o guarda que estava à porta do meu quarto era Ethan.

—Vejo que alguém está a ter privilégios. Sempre a trabalhar onde quer. – brinquei ao encontrar Ethan à porta do quarto.

—É vantagem de ser amigo do príncipe. – resposta Ethan no mesmo tom.

Despedi-me dele e continuei o meu caminho até à cozinha. Era lá que se encontrava Malia.

A cozinha estava cheia. Pessoas andavam de um lado para o outro a preparar o almoço. Malia encontrava-se num canto a cortar legumes. Acreditava que ela estava a prepará-los para a sopa.

Conforme entrava mais na cozinha, as pessoas olhavam para mim e faziam-me vénias. Achei aquilo um exagero. Há uns meses atrás eu era como elas. Eu trabalhava aqui com elas. Estas pessoas foram a minha família enquanto eu trabalhei aqui.

Pedindo constantemente que parasse de fazer vénias, que eles me conheciam e não precisavam de ser assim, lá consegui chegar a Malia.

Claro que o efeito discreto foi um fracasso. Eu não queria que ninguém notasse a minha presença ali. Não por ser um lugar em que uma futura princesa não deveria andar, porque, na minha opinião isso era uma completa estupidez, mas porque não queria que percebessem que ia levar a Malia dali por algum tempo.

—Discreta é o teu nome do meio. – sussurrou Malia mal cheia ao pé dela.

—Não brinques. – respondi – Eu realmente queria chegar aqui sem chamar a atenção.

—Minha cara amiga, lamento informar mas nunca mais vais a algum lugar sem chamar a atenção. Tu és a futura Rainha de Lusitana.

—Não preciso que me lembres disso. Eu ainda não consigo acreditar no futuro que me espera. Já para não falar de todas as inseguranças e medos que sinto. – confessei. Eu nunca tinha comentado aquilo com a Malia, mas só de imaginar que me ia tornar princesa, eu ficava aterrorizada.

—Eu tenho a certeza que vais ser uma ótima princesa. E tenho a certeza que o príncipe concorda. – provocou Malia – Agora, imagino o porquê de estares aqui.

—O Killian vai estar ocupado por umas horas. É a altura ideal para falar com a Alison.

—Eu continuo a achar isto uma má ideia. – disse Malia tentando chamar-me à razão. Coisa que ela claramente não conseguiria fazer pois eu estava certa do que estava a fazer.

—Malia, eu vou. – disse, decidida. Várias tinham sido as conversas com a Malia acerca deste assunto e em todas ela tentava convencer-me a não fazer isto – Agora resta saber se tu vens comigo. Tu disseste que vinhas.

—E eu vou. Não te vou deixar sozinha com a Alison.

Malia foi falar com a cozinheira chefe para se ausentar durante uns momentos. Como era comigo que ela iria sair, não houve qualquer problema.

Encontrar a Alison não foi difícil. Quando ela inventou todas aquelas barbaridades sobre o Killian, ele queria despedi-la. Mas eu convenci-o a não fazê-lo, mas sim a mudar-lhe as funções. Sugeri que ela fizesse algo que não a obrigasse a interagir com a família real. Esse algo foi tratar da limpeza dos quartos dos criados. Isto até parece estranho, mas o castelo contrata pessoas para este serviço. Segundo eles, as pessoas estão tão ocupadas com as suas funções que não têm tempo para arrumar as suas coisas.

Seguimos até ao sétimo andar e começamos a vasculhar todos os quartos em busca da Alison. Acabamos por dar com ela no quarto em que eu estive. No quarto que partilhei com ela.

—Olá Alison. – disse fazendo com que ela se assustasse. Malia entrou e fechou a porta, colocando-se encostada a ela para que ninguém saísse – Nós as suas vamos ter uma conversinha.

—E o que é que a futura princesa quer de uma criada como eu? – perguntou Alison no tom mais cínico possível.

—Acertar contas. – respondi aproximando-me dela – Quero saber qual foi o teu objetivo em fazer com que fosse expulsa do castelo.

—Para uma futura princesa és um bocado burra. – começou Alison. Fechei o meu punho cravando as unhas nas mãos. Ela não ia fazer com que eu perdesse o controlo – Não é óbvio que eu te queria separar do príncipe. Uma reles como tu com um príncipe. Onde é que já se viu.

—Querida deves estar a confundir-me contigo. A única reles presente aqui neste quarto és tu. Não fui eu que andei a inventar que me tinha envolvido com o príncipe. E é que se ainda fosse porque gostavas dele e mesmo isso não é desculpa. Não! O teu grande objetivo era a coroa. Era o poder. Nada de amor.

—Cada um luta pelo que acredita. E eu disse que me ia vingar de ti. E garanto-te que não me arrependo de ter ido falar com a Rainha sobre o teu caso com o príncipe.

—Caso? Caso? – perguntei rindo-me na cara dela – Tu querias ter um caso com ele, minha querida, eu não. Eu apaixonei-me por ele. Eu estou com ele porque o amo e não por causa de um estúpido título.

—Isso é o que todas as sonsas como tu dizem. – respondeu Alison.

Não sei em que momento isso aconteceu, mas quando dei conta já a minha mão estava na cara da Alison. De resto, tudo aconteceu muito rápido. Alison tentou bater-me de volta, mas eu consegui desviar-me e consegui agarrar-lhe nos cabelos. Ela também tentou agarrar os meus, mas não conseguiu porque a Malia meteu-se no meio.

Malia empurrou Alison e fez com que esta caísse ao chão.

—Basta. – disse Malia em tom firme – Ela é a tua futura princesa. Agredir um membro da família real dá pena de morte. Pensa nisso antes de agir, Alison. Alexia, vamos embora. – Malia aproximou-se de mim e sussurrou – Eu sabia que isto ia correr mal.

Malia saiu na frente e eu estava com um pé fora da porta quando ouvi a Alison chamar-se. Voltei-me para ela. Sabia que a devia ter ignorado, mas a minha curiosidade não o permitia.

—Tu pensas que descobriste tudo, mas estás muito enganada. Por detrás da ponta existe um enorme iceberg.

Saí sem lhe dar resposta. Sinceramente, eu nem sabia que resposta lhe haveria de dar. Eu não sabia o que ela queria dizer com aquilo. Como assim eu não sabia de tudo? O que é que haveria de mais para descobrir? Tinha sido ela a causadores de todos os problemas entre mim e o Killian e este problema estava agora resolvido. Com certeza ela queria que eu ficasse a pensar isto, mas não lhe posso dar este gosto. Decidi deixar isto no esquecimento e continuei o meu caminho, acompanhada por Malia.

Ethan encontrava-se, como era de esperar, na porta do meu quarto. Mal nos avistou, veio ter connosco.

—Passou-se alguma coisa? – perguntou.

—Não. Porque haveria de se ter passado? – perguntei tentando disfarçar o nervosismo.

—O teu vestido está todo amarrotado. Já para não falar do teu cabelo.

—Ela caiu. – disse Malia antes que eu tivesse tempo de inventar alguma desculpa – Desculpa amor, mas nós temos de nos despachar. Daqui a pouco é hora do almoço.

Sem dizer mais nada, Malia empurrou-me para o interior do quarto.

—Eu disse-te. Eu disse-te que era má ideia. Eu já sabia que isto ia terminar assim. Alexia, tu tens de ter mais juízo. Caraças, tu estás grávida!

—Tu estás grávida? – perguntou uma terceira voz que se encontrava no interior do quarto. Voltei-me e dei de caras com Selena.