Human World Observation escrita por Lady Pompom


Capítulo 20
Capítulo 18: Vínculo Quebrado


Notas iniciais do capítulo

Essa história não tem qualquer relação com fatos, pessoas ou lugares da vida real. É uma obra de ficção com puros fins de entretenimento.



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Eileen olhava o céu noturno, repleta das estrelas brilhantes que imergiam em sua mente, encantando seus pensamentos. Como explosões de brilho, uma galáxia inteira a sondava, um universo acima de seus olhos que ela não podia vislumbrar por completo apenas com a visão.

Como deve ser a vista do espaço...? Siv disse que gosta mais do que vê daqui... Mas deve ser maravilhosos poder ver de perto...

Ele fala tanto do irmão... Eu queria poder conhecê-lo algum dia... Se o irmão dele for tudo que ele faz parecer, então não deve ser um alienígena ruim...

Ahh... Mas no que eu estou pensando? Um alien já é trabalhoso o suficiente para terráqueos, quem dirá dois deles... Além do mais ele me deixou aqui no meio do nada, não foi?

Me pergunto se ele irá retornar... Será que... Aquele outro alien vai sumir junto com ele...?

Enquanto refletia, a mulher sentou-se no campo, emburrada, apoiando o queixo nas mãos e dando um pesado suspiro.

– Quando será que tudo isso vai acabar...? –ela abraçou os joelhos escondendo a cabeça em seu abraço-

. . .

– Como eu havia dito, Ahcsar, eu voltei para buscá-lo, está na hora de voltar à Brisingamen.

–... Eu não irei...

O olhar de Crow-Hreimdar se afiou, e Siv Borghild continuou, com um tom apreensivo:

– Não antes que me escute atentamente...

–... Tem o direito de pronunciar-se...

– Não concordo com a decisão do líder, nem pretendo voltar à nave-prisão por pura especulação... Você, mais do que qualquer um, sabe que as decisões devem ser tomadas em conjunto, mas aposto que o único no debate sobre meu retorno foi o líder... –disse com revolta- É óbvio, se não houver ninguém para contestar a decisão do líder, ele tem autoridade para agir como bem entender, por isso ele não consultou nenhum outro...

–... E como poderia saber sobre o líder?

– Espere um minuto... –ele gesticulou- Deixe-me terminar de falar... Você, no entanto, Crow-Hreimdar recebeu autoridade para decidir isto, e sei que será justo em sua decisão, mas está sendo precipitado em me levar, não conhece nada sobre a terra, tampouco sobre os humanos e ainda assim acredita que eu esteja errado?

– Seus argumentos não tem validade...

– É disso que estou falando, minha voz não é ouvida. Não foi há anos quando me jogaram numa cela, nem será agora. Que tipo de justiça é essa? É alguma piada? É por causa das minhas anomalias que vocês desconsideram tudo que eu falo? Não tenho nem mesmo o direito de estar certo?

– Ahcsar, seus dramas emocionais não irão afetar minha decisão. Isso só prova o quanto esse ambiente humano acentuou suas tendências anômalas. E não é verdade que sua opinião é desconsiderada, pois embora seja diferente, seu sangue prova que é um legítimo tarantiano... Você nasceu e morrerá da mesma forma que todos nós, e sempre ouvimos de bom grado suas contestações, contudo... Agora não é mais o momento para isso...

– Se é assim... –ele cerrou os punhos -

Pretende me enfrentar, Ahcsar Angsaw IV?

A postura de Crow-Hreimdar era austera e autoritária. Com a voz firme e convicção inabalável, ele questionou o outro alien que o encarava de cenho franzido.

– Da última vez eu fiz sua nave “pifar”, mas você já a consertou... –suspirou, ainda irritado- Bem, acho que não tenho do que reclamar, sei que gastou seu tempo vagando por aí... –ele mexeu no bolso- Não quero mesmo lutar contra você, eu o respeito e não gostaria de uma luta...

Ahcsar tirou do bolso a pulseira transparente que havia roubado da nave de Crow-Hreimdar antes. Lançou o objeto na direção do outro, e o mensageiro pegou no ar, desconfiado.

– Tome isso de volta, é livre pra se comunicar com eles a hora que quiser agora... –disse cínico- Essa é a prova de que quero evitar confrontos...

– Vejo que a teimosia dos humanos se fixou em você...

– Eu sempre fui assim, o que mudou é que agora eu tenho liberdade para demonstrar isso...

–Humpft... Seu temperamento estranho definitivamente se acentuou... Creio que é isto que ocorre quando tiram as algemas e livram alguém como você de uma jaula de prisão...

– Decidiu me ofender? Está perdendo a paciência?

– Eu não perderia minha compostura tão facilmente, no entanto, você mesmo acumulou cada vez mais crimes sobre seus ombros, Ahcsar, obstrução de comunicação com a nave-prisão, destruição de uma nave de transporte, desobediência às ordens de autoridades, e relatórios duvidosos...

– Um Dejá vu? Eu já ouvi você dizer isso, não me interesso por quantos atos meus vocês consideram como crime, um a mais ou a menos não fará diferença desde que eu seja sempre um prisioneiro... E Crow-Hreimdar, o mais cabeça-dura aqui é você em se negar a acreditar nas minhas palavras.

Já chega!

