Delirium escrita por Pandora


Capítulo 5
Apenas "abrir seu coração"


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoinhas!
Gente, não sei se ainda estão aí, mas se estiverem DESCULPA! Cara, foi muito tempo sem escrever.
Minha vida tava, tá e ainda vai ficar (provavelmente) mais complicada.
Tá tenso tá rude.

Mesmo assim eu espero que você gostem e não sei, comentem? Recomendem? Ok, é pedir demais.

Vou realmente tentar não demorar mais.



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O que te assusta mais, a sobrecarga de lembranças de momentos que por mais dolorosos que seja agora, foram felizes? Ou o simples fato de não tê-las?

Eu tentei matar a realidade.

Tentei afugentar meus demônios nos compartimentos mais escuros da minha mente, quando percebi o quão difícil era matá-los.

Comecei a escutar música alta com 15.

Foi uma tentativa frustrada de afastar as vozes na minha cabeça. Aquela vozinha de consciência que me falava coisas que eu não queria ouvir.

Eu comecei a quebrar as regras, eu passei a não ser mais uma boa garota.

E quando tudo começou a ruir, digamos que eu já estava no chão.

E o ponto de ebulição é eu estar agora em um maldito hospital psiquiátrico com pessoas que acham que estou louca.

O ponto de ruptura é o que me faria quebrar.

Estar sentada em uma sala, com cadeiras em círculo e outras pessoas abrindo "seu coração" não me faria quebrar.
Mas me fazia acreditar que eu estava mais perto disso do que pensava.

–Eu comecei a matar animais com 8 anos.

Começou a garota ao meu lado, que se chamava Maria, com sua expressão calma e de olhos um tanto vazios.

–Eu pegava eles da rua, fazia carinho neles e depois os envenenava.

–Porque você acha que fazia isso?
O nosso psiquiatra, Carson, perguntou sem mudar de expressão.

Franzir o cenho, repuxar os lábios e evitar olhar dava a impressão de julgamento.

E ninguém ali queria contar seus problemas para alguém apenas para ser julgada.

Mas sim para obter, talvez, uma redenção.

–Porque eu gostava de vê-los morrer.

Ela sorriu de canto de uma forma assustadora e fria.

Um silêncio dormente começou a se fazer presente, que foi logo interrompido pela voz grave, porém certamente doce de Carson.

–Obrigada por compartilhar conosco.
Todos repetiram suas palavras.

Era minha vez.

Já estava acostumada a falar dos meus problemas com meus antigos psicólogos, não faria sentido não dizer meus medos à eles, embora fizesse eu me sentir exposta. Ninguém ali era mais ferrado que ninguém. Todos tínhamos nossas sombras e demônios. Alguns mais escuros que outros. Alguns mais pesados que outros.
Mas todos vivemos nas sombras.
Ninguém está imune ao sofrimento.

–Eu tinha 15 quando meus pais morreram em um acidente de carro.

Curiosamente, eu não conseguia tirar meus olhos da minha calça branca.

O silêncio parecia pesado, e de repente, ficou difícil engolir.

Havia coisas sobre mim...verdades que eu não podia contar, simplesmente não podia.

Um nó se formou em minha garganta. O ar ficou escasso.

Eu não queria estar aqui.

–O que aconteceu depois do acidente?
Carson incentivou.

– Eu...

Ele sabia que não poderia me pressionar, não de uma maneira rude.

Eu também sabia disso pelo incrível número de psicólogos que eu já tive, pela maneira que todos me trataram.

Pressione um pouco e eu racho, aperte mais um pouco e eu quebro.

Eu sempre tentei acreditar que ainda não estava tão ruim que não podia piorar, mas já piorou.

Eu já estou quebrada.

Quebrada em cacos tão irregulares que não importa o quanto você tente juntá-los, ou o tempo que dure não conseguem encaixar.

–Marielly, o que aconteceu depois do acidente? - ele perguntou novamente ainda com a voz doce.

Um olhar de relance em seus olhos azuis, me fez perceber a verdade. Ele já sabia.

Matt também já sabia.

Vivian já sabia.

De repente, nada pareceu mais certo ou seguro.

Eu não queria contar para essas pessoas sobre a quantidade de pecados que cometi e tudo o que fizeram contra mim.

Olhei para Matt, do meu outro lado que também me lançava um olhar triste.

Não gostava de idéia dele saber disso.

Nem de mais ninguém saber.

– O que aconteceu durante o acidente?

–Não faça isso com ela - Matt falou na direção do psiquiatra, com um tom de voz um tanto ofensivo e defensor.

Falar o antes e durante do acidente doía, falar tudo que aconteceu depois doía. Tudo machucava.

Agora eu era uma adolescente de 15 anos, no banco de trás do carro, enquanto meu pais estavam discutindo o assunto que não tínhamos resolvido em casa.

Lembrei estado do corpo deles quando os tirei do carro.

Lembrei de todas as palavras que eu não posso ter de volta.

–Eu, eu não posso - meus olhos ficaram marejados, mas eu não iria chorar.

Eu prometi a mim mesma nunca mais chorar.

–Tudo bem - Carson disse como se estivesse se desculpando - tudo bem.

Obrigada por compartilhar conosco.

Assim que ele disse essas palavras levantei, e sem pensar em mais nada sai correndo.
Passei pelas alas.
Passei pelos corredores.
Passei pelo jardim à caminho da floresta.

À caminho da árvore que eu tinha visto durante meu tuor com Matt.

Era uma árvorde com uma casca acinzentada, e folhas amareladas que mesmo com aspecto fraco que recusavam a cair.

O céu estava de um azul anil, sem nuvens, bem paradoxo à tempestade dentro de mim.

Me encostei na árvore, sem precisar me embrenhar muito na floresta.
Houve algo diferente desta vez. Eu sempre conversava sobre muitas coisas com meus psicólogos, nem tudo, mas muito. Agora, me abrir com todas aquelas pessoas olhando para mim, foi algo difícil de lidar.

Me recusei a sentar no chão, sabia que se sentasse me encolhiria e se me encolhesse iria começar a chorar.

Eu não podia chorar.

Me abracei, sentindo um frio me tomar.

Esse era a parte ruim que poucos citavam sobre relembrar ou tentar falar sobre seus demônios.

Embora eu ficasse exposta, mesmo não gostando, eles não gostavam de ser expostos.

Eles sobrevivem de sombras, de armagura e dor, e sempre que tocam no assunto de trazê-los para luz, eles me arrastam de volta para a escuridão.


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