Were you really surprised? - Cobrade escrita por HJ


Capítulo 40
Capítulo 40




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– Pelo menos eu sei onde o Ricardo tava até agora... - Explodiu Júlia. - Você sabe?

Um silêncio ensurdecedor se instalou entre os três. A frase por si só não dizia nada, mas Cobra sabia muito bem todas as interpretações que ferviam na cabeça da Jade. Júlia passou a mão nos cabelos, sabendo que tinha acabado de plantar a semente de uma guerra no namoro entre o lutador e a bailarina. Sem saber como melhorar a situação, resolveu deixar os dois sozinhos.

– Olha, Jade, eu não te devo satisfação... Vocês dois que se resolvam.

Jade forçou um sorriso irônico enquanto observava a loira se afastando e sentiu os olhos marejarem. Negou-se a encarar o rosto do Cobra, ainda assimilando o que aquelas palavras significavam. Eu... Eu não acredito. O Cobra me traiu... De novo. Levou as mãos na face, tentando afastar aqueles pensamentos. Então ela ouviu a voz que, naquele instante, era a mais odiada por ela.

– Jade, deixa eu explicar... - A bailarina começou a caminhar, na tentativa de deixar o Cobra para trás. Como bom atleta, facilmente o lutador conseguiu acompanhar o ritmo da bailarina. - Eu e a Júlia... A gente só tava...

– Por favor, me poupe dos detalhes, Cobra. - Interrompeu Jade, ainda sem olhar nos olhos do moreno. - Já não é humilhação suficiente?

– Não é nada disso, minha dama... É que eu...

– Para de falar, Cobra! - Gritou Jade, virando-se de súbito para o lutador. - E não me chama mais de minha dama! Quer saber? Não me chama mais de nada. Eu nunca mais quero ouvir uma palavra que saia da sua boca, seu traidor!

Jade voltou a andar, deixando Cobra perdido.

– Então é assim? Você simplesmente vai embora? - Murmurou ele, porém alto o suficiente para que ela ouvisse e parasse de andar novamente.

– E eu vou ficar pra que, Cobra? Pra ouvir você dizer que não é nada disso que eu tô pensando? Não, não, melhor: pra dizer que a Júlia te pegou de surpresa, igual a Karina, né? Eu já vi essa cena antes, Cobra. - Ela cruzou os braços, indignada. Contra sua vontade, lágrimas rolaram pelo seu rosto. - Eu fiquei preocupada quando você não apareceu no Teatro, fiquei pensando que tinha acontecido alguma coisa... Como eu fui idiota, meu Deus! Você tava aqui com essa vagabunda oxigenada, fazendo sabe-se lá o que. - Ela respirou fundo, tentando manter o pouco que lhe restava de calma. - Eu tô indo embora agora e nem ouse me seguir! Acabou, Cobra... De uma vez por todas.

Ela seguiu seu caminho e deixou Cobra para trás, sem saber como reagir. Ele acabou por deitar-se na areia, ouvindo apenas o som das ondas noturnas. O show havia acabado, percebeu ele. Estava sozinho. Podia deixar seu lado fraco transparecer.

***

Jade seguia de cabeça baixa, tentado esconder as lágrimas que lhe tomavam o rosto. A mente da bailarina estava quase explodindo graças aos pensamentos desorganizados. Burra! É claro que isso ia acontecer de novo, sua idiota! Ainda estava se amaldiçoando em silêncio quando tropeçou em um pé e quase caiu. Inferno!

Hei! Olha por onde anda! - Reclamou Pedro, sentando em um banco com Karina em seu colo, irritado por ter que interromper o beijo com a sua Esquentadinha.

– Jade?! - Assustou-se Karina, devido ao estado vulnerável que a bailarina apresentava. - O que aconteceu?

Os flashes voltaram com força. A imagem da Karina beijando o Cobra tomou a cabeça da Jade, trazendo toda a mágoa que a morena havia dito a si mesma que não existia. Tudo isso, somada a dor pela nova suposta traição, fez o veneno brotar nos lábios da bailarina, como nos velhos tempos.

– O que aconteceu, Karina? Nada de novo. Apenas a velha história sobre romances desfeitos. - Ela enxugou o choro. - Sabe, às vezes eu fico pensando... Será que ainda vale a pena confiar em alguém?

