Human World Observation escrita por Lady Pompom


Capítulo 19
Capítulo 17: Vínculo Irresoluto


Notas iniciais do capítulo

Essa história não tem qualquer relação com pessoas, fatos ou lugares da vida real. É uma obra de ficção com fins de entretenimento.



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Tudo era um breu. Uma escuridão, como uma tela toda pintada de preto. Em meio a esta escuridão, Ahcsar Angsaw IV, o alienígena, em sua forma humana, de pé. Ele olhou em volta, de cenho franzido, procurando algo, tentando entender onde estava. Atrás dele, apareceu alguém, os olhos dele se abriram em surpresa e ele virou-se imediatamente para ver quem era.

Assim que seus olhos visualizaram a figura: um homem alto, de sorriso gentil, cabelos castanhos curtos espetados, vestindo uma bata branca, e cujos olhos não podiam ser vistos. Estendeu a mão para ele.

_Você... O que está fazendo aqui...?

Siv Borghild estava abismado com a presença daquele homem. O coração dele acelerava enquanto uma emotividade nunca antes transparente em seus olhos se mostrava.

_Ahcsar, eu vim te buscar... Está quase na hora de começar...

O homem dizia com uma voz suave e serena, mantendo o nobre sorriso no rosto.

_Do que está falando? Meldevich você já está...

De repente, outra presença foi sentida ali, novamente atrás de Ahcsar, mas desta vez, distante. Ele atemorizou-se ao sentir aquela nova aura, e virou-se para o lugar de origem da sensação amedrontadora.

Lá estava, ao longe, andando a passos leves e ritmados um homem de cabelos negros, cujos olhos representavam a própria escuridão. E ainda de longe, de onde estava, sem parar de caminhar, ele estendeu a mão na direção de Ahcsar, dizendo de foram seca e ríspida:

_É chegado o tempo de partir, Ahcsar Angsaw IV. Devemos voltar, para aquele lugar do qual você nunca deveria ter saído...

_Crow-Hreimdar! –disse as palavras com fúria-

_Ahcsar, você tem que voltar... –o homem atrás dele disse com um tom preocupado- Se não se apressar...

_Meldevich... –um tom mais suave tomou as palavras, e ao mesmo tempo, melancólico, assim como a expressão que Siv fazia ao falar-

E a imagem daquele homem com um sorriso gentil foi se afastando, sendo engolida pela escuridão. Ahcsar desesperou-se, e tentou perseguir aquela imagem, mas foi parado por o outro sujeito que também estava ali e segurava-o pelo braço.

_Agora... Vamos voltar... –disse Crow-Hreimdar com uma expressão sombria -

Quando Siv Borghild fitou aquele homem nos olhos, uma intensa sensação de desespero o invadiu, se espalhando o fazendo-o perder a razão, ele deu um grito do fundo de sua garganta, com todas as forças que possuía.

. . .

Chovia intensamente do lado de for a da residência de Eileen Sanders. Os trovões estrondosos e os clarões produzidos pelos relâmpagos mantinham a atenção da mulher focada na janela de seu quarto enquanto ela pensava sobre os acontecimentos dos últimos dias. Fazia já dias que aquele outro alien havia descido a terra, e depois de vê-lo apenas uma vez, nunca mais o viu novamente após o sumiço. Isso a preocupava.

Para onde ele terá ido...? Ele realmente se parece com um humano, apesar de ser um pouco sombrio e frio, mas... Será que ele está causando confusão por aí...? Não... Não acredito que ele seja um alien assim... Mesmo enquanto falava com Siv não parecia violento...

Ah~ Isso é tão complicado... Eu queria saber o destino da terra agora que tem dois alienígenas aqui...

Seus pensamentos foram cortados por o som de um grito estrondoso e gutural, que ecoou por toda a casa e vinha do andar de baixo. Ela assustou-se, seu coração acelerou, e correu descendo as escadas até se deparar com o dono daquela voz:

_Siv?! O que aconteceu?

Perguntou preocupada ao vê-lo. Ele estava sentado no sofá, respirando ofegante, suado e com uma das mãos no rosto, com uma expressão assombrada.

_E-eu...

Ele respondeu acalmando-se e fazendo com que sua face lentamente voltasse a ser indiferente.

_Tive um sonho... Apenas isso... –disse retomando o tom frio-

_Sonho...? –ela arqueou o cenho, confusa-

Um pesadelo? Então até mesmo pessoas como ele sonham... Eu não sabia que ele podia reagir assim por causa de pesadelos também...

