Preces de Braun escrita por hwon keith


Capítulo 6
Falhando em assuntos problemáticos




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Certo tipo de música irradiava em algum ponto atrás. Nas nuances confusas e apagadas da memória possuída pelo personagem principal, vinha-lhe a sensação de reconhecimento perante ao som.

Contraiu os olhos. Nas últimas batidas seu coração acompanhou-as e seus lábios quase formaram por si próprios as ditas frases do refrão.

Algo menor e imensuravelmente delicado agitou-se abaixo de suas mãos subitamente. Encarou-as com surpresa, observando uma silhueta fina apoiada em suas palmas. Mudou o campo de visão, outra pele clara agitando-se no ar e abaixando, depositando um golpe certeiro na face direita do protagonista.

Os orbes alheios inundavam-se de raiva, gerando um riso baixo e rouco da garganta do homem. Puxou seus braços ao redor da violenta pessoa. Ignorou seus protestos, apertando-a com força.

Despertando confuso, os pulsos delicados apoiados em sua volta, sentando com dificuldade na cama totalmente bagunçada, visualizou seu rosto amarrotado no espelho logo à frente. O pacote consistia em suas olheiras fundas, os olhos puxados quase fechados numa fenda e o cabelo escuro parecendo ser fabricado por um redemoinho passageiro. Fechou os olhos, sentindo-se dolorido.

Aqueles sonhos ainda o matariam.

A exasperação de Nick Braun subiu sete oitavas quando recebeu uma réplica simplória vinda de um ser velho e odioso, para quem acabara de encerrar seu discurso conclusivo e explanatório de suposições filosóficas do que seus cristais finos haviam tentado transparecer pela leitura deles.

Inspirou e trancou. Exibindo os dentes esbranquiçados no mais falso sorriso que seus músculos conseguiram forçar, recebeu com nenhum pouco agrado a quantia mínima vinda de seus serviços. Apagou a gentileza fingida do olhar, saindo pela porta gasta e azulada da entrada. Matou com muito gosto uns pares de grama no jardim impecável da mulher, a vingança despejando-se num agrado adorável.

Rindo para si, tomou a rua mal iluminada. Os postes amarelados fitaram-no com paralisada indiferença. Ignorou as pontadas dolorosas nas têmporas, a sabedoria que seria recebido em casa com doses graduais de ironia e sarcasmo enchendo-o de desagrado.

Após pares de minutos tediosos, girou nos calcanhares, a Visão alertando-o.

Reconheceu a mulher logo a sua frente com um revirar enjoativo dos olhos.

– Carmel camelo – cumprimentou-a.

A outra loira nojenta estacada alguns metros a diante desprezou a comparação com um risinho mínimo. Afastou os fios compridos claros do rosto, jogando-os para as costas. Encaminhou-se até ele.

Tomado por aversão do conjunto antiquado e ridículo que a conhecida portava, apertados no quadril 34, quase retrocedia os passos que diminuíam de distância entre eles. Visualmente contente pelo o súbito encontro, a garota aproximava-se com pulinhos cada vez mais grotescos e dolorosos, levando em consideração o salto 15 que mantinha nos pés.

Terminando sua chegada patética, as pupilas de Carmel dilataram em júbilo na percepção do estado físico acabado de Nick, mais perceptível de perto.

– Tudo bem? – Indagou-o com forjada preocupação.

Nick riu.

– Meu dia ta mais bosta que esse seu cabelo.

Desconsiderando-o, permaneceu no diálogo cheio de tom de voz dócil.

– Te vi saindo da casa da minha tia – partiu para o tema central - Que ridículo da sua parte arrancar grana dela com um poderzinho tão inútil como o seu – jogou um riso que pretendia ser fofo – Onde achou essas pedras? – girou o pescoço em direção ao saquinho transparente na posse de Nick – Numa obra?

Nick sorriu no mais puro contentamento.

– Inveja é uma merda e você também. Beijossssss – girou para frente, acenando com a mão, fugindo da cena antes que descesse a mão inteira na cara de Carmel, aquela puta desgraçada que incomodava-o desde que quase arrancara para seus braços o boy que ela chorava há anos no ensino fundamental.

Engasgando na raiva da réplica parecia com “eu não tenho inveja de estrume”, elevou a voz, ainda de costas, jogando um “Desculpa, o que você disse? Não sou fluente em mimimi.”

