Break My Heart escrita por Selenis


Capítulo 6
A Escuridão da Noite


Notas iniciais do capítulo

Oi gente
Mais um capítulo para vcs.
Estou lendo os comentários carinhosos, e fico muito muito feliz.



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Saitou e Meyrin deram-se as mãos e depois de uma desconfortável troca de olhares, Meyrin perguntou:
– O quê quer que eu faça?
Saitou tirou os fios que caíam por cima dos olhos e disse:
– Tem um cara que há muito tempo, eu salvei sua vida. O canalha me deve essa dívida até hoje e nunca a pagou. - fixou os olhos nela - Quero que o extermine.
– Não farei isso.
– Ora, vai mesmo me contrariar, Meyrin?
Aquelas palavras lhe transmitiram medo.
Mesmo tendo trabalhado para Saitou durante muito tempo, sabendo o quão cruel este era; Meyrin nunca se intimidou. Afinal, ela passava o seu tempo com pessoas assim, frias e rígidas.
E para não ficar para trás, tinha que negar a sua própria personalidade. Usava a mesma máscara que seus superiores e quando via um gesto gentil, carinhoso e humano ser pregado diante de si, esta literalmente caía. Sua generosidade falava mais alto e então cedia.
Meyrin soltou o cabelo, franziu o cenho e com um tom de autoconfiança na voz:
– Me dê as coordenadas.

A fraca luz do luar e dos postes eram as únicas coisas que iluminavam as obscuras e esquisitas esquinas de Londres.
Não havia uma alma sequer vagando pelas ruas e o silêncio tomava conta. Em uma casa de três andares, as janelas transmitiam o brilho amarelo das luzes acessas do lado de dentro.
Silhuetas negras de pessoas eram marcadas nas cortinas enegrecidas, e o baixo som de um violino sendo tocado foi ecoado por todo o salão de dança.
Um homem vestido socialmente puxou uma bela dama que estava sentada solitária na mesa, e a convidou para dançar.
Ele lhe deu apenas alguns momentos de alegria e prazer, conduzindo-a naquela valsa. Outros casais se juntaram a eles dois, e logo uma sincronização foi criada ali.
Uma carruagem parou na frente da casa, e dali desceram duas pessoas: Um homem alto e elegante acompanhado de uma criança
Um outro homem, cujo paletó não coubera mais em seu tronco largo por conta da barriga inchada e a barba por fazer, gritou:
– Conde Phantomhive! - e correu para abraçá-lo. - Há quanto tempo! Que bom revê-lo.
Uma gota do molho do camarão que aquele homem comia, pingou na gola de Ciel, e esta escorreu por toda a sua blusa; lambuzando-o.
Ciel trincou os dentes e se esforçou para não ser rude. Sebastian, muito atencioso e precavido, tirou um lenço de dentro de seu casaco e começou a limpar a blusa de seu mestre.
O homem estava bêbado demais para notar.
– Sr. Lionel. - disse Ciel - Não posso dizer o mesmo em relação ao senhor.
Lionel deu uma forte risada e colocou o braço esquerdo sobre Ciel, e o conduziu para dentro da casa. Sebastian seguiu os dois, sorrindo falsamente.

O salão estava repleto de pessoas de altas classes sociais, e logo Ciel atraiu olhares. Burburinho era ecoado sobre o mesmo e o mordomo que jazia ao seu lado, como um poste.
Mulheres e adolescentes acharam Sebastian bonito e atraente.
Lionel guiou os dois até dois cavalheiros, que serviam-se de taças de champanhe. Ambos eram velhos, cada um representando um banco importante da Inglaterra.
– Ora, o Conde! - disse um deles.
Ciel aproximou-se e disse:
– Como vai, Sr. Mindred e senhor... - se referiu ao homem ao lado, cujo nome veio a escapar-lhe.
– Norman. - corrigiu o outro - Sou L. James Norman. - apertou a mão de Ciel. - Vamos deixar as apresentações de lado e vamos tratar de negócios.