O mensageiro fez um gesto brusco, sem perder a postura rígida e olhar frio.

– Suas ações levam o líder a crer que está tentando fugir, e da mesma forma eu creio. Sua personalidade se identifica com a dos terráqueos e desde sempre foi tratado como diferente por suas tendências humanas, e agora que está neste planeta, pretende ficar? Foi para isso que aceitou a missão do Lorde? Desde o início estava planejando vir aqui para permanecer?!

– Quem sabe... –Siv alargou o sorriso cínico- Eu sempre fui subversivo, não é verdade?

Ele estendeu a mão na direção da nave atrás de Crow-Hreimdar, ainda com um sorriso no rosto. O outro não teve tempo de reagir, virou-se imediatamente para trás, e uma enorme luz azul-esbranquiçada envolta por raios saiu do veículo, ascendendo até o céu e cortando através das nuvens até o espaço, fazendo um barulho ensurdecedor, como o de uma bomba. O chão vibrou e a luz ofuscante do canhão da nave foi diminuindo, se dissipando na escuridão da noite.

No céu, a lua antes oculta pelas nuvens podia ser vista, luminosa e esplêndida, uma lua nova. E as nuvens formavam um circulo em volta dela, como se sua luz tivesse perpassado aquela camada cinzenta.

– Se quer tanto descobrir minhas intenções, por que não vê você mesmo?

O alienígena cínico alargou o sorriso enquanto uma fúria silenciosa consumia o outro que se controlava sem deixar seus turvos sentimentos virem à tona.

Ahcsar...

Pronunciou num tom forte, tecido da raiva profunda que começara a surgir em seu interior. E os dois iniciaram um confronto.

Crow-Hreimdar fez o primeiro movimento, um ataque poderoso e invisível, que foi diretamente até o alvo. Ahcsar mal teve tempo de por as mãos na frente do rosto. O resultado foi que um grande corte foi desenhado em seu braço.

– Quem diria... –ele estreitou os olhos- Tão agressivo assim...

–...

– Não fique bravo, o único ferido aqui sou eu...

– Seu ímpeto parece crescer a cada vez que te encontro, Ahcsar...

– Isso significa que eu me importo menos com o que pensam de mim a cada vez que nos encontramos, Crow-Hreimdar. –sorriu- Se lesse minha memórias, entenderia o porquê...

O mensageiro estendeu a mão, e com a força da mente, levantou o corpo do outro até uma altura considerável.

– Se não se entregar agora, farei com que tenha uma queda dolorosa. –ameaçou com o semblante frio-

O sorriso de Siv Borghild se alargou, um sorriso maléfico que ele fez quando também fez um gesto com a mão, e surpreendeu o outro com o que aconteceu em seguida.

O pseudo-homem de cabelos negros assombrou-se quando ouviu um barulho de metal sendo torcido e estalando, e quando a corrente de vento mudou de curso, desviada por alguma coisa, algo grande. Ele olhou para trás, para onde deveria estar sua nave, Brunnehilde, mas não a encontrou ali no chão, viu sua sombra...

Sim, a sombra de sua nave que estava erguida nos céus, com o poder do prisioneiro que já sorria contando com a vitória.

– Pode me fazer ter uma queda dolorosa, aquelas sessões de tortura bem me serviram para aumentar a resistência, porém, eu garanto que se o fizer, vai ficar sem seu transporte de volta para “casa”.

O mensageiro franziu o cenho levemente, demonstrando a irritação, e sua mão apertava o ar, como se estivesse segurando algo sólido e espremendo entre os dedos. Ahcsar sentiu uma pontada de dor, e ele tocou no coração, mas seu sorriso não sumia do rosto. Mesmo numa situação crítica, aquele sorriso cínico nunca saía de seu rosto.

Crow-Hreimdar utilizou mais força ainda e com um movimento rápido, lançou o prisioneiro, que voou longe nos campos, e quando caiu, seu corpo deixou uma trilha de terra, onde a grama havia sido arrancada pela força com que atingiu o chão.

– Ai...

Ahcsar passou a mão pelo rosto dolorido e levantou-se, limpando a sujeira do rosto com a manga da camisa e com o mesmo sorriso de antes.

– E eu que tenho temperamento agressivo e subversivo?

– Sarcasmo não irá ajudá-lo agora.

– Ha... Será mesmo?

Ahcsar...

O sorriso de Siv Borghild sumiu por um instante, como a lua que foi encoberta por nuvens negras. A percepção aguçada dele o permitiu prever o que aconteceria em seguida. Uma força tremenda puxou seu corpo, e em um segundo, a mão de Crow-Hreimdar estava em seu pescoço, ergueu seu corpo no ar com pura força.

Alguns nervos do rosto de Siv ficaram à flor da pele. Era como se aquela força penetrasse nas suas veias e acelerasse sua circulação, fizessem-nas pulsar, ele grunhiu quando sentiu o corpo paralisado.

Lentamente o mensageiro retirou a mão do pescoço de Siv, e os pés do prisioneiro tocaram o chão, porém, ele continuou imóvel.

– Muito bem, se deseja tanto, eu irei olhar as suas memórias... E confirmar com meus próprios olhos se o que diz é verdade ou não...

O homem de cabelos negros selou os olhos enquanto o vento noturno balançava seus cabelos.