Afastou-se o suficiente antes da tréplica. Ainda arrastava a cara dela no asfalto.

O único motivo que privava-o do sonho irrealizável de acabar com a raça de Carmel era o conhecimento que estando em casa, logo após de posse de certas coisas que não pertenciam-no, poderia jogar-se numa nova tentativa possivelmente frustrada de uma coisinha que realmente precisava alcançar.

Ia conseguir, nem se tivesse que dar o cu pro capeta.

Bem, esperava que não chegasse nesse ponto.

Na amada casinha, tudo o que Nick mais aspirava nesse novo momento era dar um tapão bem estalado na cara da irmã. Obrigado a aguentá-la há dias, vendo-a rir quando seus olhos se encontravam, suportando os comentários maliciosos e irônicos mandados para ele, olhando-a fofocar com Jamie e Gah tudo o que presenciara naquele fático dia, um tapa demonstraria todo os sentimentos que guardava até então para si.

Entretanto, caso estapeasse-a, com toda e completa certeza recebia um soco, um chute, uma panelada na cara e um pacto gratuito.

Então contentou-se em desferir tanto veneno quando conseguia juntar.

Na situação atual encontrou-a sentada largada do lado de Jamie, as duas rindo pra cacete de um programa de humor do qual Nick considerava extremamente tedioso. Sentou-se na poltrona do lado do sofá, suspirando audivelmente e ignorando os olhares nenhum pouco controlados de malícia sendo dirigidos a ele.

Controlado, perguntou-a sobre Ko, sorrindo pequeno ao vê-la encolher-se levemente, Jamie percebendo-o e mandando indiretas também.

– Ele ta muito bem, obrigada – ela respondeu, o embaraço que tanto tentava esconder bem perceptível.

Nick apoiou o rosto numa mão, a expressão fácil detonando pureza.

– Já caiu na net o sextape de vocês?

Enquanto Jamie explodia numa risada escandalosa, Noka encarou-o com um sorrisinho mínimo.

“Lá vem”, pensou o irmão.

– Pelo menos eu transo, e você maninho? – riu-se, Jamie continuando a gargalhar.

Nick soltou uma risada forçada.

– Que micão mana. Nem uma caneta entra aí.

Jamie engasgou-se na própria saliva, caindo pra um lado do sofá, enquanto a amiga lançava um afetado olhar para o irmão, vendo-o sorrir verdadeiramente e formar um coração com os dedos.

Noka desconsiderou e suspirou. Em matéria de bullying ninguém nunca competiria com Nick.

Acalmando uma demônio que chorava de rir, a garota olhou distraída para a janela. O vidro continuava embaçado pelas ondas de poder que cercavam a casa. Sentiu-se levemente deprimida. Era um ótimo dia para atirar o irmão do paredão.

Era muito triste que fossem cercados o dia todo por magia, levando em consideração a aniquilação total do grupo que visara proteger Satoru anteriormente. Todavia, permaneciam naquela bolha babaca de proteção, não podendo nem colocar a cara no Sol para pegar um bronze. Não que fizessem questão, de qualquer jeito.

Sendo levada por pensamentos consistidos basicamente de torrar o irmãozinho até virar farinha de carvão, não percebeu o pobre e sofrido crush pseudo-namorado de Nick adentrando timidamente no cômodo. Porém, acordou pra vida por uma cotovelada dolorosa vinda da amiga loira.

O sorrisinho tendencioso inundou os lábios novamente e sentiu-se preparada para a sessão diária de “como tentar acabar com a saúde mental do seu irmão em passos rápidos”.

Antes, entretanto, que conseguisse começar, Satoru calou-a com um sibilo feito de “Gah quebrou a torneira da banheira. Inundou tudo”.

Correndo desesperada para o banheiro, Jamie acompanhando-a porque era uma desgraçada chupim, Noka gritou para o maldito caçador algo parecido com “EU VOU TE AFOGAR NAS SUAS LÁGRIMAS, SEU VIADO DESGRAÇADO”, saindo da visão dos dois garotos que permaneceram na sala, um desviando completamente do olhar do outro.

O de rabo de cavalo buscou o olhar do sentado, falhando.

– Por quanto tempo pretende continuar fingindo que não existo? - Satoru retomou o diálogo que há dias estendia-se vazio.

