–A noiva? – perguntei incrédula com o que acabara de ouvir. – Então o que a tua mãe sempre quis vai-se concretizar?

–Infelizmente sim. Todos nós já estávamos à espera da visita da princesa Eva há muito tempo. Killian não quer contrariar a minha mãe, quer fazer-lhe a vontade.

–E fazer a vontade à tua mãe implica ser infeliz para o resto da vida? – perguntei ainda mais espantada. Pelos vistos toda a nossa conversa há uns tempos atrás não tinha servido para nada. Sentia-me completamente frustrada.

–É a decisão dele e nós temos que respeitar. E pode ser que com o tempo a consiga amar. – disse Selena. Eu não conseguia imaginar Killian a amar Eva. Parecia-me algo tão forçado. Era algo que não existia no amor, o amor tinha de ser espontâneo.

–Sim é verdade, mas é tão forçado.

–Porque te incomoda tanto a decisão do meu irmão, Alexia? – perguntou Selena. Eu tinha a sensação que a pergunta dela tinha uma segunda intenção mas eu não conseguia perceber qual seria.

–Como assim? Se fosses tu no lugar dele, eu diria o mesmo.

–Mesmo? Ou será pelo que aconteceu entre vocês? – Selena viu a minha cara de desentendimento e continuou – O beijo Alexia, o beijo.

–Selena esse é um assunto encerrado há muito tempo. – sentei-me ao pé dela. – Foi um assunto que falei com o teu irmão em que ambos concordamos em esquecer. Aquilo foi um impulso, mais nada.

–Tens a certeza? O beijo não significou nada para ti? – ela perguntou-me enquanto analisava minuciosamente a minha reação. Eu não sabia o que responder porque eu não tinha ideia do que aquele beijo significou para mim. É verdade que dei por mim, várias vezes, a pensar no beijo, mas apenas isso. E isso não significava nada. Significava só que eu tinha gostado do beijo mais nada. Não tinha significado mais nada e ponto.

–Está na hora do almoço. É melhor desceres. – tentei desviar o assunto.

–Não vais desviar o assunto assim tão facilmente, Alexia. Já que não respondes, vou tirar as minhas próprias conclusões.

–Que conclusões? – perguntei a medo. Só me faltava a Selena ficar a pensar que eu sentia alguma coisa pelo irmão dela.

–Sei lá, posso pensar em muita coisa. – ela olhou para mim com um sorriso que me assustou – Posso pensar que sentes algo pelo meu irmão. Talvez estejas apaixonada. – concluiu.

–Tu só podes estar louca! Nunca iria acontecer nada entre mim e o teu irmão. É impossível, percebes? – desabafei. Não sei porquê mas aquela conversa estava a afetar-me mais do que eu pensava. – Podemos mudar de assunto, por favor. – pedi.

–Tudo bem. Mas eu não vou desistir tão facilmente. – disse Selena. A expressão dela mudou. Ela estava com cara de quem estava a tramar alguma coisa e eu tinha um certo receio do que poderia sair daquela cabecinha. – Como já te disse, o baile é na próxima semana…

–Sim…e eu já sei que precisas de mim até lá. – citei as palavras dela de mais cedo.

–Sim é verdade. Mas no meio disto tudo, eu tive uma ideia! – ela fez uma pausa para causar suspense – Tu vens comigo ao baile!

–Ficaste louca de vez, só pode! Qualquer um me reconheceria. A tua mãe mal me visse lá, expulsava-me.

–Aí é que está! É um baile de máscaras, ninguém te vai reconhecer. – completou Selena como se acabasse de ter a ideia mais genial do mundo. Já eu não sabia o que dizer. Claro que a ideia de ir a um baile, pelo menos uma vez na minha vida me agradava, mas o medo de ser apanhada anulava completamente essa vontade.

–Nós não podemos fazer isso Selena. E se der errado? E se eu for descoberta? Eu posso ser despedida!

–Isso não vai acontecer. A minha mãe estará demasiado ocupada a empurrar o Killian para cima da Eva que não vai reparar com quem eu estarei. Por favor. – Selena fazia beicinho. Eu não conseguia dizer que não. Ela, sem saber, estava a usar a técnica que os meus irmãos usavam para me convencer de algo.

–Tudo bem. – disse e ela ia começar a festejar – Mas acalma-te antes que eu mude de ideias.

–Está bem, está bem. Obrigada por vires comigo, não te vais arrepender. Adoro-te. És a melhor amiga do mundo. – e abraçou-me. Eu, por minha vez, fiquei estática na minha posição. Não sabia como reagir, Selena considerava-me a sua melhor amiga. Por fim, abracei-a de volta. Estava completamente emocionada com as palavras dela.

–Eu também te adoro. Não podia pedir amiga melhor. – Selena sorriu – Agora chega de lamechices, vais estragar a maquilhagem. – rimos. Selena olhou para as horas e viu que realmente estava na hora de almoço e, se há coisa que Selena Price de Lusitana não falha, é a hora das refeições.

Eu aproveitei e fui almoçar também. Àquela hora a cozinha estava uma confusão mas havia um espaço em que, os empregados que tinham contacto direto com a família real, podiam almoçar para que pudessem estar disponíveis logo no fim do almoço real.

Reparei que Ethan também estava a almoçar. Sentei-me ao pé dele e trocamos breves palavras, visto que, ele estava com pressa. Mas nesses poucos minutos, pude ver a troca de olhares entre ele e Malia. Realmente eles estavam apaixonados e eu estava muito feliz por eles. Eles mereciam. Finalmente Ethan estava a ter direito a tudo que merecia. Após tudo o que passou (e com isto me refiro à morte do pai dele) finalmente voltei a vê-lo completamente feliz e isso só fazia com que eu também ficasse feliz.

