Em Queda escrita por Um Alguém


Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Divirtam-se anjinhos ;)



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Eathan


– Eu te amo, Alice. - ouvi Ralf sussurrar em meio a um beijo. Alice não respondeu, só o beijou com mais intensidade.

"Ótimo, se as coisas continuarem desse jeito vou ter que sair de perto", pensei. Estávamos os três no quarto da Alice, mas nenhum dos dois podia me ver. Eles estavam na cama abraçados, trocando carícias e beijos, e eu sentado no chão, embaixo da janela, com a cabeça apoiada na paredes.

Depois de mais alguns minutos de beijos, Ralf levantou-se e disse que ia pegar algo para eles beberem. Alice sentou na cama ajeitando seu cabelo castanho claro. Seus olhos azuis estavam em um tom mais escuro, que eles só assumiam quando ela estavam com o Ralf. Seus lábios cheios e delineados esboçavam um belo sorriso, e sua pele clara estava levemente rosada.

Ralf voltou para o quarto com duas latas de refrigerante. Sentou-se ao lado da Alice, entregando-lhe uma latinha. Vamos ser justos: Ralf é até um cara bonito e legal, mas eu não gostava dele nem um pouquinho. Ele não era alto, mas era bem forte, estilo atleta, tipicamente idiota. Olhos azuis e cabelos loiros cacheados. Algumas pessoas (surtadas) diziam que ele parecia um anjo. Para mim, isso era um absurdo.

Felizmente o celular do Ralf tocou bem na hora que eles iam começar outra sessão de beijos. Ele falou no celular por alguns segundos, depois desligou com uma careta triste.

– Eu preciso ir embora. - anunciou ele. - Tenho que ajudar meu irmão com umas coisas.

– Tudo bem. Não tem problema. - disse Alice com um sorriso genuinamente tranquilo. - A gente se sê amanha.

– Até amanhã, linda. - Ralf deu mais um beijo nela depois foi embora.

Ela se ajeitou na cama, ligando a televisão. Não demorou muito para ela pegar no sono. Levantei-me, desliguei a televisão e fechei um pouco a janela, por onde um vento frio entrava. Sentei na beirada da cama, passando a mão de leve pelo cabelo da Alice.

– Tenha bons sonhos. - e dei-lhe um beijo na testa.


Quando você não dorme, as noites e madrugadas se tornam absurdamente grandes e tediosas. Em um dos meus momentos de tédio, em que estava perambulando pela casa, ouvi um barulho baixinho vindo da cozinha. Passei pela sala onde o Mark, pai da Alice, havia dormido de novo em meio a vários papeis e um notebook. Assim que cheguei a porta da cozinha avistei Mason.

– O que faz aqui? - perguntei-lhe.

– Vim fazer um lanchinho. - disse ele mostrando o prato de macarrão que estava comendo. - Sabe, a mãe do Kyle cozinha super mal.

– Peraí, você veio aqui para comer macarrão? - perguntei indignado. - Você sabe que não precisa comer, não é?

– Eu sei, mas é tão gostoso! Cara, você já comeu pipoca? - perguntou ele empolgado.

– Mason! - repreendi-o. - Vai para casa. Você deixou seu protegido sozinho para vir comer macarrão!

– Relaxa, Eathan. O Kyle está mexendo na internet, não vai acontecer nada de ruim. Você é muito paranoico, sabia?

– Paranoico? Mason, eu quase cai! Não posso correr riscos. Qualquer deslize, e eu to fora. - exaltei-me.

– Eu sei, eu sei, foi mal, não devia ter dito isso. - disse ele abandonando o prato de macarrão sobre a pia. - Mas é sério, você precisa relaxar um pouco ou vai acabar enlouquecendo. A gente não precisa ficar grudado neles a todo momento. Pega leve. - ele deu um tapinha de leve no meu ombro e foi embora.

Mason é genial apesar de parecer uma criança que não cresceu. Ele é relativamente baixo, mas forte, com o cabelo castanho bem escuro e curto. Olhos também castanho escuro e um constante sorriso bobo. Acho que nunca o vi verdadeiramente estressado.

Depois de arrumar a bagunça que o Mason fez na cozinha voltei para o quarto da Alice. Sentei na beirada da cama. Alice dormia serenamente. Respirei fundo algumas vezes, me concentrando, depois deixei minha mente vagar.



Na manhã seguinte Alice acordou atrasada para o colégio de novo. Arrumou-se apressada e saiu de casa sem comer nada. Enquanto ele corria pela rua esbarrando nas pessoas, eu ia bem atrás só me divertindo com as trapalhadas dela.

Incrivelmente, ela chegou no colégio antes do sinal tocar. Ralf, o namorado chatinho, estava lá esperando por ela junto com Kyle, protegido do Mason. Kyle é um daqueles garotos que você acha que é sem graça, mas na verdade é divertidíssimo. Ele usa o cabelo cor de cobre meticulosamente arrumado. Suas roupas em geral são horríveis e ressaltaram o seu tipo físico esquelético. Ele provavelmente faz a barba todo dia, pois nunca há nenhum resquício da mesma.

– Bom dia. - cumprimentou Kyle animado como sempre. Às vezes fico pensando em como o Mason e o Kyle são parecidos.

– Oi, amor. - disse Ralf com um sorriso apaixonado. "Chato", pensei.