Isso mesmo, Crow-Hreimdar... Olhe bem as minhas memórias e verá...

Um leve sorriso maldoso se abriu nos lábios de Ahcsar que tinha provocado o outro até que ele usasse os poderes. E de repente, como se um raio atingisse seu cérebro, sua consciência sumiu, no íntimo de sua mente e seus olhos tornaram-se vazios.

. . .

Não muito longe dali...

. . .

Eileen estava ainda sentada, pensando sozinha enquanto a noite passava. As nuvens caminhavam rápidas pelo céu, vez ou outra encobriam a lua, ela prestava atenção àqueles movimentos soturnos. Poderia passar horas fitando aquele céu, horas refletindo.

Eu disse que queria saber quando tudo isso acabar, mas...

Será que eu quero realmente que Ahcsar suma assim? Não que ele deva estar sempre na terra, mas... Se ele sumir agora vai significar que foi levado de volta à prisão, certo...?

Ahcsar... Você disse que foi preso injustamente... Mas... O que você fez para que até mesmo os de sua raça o considerassem um criminoso?

Ela pulou da grama quando viu a enorme luz saindo da terra e indo em direção ao céu, e o barulho ensurdecedor. Era uma sensação tão intensa de brilho que os olhos dela iam se apertando para fechar-se enquanto ela cobria os ouvidos. O chão tremendo, sua vista oscilava e ficava impedida pela claridade, era como se um grande pedaço da terra fosse desgrudar-se do chão, um momento horrendo.

Assim que o fenômeno cessou, ela olhou na direção de onde a luz havia vindo, impressionada. Seu coração acelerava e ameaçava pular para fora do corpo, seus sentidos todos ainda atordoados por o acontecido, a faziam pensar descontrolada.

O que foi aquilo? Uma luz? Mas era estranha e fez a terra tremer! E o barulho?! Parecia uma bomba... Será que eu morri? Ainda estou com tudo no lugar?

Ela tateou o rosto e o corpo para ter certeza de que nada lhe faltava. Suspirou com um leve alívio. E foi se acalmando, com os olhos vidrados naquela direção.

Um fenômeno misterioso... Raio de luz fosforescente... Naquela direção...

Ela assustou-se quando percebeu, tapando a boca com as mãos, sem querer acreditar na possibilidade que brotava em sua mente.

Aquele raio veio da direção que o Siv foi... Parecia mesmo algo alienígena, então será que...

Será que aqueles dois estão se enfrentando? Não se eles fizessem isso aqui... O mundo iria se acabar, não é? Não pode ser, mas aquela luz...

Siv... Você...

Correu na direção da qual a luz havera sumido, na esperança de encontrar o homem lá, correndo desesperada e incansavelmente por os campos verdejantes sob o céu noturno.

... Ainda está vivo?

. . .

Enquanto isso,

Num lugar completamente diferente

. . .

Era Crow-Hreimdar. Ele andava em meio a um lugar que era puro preto. Olhava para um lado e para o outro com seus olhos meticulosos, e nada. Não havia nada ali, ao menos nada além das flutuantes portas. Sim, flutuantes porque elas estavam ali, no meio daquele vazio, como se flutuassem. Não havia paredes ou teto, tudo era um breu, mas as portas estavam ali, enfileiradas à direita e à esquerda como se estivessem anexadas a alguma construção.

O mensageiro parou ao ouvir um ruído estranho quando deu mais um passo, olhou para baixo, em alerta. Havia uma porta no chão, ele recuou um pouco, para visualizar a entrada. Era exatamente como as demais, na verdade, todas eram iguais, pretas cheias de luzes neon azuis e brancas, sem trinco.

Ele voltou o olhar para cima, não havia teto, mas havia ainda mais portas lá, espalhadas e ordenadas como se estivessem num tipo de cúpula.

– Entendo... –ele voltou a fitar a porta no chão- Uma estrutura complexa e cheia de memórias... Ele não as ordena propositalmente...?

– Hum... Vejamos...

O mensageiro tocou numa das portas, e ela se abriu, se desfazendo, mas não havia nada ali, só a mesma escuridão do resto do local.

–... –ele estreitou os olhos- Então ele não colocou uma proteção aqui... Não deve ser uma memória importante...

Ele deu um passo à frente, sem medo, e continuou a caminhar, e quando passou pela abertura da porta, seu corpo foi sumindo nas sombras, como se elas o engolissem e a porta se fechou.

. . .

Passado algum tempo, o homem saiu dali, sem qualquer emoção evidente, voltando ao espaço negro com milhares de portas. Olhou em volta mais uma vez, surpreendeu-se.

Havia algo incomum desta vez, mais portas, mais fileiras de portas, a certa distância, por trás das fileiras que antes existiam à sua direita e esquerda.

– Vejo... –o alien afiou o olhar- Ele camuflou essas memórias e havia uma “entrada-chave” para liberá-las... Inteligente, Ahcsar... Mas é uma pena, porque vasculharei cada canto de sua memória...

A próxima porta que ele escolheu, a que estava no chão, quando foi aberta, uma luz branca emanava de dentro, e ele caiu naquela luz, sumindo quando a porta se fechou.

. . .

