Were you really surprised? - Cobrade escrita por HJ


Capítulo 39
Capítulo 39


Notas iniciais do capítulo

Oii, meus amores!! *-* Que saudades de vocês!
Boa leitura!
Obs¹.: Segurem seus forninhos, porque o capítulo de hoje promete!
Obs².: Explicações para o sumiço e demais informações nas notas finais!
Obs³.: Muito obrigado pelos comentários carinhosos! Peço que continuem comentando e fazendo meus dias de autora mais feliz! :)



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Foi então que ele ouviu uma voz. Uma voz feminina que lembrava um passado que ele preferia esquecer.

– Ricardo? - Ele virou-se e teve a certeza. - Lembra de mim?

– Júlia... - Ele murmurou. Isso não pode tá acontecendo... – Faz muito tempo.

– Pra mim parece que foi ontem. - Revidou a moça, amarga. Aproximou-se enquanto passava a mão pelo cabelo loiro, despejando toda a mágoa que guardava pelo rapaz. - A dor que você me fez passar... Tá muito viva aqui dentro, Ricardo.

– Eu sei, Júlia... E eu tô arrependido mesmo. - Era verdade. Não que na época ele tivesse se importado com o sofrimento da garota, porém agora, mudado do jeito que ele estava, várias vezes tinha se flagrado pensando em como ele tinha conseguido ser tão cruel.

– Arrependido porcaria nenhuma! - Ela se alterou. - Você é um bandido! Um ladrão filho da mãe, que consegue mentir pra todo mundo!

Cobra ouvia tudo em silêncio, mas se assustou quando viu o Edgard estacionando sua moto, com a Jade de carona. Tinha que se livrar daquela garota, antes que Jade chegasse e descobrisse o pior podre do passado do lutador.

– Escuta aqui, Júlia: você tem todo o direito de tá furiosa. E eu tenho o dever de ouvir, mas não agora. Por favor, vai embora! - Suplicou, vendo que a bailarina já tinha descido da moto e o procurava com o olhar.

– Por que? Tá com medo que a sua namoradinha te veja comigo e fique com ciúme? - Ela riu, debochada. - Ah, não! Você deve tá com medo que eu conte uma certa história sua pra ela, não é? Vai que ela se dá de conta que você não presta... Seria uma pena.

Cobra se desesperou. Claro que ele acreditava no sentimento da bailarina, mas se ela soubesse... A confiança poderia ser quebrada novamente.

– Você não vai contar. - O lutador tentou parecer seguro, mas o nervosismo tomou conta dele quando percebeu que a Jade já o havia encontrado e estava observando a cena de longe, com cara de poucos amigos.

– Só se você me ouvir. - Ela estava séria. - Depois de tudo o que você me fez passar, ouvir todo o sofrimento que você me causou é o mínimo que você pode fazer, Ricardo.

– Eu escuto! Tudo! Mas não agora, por favor! - Ele já não sabia mais o que dizer.

– Amanhã, às oito da noite, aqui na praia. - Ela decretou, sem brecha para discussões.

Ele acenou com a cabeça, enquanto Jade estava perigosamente perto. Ele esperava que a Júlia entendesse a despedida, mas ela continuou plantada na frente do lutador. Então, Jade chegou. Transbordando de desconfiança, ela se posicionou ao lado do namorado e um silêncio mortal se instalou entre os três.

Após alguns instantes, Júlia tomou a palavra:

– Bom, então é isso... - Ela suspirou, olhando para o lutador. - A gente se vê, Ricardo. - Ela se aproximou do Cobra e lhe deu um abraço, com direito a três beijinhos de despedida. Jade estava prestes a voar no pescoço da loira, porém Júlia foi mais rápida e acabou indo embora.

– "A gente se vê, Ricardo." – Imitou Jade, com desprezo. - Que palhaçada foi essa, Cobra? Eu tenho cara de boba? Virou bagunça agora?

– Calma, Jade. Não é nada disso qu... - Ele tentou, mas a garota estava muito nervosa.

– Que eu tô pensando? Fala sério, Cobra! Quem era a vadia?

– Era a... a Júlia... Ela era minha... minha amiga. - Foi então que ele percebeu o olhar marejado da bailarina. - Não é pra tanto, Jade, não precisa chorar...

– Ah, vagabundo... - Ela suspirou, exausta. - Você nem sabe o que aconteceu.

– O que? - Indagou o lutador, feliz por mudar de assunto.