_Você dormiu no sofá de novo? –ela suspirou sem esperanças- Por que simplesmente não dorme no quarto? Está preocupado que algo aconteça...?

Ele encarava o chão, pensativo, sem responder uma só palavra, embora pudesse ouvir claramente as palavras da mulher.

_Não... Não importa... Eu apenas me esqueci de subir para o quarto e acabei dormindo aqui...

A mulher calou-se e torceu ainda mais o cenho num misto de preocupação e confusão.

Ele pode dizer isso, mas... A expressão dele parece cansada... Acho que nem mesmo aliens conseguem dormir direito tendo pesadelos assim...

Eileen dirigiu-se à cozinha, e enquanto distraía-se no preparo do café da manhã, ponderava novamente incomodada com os últimos acontecimentos e inconformada com aquela paz torturante que se fazia quebradiça. Ela sabia que aquela calmaria não duraria por muito tempo, em algum momento, haveria um atrito entre aqueles dois aliens novamente, e isso a fazia temer. Que tipo de finais essa história teria? Pior, como a terra ficaria durante um confronto entre aqueles dois seres inumanos?

Siv continua dizendo que não há nada de errado, mas ultimamente ele só tem dormido no sofá, como se estivesse ansioso por algo... Ele está sendo bastante afetado por esses episódios de sono... Basta olhar para o rosto dele, está abatido e cansado, é óbvio que ele não está bem...

Imagino se eu deveria fazer algo a respeito... Hum... Mesmo se eu não fizer nada, vai ficar tudo bem, certo...?

Ela olhou para o teto enquanto coava o café, dando um longo e pesado suspiro. Foi quando sua expressão mudou drasticamente ao sentir sua mão queimar.

_Ai! –largou o coador ainda com café e o líquido quente no chão, sujando o chão e respingando em seus pés descalços- Ai, ai! –segurou a mão queimada que ganhava uma tonalidade vermelha na pele-

_O que aconteceu?

O alienígena apareceu na porta da cozinha e ela mordeu os lábios, encarando-o com uma expressão ainda dolorida.

_É melhor você não rir...

_Ah...

Demorou apenas um segundo para ele entender a situação. Aproximou-se incrédulo na personalidade despreocupada da mulher.

_Estava olhando para o teto enquanto segurava o café de novo?

_Não, eu...! Foi diferente desta vez! –defendeu-se, envergonhada-

Ugh... Não acredito que estou recebendo um olhar de reprovação de um alien! Que raiva!

_E se por acaso eu não fosse um alienígena teria sido melhor? –ele deu um sorriso de zombaria-

_Não foi... Ah... –ela irritou-se- Pare de ler meus pensamentos!

_Como vocês humanos se queimam fácil... –ele olhou a mão da mulher, com um sorriso convencido fazendo um gesto negativo com a cabeça- É mesmo incrível a falta de resistência de vocês.

_Me desculpe, mas eu não nasci com os privilégios da sua raça alien, Senhor Borghild.

Ela pôs água corrente na queimadura, ainda murmurando irritada sobre o comportamento dele enquanto ele saiu sorridente da cozinha e foi para algum outro cômodo da casa.

Francamente... Eu aqui me preocupando e ele continua o mesmo idiota metido de sempre... Não posso acreditar que achei que havia algo de errado...

Ela suspirou mais uma vez, cansada daquilo. Depois foi se acalmando e pôde pensar com mais clareza.

Não tem como ele estar bem... Eu aposto que ele está agindo assim porque leu meus pensamentos quando eu estava refletindo sobre o estado dele... E provavelmente deve os estar lendo agora... Ah, mas que falta de privacidade... Eu odeio isso...

Mesmo que ele tente fingir que está tudo bem, posso ver claramente que não está...

Agora que penso nisso, ele sempre agiu assim, desde o início, não era? E agora eu consigo perceber tão bem que ele está escondendo como se sente... Será que ele mudou e ficou enferrujado... Ou... Quem mudou fui eu...?

. . .

Após algum tempo, a mulher foi até a sala, onde estava sentada no sofá a criatura, mas ele não lia o jornal como era de costume, estava sentado, fitando o vazio e com o semblante indiferente, reflexivo, mudo. Era quase como sua presença pudesse desaparecer. Se ela não soubesse que ele sempre ficava naquela parte da casa, poderia ter passado sem notar, ele estava presente, mas apenas corporalmente enquanto sua mente travava uma longa viagem.