Crow-Hreimdar se viu num corredor. Aquele lugar era familiar. O corredor metálico de uma nave. Podia até ouvir os estalos dos pequenos pedaços de asteroide batendo na parte externa da espaçonave. Olhou a o redor, não havia ninguém, foi quando escutou o barulho de passos, vindo de trás dele, e se aproximavam cada vez mais, quando ele virou-se, três figuras atravessaram-no como se ele fosse um fantasma, mas se observasse bem a cena, os fantasmas eram os três, não ele.

Havia duas criaturas cujos rostos ficavam encobertos na escuridão da nave, imensa e fortes, cada uma carregando uma arma que lembrava uma lança, mas com um tom mais moderno, e a criatura no meio delas era o próprio e único Ahcsar Angsaw IV. Mas Crow-Hreimdar o via como um humano, não na forma original.

– Esta lembrança... Hum... Ele modificou a percepção de quem tentasse invadir...? Ou talvez estivesse tentando refletir sua “natureza” nas memórias...? Não... Um mecanismo de defesa do cérebro...? Ele fez isso inconscientemente...?

Distraiu-se quando ouviu mais passos, de um único ser, do outro lado do corredor, vindo de encontro com o grupo dos três, era Crow-Hreimdar, não ele mesmo, mas uma memória dele, na verdade.

O mensageiro ficou perplexo, não por se ver numa lembranças, mas porque, do mesmo jeito que Ahcsar, ele também estava em forma humana.

E quando Ahcsar passou pelo mensageiro, os dois lançaram um sobre o outro um olhar lateral, logo o de cabelos pretos voltou a se concentrar no caminho à frente, enquanto Ahcsar o acompanhava com os olhos, em uma imagem vagarosa, seguindo lentamente até que o outro estivesse de costas, e depois, com uma expressão de desapontamento, perdeu o interesse.

– Eu me lembro... Este dia foi quando o Lorde chamou-o para propor a missão... Mas por que eu estou nesta forma até em sua memória...?

Ele saiu andando, e voltou à entrada, uma luz branca em forma retangular que estava no chão. Quando saiu, ao invés da gravidade fazê-lo cair, o puxou para cima, e ele ergueu-se ficando de pé sobre a porta, voltando ao salão inicial.

– Ah... Deve ser isto... A mente dele está confusa porque tem um invasor, e eu inibi algumas funções dele... Com a confusão, ela está transferindo as imagens mais recentes e sobrepondo às imagens antigas, remodelando-as... É um mecanismo curioso e bizarro...

. . .

Perscrutou cada porta, cada pequena lembrança existente ali, e cada vez que saía de alguma porta, continuava frio, inalterável, prosseguindo calmamente, a seu ritmo. E quando saiu da última porta, suspirou, cansado.

– As memórias dele eram como eu imaginava... Tendo em vista que desde sempre foi diferente, seus comportamentos humanos apenas se acentuaram quando ele conviveu com as espécies deste planeta... Sobretudo com...

Percebeu algo estranho. Um clima desagradável se instalou naquele escuro cheio de pedaços de memória. Ficou perplexo, tanto que ele, o imutável Crow-Hreimdar estava boquiaberto quando olhou para frente...

– Mais uma porta...? Impossível... Eu entrei em todas...

Muito distante dele, à frente dele, uma porta. Todavia, o grande mensageiro tinha a certeza de que ela não estava ali no início, e nem estava antes dele entrar no que acreditava ser a última porta.

Não demorou muito, ele lentamente andou até a porta, porém... À medida que caminhava a seus passos elegantes, ia ficando complexado com o que acontecia. Parou. Observou bem. Andou novamente, depois parou de novo.

Não importava o quanto ele caminhasse, a porta não se aproximava, pelo contrário, ela se distanciava dele. E sabia que se não descobrisse o porquê, ficaria naquela perseguição infindável.

– Outro mecanismo de defesa? Interessante...

Ele deu um passo, fechou os olhos e concentrou-se, respirando fundo. Abriu os olhos e estendeu a mão, e num segundo, um barulho de vidro quebrando foi ouvido. Era uma fina e frágil parede de vidro que se punha entre o alien e a porta, e ele a quebrou com seus poderes, olhando os cacos caírem no chão, se despedaçando e sumindo.

– Uma barreira mental... Eu esperava algo mais inovador de você, Ahcsar... Uma defesa tão fraca não deteria invasor algum...

Ele então, finalmente aproximou-se da porta. Intrigou-se quando viu de perto, aquela porta era diferente das outras, era dupla e toda de um material cinza semelhante a metal bem grosso e resistente, e havia linhas encrustadas, mas nenhuma luz passava por ali. Parecia “desativada”.

Crow-Hreimdar tocou no material suavemente, passando a mão pela porta. Podia sentir o frio do metal e os declives das linhas encrustadas. Por que essa era diferente das demais? Com certeza era alguma memória especial, que Ahcsar queria manter no esquecimento...

A porta abriu-se subitamente e o mensageiro tornou-se apreensivo. Uma luz branca também saía dali e ele, destemido, cruzou a passagem sumindo em meio ao túnel luminoso.

. . .

Em algum lugar do inconsciente

. . .

Siv Borghild, o alienígena estava numa cela de metal cinza escuro, dormindo. As paredes eram lisas, sem janelas ou aberturas além da entrada. A frente da cela era toda de grossas barras metálicas, com um espaçamento considerável intercalando-as, mas havia feixes de luz azul passando por entre elas horizontalmente e parecia perigoso.

