O Cárcere dos Cooper escrita por _TheDarkMoon


Capítulo 1
Parte Um


Notas iniciais do capítulo

Este conto me veio através de um sonho e eu não poderia negar-lhe pois pareceu-me muito razoável. Espero que desfrutem bem.



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Deixar-se cair em pleno sono em sua poltrona não é politicamente correto. Ao menos não quando seu companheiro de apartamento é Sherlock Holmes. Despertei de supetão parcialmente aborrecido com o barulho abrupto de coisas sendo derrubadas.

– Qual é o propósito de se viver em uma cidade onde nada acontece? – Holmes tinha as sobrancelhas volumosas comprimidas com o nervoso iminente em seu rosto.

– Não é só porque você deseja que uma tragédia aconteça que alguém vai morrer de forma interessante para distraí-lo. – coloquei o livro que pendia em meu colo na pequena mesa ao lado.

– O jornal, Watson! Procure por algo. – apontou com a palma da mão aberta para as folhas largadas no chão devido a sua busca incessante.

– Já procurei no jornal de hoje três vezes! Não há nada. – levantei-me.

Por um instante, Holmes pareceu ter uma vertigem e, olhando para o chão, apoiou-se na parede.

– Você está se sentindo bem? – comecei a me aproximar, preocupado com a reação repentina.

E então, como se tivesse apenas recarregado suas energias, deu um salto e com seus olhos psicóticos,as veias do pescoço dilatadas e as mãos em garra, exclamou:

– Preciso de algo, Watson! – segurou-me pelos ombros e me balançou. – Preciso de um caso ou em breve serei um homem morto! – soltou-me e chutou a mesa de centro. – Ou pior: um homem louco!

– Talvez você precise de um chá. – fui em direção à porta e pus meu casaco, pronto para sair e deixar suas insanidades trancadas dentro do 221B, enquanto eu respirava ar puro. – Talvez você precise de um médico. De um médico para loucos.

Abri a porta e sem nem ao menos conseguir colocar o outro pé para fora, uma bela mulher de grande decote e um nariz longo e reto, vestindo chapéu tão escuro como seu vestido parou-me.

– Senhor Holmes?

– Doutor Watson. – tive vontade de revirar os olhos e deixá-la com a criatura em crise, entretanto respirei fundo. – Espero que seja um bom caso ou o próximo louco serei eu. – abri a porta do apartamento quando ela começou a falar.

– E é. Tenho certeza que tem máfia incluída na história. Ou pior! É ela! Não pode vir coisa boa dessa mulher! – ela jogou sua sombrinha no canto da sala e sentou-se no sofá com postura forçada.

– Holmes, esta é a senhora...

– Christina Twigger. – apresentou-se displicentemente, como se não fosse casada, fato que era claro pelos cabelos presos e tons de roupa discretos, ainda que usasse decote e tivesse o olhar faminto.

O detetive apareceu ainda de pijamas e roupão, e sua visão não a deixou corada e sim com um sorriso pouco discreto no rosto. Meu companheiro de apartamento logo virou as costas sem expectativas, mas a mulher insistiu:

– Senhor Holmes! É um caso sério! – ela ergueu-se em protesto, aumentando seu tom de voz. – É a louca dos Cooper!

Holmes voltou-se para ela, sem demonstrar interesse, mas com uma luz escondida por trás de seus olhos pouco sóbrios.

– Senhora Twigger, peço que se esforce um pouco mais. Compreendo que sua mãe teve muitas filhas e que não pôde lhe dar a atenção adequada, mas seus modos já deveriam ter sido ajustados depois do casamento. – ele ergueu a mão e ela se sentou, inflando-se e colorindo-se de irritação. – Não que seus modos me incomodem, mas quando fala emite sons muito peculiares. Creio que eu possa lhe indicar um especialista em fala...

– Não vim para ser insultada.

– De fato não. Veio para insultar. – meu amigo jogou-se em sua poltrona e cruzou os braços. Ela iria protestar novamente, mas Holmes interrompeu: - Prossiga. Falava dos Cooper.