Ela iria passar sem incomodá-lo, já havia posto o pé no primeiro degrau da escada, mas deu a meia volta, e se maldizendo internamente, chamou-o:

_Siv?

_Hum? –ele fitou a mulher, ainda indiferente-

_Com o que sonhou hoje?

Ela pôs um sorriso para fazer a pergunta soar mais agradável, e ele simplesmente arqueou o cenho surpreso, tentando entender o objetivo da pergunta dela.

_Por que quer saber?

_Ora, você pode ler pensamentos... Já deveria saber o porquê... –ela encolheu os ombros se arrependendo de ter iniciado uma conversa-

_Mesmo que eu possa lê-los, não significa que eu saiba aonde quer chegar me perguntando isso... –respondeu simplório-

_Bem... Eu estou muito curiosa para saber que tipo de coisas vocês sonham, quero dizer, não pensei que sonhasse como os humanos... Além do mais... –a voz dela balançou antes da última frase- Você acordou gritando, então deve ter sido um pesadelo bem ruim, não...?

_... Sim... –ele demorou alguns segundos e respondeu com a face ríspida-

_Ah...

A mulher arrependeu-se ainda mais de ter perguntado e decidiu rumar até seu quarto para se trancar e esquecer que aquilo havia acontecido, mas foi interrompida.

_Na verdade, estou intrigado com essa sua inquietação repentina... –o alien disse sério, fitando as costas da mulher-

_Bem, é que... –ela disse nervosa e desajeitada-

_Não queria conversar? Por que não volta aqui...? Eu irei lhe contar, se quer tanto saber...

A voz dele soou mais assustadora do que o esperado, e a mulher suou frio enquanto sentia como se pequenas facas a atingissem nas costas pelo olhar que o homem lhe lançava. Virou-se quase que mecanicamente e sentou-se no sofá em frente ao que ele estava. A expressão de mau humor dele indicava que não estava disposto a responder quaisquer perguntas que ela fizesse, mas ele continuou como se não houvesse nada de errado:

_Sobre o quê havia perguntado?

_Ah...

Ela tentava falar calmamente enquanto tremia em seu interior, não que não estivesse curiosa, só sentia que não era um bom momento para ter uma conversa.

_ Sobre o seu... Sonho...

_Sim, claro... –disse num tom cínico- Eu sonhei com meu irmão, algum problema?

_Seu irmão...?

Se foi com o irmão, então... Por que ele estava gritando?

Ele estreitou os olhos e ela engoliu seco ao perceber que seu pensamento havia sido lido.

_E-eu já perguntei o que queria, não vou mais incomodá-lo...

Ela levantou-se num impulso, com medo da reação que ele teria se a conversa continuasse.

Ah... Eu sabia... Ele ficou de mau humor porque eu perguntei do sonho... Eu toquei em um assunto delicado não foi? Toquei em um assunto que ele não queria lembrar e ele ficou com raiva de mim, não foi?

_Mas que mulher presunçosa... –ele abriu um leve sorriso cínico e suspirou- Por que eu ficaria de mau humor por sua causa?

_Hã?-ela ficou confusa-

Espera, ele está dizendo que eu não valho nem o mau humor dele?

Ele deu um sorriso convencido fitando a mulher e o foco do pensamento dela se transferiu totalmente para o comportamento arrogante dele.

Foi isso mesmo que ele quis dizer, não foi? Está começando a me dar nos nervos de novo... Esse alien está me menosprezando de novo, e bem na minha cara... Mas que audácia...

Ele riu da expressão irritada da mulher e ela se irritava com a arrogância dele.

_Agora voltou a ter a animosidade de sempre, Eileen!

_Hã? –ela o encarou, confusa-

_O quê? –ele manteve um leve sorriso cínico no rosto, como sempre fazia- Você não parecia bem, então eu achei que seria chato conversar assim e te de despertei daquele seu estado estranho... Eu sou mesmo um sujeito generoso, não acha? –se gabou-

Hã? Estado estranho? O que ele quis dizer? Eu só estava...

A campainha tocou, irrompendo o fluxo da conversa dos dois. Eileen correu para atender a porta prontamente, e se deparou com uma visita inesperada.

_Comandante Gilbert?!

_Senhorita Sanders... –ele cumprimentou- Aquela criatura está por aqui?