Havia uma cama de metal que saía da parede, parecia uma tábua retangular e fina, na parede central da cela. Era lá que Siv estava deitado, até que uma voz sutil o despertou.

Siv...

– Humn...

Abriu os olhos pesados, lentamente. Reconheceu aquele lugar, e sentou-se na cama, com movimentos sem firmeza. Tocou na cabeça e olhou em volta.

– Ah... Que hilário, estou numa cela de novo... Crow-Hreimdar me restringiu aqui... Bem, eu realmente desgosto da ideia de ter alguém vasculhando minha mente enquanto eu finjo não ter forças para me libertar, mas era necessário... Ele precisa ver por si só... Tenho certeza de que isso influenciará no julgamento dele, quando vir que meus relatórios condizem com as atitudes humanas que presenciei...

Ele riu sozinho no silêncio, num tom seco que ecoou pela cela de paredes frívolas e metálicas.

– Ah... É mesmo, aquela voz ainda agora... Foi a Eileen...?

Balançou a cabeça negativamente, rindo de si mesmo.

– No que é que eu estou pensando? Não tem como ter sido ela, afinal, ela teria que estar por perto para que eu ouvisse a voz dela, e eu... Desfiz a conexão mental que me permitia ler seus pensamentos... Não sei se o meu plano vai funcionar, foi uma aposta arriscada... Mas eu espero sempre o melhor, além disso, não é como se eu tivesse algo a perder caso não precise mais ficar na terra...

O olhar dele se distanciou de uma forma melancólica e sua expressão tornou-se obscurecida. E na quietude do local, enquanto ele ponderava, um tremor súbito ocorreu em sue interior, fazendo tudo se deslocar, e ele se assombrou, pondo uma das mãos na cabeça, grunhindo de dor.

– E-em que área o Crow-Hreimdar está indo?! Eu pensei que ele estivesse apenas olhando minhas memórias, mas o que está acontecendo?! Ele usou os poderes dentro da minha cabeça?! Quer me lobotomizar?!

M-minha cabeça... Vai explodir...!!

Siv caiu de joelhos, e se contorcia, esmagando o cabelo entre os dedos enquanto uma dor aguda o pontava.

Não!! Crow-Hreimdar, seu maldito, para onde está indo...?!

O que ele quer ver?! Essa área... Que... O que tem ali...? Por que ele está indo para lá? Aquela porta... Eu não me lembro dela... Eu não...

Não me diga que... Ah!!

Não olhe-

Não olhe aí dentro---!!

. . .

Ahcsar...

E novamente, uma voz rompeu com o sono de Ahcsar, mas desta vez, uma imagem lhe veio à mente: a de um homem alto de jaleco, pele branca queimada do sol, cabelos castanhos escuros, e um sorriso iluminado no rosto, estendo-lhe a mão.

Siv despertou, desesperado, abrindo os olhos tão rápido que sua vista ficou escura e turva. Ele sentiu seu corpo balançar e sangue escorria pelo seu nariz. Ele caiu para trás, sem conseguir suportar seu próprio peso.

Caiu na grama, desconcertado, tentava se recompor, mas sua cabeça doía, e com os sentidos atordoados era incapaz de se levantar. Ficou ali, desfalecido, impossibilitado.

O que aconteceu? Ele não havia descoberto aquela memória... ?Por que parou? Quem me chamou foi...

Meldevich...?Não aquela voz foi...

– Huh...

Ele rastejou um pouco, virando-se na direção que Crow-Hreimdar estava, para ver de forma ainda esboçada o outro com a mão estendida para o longe.

Por que ele parou...?

Não me diga que ele perdeu o controle dos poderes? Talvez ele os tenha utilizado demais...?

O que... O que exatamente ele viu em minhas memórias...?

Porém, os pensamentos do homem de cabelos castanhos logo foram destroçados após sua visão ficar clara, e ele abismar-se com a cena que se passava.

– Por que me olha assim, Ahcsar?

O próprio Siv Borghild estava confuso, embora ele acabasse de acordar e ainda estivesse atordoado, nem em seus devaneios teria pensado ver tal cena...

– Crow-Hreimdar... Você está chorando?

http://s1281.photobucket.com/user/AisaBellvard/media/HWO/Season%203_Crow%20Hreimdar%20cries_Color_zpspen3liia.jpg.html?sort=3&o=3

O mensageiro recuou instintivamente com a afirmação. E também surpreso, tocou no próprio rosto.

Do canto de seu olho esquerdo caíam lágrimas, que desciam delineando as feições de seu rosto, e depois pingando em sua roupa, dando uma sensação gelada.

Ele tocou no rosto com uma das mãos, perplexo. O homem que deveria ser imparcial, indiferente a toda e qualquer situação, aquele que por longos anos havia invadido as mais diversas memórias, e vivido as mais variadas situações e emoções estava chorando por causa de uma única memória?

Seu orgulho estava quebrado, ele não podia compreender, aquilo fervia em seu interior, um tipo de indignação que ele nunca havia sentido. Foi quando finalmente pôde entender... Todas as mentes que ele havia invadido até o presente momento eram de tarantianos, os frios tarantianos, mas a que ele invadira hoje, fora a de um tarantiano que possuía emoções humanas.