Os quatro seguiram Lionel até uma sala, que ficava nos fundos da casa. Quando entraram, o mesmo fechou a porta e tirou do bolso de seu paletó um cantil de uísque, e o secou.
Norman e Mindred ficaram postos na frente de uma mesinha de carvalho, com papeladas e livros em cima. Um abajur aceso transmitia uma amarelada e fraca iluminação ao local. Sebastian ficou atrás de Ciel, e observou os dedos do nobre passarem folha por folha, procurando a certa. Achou um documento preso a outros por um grampo, as páginas eram marcadas por uma belíssima caligrafia de letras declinadas e curvilíneas.
O entregou a Ciel, que deu a Sebastian.
– Leia. Não entendo ainda muito bem sobre isso.
Sebastian fechou os olhos e balançou a cabeça. Ele não teve nenhuma dificuldade em ver aquelas minúsculas, e quase que ilegíveis letras sobre a luz fraca da lâmpada do abajur.
Lia com perfeição e entendendo cada palavra, frase e parágrafo daquele documento. Isso impressionava os dois lordes, já que nunca viram visão tão perfeita.
Quando Sebastian terminou, disse a Ciel:
– Trata-se de um contrato proposto pela própria rainha, em relação aos maiores bancos da Inglaterra. Sendo o seu fiel cão, ela espera que o senhor torne-se um dos responsáveis; o dono de um banco.
Ciel refletiu.
– E por qual motivo?
– Para juntarmos as forças. - disse Norman, coçando a barba grisalha - Há um grupo secreto que quer derrubar o governo. Eles são dotados de armas de fogo, e são peritos nesse assunto. Essa organização é conhecida por nós, como Submundo; justamente por agirem nas sombras - um momento de silêncio - A rainha resolveu juntar seus homens de confiança para ajudar a combatê-los. O fato de você ser o "dono" de um banco, é apenas um disfarce mostrando a união dos maiores bancos da Inglaterra por uma questão nacional de arrecadamento para futuros e progressivos projetos que criaremos para a melhoração de nosso país. Isto é, para que eles não desconfiem de uma suposta aliança formada que os comprometa.
Sebastian segurou o queixo e pensou um pouco. Um relance de memória veio-lhe à mente.
– Mas parece que não é apenas o governo que eles querem derrubar, não é?
Lionel veio cambaleando até Ciel e pousando o braço na cabeça dele, disse:
– Isso mesmo. Eles querem derrubar a Rainha Vitória também.
O bafo de álcool bateu no rosto do conde, fazendo seu estômago se embrulhar.
Ciel tremeu. Apertou o cabo da bengala entre os dedos e fechou os olhos. Comprimiu os lábios numa fina linha e batendo a bengala no chão, disse cheio de autoconfiança:
– Eu aceito! Não vou deixar que esses desgraçados consigam aquilo que tanto desejam!
Sebastian sorriu.
Ciel assinou a linha pontilhada no final da página, colocando força na pena e deixando uma marca na folha. Depois exigiu ver o contrato dos outros, para se certificar de que não era uma armação.
Norman e Mindred tiraram os contratos de dentro dos paletós e os mostrou ao conde.
Lionel se juntou a eles, e também mostrou um papel amassado e molhado nas pontas, que antes estava guardado no bolso da calça junto ao cantil.
– Olha só isso, conde! - entregou o documento a ele e Ciel o leu.
– O quê?! - espantou-se - Você também faz parte dessa aliança? O que você tem de tão especial para assumir uma grande responsabilidade dessas?
– Oh, sim! Sou um dos homens mais confiáveis da rainha. Não sei se sou o seu alfaiate ou o seu conselheiro... - tombou e caiu em cima da mesa, rindo descontroladamente - Preciso de uma dose...
Ciel rangeu os dentes e disse:
– Já que está tudo resolvido, eu vou embora. Mantenham contato e quero ser o primeiro a saber das novidades. - girou os calcanhares e saiu da sala, Sebastian logo atrás.

Ciel caminhava apressado, dando passos largos e pesados. O som do salto de suas botas ecoavam por todo o corredor e Sebastian tinha que dar pulinhos para acompanhá-lo.
Estava perturbado com o fato dessa organização querer acabar com o governo e com a rainha. Estava obvio de que se conseguissem o controle de tudo, levariam Londres e talvez a Inglaterra, à um situação crítica. Talvez entrasse em guerra com um país aliado do mesmo porte.
Então a desgraça e o caos tomaria conta de tudo.
Ciel faria qualquer coisa para não deixar que isso acontecesse.
– Sebastian, quero que descubra tudo o que puder sobre o Submundo. - dizia, sem olhá-lo - O quanto antes soubermos, melhor.
– Sim, senhor.

