A Livraria Yakuza escrita por Arquivo


Capítulo 5
Espelhos do Passado


Notas iniciais do capítulo

Próximo capítulo será o último, obrigada a todos que acompanharam a historia até agora, obrigada mesmo.



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"We can't go back
We've come too far
We can't hold back
We've gone too far

And when it comes, you will know
It's time to run"

 

 

06h00min, San Francisco, Parque de diversões Blue Clown.

Ela estava pensando sobre seu antigo nome, “Susana”, era um belo nome. Norman estava ao seu lado, ambos sentados num banco. Norman comia um algodão-doce e Hebi comia uma maçã-do-amor, o melaço vermelho sangue dava cor aos seus lábios, torturando o pobre agente ao seu lado.

Estavam no tal parque cujo recado da pedra se dirigia, um parque um tanto pequeno, com poucos brinquedos e pessoas. Eles não compreendiam o porquê de um parque péssimo como aquele estar de passagem em San Francisco, já que praticamente todas as pessoas prefeririam estar na praia de Santa Cruz. Que com certeza possuía melhores atrativos.

—Quanto tempo você acha que Ben vai demorar pra conseguir pessoal pra vigiar essa área. – Perguntou Hebi.

—Depende do por que e da quantidade.

Ela mordia sua maçã com força e mastigava pouco antes de engolir, estava obviamente ansiosa, uma vez que tudo poderia começar a qualquer instante. Minutos atrás Norman tentou convence-la a ir a um dos brinquedos - só para tentar se acalmar - no que resultou em “não” que se assemelhava a uma navalha enferrujada e fria.

—Hebi... – Sua voz estava forte, para esconder o que estava sentindo.

—O que?

—Depois que tudo isso acabar... o que você vai fazer?

Ela olhou para ele, notando suas orelhas avermelhadas, como ela o invejava. Ele possuía certo grau de gentileza que ela já havia perdido para a dor e para o ódio há muito tempo.

—Vou embora daqui. – Ela respondeu com um tom decidido.

Ele abaixou seu rosto fechando seus olhos, “Menino tolo” pensou sobre si mesmo. “Ela vive em um mundo diferente do seu, em um nível de experiência bem maior também” contemplava sobre a jovem ao seu lado.

—Entendo. – Suspirou.

—Por que essa decepção em seu rosto, você se chateou com o que eu disse?

—Não, que é isso, você não falou nada demais... é só que... – Ele queria dizer que igual a Ben, havia alguma coisa de secreto e belo nela, que chamava a atenção de todos de primeira vista.

Algo chamou sua atenção antes que ele falasse algo. Um casal estava agitado e andando de um lado para o outro e caminhando de brinquedo para brinquedo, a mãe estava tão nervosa que começou a gritar por um nome.

—Tem algo muito errado... – Hebi se levantou e Norman a acompanhou até o casal que estava na barraca de informações.

—Senhor, senhora. Algum problema?

—O que houve?

A mulher olhou para as roupas que Norman estava usando e depois olhou para as de Hebi, ele estava de vestido de maneira mais “profissional”, enquanto Hebi usava uma camisa preta que permitia uma pequena amostra de tatuagem aparecer, meio surrados e botas. Ela ignorou Hebi completamente, fingindo que ela nem tinha falado, se virou para Norman e segurou o tecido de seu blazer enquanto sacudia seus punhos.

—Minha filha! Ela só tem oito anos, ela sumiu! Por favor, me ajude! – Os olhos arregalados da mulher demonstravam puro pânico.

—Calma querida, - O homem colocou suas mãos nos ombros da mulher, então olhou para Hebi que estava se segurando para não demonstrar sua irritação perante a mulher. – Vocês são seguranças daqui?

—Sou do FBI, essa é... – Ele olhou para Hebi, pensou por um milésimo de segundo. – minha pesquisadora...

—Ela? – A mulher olhou com desdém para Hebi, não parava de encarar sua tatuagem.

—Senhora, onde viu sua filha pela última vez? – Norman tentou cortar o contato entre as duas o mais rápido possível.

—No carrossel! Ela adora carrosséis, eu só estava vendo uma coisa rápida no meu telefone... então quando levantei minha cabeça o giro do brinquedo já havia parado e as crianças estavam descendo para o próximo... mas a minha filha não... – Ela começou a chorar. – Eu e o meu marido procuramos nos acentos e perguntamos para o responsável pelo carrossel, mas é óbvio que ninguém é capaz de decorar rostos de repente quando se trabalha em um parque...

—Por favor, ela é um tanto alta pra sua idade e tem cabelos loiros bem lisos. Ajude-nos a acha-la.