– Eu conheci o meu pai. - Ela sentiu as lágrimas voltarem. Diante do olhar confuso do namorado, Jade se sentou na areia da praia e começou a relatar o que tinha acontecido. - Depois da minha apresentação, um homem apareceu no meu camarim. Ele tinha uma foto com a minha mãe, de quando os dois eram mais jovens... Ele disse que era o meu pai, que tinha acompanhado de longe o meu crescimento porque a minha mãe não deixava ele se aproximar... - Ela chorava com mais dor ainda. - Mas ele nem sabia que a minha mãe tinha morrido! Com certeza ele viu um anúncio da minha apresentação e resolveu aparecer pra ver se conseguia uma grana...

– Minha dama... - Cobra a envolveu em um abraço. Doía tanto ver ela machucada daquele jeito. - Não chora, vai! Você é forte e ele é um otário... Na real, ele é um coitado. Nem sabe o que perdeu ficando longe de você.

– É que dói tanto, sabe? Eu sempre imaginei como o meu pai seria e agora que eu sei que ele não passa de um interesseiro barato... Eu tô muito decepcionada, Cobra. - Ela aos poucos se acalmava dentro daquele abraço. Era o efeito dele sobre ela.

– Quer ir pra casa? Acho que você não tá muito no espírito de showzinho da Galera da Ribalta hoje... - Perguntou Cobra, recebendo um aceno positivo.

Entraram no carro e foram para o apartamento. Sequer jantaram, apenas seguiram para cama. Naquela noite, não ficaram se agarrando. Só dormiram juntos, no sentido mais inocente da expressão, aproveitando a presença um do outro.

***

Cobra tinha um problema para resolver. Júlia tinha marcado a conversa para exatamente meia hora antes da apresentação da Jade. Se ele não aparecesse na conversa, Júlia poderia contar tudo para Jade. Se ele não aparecesse no espetáculo da bailarina, ela poderia desconfiar de algo.

Ele estava perdido. A hora não estava preocupada com isso e continuou a passar normalmente. Quando o relógio marcava cinco horas da tarde, Jade despedia de Cobra para se encaminhar para o Teatro.

– Então nos encontramos no Teatro e depois vamos curtir a última noite de show da Galera da Ribalta na praia, vagabundo?

– Hum... Ah, claro... - Ele se enrolou. Você vai ter que dar um jeito, Cobreloa.

– Tá tudo bem, Cobra? - Perguntou a bailarina, desconfiada. - Você tá com uma cara...

– Não, tá tudo tranquilo. É só que com esse trânsito... Pode ser que eu me atrase pro teu espetáculo, né? - Ele sorriu, desconfortável. - Mas é só isso mesmo...

– Sei... - Ela fingiu que acreditou. - Bom, você poderia me dar um beijo como recompensa pelo atraso...

– Um? - A bailarina confirmou com a cabeça. - Ah, não! Eu quero dois, três... - Começou ele, antes de envolver a garota pela cintura e beijá-la.

***

No horário marcado, Cobra estava na praia. Não tardou e Júlia também apareceu. Ela estava com o mesmo semblante triste da noite anterior e carregava um olhar frio consigo. Apesar de ser um ano mais nova que o lutador, Júlia aparentava ser mais velha, devido as rugas de preocupação. Cobra analisava esses detalhes com culpa. Por que você tinha que ser tão imbecil, Cobra?

A garota se aproximou em silêncio, esperando que ele falasse alguma coisa. Uma lágrima ameaçou surgir nos olhos da menina quando ela ficou frente-a-frente com Cobra, porém ela respirou fundo e tentou se controlar.

– Me desculpa. Eu nem imagino tudo o que você pode ter passado. - Confessou Cobra, com sinceridade.

– Ah, não imagina? - Júlia se alterou. Sorte que a praia estava praticamente deserta. - Talvez eu possa te contar.

Cobra concordou, silencioso e resignado. A garota suspirou antes falar qualquer coisa. Parecia que até as lembranças eram dolorosas e o Cobra se sentiu um lixo. Tomando coragem, ela começou:

– Eu gostava muito de você, Ricardo. E por que não gostaria? Afinal, você era o meu noivo. Você falava as coisas que eu precisava ouvir, me tratava bem e a minha família te adorava. Eu confiava em você. Sabe, quando eu fiquei sabendo da minha doença e que precisava da cirurgia, eu não me desesperei. Você ia tá comigo, eu pensei. Por isso, todas as minhas angústias eu dividia com você. Ricardo, você sabia como foi difícil juntar todo aquele dinheiro. Você sabia que aquela cirurgia era o único jeito de acabar com a minha dor infernal na coluna... Você sabia, Ricardo! - Ela gritou.