_Me procurando, comandante? –o alienígena apareceu atrás da mulher, com um sorriso cínico no rosto-

_Gostaria de conversar... –o comandante das forças especiais franziu o cenho- Poderia me acompanhar, por favor?

_Uou, é tão sério que não pode ser dito aqui? –o alien ironizou-

_Apreciaria se parasse de considerar uma brincadeira, Senhor, afinal, o governo tem a política de não envolver desnecessariamente os cidadãos em assuntos deste tipo...

_Tudo bem.

E os dois saíram da casa, entraram num carro do governo e foram embora para outro lugar.

Ai, ai... O Senhor Gilbert o levou de novo... Sobre o que querem conversar afinal? Talvez... Sobre aquele alien que veio depois? Ah, sim, deve ser isso mesmo, o governo nunca teve a chance de conversar com o Siv já que todas as vezes que eles vinham aqui procurá-lo, ele havia sumido...

E o que ele quis dizer com “voltou a ter a animosidade de sempre”?!Isso me irrita!

Ela fazia caretas enquanto se irritava mentalmente com a criatura. Logo deu um longo suspiro. Uma expressão que misturava confusão e preocupação se formou no rosto dela.

Eu realmente não o entendo... Ele me contou tudo aquilo sobre seu passado e até me disse quem era o outro alien, mas não parece interessado em dizer uma só palavra sobre isto ao governo...

Por que ele contou aquilo para mim...?

Eu pensei que ele menosprezasse todos os humanos, inclusive eu... E ele sempre faz questão de dizer algumas frases cruéis e grosseiras, no entanto... Será que ele realmente quis dizer aquilo ou ele estava tentando ocultar como realmente se sentia...?

Ah~ Como se eu fosse capaz de compreender um alien que lê mentes...

Suspirou desanimada.

Ahcsar Angsaw... Ele é realmente um alienígena misterioso...

Um sorriso floresceu no rosto de Eileen enquanto ela pensava sobre Siv Borghild que havia invadido sua vida não mais do que meio ano atrás e se mostrava um homem rodeado de enigmas que a interessavam.

Porém... Se aquele outro extraterrestre veio aqui buscar o Siv... Isso significa que os superiores dele não estão de acordo com a estadia dele na terra... Ele me disse que já resolveu esse “problema”, mas...

Queria saber por quanto tempo mais ele conseguirá ficar neste planeta...

. . .

Enquanto isso,

Longe dali,

. . .

_Senhor Borghild, o Presidente deseja conversar...

Gilbert olhou de cenho franzido para o alien que manteve o sorriso cínico no rosto. Chegando à sede do governo, desceram do carro e dirigiram-se à sala de reuniões onde o Presidente já os esperava.

_Senhor... – o presidente falou com uma expressão fechada-

_Pois, não?-o alien manteve o mesmo sorriso no rosto-

Gilbert, que segurava uma pasta, pegou alguns papéis e pôs na mesa, em frente ao extraterrestre.

_Poderia nos explicar o que significa isto? –o presidente perguntou num tom irritado-

O alienígena olhou as fotos que lhe mostravam com um ar indiferente. Eram as fotografias tiradas por satélite da nave de Crow-Hreimdar, Brunnehilde.

_Fico impressionado que tenham conseguido estas fotos, apesar de que elas têm uma péssima qualidade... –ele comentou cínico-

_Não estamos brincando, exigimos uma explicação, Senhor Borghild! – o presidente levantou-se batendo uma das mãos na mesa- O nosso acordo está sendo menosprezado!

_Não precisa se exaltar tanto...-o alien respondeu num tom calmo-

_Por que tem mais um de vocês aqui na terra?! –o presidente continuou, exasperado- Disse que apenas a sua pessoa iria fazer a observação, ainda assim, uma maldita segunda nave alienígena veio até aqui e nós não fazemos ideia do que seu ou seus “amiguinhos” possam estar fazendo em nosso planeta.

_Mas que linguagem ofensiva, Sr. Presidente... –o alien ironizou- Primeiramente devo deixar claro que apenas mais um de minha raça descendeu ao seu planeta...

_E o que exatamente mais um de vocês está fazendo aqui?!

_Que homem xenofóbico é o Senhor... –disse num tom cínico fingindo estar afetado pelas palavras- Já lhe disse anteriormente que não causarei mal algum, tampouco o fará o outro que desceu após mim... –ele fitou o presidente- Agora o Senhor é o Presidente deste país, mas creio que, em algum momento de sua vida, teve superiores, certo?