– Claro, Jade! Principalmente se esse alguém for a pessoa que você mais ama, não é, Esquentadinha? - Disse Pedro, distribuindo pequenos beijos no pescoço da namorada. - Depois que passou toda aquela barra daquele maldito acordo, eu e a Karina somos um livro aberto um com o outro. A gente conta tudo, a gente sabe que pode confiar. E é muito bom assim, né Karina?

– Ah é, Karina? - Disse Jade, dissimulada. - Vocês contam tudo mesmo? O Pedro sabe de tudo o que aconteceu nos Estados Unidos?

– Jade, o que você tá...?- Karina começou a se desesperar.

– Do que vocês tão falando, Esquentadinha? O que que tá rolando aqui? - Perguntou Pedro, tirando a lutadora do seu colo e ficando em pé.

Pobre guitarrista... Pensou Jade. Ela continuou, ignorando os comentários feitos pelo casal Perina.

– Ah, então o Pedro deve saber que você beijou o Cobra, exatamente no quarto ao lado do qual eu estava, certo? - Jade viu as lágrimas surgirem no rosto da lutadora. Sentiu remorso por uma fração de segundos, depois lembrou-se que ninguém se importava quando quem sofria era ela. Pelo menos mais alguém vai ter uma noite péssima.

– Você fez o que, Karina? - A voz do Pedro desafinou. Não de um jeito engraçado, como quando ele cantava, e sim de um jeito de cortar o coração.

– Pê, eu explico... Na verdade, eu... É que tipo... Eu tava muito triste e o Cobra...

– É verdade?! Karina, você me traiu? Você me... Você me traiu com o Cobra? - Ele não obteve resposta. Karina baixou a cabeça, esperando ouvir palavras agressivas e xingamentos horríveis do seu guitarrista. Mal sabia ela que o Pedro jamais conseguiria fazer isso. Quando Karina se deu por conta, só restavam ela e a Jade, pois o Pedro já tinha ido embora.

– Você acabou de destruir o meu namoro... Eu pensei que a gente fosse amiga, que a gente já tivesse superado... - Karina desabafava, em meio a soluços contidos. - Por que você fez isso, Jade?

– Porque eu sou a vilã, lembra? - Respondeu Jade, tentando se convencer também. A verdade é que nem ela sabia direito porque tinha feito aquilo, só sabia que não queria ser a única a sofrer. - Os tempos passam, os cenários mudam, mas os personagens continuam os mesmos, Maria-Macho.

Se não estivesse tão abalada, Karina teria revidado, provavelmente desferido alguns socos na pele lisa da bailarina. Ao invés disso, ela apenas contatou, sem forças:

– Você é doente, garota. Você é completamente doente. - Então saiu, sem rumo.

Enquanto isso, Jade recordava um velho hábito, há muito tempo esquecido: inconscientemente, levou a mão na nuca e se pôs a arrancar fios de cabelo.

***

Chegando ao apartamento, em silêncio, Jade lembrou-se da noite anterior, quando ela e o Cobra tinham entrado por aquela mesma porta e mantido aquele mesmo silêncio. Na verdade, não era bem o mesmo. Na noite anterior, havia cumplicidade, companheirismo, confiança. Amor. Hoje havia raiva, desprezo, decepção. Ódio, quem sabe. Ela precisava falar com alguém, urgentemente. Caso contrário, tinha a sensação que sua cabeça ia explodir. Precisava se sentir especial de novo. Por isso, ela não teve dúvidas.

"De: Jade

Para: John

John, por favor, vem aqui no meu apartamento? Eu sei que é meio longe, que já tá tarde e que você deve tá cansado, mas por favor... Vem. Eu tô precisando conversar, tô precisando de um amigo. Tô te esperando. Beijos."

***

Karina andou por alguns instantes sem rumo, permitindo-se chorar. Quando deu por si, estava na beira da praia. Continuou caminhando e encontrou a visão de um homem deitado. Sentiu medo e pensou em ir embora, mas prestando mais atenção, reconheceu aquelas roupas.

– Cobra?! O que aconteceu?

– Karina?! - Ele tinha olhos de quem havia chorado. Ela também. - O que aconteceu?

– Perguntei primeiro. - Revidou ela, teimosa.

– É que a Jade... Ela pensa que eu fiquei com uma garota aí, só que eu não fiquei, mas ela não deixa eu me explicar... Sua vez.