Vendo as lágrimas escorrerem do rosto da ex-noiva, Cobra sentiu a culpa invadir o seu peito. Aquele dissimulado de quem ela estava falando era ele, ou uma versão antiga dele.

– A minha família, durante meses, se uniu pra conseguir juntar toda aquela grana. Era difícil pra eles me ver naquele estado, por isso eles fizeram de tudo pra pagar aquela cirurgia. Você se lembra, não é? Como a nossa cidade é pequena e todo mundo se conhece, muita gente ajudou com o pouquinho que podia. Eu tava tão feliz, Ricardo! Eu ia conseguir andar direito de novo! E quando foram fazer a transferência para a conta da clínica, qual foi a minha surpresa? - Ela forçou um sorriso amargo. - Alguém tinha roubado.

– Júlia, e...

– Cala a boca, desgraçado! Eu ainda não terminei! - Ela gritou e o Cobra baixou a cabeça. Respirando com dificuldade, ela tentou se acalmar. Instantes depois, ela continuou: - Quando eu soube, eu fiquei apavorada! Quem, meu Deus, seria capaz de fazer um negócio desses? Quem é que sabia a senha da minha conta e ia me roubar, sabendo da minha situação? Nunca me passou pela cabeça que pudesse ser você, Ricardo. - Ela enxugou as lágrimas tentando se recompor. - Mas aí o seu pai apareceu lá em casa. Disse que tinha tentado evitar, mas que o filho dele era um canalha sem o mínimo caráter e tinha acabado de fugir, levando todo o meu dinheiro, todas as minhas esperanças... Como você conseguiu, Ricardo? A tua consciência te deixou dormir? Eu n...

– Não. - Cobra falou, tirando Júlia do seu discurso. - A minha consciência não me deixou dormir por muitos dias, Júlia. Eu conseguia ouvir você reclamando da sua dor e eu... Eu tive vontade de ir atrás de você e pedir desculpas, mas chegou um momento em que... Em que não importava mais. Eu assumi a minha armadura de monstro de vez e passou. Eu simplesmente não ligava pras outras pessoas. Tudo que importava era o meu sonho, a minha felicidade... - Cobra passou a mão no rosto, atormentado com aquela constatação. - Mas agora não é mais assim, Júlia. Eu juro!

Agora já não adianta mais, Ricardo. - Ela parecia não acreditar na mudança do rapaz, mas também, quem acreditaria depois de tudo? - Agora eu já abri a porta da minha casa quando um bando de vadias apareceu lá, procurando por você. Você me traia com quase metade da cidade e ainda tinha a cara de pau de dizer que eu era a única... Como eu fui idiota, meu Deus! Já que a cidade é minúscula, no outro dia todo mundo sabia da história da coitadinha que era traída, foi roubada e abandonada pelo noivo. Todos me olhavam com pena Ricardo. Depois dessa humilhação, eu virei depressiva. Passava os dias no quarto, trancada, chorando incessantemente e amaldiçoando cada pessoa que tentava furar o meu bloqueio. Eu tinha vontade de quebrar tudo, mas como? Eu mal conseguia ficar de pé! Começaram a me dopar de remédios, mas não adiantava. Minha dor não era só física.

As lágrimas já a impediam de falar e o Cobra não sabia o que fazer. Era triste saber que ele era o responsável por tudo aquilo. Refletindo um pouco, ele lembrou que não parecia tão cruel na época, coisa de moleque inconsequente. Parecia mais uma oportunidade imperdível de conseguir virar lutador profissional.

Perderam a noção de quanto tempo estavam ali. Mesmo assim, o relógio não parava.

***

Depois da sua apresentação, Jade encontrou com Edgard no camarim.

– Ué, cadê o Cobra? - Perguntou a bailarina, estranhando a ausência do namorado.

– Ele não apareceu hoje, querida. Pensei que vocês tivessem combinado de se encontrarem depois na praia, como ontem. - Respondeu Edgard, sem dar muita importância para o assunto.

Desconfiada, Jade pegou o celular, ligou para o Cobra e nada. Mais uma tentativa e nada. Outra vez e o mesmo resultado.

– Algum problema, honey? - Perguntou Edgard.

– O Cobra... Ele deu uma sumida. Não tá atendendo... - Respondeu a bailarina, confusa com o sumiço inesperado.