– Oi, rapazes. - Alice deu um selinho em Ralf e lançou um sorriso amistoso para Kyle. - Cadê a Tessa?

– Bem aqui. - cantarolou a dita cuja.

Tessa. Se precisássemos de uma palavra para descreve-la, a melhor seria problema. Ela parece um furacão que por onde passa destrói tudo. Ela bebe, fuma, arranja briga a cada dois minutos, rouba o namorado de várias garotas, entre tantas outras coisas. Fato é que ela não é bonita, então eu não consigo entender como ela está sempre cercada de garotos. Seu cabelo loiro é platinado e vai até a altura da omoplata. Seus olhos caramelos são grandes demais, e a boca constantemente pintada de vermelho é pequena demais. No conjunto geral ela é... Estranha.

– Aí, ainda bem que ninguém pode te ver porque você está com uma cara super estranha olhando para a Tessa. - comentou Mason parando ao meu lado.

– Sou só eu que acho ou essa garota está cada vez pior? - perguntei-lhe.

– É, ela está piorando. - concordou Mason analisando-a.

Tessa estava contando sobre o maravilhoso final de semana dela com um garoto oito anos mais velho que ela que tem uma noiva em outro estado. Parei de prestar atenção na conversa antes que eu acabasse maluco. Felizmente o sinal tocou e todos começaram a ir para suas salas.

Mason, eu e mais alguns guardiões desinteressados na aula de álgebra ficamos do lado de fora da sala. Na maior parte do tempo só ficávamos observando, mas às vezes conversávamos um pouco.

Sarah e Rose, amigas da Alice e companhia, chegaram atrasadas e só entraram no segundo tempo. Elas são irmãs por parte de pai então as semelhanças são mínimas. Sarah tem o cabelo loiro escuro, e Rose é ruiva. Rose é absurdamente branca, enquanto Sarah tem a pele bronzeada. A única coisa igual nas duas eram os olhos verdes, cor de esmeralda. Apesar de tudo nenhuma das duas era expressivamente bonita. Elas tem uma beleza que passa desapercebida no meio da multidão. Parece absurdo mas é verdade.

Depois de algumas tediosas horas de aula e de um intervalo igualmente sem emoção, o dia escolar enfim terminou. Sarah e Rose iam para casa da Tessa, Kyle ia para o curso de alemão e Ralf tinha um compromisso qualquer que eu não prestei atenção. Então Alice estava voltando para casa sozinha (ou quase). Dei alguns metros de distância entre nós enquanto caminhávamos. Era início de tarde, mas o dia estava cinza por conta do céu nublado.

Já estávamos a poucos quarteirões de casa quando um maluco saiu correndo de um beco à esquerda que servia como entrada para o depósito de um restaurante. O tal maluco parecia isso mesmo, um maluco. Ou um drogado. Seus olhos estavam vermelhos e envoltos por olheiras, além do cabelo imundo estar mais desgrenhados do que sei lá o que.

Ele correu até a Alice, surpreendendo-a, e a puxou para o beco, tampando sua boca com uma mão. Corri até eles. No beco, ele jogou-a na parede e rasgou sua camisa. Ela soltou um grito, se debateu. Ele então puxou uma faquinha (dessas de cortar o pão em casa) e pressionou no pescoço dela.

Não dava só para chegar e tirar ele de cima dela. O que ela pensava? Que um fantasma a salvou? Olhei ao redor, a rua estava estranhamente vazia. Sem pensar duas vezes deixei minha invisibilidade cair. Entrei correndo no beco. Dei um empurrão forte no tal cara e ele voou alguns metros, caindo dentro de uma enorme lata de lixo. Suponho que o empurrão tenha sido forte demais, mas tudo bem. Voltei-me para Alice que estava chorando e se abraçando para tentar esconder que está com a camisa rasgada.

– Você está bem? Tudo bem? Ele te machucou? - perguntei-lhe preocupado enquanto secava algumas lágrimas do seu rosto.

– Eu... Tô... Bem. - sussurrou ela em meio ao choro. Tirei minha camisa de manga comprida, ficando só com uma camiseta. Ajudei-a a vestir a camisa.

– Fica calma, está tudo bem. - disse-lhe olhando-a nos olhos. Ela sustentou meu olhar por alguns segundos, depois virou o rosto.

– Vem, eu te acompanho até sua casa.

– Não precisa. - negou ela sem muita firmeza.

– É claro que precisa. Vamos. Você me guia e eu te acompanho. - dei-lhe um sorriso gentil.

Assim foi. Caminhamos os dois quarteirões até a casa dela em silêncio. Ela andava ao meu lado, mas fazia questão de não deixar seu braço tocar no meu em momento algum.

– Obrigada pela ajuda. - agradeceu quando chegamos em casa.

– Não tem o que agradecer. - disse com um meio sorriso. - Se cuida. - virei as coisas e comecei a ir embora.

– Ei! - chamou ela me fazendo parar. - Qual o seu nome?

– Eathan.

– Obrigada, Eathan. - dito isso ela entrou em casa e fechou a porta, me deixando sozinho.

– É, para quem estava reclamando de tédio, até que foi um dia bem animado. - disse para mim mesmo.


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Notas finais do capítulo

Capítulo especialmente dedicado a Gabriela Corsino, minha amiga que adora pipoca ;)
Não esqueçam os comentários.



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