Hebi concordou com a cabeça, Norman apertou a mão do homem e estavam prestes a se dividir para procurar a menina, quando o telefone da mãe tocou.

—Alô?... Quem?... Não conheço ninguém chamada Susana...

Naquele momento Norman poderia ter virado seu pescoço até torcê-lo, Hebi correu até a mulher e agarrou o telefone.

—Quem é?

—Susana, como é bom escutar sua... maravilhosa voz novamente.

—Quem. É?!

—Seu maior fã.

Ela se calou e apenas congelou olhando para o chão como uma morta viva, todos ao redor esperavam para saber do que se tratava.

—Onde você está? O que fez com a menina?

—Não fiz nada ainda... mas não sei, será que é necessário?

—Não!

Um gritou pode ser escutado por todo o parque, uma criança gritando e também podia se ouvi com muito mais clareza com o telefone. Os pais da menina se desesperaram. As pessoas que estavam no parque começaram a recolher suas crianças, o parque começou a ficar tenso.

—May?! May?! – O pai da menina gritava, olhando para todos os lados.

—Pare! – Hebi gritou ao telefone.

—Garota frágil... odeio garotas frágeis, são nojentas como baratas... já as joias, elas são duras, mas brilham! É por isso que não existem trocas justas...

—Trocas... – Ao falar aquilo a mulher olhou para Hebi e lhe tomou o telefone.

—Eu troco tudo! Tenho dinheiro eu prometo! Quanto você quer?!

—O que pensa que está fazendo?! –Seu marido exclamou.

Não demorou muito, gritos foram escutados novamente, e a mãe começou a implorar para que ele parasse. Hebi tomou o telefone de volta, enquanto Norman parecia distante, mas na verdade estava raciocinando, era estranho o jeito como os gritos soavam; com certeza não eram gravados, mas eram perfeitamente dissipados pelo parque, de forma que pareciam vir de todas as direções. Provavelmente para não denunciar a posição do louco no telefone.

—Alto-falantes! – Havia vários em cada ponta dos limites do parque, para anunciar a abertura e a rodada de certos brinquedos. – Ele deve estar com o microfone, onde fica o trailer responsável por isso?! – Perguntou, virando-se para a atendente da barraca de informações.

—N-nos fundos do parque... perto do estacionamento! – Disse a moça assustada.

—Se você quer que o seu “namorado” e o seu “pai” fiquem longe dos seus assuntos, é melhor deixá-los ir sozinhos, não estou naquela sala. Eles não têm nada a ver com o nossos assuntos inacabados... para que deixá-los morrer?

“Ele tem razão” ela pensava, mas ele só enchia sua cabeça de dúvidas.

—Norman... não sei se consigo... ir até lá, você me entende... agora que a hora chegou... já não sei mais se posso. – Ela mentiu, mentiu muito bem.

—Não se preocupe, de mim ele não escapa. – Ele abraçou Hebi, ela queria dizer adeus, pois não sabia se voltaria, mas se fizesse estragaria tudo. – Pegue um walkie-talkie, se a coisa ficar preta você manda o Ben voar... ele sabe o que significa.

—Sim...

Ele correu para longe, então Hebi levou o telefone até sua orelha novamente.

—Venha para o labirinto dos espelhos... – Ele desligou.

Hebi entregou o telefone para o pai da menina, pois a mãe estava em choque sentada no chão.

—Vou trazer sua filha de volta.

—Obrigado. –Ele estava se controlando para não entrar no mesmo estado que sua esposa.

Hebi correu até o labirinto de espelhos, que estava em manutenção por falta de lâmpadas funcionando dentro dos corredores. Já era fim de tarde, a grande tenda com paredes falsas possuía um ar tenebroso, a jovem entrou enquanto recitava em sua cabeça os ensinamentos da senhora Keita. Tirou a arma de sua calça, estava escondida em sua canela, na outra havia uma recarga, ela colocou no bolço. Estava pronta... se ele aparecesse naquele instante, ela estava pronta. As imagens de seu irmão, a dor de ser contorcida até entrar em uma mala, os gritos de sua irmã... nunca mais ver seus pais, tudo passava por sua cabeça naquele momento, ela queria poder mata-lo de um modo que envolvesse tudo o que ele fez com sua família, mas era impossível e insuficiente. Ela caminhava pelos escuros corredores, tentando ao máximo não se perder, mas os caminhos acabaram se multiplicando muito, seu coração pulsava com um pouco de dor, como se seu sangue estivesse fervendo. Então ela ouviu um som vindo de trás dela, naquele ponto o labirinto estava quase um breu. Ela se virou rapidamente e disparou, rachando um dos espelhos, mas não havia mais nada ali além de seu reflexo distorcido e rachado.