– Que nada, Jade! Ele deve tá lá curtindo o show, nem ouviu o celular tocando. Vem, eu te deixo lá.

Não convencida, a bailarina concordou. Sua cabeça ia longe durante o percurso. Onde você se meteu, vagabundo?

***

Cobra estava tão envolvido na conversa com a ex-noiva que nem ouviu os acordes do Pedro ecoarem um pouco distantes dali. Percebendo que a movimentação começava a ficar grande, Júlia recuou aos poucos, mantendo uma distância segura.

– Você nunca mais deu o ar da graça... Sumiu mesmo. Por acaso você sabe que o seu pai morreu? - Ela já não chorava mais, porém continuava inconformada. - O pobre velho não aguentou tanto desgosto por ter um filho covarde e teve um enfarto!

– Não vem com essa história! O meu pai nunca se cuidou, é claro que isso poderia acontecer uma hora! - Tentou convencer Cobra, tanto a ela quanto a si mesmo. O fato é que Cobra se sentia mesmo culpado.

– Para de conversa, Ricardo! Nós dois sabemos que a culpa é sua! - Ela despejou. - Então você sabia? Você sabe também que a sua mãe e os seus irmãos quase enlouqueceram, tentando botar comida na mesa? Enquanto você tava indo para os Estados Unidos, eles estavam quase morrendo de fome.

Aquilo sim, doeu. Cobra tinha pensado em oferecer ajuda para a família, mas teve medo. Depois de tudo, quem garantia que ele não seria rejeitado?

– Mas passou. Os seus irmãos subiram na vida, a sua mãe conseguiu a aposentadoria que tanto queria. Eu fiz a minha cirurgia, depois de ter que recomeçar do zero e economizar durante muitos outros meses. Eu tô noiva de novo, de um cara que gosta de mim de verdade. Você não faz mais falta nenhuma, pra ninguém.

Enxergar esse fato fez Cobra pensar sobre seus feitos. Que tipo de canalha consegue fazer com que a própria família o esqueça?

Eles não perceberam que Jade tinha acabado de chegar e já os tinha encontrado.

– Mas o que...? - Murmurou Jade, de longe. Lentamente, ela foi se aproximando. "A gente se vê, Ricardo." Lembrou-se.

– Eu fico feliz por isso, Júlia. - Confessou Cobra. - Assim eu não me sinto tão culpado.

– Não se sente tão culpado? Você causa todo esse estrago e não se sente culpado? Na boa? Cansei. Você não mudou nada, Ricardo.

– Me perdoa, de verdade. - Ela estava se afastando, mas Cobra achou que a devia uma coisa. - Me dá uma abraço.

Ela o olhou torto. Mesmo um pouco receosa, foi ao encontro do lutador, sendo observada cada vez mais de perto pela Jade.

– Amigos? - Cobra perguntou.

– Não exagera, Ricardo. - Ela sorriu, triste. - O máximo que você conseguiu de mim com esse desabafo foi um pouquinho menos de ódio. - Tá ótimo, pensou Cobra.

Ela já ia embora, mas ouviu um grito:

– Peraí! É com você mesmo, sua vadia loira!

Júlia virou-se, assustada.

– Vocês pensavam que eu ia ver toda essa cena em silêncio? Fala sério! - Jade chegou, revoltada. - O que foi isso, Cobra?

– É que... Calma, minha dam...

– Não me chama assim!! E você, vai ficar quieta? - Gritou a bailarina, se referindo a Júlia.

– Primeiro, baixa o seu tom de voz pra falar comigo. - Revidou Júlia, calma. - Segundo, eu não te devo satisfação nenhuma!

– Mas quem você pensa que é, sua sonsa?

– Pega leve, Jad... - Tentou de novo o lutador.

– Não mesmo! Com vadia eu não tenho educação! - Jade gritou mais alto ainda, fazendo com que Júlia perdesse a linha.

– Pelo menos eu sei onde o Ricardo tava até agora... - Explodiu ela. - Você sabe?


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Notas finais do capítulo

Olha eu aqui de novo!! Bom, vamos as explicações...
Eu estava numa temporada de provas complicada, porém quando ela acabou eu pensei, bem feliz: "Pronto, agora eu vou ter tempo de postar um capítulo novo!" SNQ! Meu computador resolveu dar uma pirada e eu fiquei sem conseguir postar de novo.
Porém aqui estou eu, povo! E com muita saudades de vocês! Espero poder matar essa saudade com os seus reviews! Até lá!
Beijinhos!



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