– Ora! – ela bufou, mas por fim desistiu de sua teimosia em nome da história que trazia. – Espero não ter sido a única a desconfiar, pois está cada vez mais claro que eles têm ligação com a máfia, com bandidos, com o demônio, com algo que de bom nada tem. Chegaram a pouco mais de seis meses e já produziram riqueza maior que as propriedades de meu marido! Logo meu marido que sempre teve suas posses de forma digna!

– E qual o seu real intuito? – Holmes começara a acender seu cachimbo sem a preocupação de dirigir seu olhar à Christina.

– Quero que os investigue. Especialmente a ela. Mary Cooper. – ela balançou a cabeça com reprovação e jogou o corpo para frente, forçando seus seios e sussurrando de forma desnecessária. - Está por volta dos quinze anos e rejeita todos os pretendentes! Inclusive os mais ricos e desejados. Rejeitou o herdeiro Stanford, senhores! O herdeiro Stanford!

– A senhora não vai dar nenhuma informação útil, não é mesmo? – ele se levantou da poltrona rapidamente e começou a revirar seus armários, puxando uma pasta, de onde tirou alguns pedaços de jornal e papel. Ergueu as sobrancelhas para alguns e terminou com um sorriso de escárnio, jogando a pasta em cima da mesa e voltando-se para a mulher: - Se pedisse que eu investigasse a conduta de seu marido seria bem mais justificável. O caso não me interessa. Tenha uma boa tarde.

– O senhor é uma decepção! – Christine recolheu seus objetos e reajustou seu cabelo sob o chapéu. – Não é nada do que me disseram que era. Exceto arrogante! – e sem esperar que eu lhe acompanhasse, retirou-se.

– Se não aceita caso algum, não reclame. – fechei a porta que a senhora Twigger deixara aberta.

– Até uma chacina de galinhas é mais interessante do que esta senhora. – ele se dirigiu para seu quarto, e continuou a falar de lá. – Não negarei que já tive minhas suspeitas sobre os Cooper, mas nada fizeram para que elas tivessem base. Eles possuem um negócio de reformas de móveis clássicos e o fazem com qualidade. Creio que seus lucros crescentes sejam justificados.

– Então não se interessou pelo caso da louca dos Cooper? – deixei um sorriso escapar. – Pensei que loucos gostassem de investigar a loucura alheia.

– Por incrível que pareça, jamais vi a senhorita Cooper. Além disso, não sou louco. E acredito que ela também não seja. – já vestido decentemente, caminhando com suas pernas longas, em poucos instantes atravessou a sala e colocava seu sobretudo. – Estamos de saída, Watson.

Acompanhei-o curioso com sua repentina mudança de humor. Holmes parecia animadamente obstinado a pretensões que eu não desconfiava, mas que meu cérebro insistia em converter em piadas pouco necessárias.

– Diz-se que Sherlock Holmes sabe tudo sobre todos. Então eis uma moça rara esta que nunca lhe foi visível. Está indo conhecer a senhorita Cooper, Holmes? – ri.

– Não, Watson. Minhas pretensões são distintas. – ajeitou o sobretudo enquanto caminhava energicamente, em um ritmo que me era difícil acompanhar. – Se o caso não me vem, hei de procurá-lo.

O detetive sinalizou para a carruagem disponível que passava e subiu altivamente depois que eu me acomodara. Quando o condutor começara a fazer os cavalos andar, uma voz muito marcante mostrou-se:

– Por favor! Preciso ir para o centro de Londres, senhor.

– Já estou ocupado. – o condutor disse, parando novamente.

Logo uma mocinha começou a subir os degraus da carruagem ativamente:

– Creio que os cavaleiros também vão para lá, não é? Importar-se-iam de me ter como companhia?

– Por favor. – Holmes chegou para o lado e abriu um pequeno terceiro espaço no banco onde normalmente cabiam apenas dois homens.