Nick demorou para responder, parecendo não querer fazê-lo.

– O tempo que for necessário – por fim falou, baixinho, quase inaudível. Ergueu-se da poltrona bege manchada, pretendendo trancar-se no quarto e terminar algo que com muito custo insistia em tentar (do qual pensara mais cedo, caro leitor).

Satoru barrou-o com os dedos finos puxando o pulso. Mudando o centro do equilíbrio para outro pé, Nick observou o garoto com cautela.

A ausência de qualquer palavra proferida permaneceu no ar por instantes. Com uma exasperação misturada de ansiedade e medo, o mais baixo retomou a liberdade do membro antes pego e girou nos calcanhares para longe, deslizando por o mais alto, esse último deixando-o ir.

Assim que subiu mais três lances de degraus, Nick perdeu o contato com os olhos misteriosos.

Se ultimamente – diga-se dois dias – havia algo que estragasse e pisasse com felicidade na saúde mental (aquela que Noka fazia questão de pisar) e física do garoto loiro de gostos estranhos era a busca horrenda de informações sempre frustradas. Resumindo: Foda-se Satoru tendo-o beijado, cagando-se para Ko e Noka se comendo, nobody cares about Carmel vadia, o que fodia mesmo era a incapacidade de encontrar a porra de um ritual digno pra rastrear o cara da visão.

Puta merda, o relance do contorno facial, dos lábios cheios e das pupilas macias perfurava com ferro quente a sanidade do Braun. A lembrança da surpresa fria, do arrepio horrível que subira pelos anéis da coluna, da indagação silenciosa do irmão até soltar a voz arranhada pelo nome próprio: Soo.

Não presumia com certeza que assim era chamado ou fosse algum outro tipo de comunicação, levando em consideração que obviamente não eram do mesmo continente. O término sonolento dos olhos denotava ascendência de países muito longes daqui.

Todavia, Nick terminara no pior cenário possível. Se suas plantas e cristais não iluminaram-no com a sabedoria que aspirava, havia de procurar em outras bandas menos agradáveis. E elas leem-se magia negra.

Quem brincava com dor e o tecido líquido chamado sangue era a irmãzinha querida que provavelmente agora pensava em como Ko é gostoso. Essa mesma parente claramente arrancaria com fulgor quaisquer chances do irmão pegar seus utensílios e livros caso avisasse-a do que pretendia, tendo em mente que um praticante da magia branca não nada para a outra ponta do rio turbulento e negro da magia. Cada extremo habitava seus costumes e ritos e não compartilhavam dados e portadores.

Mas foda-se. Nick não suportava mais os sonhos agoniantes estrelados pelo garoto que ria com os lábios repuxados, uma visão para alguns de riso falso, mas para ele absurdamente bonita.

Assim, ali estava, trancando e temeroso, o livro úmido (porque Noka obviamente desconhece algo chamado “anti umidante”) jogado aos seus pés, tudo que necessitava segundo as folhas gastas postas num circulo a sua volta. Expirou lentamente. Bem, caso perdesse a alma ou fosse tragado para o inferno tinha curtido bem a vida, ne nom?

Então, assim, arrumou o que necessitava e iniciou. Nas chamas amareladas seus olhos refletiram com certo brilho duvidoso, proferindo as palavras confusas, puxando do centro conturbado e do vácuo existencial da magia o auxílio que prestava. Suor despontou nas têmporas claras, os fios de certos tons mais escuros grudando.

Na primeira batida seca da janela fechada e nos vidros medicinais escorrendo das estantes de cerejeira na parede e quebrando no chão, Nick soube que havia algo errado. Apagou com velocidade as velas escuras, jogou para longe a bacia cheia de água carmesim, atou com batidas fortes do coração a gaze em volta do pulso. Girou o pescoço dolorido para ambos os lados possíveis. Levantou-se com lentidão amedrontada.

O grito sufocado irrompeu da garganta seca, estendendo-se no ar como um pedido desesperado de ajuda. Formou o nome da irmã, sentindo sua Visão contatar a da outra e implorando para que viesse logo.

E de algum modo que desconheceu para sempre desde então, percebeu alguma perturbação no ambiente e olhou para trás.

Agachado no chão, os cotovelos postos sobre os joelhos, o homem que materializou-se em algum momento que não prestara atenção sorriu pequenino para si. Formou um beijo com os lábios.


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