– Entendo... Foi o sentimentalismo contido dentro de você que me afetou... Nunca imaginei que humanos pudessem expressar emoções tão fortes... E menos ainda que você, um de nossa raça pudesse compartilhar de tal sentimentalismo com esse espécime... –ele retirou a mão do rosto já indiferente- Merece meus cumprimentos...

– Você também... –o outro deu um sorriso forçado- Nunca pensei que fosse olhar tão fundo em minhas memórias... É mesmo um juiz que gosta de checar e apurar todos os fatos, faz jus à sua reputação...

– ...

– Qual o problema Crow-Hreimdar? Não irá dar seu juízo sobre mim? Ficou emocionado demais com o que viu?

– Ahcsar Angsaw IV... –ele estreitou os olhos- Eu vi suas memórias... E após analisar cuidadosamente cada uma delas, vejo que há alguns pontos que não estavam errados em relação aos humanos, contudo... Você se envolveu num grau emocional muito alto e isso se prova perigoso para a pesquisa que faz aqui...

–... Entendo... Sua decisão é mesma, então... –os olhos dele tornaram-se frios-

Porém, há algo em sua memória que eu gostaria de verificar, mas para isto terei de consultar o Lorde...

– Vai envolver Itzala até nisso...?

– Você me deixou num impasse, Ahcsar... Não posso voltar de mãos vazias, mas também não posso levá-lo como prisioneiro sem confirmar algo...

–...?

Siv estava surpreso com as palavras do outro. O mensageiro sempre fora imparcial e por isso mesmo, sempre fora muito justo, e agora ele dizia que havia algo nas memórias de Ahcsar que o confundia e o impedia de usar a força para cumprir a missão?

– O quê...?

– É inegável que seu comportamento seja como o de um humano... Ainda mais depois de todo tempo que passou aqui... Mas... Ahcsar... É possível que sua prisão tenha sido um erro...

–...! –o alien deu um sorriso apreensivo- Crow Hreimdar... Quais memórias você viu...?

–... Suas lembranças demonstram um fato intrigante... Não posso negar que mesmo com seu comportamento anormal, se sua memória puder comprovar minhas suspeitas, você poderia ser livre da prisão e tornar-se apenas um indivíduo a ser estudado por nossa ciência...

– Onde quer chegar?

– Eu lhe disse, sou um mensageiro apenas, meu trabalho não é ser um carrasco, tampouco arrastar alguém à prisão, mas se isto se fizesse necessário, eu o faria com honra para o Lorde... Todavia, eu também lhe contei, Ahcsar, que se sua posição sobre ser preso possuísse alguma veracidade, eu mesmo falaria com o Lorde para rediscutir seu caso...

–...

– Então, em honra pelo poder à mim concedido, Eu, Crow-Hreimdar, julgo sua sentença... Minha ordem era a de retê-lo caso se recusasse a vir, e você, além de recusar-se, causou inúmeros danos e mostrou resistência até o fim. Numa circunstância normal, estaria preso, porém, no momento, eu não posso levá-lo de volta à prisão depois do que vi em suas memórias... Por isso, irei primeiramente discutir com o Lorde sobre seu caso... Assim, Ahcsar Angsaw IV, eu declaro que seu trabalho aqui está suspenso por tempo indeterminado, e até que eu ou outro venha lhe comunicar as próximas ordens, ficará exilado na terra enquanto sua sentença estiver em rediscussão por uma questão justiça.

– Su... Suspenso? –ele ficou pasmo-

– Eu relatarei detalhadamente ao Lorde tudo que aconteceu e em breve, estou certo que nosso Lorde dará uma resposta...

– Você vai... Embora... Assim?

Siv não podia acreditar na cena, falava pausadamente, tentando fazer o raciocínio agir corretamente. O grande mensageiro, partindo de mãos vazias e jurando tocar num assunto tão complicado com o Lorde?

– Sim. Está na hora de partir, o quanto antes sua situação for resolvida, mais rápido a pesquisa no mundo humano progredirá.

–... Isso é...

– Minha sentença está dita, obedeça se não quiser acumular mais crimes à sua lista. É para seu próprio bem. Não se misture demais com esses humanos e nem mencione sobre o que foi dito aqui. Espere silenciosamente nosso contato.

O homem de cabelos negros entrou na nave.

– Eu agora partirei em Brunnehilde... Cumpra as instruções sem falta.

Ele ligou o veículo, e um Siv perplexo o observava partir. Ele olhou, fixado, com os olhos distantes, enquanto o vento soprava forte. Mesmo quando a nave sumiu no espaço, seus olhos ainda estavam lá, nas estrelas, perdidos.

– Siv!

Uma voz familiar o retirou de seus devaneios, ele virou-se para trás, era Eileen, correndo. Quando ela aproximou-se, parou e apoiou as mãos sobre os joelhos, tomando fôlego.

– Eileen...?

– Eu... Vim... Correndo...

Ela falava entre pausas, tentando tomar ar e Siv a encarava confuso e também surpreso.

– O que está fazendo aqui? Não te mandei voltar para casa?

– Como assim? Você me deixa no meio do nada, disse para eu voltar para casa sozinha e não consegue nem se despedir propriamente! –disse já recuperada, num tom irritadiço e de cenho franzido- Você é um fracasso como homem, Ahcsar! –ela o pontava com o dedo indicador-

– Fraca... –ele não conseguiu completar a palavra, ainda atônito-

– Vocês lutaram?