Os dois pararam na porta de entrada e Sebastian levou os dois dedos aos lábios dando um assobio mudo aos ouvidos humanos, mas alto e fino aos dos animais que, nos cantos sujos e fétidos dos becos e esgotos da cidade se escondiam.
O som de cascos galopantes nas pedras da rua foram aumentando à cada segundo, e uma silhueta larga e quadrada formou-se atrás da neblina. O cavalo puxando a carruagem preta e reluzente veio até o encontro dos dois e parou apenas quando Sebastian pousou a mão enluvada na testa do animal, acariciando-o. O cocheiro havia terminado seu turno de trabalho e fora para casa, deixando tudo nas costas de Sebastian.
A rua estava molhada e escorregadia, por conta do gelo nas laterias. A neve cobriu os ombros do mordomo e o topo de sua cabeça. Ele abriu aporta da carruagem e ajudou Ciel a subir, deixando os flocos de neve que estavam acumulados na aba de sua cartola, rolarem soltos por suas costas.
Naquele momento, a imagem de Meyrin ocupou a sua mente. As paredes de sua garganta se fecharam ao se lembrar da última vez em que a vira; arrependeu-se profundamente de não ter dito aquilo que estava entalado.
Estava tão mergulhado em seus pensamentos que precisou um gesto brusco das mãos de Ciel para tirá-lo do transe.
– Acorde! Me leve logo para casa!
– Minhas humildes desculpas, jovem mestre.
E se dirigiu ao alto banco do guia, envolvendo e apertando as rédeas do cavalo nos pulsos. Quando estava prestes a chacoalhá-las para dar inicio a partida, uma pessoa gritou:
– Espere!!!
Sebastian olhou espantado para o lado e não se moveu. Era o Sr. Lionel, que tinha a respiração arfante por conta da corrida que fez até chegar ali, e quando os alcançou, apoiou-se nos joelhos tentando recuperar o fôlego.
– O que foi, Lionel? - perguntou Ciel, abrindo a cortina da carruagem - O que houve, homem?
– O senhor... - dizia com o ar faltando-lhe - esqueceu a sua bengala... - estendeu o cabo fino ao conde, como se fosse uma oferenda.
Ciel esticou a mão para fora da janela para pegá-la de volta. Mas parou no meio do caminho, quando o Sr. Lionel ficou imóvel e caiu duro no chão. Uma poça rubra crescia debaixo de seu corpo, causada por um pequenino buraco que transpassava sua cabeça.
O buraco de um tiro.
Os gritos das mulheres que viram a cena ecoaram por toda a rua vazia. Pessoas correram de um lado para o outro, sem saber por onde escapar. Ciel ficou assustado por ter presenciado um assassinato e antes mesmo que sua mão deslizasse para abrir a porta, Sebastian apareceu na janela, indicando que ele ficasse ali dentro.
– Abaixe-se e se proteja, jovem mestre. - sua voz era pouco ouvida devido aos altos gritos histéricos das pessoas que corriam para chamar a polícia.
Sebastian avaliou o buraco do tiro, agachando-se à altura do corpo. Passou os dedos nas bordas da ferida e seu olhar se direcionou aos prédios que o envolviam. Observou os telhados, varandas, portas e janelas. Estava muito escuro, era como uma agulha num palheiro. Mas isso não era problema para alguém como ele.
A lua estava cheia e brilhante, bela, envolta de nuvens que ocultavam o céu estelífero.
Depois de procurar, ele então encontrou o ponto fixo. Avistou que uma silhueta negra se camuflava nas sombras, esgueirando-se no telhado e flexivelmente agachada para não atrair atenção.
Ele encontrara o atirador.
– Sebastian! - gritou Ciel - Isto é uma ordem!
O outro exitou-se ao ouvir aquelas palavras.
– Encontre o culpado e o traga para mim! - afirmou Ciel, dando sua última palavra.
Nesse instante, a silhueta moveu-se e desapareceu na escuridão.
Sebastian se ajoelhou, levando a mão direita ao peito e disse humildemente:
– Yes, my lord.


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Notas finais do capítulo

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