A moça possuía longos cabelos castanhos e um enorme sorriso que me contagiou com uma alegria inesperada. Seus olhos eram de um castanho muito claro e brilhavam de forma admirável. Seu corpo magro explicitava sua energia e seus seios fartos moviam-se conforme sua respiração inconstante.

– Obrigada, cavalheiros. Um pouco mais e me atraso. Ah, isso não seria nada apropriado. Não que dividir a carruagem quase de forma forçada seja apropriado... – ela suspirou. – Peço que me perdoem.

– Não é incômodo algum, senhorita...?

– Cooper.

Contive um riso. Haja sorte. Se Holmes não a estava procurando, o destino queria que a encontrasse.

– Sherlock Holmes. – ele retirou o chapéu.

– O Reino Unido inteiro ouviu falar do senhor. – ela examinou-o. – É um pouco diferente do que imaginei.

– Ainda é jovem, senhorita Cooper. Sua mente é fértil.

– De fato. Porém minha mente foi bem cruel com o senhor, enquanto a realidade lhe agraciou.

Limpei a garganta para lembrá-los de minha existência.

– Este é o Doutor Watson.

Ela sorriu largamente quando lhe beijei a mão, mas quando ergui a cabeça e ela pode ver meu rosto com clareza, seu sorriso vacilou.

– Olá, Doutor Watson.

Percebendo a leve tensão, Sherlock interveio:

– Então, senhorita Cooper, soube de seus investimentos. Creio que precisarei de seus serviços.

– Permita que eu adivinhe. – ela brincou com os dedos no rosto, refletindo de forma doce. – Levando em consideração que os senhores tendem a reformar seus móveis apenas quando estes realmente precisam de conserto, vou ter em mente que algo de sua posse precisa ser reparado. O senhor tem uma postura boa, acredito que sua cama esteja intacta. Seu rosto está bastante relaxado e caso seu armário ou poltrona possuíssem problemas haveria um maior nível de estresse. Raramente mesas costumam ser reformadas, e parece que tem bastantes visitas, Mr. Holmes. Se não for algo do seu amigo, penso que seja seu sofá. – diante do silêncio após seu pequeno monólogo, ela ajeitou seus cachos abertos e disse: - Tentando decifrar o homem dos códigos. Não foi uma boa técnica. – deu de ombros.

– Ao menos acertou. – Holmes mostrava seu sorriso que cativava o coração das mulheres e lhe passava confiança. – Penso em talvez colocá-la no lugar de Watson.

– Longe de mim fazer algo semelhante.

– Agradeço pela compreensão. – eu disse.

Antes mesmo que a carruagem parasse, a moça saltou e agradeceu ao condutor, dirigindo-se ao detetive novamente logo depois:

– Sabe onde é minha loja, não é?

– Sem dúvidas. – ele disse.

– Estarei lá pela tarde. – o sol lhe iluminava de forma tão graciosa que a iluminação quase parecia vir dela. Reparei então que sua pele não era tão clara como a das outras moças britânicas e também a forma mais simplista e, ainda assim, bela como se vestia. Seu vestido realçava sua silhueta e as mangas largas da parte branca superior de sua vestimenta caíam levemente deixando seus belos ombros a mostra.

– Eu também estarei. – Holmes acenou de volta para ela e em breve a moça sumiu na multidão deixando como última visão o tecido vermelho da saia de seu vestido, seu comportamento que misturava a elegância, infantilidade e seu brilho solar.

Eu não sabia se me sentia incomodado pelo fato de a moça ter quase se esforçado para me ignorar, de estar tão fascinado por uma criatura tão aleatória ou de Holmes ainda estar sorrindo. E enquanto descia da carruagem, disse:

– Eu encontrei meu caso.


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Notas finais do capítulo

Inicialmente eu iria postar como apenas um capítulo, mas pensei que ficaria muito cansativo. Portanto, dividi em partes para que possam aproveitar melhor. Até logo.



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