Ela recuou ao ver o nariz dele sangrando.

– Não, aquilo não foi uma luta... Eu teria perdido se ele quisesse mesmo acabar comigo... –suspirou desanimado, olhando na direção do espaço-

–...?

– De qualquer forma, Eileen –ele deu um sorriso de zombaria- Disse que veio correndo até aqui?

– S-sim... P-por quê?

Ela recuou um passo, numa postura defensiva. O semblante dele ficou reflexivo enquanto sua mente processava o acontecido.

Eu tenho certeza de que havia rompido a conexão mental que me permitia ler os pensamentos da Eileen... Mas... Eu escutei a voz dela... Sim, foi definitivamente a voz dela...

Ela teria que estar perto para que eu ouvisse, mas ela não acabou de chegar? Então como...?

Ele fitava analiticamente a mulher que tinha um semblante perdido e perplexo.

– Você, por acaso... Estava pensando em mim no tempo que eu estive longe?

– Hã?

Ela ficou abismada, não sabia se deveria sentir-se indignada pela presunção dele ou se deveria simplesmente ignorá-lo. As palavras dele pareceram isentas de maldade e ele estava com uma expressão séria.

– É claro que eu estava preocupada! Já disse o porquê! Por que está me perguntando isso afinal?! –ela franziu o cenho e finalmente percebeu algo- Ah... O que houve com seu braço...?

Ele tocou abaixo do nariz, por onde havia saído sangue e respondeu com um meio sorriso:

– Ossos do ofício...

– Mas você é um prisioneiro...

– Exato...

A única vez que eu o vi sangrar foi quando ele ficou envenenado com chocolate... Mas nunca, em nenhum momento o governo se quer conseguiu arranhá-lo... Nem com bombas, granadas ou com aquelas tentativas terríveis... Ainda assim, um único alien que tem o cargo de mensageiro conseguiu feri-lo...

Eu sei que não são grandes machucados, mas... Que criatura assustadora...

– Se ele não pudesse nem fazer isso é que seria estranho, não?

Ahcsar sorriu novamente, desta vez, um sorriso calmo e sincero.

– H-hã, o que você...

E antes que pudesse completar aquela frase, subitamente, ela a puxou e a envolveu num abraço. A mulher ficou boquiaberta, sem ação.

N-no que ele está pensando? Por que ele está...?

– Muito obrigado, Eileen...

– H-hã?

Por quê...?

Era estranho. Pensar que ele, o terrível alienígena com multi habilidades, aquele que o governo temia e um homem desajeitado que se quer pôde dizer um adeus propriamente quando deveria, tinha lhe dado um abraço.

Da outra vez foi ela quem o abraçou quando ele apareceu em sua porta após ficar sumido por mais de um mês, quando ela acreditava que ele havia morrido. Mas agora... Era ele quem a abraçava. Ela podia ouvir o coração dele bater, bem de perto. O dela, particularmente, batia calmo. Não estava nervosa ou constrangida como normalmente ficaria, era esquisito, mas ela sentia-se aliviada. Porque ele estava bem ali. Toda sua ansiedade havia sumido, por isso ela instantaneamente o abraçou. E ficaram longos segundos ali, no silêncio noturno, com o vento batendo em suas costas, aquecidos um pelo outro.

– Vamos voltar para casa... –ele disse se desvencilhando dela- Eu estou cansado...

– A-ah...

E assim aquela noite terminou, apesar da mulher estar confusa sobre o que aconteceu e do homem calar-se após aquelas simples palavras, ela não perguntou nada e os dois voltaram em silêncio para casa.

. . .

Logo o governo veio atrás do alien, como em qualquer outro dia corriqueiro, a única diferença é que eles estavam muito furiosos, e por um motivo plausível. A pressão de Gilbert subira tanto que ele estava vermelho quando apareceu na porta da frente da casa de Eileen, ele quase teve um ataque cardíaco, e carregou o alienígena com ele, num carro, levando-o para conversar em algum lugar.

Eileen ficou sozinha na casa vazia. Sentou-se no sofá, onde sempre costumava sentar para travar diálogos construtivos ou destrutivos com Siv Borghild.

Eu não o compreendo... Ele sumiu sem dizer nada, mas não foi levado... Eu não quis perguntar o que houve, mas... Estou muito curiosa para descobrir...

Por que é que eu me importo afinal? Eles não são uma raça civilizada? Devem ter resolvido tudo na base do diálogo, embora eu realmente duvide da conduta moral de Ahcsar durante uma conversa, ele geralmente é cínico e faz piadinhas que irritam... Bem, como ele estava conversando com um alien frio, ele deve resistir às provocações... Eu acho...

Contudo... O que foi aquela luz? E Ahcsar estava ferido... Ah, é meio esquisito chamá-lo pelo nome assim... Será que mais algum deles virá para a terra?

Ah... Agora que me lembro... No começo eu odiava de verdade o Ahcsar e reclamava de tudo que ele fazia ou dizia... E agora... Ah... Não acredito... Como isso foi acontecer? Desde quando eu me sinto assim?