– A Jade contou pro Pedro que a gente se beijou. - Karina falou, em um folego só.

– Ela fez o que?! - Karina ia repetir, mas Cobra a interrompeu. - Mas ela é muito egoísta mesmo! Não é porque a gente brigou que vocês precisavam brigar também. Quem ela pensa que é? Ah, mas essa garota vai ver! - Cobra saiu em disparada e Karina sentiu medo novamente.

– Quando o Cobra sai desse jeito... É melhor nem pensar! - Murmurou ela, sozinha.

***

Quinze minutos depois da mensagem, John apareceu no apartamento da Jade.

– Eu tava aqui por perto... - Ele se adiantou, assim que Jade lançou um olhar questionador. Nervoso pelo estado da bailarina, John entrou na sala e esqueceu de fechar a porta. - O que houve?

Jade o abraçou forte e voltou a chorar. Não estava nem se reconhecendo. Parecia um bebê, frágil e vulnerável. Odiava se sentir fraca daquele jeito, então logo prendeu o choro dentro de si.

– Aquele desgraçado do Cobra me traiu, John, de novo! - Ela desabafou. - Eu gostava tanto dele... Mas ele fez questão de jogar tudo fora. Eu cansei, John. Eu já aguentei muita coisa daquele vagabundo, agora deu.

John apenas assentiu, oferecendo novamente seu abraço. Jade aceitou, ansiando por se sentir acolhida de novo. Ela queria ser amada. O desejo de vingança, a dor da imaginada traição e essa vontade ardente de se sentir desejada por alguém fez com que, em um lampejo de coragem e insensatez, Jade repetisse a frase dita uma única vez antes:

– John... Me beija, por favor.

Mesmo sem entender, John jamais perderia a oportunidade de fazer o que era o seu sonho, principalmente com ela pedindo daquele jeito. Então, ele a beijou.

A porta continuava aberta. Cobra tinha acabado de chegar.

O lutador havia ensaiado durante todo o caminho o que iria dizer para Jade. Imaginou que teria que lutar contra sua vontade de abraçá-la quando a encontrasse com o olhar triste. Imaginou que ela estaria tomada pelo remorso e que a encontraria pronta para pedir desculpas por ter acabado com dois relacionamentos em uma única noite.

Jamais a imaginou daquele jeito.

Parecia mentira, mas estava ali, bem na sua frente. Burro! Trouxa! A cena era tão intensa que o lutador aplaudiu, fazendo o mais novo casal se assustar.

– Não! Por que parou? Desculpe, não era a minha intenção atrapalhar. - Ele riu com escárnio. - É que tava tão bonito... Não pude deixar de aplaudir.

– Cobra? O que você tá fazendo aqui, vagabundo? - Perguntou Jade, atordoada.

– Opa! Vagabundo não! Se eu não te chamo mais de dama, acho bom você não me chamar de vagabundo também. - Ele saiu da porta e entrou no apartamento. Lentamente, foi se aproximando dos bailarinos. - Mas já que você quer saber, eu vim aqui te perguntar uma coisa... Por que você acabou com o namoro da Karina?

Jade nem conseguiria expressar o quão desapontada ficou. Quem mandou pensar que ele ia vir atrás de você, sua idiota! O que importa é a felicidade da Karina...

Mas que inferno, Cobra!! - Gritou ela, se aproximando do lutador e apontado o dedo em riste para ele. - Você me trai e a única coisa que você consegue pensar é no namoro da Karina?!

– Abaixa esse dedo agora, Jade! - Alterou-se também o lutador.

– Se não o que? - Ela o olhou, furiosa. - Cobra, poe uma coisa na tua cabeça: eu não tenho medo de você. Você me traiu tantas vezes que acabou me...

– Eu não te trai, porra!! - Ele pegou os pulsos da bailarina e a jogou no sofá. Gritando e gesticulando muito, ele continuou: - Você entendeu tudo errado! Eu ia te explicar o que aconteceu, mas você é tão egoísta, mimada e infantil que foi incapaz de me dar cinco minutos! Depois de tudo o que a gente passou, eu pensei que isso fosse o mínimo que você pudesse me oferecer, mas você preferiu vir correndo pros braços desse mauricinho metido a besta!

