Em Queda escrita por Um Alguém


Capítulo 4




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Depois do afogamento da Alice todos concordaram em ir embora. Ralf insistiu em levá-la em casa, mesmo ela tendo dito mil vezes que não precisava. Honestamente, acho que ele devia tê-la ouvido, porque durante todo o caminho de volta Alice ficou falando de mim, de como eu a salvei, de como ela queria me agradecer, e etc.

– Já chega, Alice. Para de falar nesse tal Eathan. - disse Ralf enfim perdendo a paciência. Já estávamos enfrente a casa da Alice. - Eathan isso, Eathan aquilo. - Ralf tentou imitar a voz da Alice (diga-se de passagem, foi uma péssima imitação).

– Ralf, ele me salvou.

– É, é, eu sei, mas você não precisa ficar tão maravilhada assim, não é?

– Maravilhada? Não estou maravilhada, estou grata. - disse Alice austera. Seu tom de voz ficando cada vez mais alto. - Grata porque um garoto que eu nem conheço se arriscou para me salvar. Coisa que você, meu namorado, não fez.

– Não acredito que disse isso. - declarou Ralf pasmo.

– Pois acredite.

Bom, é isso. Ralf puxou o pino e Alice detonou a granada. Ela deu as costas a ele e entrou em casa batendo a porta com força. Ralf ficou parado como se o mundo tivesse desabado na cabeça dele. Depois foi embora com um misto de raiva e tristeza. É fato que eu não gosto do Ralf, mas até eu fiquei com pena.

É claro que ele ia ficar com ciúme pela Alice estar falando tanto de mim. E é claro que ele realmente podia ter tido alguma reação e ido salva-la, afinal ele estava bem mais perto dela do que eu. Mesmo assim fiquei com um pouco de pena pelo que a Alice lhe disse. Mas só um pouco. Tipo, bem pouco mesmo.

Alice não estava bem, e isso estava acabando comigo. Ela havia tomando banho e deitado em posição fetal na cama, chorando. Num dia você é atacada por um maníaco, no outro quase morre afogada, e de quebra ainda briga com o namorado. De fato não estavam sendo dias fáceis. Tomei então uma decisão possivelmente problemática. Não podia só ficar ali vendo a Alice chorar.

Resolvi que ia falar com ela. Certo que eu não deveria aparecer para ela sem um bom motivo, mas para mim aquele era um bom motivo. Ela precisava de ajuda. Deixei Alice sozinha no quarto e sai da casa. Fiquei visível de novo. Respirei fundo algumas vezes e toquei a campainha. Esperei ansioso e receoso. ouvi os passos da Alice dentro de casa. Logo que ela abriu a porta vi sua expressão sair do desanimo para a surpresa.

– Eathan?

– Oi, menina que eu não sei o nome mas vivo salvando. - dei-lhe um sorriso brincalhão - Desculpe aparecer assim, mas eu fiquei preocupado depois do que aconteceu lá na praia e resolvi ver como você está.

– Bem. Graças a você. Muito, muito obrigada. Eu fiquei te procurando na praia mas você sumiu.

– É, é, eu tive que resolver uns problemas. - menti. Espero que ela acredite porque eu sempre fui um péssimo mentiroso. - Bom, eu vim só para saber como você estava mesmo.

– Bem, bem. - respondeu ela meio triste.

– Jura? Porque não parece. - fiz uma careta. - Você parece meio triste e desanimada.

– Não, não, eu estou bem. - ela forçou um sorriso.

– Eu sei que é mentira. Que tal sairmos para dar uma volta, aí você me conta o que está te entristecendo e eu tenho te ajudar? - propus. Ela me fitou pensativa.

– Hm, tudo bem. - aceitou afinal. - Espera só um minutinho.

Ela entrou em casa apressada, deixando a porta aberta. Certo, certo, eu com certeza teria problemas. Eu havia aparecido para minha protegida e a chamado para sair. O que eu estava pensando? Devia estar enlouquecendo. Alice voltou poucos minutos depois trajando um vans branco, um short jeans e uma camiseta vermelha.