Ele parece muito com um humano... Será que foi por isso? Não, não foi só por isso... Eu provavelmente não me incomodaria tanto se visse a verdadeira forma dele agora...

Desde quando eu comecei a sentir falta de alguém que nem deveria estar aqui? E ele é um prisioneiro! ... Mas eu me sinto confortável...

Oh! Deus! Eu sei que pedi para ter alguém ao meu lado, mas existem mais de sete bilhões de pessoas no mundo, e de todas, tinha que ser logo ele?! Ele sequer é do mesmo planeta! É um nível de distância desastroso!

Mas... Mesmo pensando assim, eu... Não considero isso mais um problema... Todo mundo que sabe quem ele é de verdade o odeia, menos eu, então... O problema deve estar em mim, não é?

Não... Na verdade acho que a maioria não o compreende, nem mesmo eu entendo quem ele é realmente é...

– Foi mesmo por esse homem que eu me apaixonei...? –sussurrou suspirando desmotivada-

. . .

Alguns dias se passaram desde o acontecido, Eileen observava o alien, ela estava disperso, não parecia mais estar em alerta ou vigiando ninguém. A mente dele parecia vagar, meditar sobre algo profundo.

Ele disse que aquele alien tinha ido embora... Então por que ele continua dormindo no sofá? É como se estivesse ansioso, ou melhor, preocupado com algo.

E também, ele disse que não houve luta... Mas aquele E.T. não tinha vindo prendê-lo? E eles ficaram só conversando? Imagino o que ele disse para que aquele cara assustador não o levasse embora numa nave...

Ah... Ahcsar fala que nós humanos somos complexos, mas ele que é o complicado agora...

Ela descia as escadas, e o alienígena estava, novamente, deitado no sofá com o braço cobrindo os olhos.

– Eu ouvi isso.

– Estava prestando atenção?

– Claro que estava... –ele sentou-se, dizendo num tom desanimado-

– O governo te importunou muito com as sucessões de perguntas de novo?

–... Bem, sim, mas... Eu esperava isso...

– E o que fez dessa vez para que eles se calassem?

–... Não é como se eles pudessem contra argumentar um caso sobre um alienígena que passou pela terra para fazer uma “inspeção” do meu trabalho.

– Ah... Entendo... Então aquele mensageiro não vai mais voltar...

Ele pausou e fitou a mulher por alguns segundos-

–Eu não disse isso...

– Hein? Como assim?! Ele não já te entregou a mensagem que queria? Espera... Você não o afugentou e ele foi embora chamar reforços, não foi? –perguntava nervosa e assustada-

– Não. Ele nunca pediria reforços, Crow-Hreimdar é muito orgulhoso, mas veja, mesmo sendo assim, ele deu a meia volta e foi até a nave principal resolver alguns assuntos...

–... C-como...?

– Eu não sei o que vai acontecer, Eileen, porém, posso lhe garantir que ele não causará tumultos desnecessários aqui em seu planeta... Ele provavelmente voltará quando tudo estiver resolvido, e então, talvez seja minha hora de partir...

–...

Um tom de preocupação tomou a expressão de Eileen quando ela ouviu aquelas palavras. Era incrível como aquilo conseguia incomodá-la. E Siv Borghild, que discutia sobre o acontecido com o semblante sério, aliviou a expressão, pondo um leve sorriso no rosto.

– Mas, por enquanto, ainda preciso ficar na terra... Não vou deixar vocês em paz logo... Ainda tenho muito o que observar por aqui...

– Você estava lendo de novo, não era? –a mulher franziu o cenho- E para sua informação, o que disse não é nenhum tipo de consolo, Ahcsar.

Ela virou-se de costas e saiu batendo o pé, escadaria acima, deixando o alien um tanto confuso.

–...?

Ele respirou fundo e voltou a guardar o semblante sério e vazio de antes, refletindo.

Crow-Hreimdar viu algo muito importante, tão decisivo que ele teve de retornar para tomar uma atitude em conjunto com o líder, consultando-o...

Mas... O que ele viu...? Será que, por acaso ele encontrou aquela memória...?

Meldevich... Será possível que Crow-Hreimdar tenha visto a memória sobre o que aconteceu com você...?

A face de Ahcsar escureceu e seu semblante tornara-se sombrio, com o rosto marcado por um ódio intenso e interior que começava a absorver toda realidade de forma distorcida, como um buraco negro sugando tudo que há à sua volta.

_Será que ele viu aquela memória... –os lábios dele pronunciaram num sussurro- Sobre como eu o matei, Meldevich...?

E quando finalizou aquela frase, a boca dele retorceu-se para baixo, num tipo de desprezo pela própria fala.

Meldevich, o tão amado irmão de Ahcsar, foi morto por o próprio que o amava? O que aconteceu no passado enevoado dele afinal? Como é possível que a pessoa de quem Siv Borghild falava com mais afeto tenha sido alguém que foi morto por ele? Teria ele coragem de matar o próprio irmão? Estaria mentindo o tempo todo sobre o amor fraternal que sentia? Que tipo de respostas o passado guarda?

O mistério da verdade, por vezes, pode ser melhor se continuar em oculto, mas será realmente Ahcsar Angsaw IV o cidadão cruel que todos dizem? As dúvidas que surgem descontroladas se empilham sobre um mar escuro e profundo que não parece ter fim. O que acontecerá daqui para frente?


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