Ele passou as mãos no cabelo, transtornado, sendo observado atentamente pelo olhar assustado da Jade. Parecia que haviam voltado no tempo e que Jade estava observando um ataque de fúria do Cobra imaturo e inconsequente que conhecia. Infelizmente, John não ficou apenas observando e empurrou o Ricardo.

– Quem você pensa que é, lutador? Essa casa aqui nem é sua e você ainda empurra a tua ex-namora...

– Não encosta em mim! - Bradou Cobra, acertando um soco na pele perfeita do bailarino e o deixando no chão, com medo.

– Para, Cobra! - Finalmente, Jade tomou uma atitude. Com medo do que o lutador poderia fazer, ela o abraçou, impedindo que ele avançasse no John. Com voz doce, ela falou baixo no ouvido do ex-noivo: - Cobra, presta atenção: você não é mais assim. Você já consegue se controlar.

Aos poucos, Cobra foi voltando ao normal e se dando de conta do que estava acontecendo. Encontrou o olhar apavorado do John no chão e lembrou-se dele beijando a sua dama. Nada do que pudesse acontecer dali em diante apagaria aquilo da sua memória, então ele resolveu ir embora.

Cobra virou-se e percebeu que Jade ainda o abraçava. Olhou nos olhos dela e... Nada. Era uma mistura de medo com raiva e atração que resultou num bolo indecifrável de sentimentos. Ele não julgava; estava igualmente confuso. O lutador apenas sentiu que precisava dizer uma coisa:

– Não importa quantos caras você beije, Jade, você nunca vai se esquecer de mim. - E foi embora.

***

Minutos depois, Jade já estava recuperada da erupção de sensações que Cobra lhe causava. John já estava de pé e também mais calmo.

– É... Fortes emoções. - Ele disse, quebrando o silêncio. - Sabe, Jade, eu... Quer dizer, nós... O beijo... Eu não sei...

– John, por favor, esquece. Foi um ótimo beijo, mas, por favor, esquece. Eu não devia ter feito isso. - Ela notou uma onda de decepção correr o olhar do bailarino, mas era necessário. Jade não queria envolver ninguém na sua vida amorosa, não tão cedo.

– Então eu acho que vou embora... - Comentou ele, indo na direção da porta de entrada.

– Tá bem... Tchau, John. - Ela recebeu um aceno como resposta. Esperava apenas não ter perdido um amigo também.

***

Cobra e Jade estavam na cozinha do apartamento da morena no Rio. Ela cozinhava o almoço dos dois tranquilamente quando ele a abraçou por trás, envolvendo seus braços fortes da cintura delicada da bailarina.

– Ah Cobra... Deixa eu terminar aqui... - Fez charme a garota.

– Tem certeza? - Indagou ele, enquanto sentia o perfume da Jade, fazendo com que ela se arrepiasse levemente.

– Não. - Afirmou ela, voltando-se para o lutador. - Eu quero muito que você continue.

E Cobra a beijou. Enquanto a beijava, Cobra usou uma mão para desligar o fogão e a outra para suspender a bailarina. Ela enlaçou suas pernas na cintura do lutador e, como se Jade não pesasse nada, ele a levou para o quarto.

Deitando-a na cama, Cobra voltou a sentir perfume da garota, desta vez também depositando pequenos beijos por todo o pescoço, ao mesmo tempo que segurava forte na nuca da mesma. Lentamente, foi subindo até chegar no lóbulo da orelha, onde mordeu de leve. Jade se contorceu e quando Cobra sentiu a pele ouriçada da morena contra a sua, falou com a voz rouca no ouvido da sua dama:

– Não importa quantos caras você beije, Jade, você nunca vai se esquecer de mim.

Jade acordou num pulo, suando devido ao calor descomunal que estava sentindo e com o coração batendo forte.

– Meu Deus! - Murmurou Jade, enquanto se abanava, tentando normalizar a respiração. - É só pra me provocar, né vagabundo? Você vai ver, eu vou te esquecer rapidinho!

Decidiu tomar um copo de água gelada, antes de tentar voltar a dormir. Enquanto sentia o líquido gelado correr pela sua garganta, Jade concluiu que precisava descansar. Se quisesse mesmo esquecer o lutador, tinha um longo caminho pela frente.


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Notas finais do capítulo

Oi gente!! E aí? O que acharam do capítulo de hoje? Comenta aqui! Tô louca pra conversar com vocês! Beijinhos!



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