Algumas luzes se acenderam de repente, mesmo que sendo um alívio aquilo não deveria ter acontecido. Ao olhar melhor para o espelho que acabara de estragar, pode ver a silhueta de alguém atrás dela.

—Achei você...

 

Ben estava chegando ao centro do parque, quando ouviu tiros vindos da área menos movimentada, as pessoas gritavam e fugiam se perguntando o que estava acontecendo. Norman apareceu em seguida, gritando por Hebi, encontrou no trailer de áudio um homem morto e o microfone transmissor dos anúncios havia sumido. Ao perceber o que estava acontecendo, Ben correu na direção dos tiros e Norman o seguiu.

—Como pôde deixa-la só?! Eu confiava em você! – Ele o repreendeu.

—Eu também não compreendo como fui capaz de fazer isso... – Ele se torturava, seu coração estava jogado as pedras por culpa dele.

Um último tiro revelou de onde a confusão estava vindo, eles foram para o labirinto e aos poucos os sons de pessoas se batendo e discutindo começou a se tornar mais forte. Eles se dividiram para encontra-la mais rápido, mas foi Ben que chegou ao covil da cobra primeiro.

Sua Susie estava no chão e havia sangue em seu ombro direito, o assassino de sua família estava sobre ela segurando uma faca, antes que Ben atirasse nele, o louco arremessou a faca em seu peito; a bala ainda chegou a ser disparada, mas apenas raspou no braço do assassino.

—Ben! – Hebi gritou. – Filho da mãe... – Ela envolveu a cintura daquele que estava rindo de Ben jogado ao chão com suas pernas, girando-o para baixo.

Este puxou outra faca de seu cinto então, na outra tentativa de receber golpes da jovem, segurou seu pescoço com a mão livre e perfurou com a faca seu outro ombro, torcendo a lâmina na clavícula da jovem. Esta não fazia um som, o que mais excitava o assassino que apenas ria, e ria, e ria.

—Era isso que eu queria! Esta não é mais a minha pequena Susana. – Ele conseguiu vira-la de volta para o chão. Ela chutou sua virilha e a dor o fez soltar a faca. – Aargh!

—Se engasgue com merda! – Ela cuspiu em seu rosto e tentou alcançar a arma de Ben que estava perto, mas o assassino a pegou primeiro, colocando-a no grande bolço de sua jaqueta.

Ela tentava puxar a faca de seu ombro, mas estava presa entre os ossos. O assassinou soltou seu pescoço e segurou ambos seus braços contra o chão.

—Menininhas não falam sujo... – Seu sorriso se abriu e ele lambeu a saliva da jovem, que havia sido cuspida em sua cara. – Você ainda é pura não é, Susie?

—Deixe-a em paz... – Ben tentava se manter consciente.

Foi quando o assassino sentiu algo atrás de sua nuca, era Norman apontando uma arma para sua cabeça.

—Levante suas mãos!

—Sim senhor... – Ele disse ironicamente, mas ao levanta-las socou os braços de Norman, fazendo com que ele atirasse no chão.

O louco agarrou a arma de sua jaqueta e mirou na cabeça de Norman, que desviou parcialmente, levando um tiro de raspão no olho esquerdo. Levantou-se e se aproximou do jovem agente que estava no chão tentando estancar o sangue, o assassino então agarrou seu pescoço e apontou a arma para a coxa do agente.

—Sabia que a dor da quebra de um fêmur pode deixar a pessoa louca? – Assim que disse, atirou.

Norman gritava de dor, enquanto Hebi se levantava. Ela havia conseguido puxar a faca de seu ombro e mal estava conseguindo mover seus braços normalmente, mas ainda possuia força o suficiente para perfurar o pulmão do desgraçado. Ela se jogou sobre ele, mas foi surpreendida pelo assassino, que se virou para ela, a abraçando e segurando sua faca. O abraço era como o de uma cobra.

—Porra!

—Você é o grande amor da minha vida, desde nosso primeiro encontro... eu esperei por você do mesmo jeito que você esperou por mim! – Ele sorriu e a beijou, mordendo o lábio inferior da jovem até que ele sagrasse. Ela deu-lhe uma cabeçada e seu beijo foi cancelado.

—Filho da puta, queime no inferno enquanto é estuprado pelos mil demônios!

—Não... primeiro eu quero que eu e você tenhamos o nosso momento especial... mas eu quero liberta-la da sua pureza do meu jeito... – Ele lhe tomou a faca.

Deslizou a lâmina até debaixo do sexo da jovem.

—Não... não!

—Isso vai doer um pouquinho...

Ele a cortou de sua vagina até um pouco debaixo de seu umbigo.

Pela primeira vez em 14 anos, ela gritou de dor.


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