Andamos em silêncio por algum tempo. Eu não sabia o que dizer, nem o que fazer. Quer dizer fazia anos que eu não conversava com um protegido. Eu sentia que Alice estava me olhando as vezes, mas me negava a olhar de volta. Ela era tão linda. Não queria parecer um bobo olhando-a admirado. E não podia correr o risco de criar qualquer sentimento por ela que não fosse profissional.

– Alice. - disse ela de repente me sobressaltando.

– O quê?

– Meu nome é Alice. - disse ela esboçando um sorriso.

– É um belo nome. - comentei fitando-a nos olhos. - Tão belo quanto você. - só depois de dizer é que me dei conta da besteira que estava fazendo.

– Obrigada. - agradeceu ela vermelha de vergonha.

Desviei o olhar. Continuamos nosso caminho em silêncio até chegarmos em uma sorveteria. Entramos e fomos até uma mesa no canto, ao lado da janela. Logo veio um garçom nos atender. Ele era feio, mas bastante simpático, pelo menos com a Alice. Ostentava um largo sorriso direcionado só a ela.

– O que vão querer? - perguntou ele a Alice.

– Um sorvete de chocolate para ela. - disse ao garçom que me olhou com indiferença.

– E para você? - perguntou ele sem demonstrar interesse nenhum.

– Para mim nada. - respondi. O garçom saiu sem dizer mais nada.

– Como sabia que eu gosto de chocolate? - perguntou Alice.

– Não sabia. - menti (de novo). - Foi só um palpite. - dei de ombro. - Toda garota gosta de chocolate, não é?

– É, mas nem todas gostam de sorvete de chocolate. - comentou.

Dei de ombros de novo. Felizmente o garçom voltou trazendo o sorvete da Alice. Ele entregou-lhe com um largo sorriso depois foi embora.

– E então, quer me dizer por que está triste? - perguntei-lhe. Ela pensou um pouco antes de responder.

– Briguei com meu namorado. - contou ela em um tom soturno. - E o pior que a culpa foi minha.

– O que houve?

– Ele teve uma crise de ciúme e eu acabei falando o que não devia.

– Olha, se você está triste e arrependida o melhor que tem a fazer é ir falar com ele. - disse-lhe. - Ficar em casa chorando e se lamuriando não vai resolver. Fala com ele, pede desculpas. - perfeito, eu estava incentivando ela a fazer as pazes com aquele chato do Ralf. Eu com certeza estava enlouquecendo.

– Mas e se ele não quiser falar comigo?

– Se ele não quiser falar com você é porque ele é burro e não gosta de ti de verdade. - disse com firmeza. Ela me olhou intensamente nos olhos, fazendo-me mergulhar no azul oceanico do seu olhar.

– Obrigada, Eathan. - agradeceu ela com um um sorriso genuinamente gentil. - Você tem me ajudado muito.

– Faço o que posso. - dei de ombros.

– Sua namorada tem sorte de ter alguém como você. - comentou ela tomando seu sorvete.

– Por que acha que eu tenho namorada? - perguntei-lhe curioso.

– Bom... Não sei... Você não tem? - perguntou ela surpresa.

– Não. Sem namorada, noiva ou esposa. - ri.

– Por quê? - quis saber.

– Ahn... - o que responder, o que responder?! - Ainda não achei a garota certa.

– Bom, tenho certeza que logo achará. - ela deu um sorriso amistoso.

– Claro, claro.

Caramba, conversar com ela era mais difícil do que eu esperava. Estava gastando todo meu estoque de mentiras. O celular da Alice começou a tocar e ela o atendeu. Depois de alguns minutos de conversa, ela desligou e se levantou.

– Preciso ajudar um amigo. - anunciou ela. - Vem comigo? - eu deveria mentir de novo, inventar um motivo para não ir, mas ela me olhava de um jeito que se m pedisse para matar o mundo todo, eu mataria.

– Claro. - respondi com um meio sorriso.

Sinto que minha lista de problemas está ficando grande.


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Notas finais do capítulo

Sejam bonzinhos e deixem um comentário ;)



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