Regressei ao quarto de Selena para continuar com as minhas tarefas. Ao chegar lá, encontrei um bilhete com a letra caprichada de Selena.

Estarei toda a tarde fora a tratar de assuntos de família. Só volto logo.

Não destruas o meu quarto, não sem mim :)

Ri com o comentário de Selena. Só mesmo ela para se lembrar de escrever uma coisa daquelas. Aquela rapariga não existe. Mas pronto, teria a tarde toda para colocar este quarto em ordem.

Estava a preparar-me para começar quando batem à porta. Prontamente, fui abrir.

–Vossa Alteza. – vi Killian na porta e fiz uma reverência.

–Alexia trouxe umas coisas que a minha irmã me pediu. – disse Killian e eu deixei-o entrar. Fechei a porta e quando me virei, vi que ele estava sentado numa das poltronas. Rapidamente percebi que o que ele tinha falado era uma desculpa para falarmos.

–Tenho novidades. – disse mostrando-lhe o frasco que tinha guardado num dos bolsos.

–Isso é…

–O frasco que continha o veneno. – completei. Vi que os olhos de Killian brilhavam. Ele, tal como eu, sabia o que aquilo significava. – Agora esperemos que tenha impressões digitais. Lembra-te Killian, as impressões que procuramos são de um homem.

–Sim eu sei. Vou falar o mais rápido possível com o Dean, aquele amigo que te falei do laboratório, para ver o que ele descobre.

–Certo. – disse e assim ficamos num silêncio que acabou por se tornar constrangedor para ambos os lados. Eu tinha uma dúvida que matutava a minha cabeça desde que Selena me contou sobre a vinda da princesa Eva e por isso decidi que a melhor pessoa para responder era o próprio Killian. – Fiquei a saber da vinda da princesa Eva, Selena contou-me.

–Pois…

–Pois? Só tens a dizer isso? E toda a conversa que tivemos? Não serviu para nada? – questionei.

–Se eu bem me lembre essa conversa acabou comigo a dar-te um beijo e tu a fugires. – respondeu sarcasticamente. E aquilo ainda me irritou mais. Porquê que ele tinha de falar no beijo? Não era suposto esquecermos o que tinha acontecido?

–Porque é que estás a falar do beijo, caraças? – perguntei nitidamente irritada – Era suposto isso ser um assunto morto e enterrado.

–Então vamos lá esquecer isso. - Killian fez uma pausa - Porque estás tão interessada sobre com quem irei casar? – perguntou Killian tão irritado quanto eu.

–Porque sou tu amiga e preocupo-me contigo, porque mais seria? – perguntei. Como é que ele nesta altura ainda questionava a minha preocupação e amizade com ele.

–Pois…amiga. – resmungou Killian. – Então se és minha amiga como dizes, respeita a minha decisão, porra! – Killian estava a ficar completamente fora de si. Mas não era o único porque eu encontrava-me no mesmo estado.

–Por ser tua amiga é que te estou a dizer isto. Fogo Killian, tu queres ser infeliz para o resto da tua vida?

–É a única solução. – respondeu.

–É a única solução para o quê? – perguntei confusa. Isto era o que a mãe dele queria, não ele. Então porquê que ele considerava isto como a única solução?

–Para te…para nada Alexia. – fez uma pausa para se tentar acalmar – É a minha decisão e ponto.

–Então fica com a merda da tua decisão. – disse sarcasticamente e preparei-me para sair, mas no último instante olhei para trás – E que sejam felizes para sempre. – e saí.

Nos dias que se seguiram, eu e Killian não nos voltamos a encontrar. Depois de ter saído do quarto de Selena naquele estado e de me ter acalmado percebi que talvez tenha exagerado um bocado. Mas era compreensível, Killian é meu amigo e eu quero o melhor para os meus amigos. E ver um amigo meu casar por um casamento arranjado e arriscar-se a ser infeliz para o resto da vida não estava nos meus planos. Mas se é o Killian quer, então eu terei que respeitar mesmo que seja completamente contra.

Hoje é o dia do baile. Para além do baile, hoje era o dia que Killian ia conhecer a noiva. Selena tinha chegado há pouco ao quarto, estivera fora durante um bocado para a receção da família real de Galiza. Por isso, ele já a conhecia. Já conhecia o rosto da pessoa com quem iria casar. E não sei porquê, mas isso incomodava-me. Incomodava-me o facto de ele ter conhecido a noiva. Mas claro que este desconforto se deve por eu não concordar com nada desta história. Não havia outra razão plausível para isso.

Selena estava a contar-me como tinha corrido a receção e pelo que percebi ela tinha gostado da princesa Eva. Achara-a simpática. Ao menos ela já parecia aceitar melhor a ideia de o seu irmão se casar por casamento arranjado.

Enquanto ela falava e eu ouvia, aproveitei para limpar o pó e abrir as janelas para deixar entrar ar fresco. Foi o meu maior erro ter aberto as janelas. Quando abri a primeira janela, pude ver Killian e uma mulher, que deveria ser a princesa Eva, a passear e rirem-se um para o outro, parece que se deram bem de caras. E o pior é que aquilo afetou-me da pior maneira possível. Tinha vontade de tirar Killian dali, levá-lo para longe da princesa. Tinha também vontade de chorar pelo que estava a ver. Não sei porquê mas tinha. E ao ter todos estes pensamentos é que a ficha caiu e a conclusão a que cheguei fez com que não quisesse pensar sequer nesta hipótese. Eu estava a sentir…ciúmes?