O presidente franziu o cenho, de forma que rugas se formaram em sua testa, e o extraterrestre prosseguiu no discurso:

_Bem, em outras palavras, o que ele veio observar não foi a vocês ou à sua raça... Não se incomodem tanto com a presença dele, garanto que ele tem ainda mais discrição que eu. Ele veio apenas para cumprir um procedimento padrão e inspecionar meu trabalho, claro, até em seu planeta é necessário conferir os resultados de alguma pesquisar, não é?

_O observador sendo observado? –Gilbert intrometeu-se- Que hilário... –disse num tom seco-

_Não há motivos para tanta comoção, ele não levantará um dedo contra qualquer um de vocês, afinal, são nossos preciosos espécimes... – um tom sombrio recaiu sobre o sorriso cínico do alienígena-

_Está pedindo para que tenhamos calma enquanto mais de vocês invadem o nosso planeta para concretizar seus objetivos desconhecidos?

_Não. Estou simplesmente dando-lhes a explicação necessária para que sequer tentem fazer algum ato impensado. –o semblante do homem tornou-se sério- Lembrem-se das tentativas frustradas que realizaram para me matar, dos resultados de seus atos desesperados... E ainda mais, aquele que veio aqui é mais poderoso do que eu, então se eu estivesse no lugar de vocês, me aquietaria e refletiria duas vezes antes de tomar alguma decisão precipitada.

_Você... –o presidente disse entredentes, furioso-

_Ora, mas que descontrole emocional... Não direcione sua raiva a mim, não fui eu quem pediu aquele outro para descer até aqui, além disso, eu lhes dei a explicação que queriam, certo? Então, com sua licença, -ele levantou-se da cadeira- Até breve, Senhor Presidente... –acenou com um sorriso cínico no rosto-

O presidente foi caindo lentamente na cadeira e recolhendo-se enquanto sua fúria fervilhava e ele pensava nos avisos daquela criatura maligna. Um alienígena ainda mais forte? Só podia ser alguma piada de mau gosto. Impossível que a situação estivesse tão crítica assim. O homem ficou vermelho de raiva enquanto pensava estas coisas, estressado.

_S-Senhor, eu vou buscar um copo com água! –Gilbert engoliu seco, preocupado com o outro-

E o comandante das forças especiais correu da sala, enquanto o superior se remoía de preocupações em seu interior.

. . .

De volta à Residência da Sanders

Ao fim da tarde...

. . .

_Siv?

A mulher pronunciou, surpresa em ver o alien entrando pela porta da frente, preocupada com o que poderia ter acontecido.

Ele já está de volta? Que conversa rápida ele teve... Pensei que iria demorar mais tempo e que iriam interrogá-lo sobre aquilo por dias...

_Ah, nem pensar, eu não quero responder às perguntas daqueles humanos impacientes... –disse sobre os pensamentos da mulher-

_Ah...

Ela respirou fundo por mais uma vez ter sua mente invadida, não importava quantas vezes ele fizesse isso, ela nunca conseguia se acostumar.

_Eles devem estar bem insatisfeitos com a chegada desse novo alien aqui, não é? E aposto que ficaram chocados em saber que ele é apenas um mensageiro...

_Eles não sabem. –respondeu seco-

_Não sabem?! Como assim não sabem? Não os contou sobre isso?

_Por que eu deveria? –ele deu de ombros-

_M-mas... Por que...

Se ele não contou isso ao governo... Por que contou para mim?

Ele suspirou profundamente, e sentando-se no sofá em frente à mulher, respondeu sério:

_Isso é simples, Eileen. É porque eu gosto de você, mas não gosto do seu governo.

_H-hã?

C-como assim gosta de mim? O-o que ele quer dizer com isso?

_Exatamente o que as palavras significam. –disse seco- O seu governo não poupa métodos para acabar comigo e também não acreditam em minhas palavras, da mesma forma, não posso confiar numa organização que possui cisões internas a ponto de me tornar alvo de ataques imorais junto com humanos alheios.

A mulher calou-se, ponderando sobre aquilo. Era óbvio que ele próprio estava irritado com os atentados terríveis que foram tramados por alguém cuja identidade ainda estava oculta.

_Bem, eu os avisei para não entrarem em contato com Crow-Hreimdar, apesar de ele ser um ser bastante pacífico e controlado, não posso garantir a segurança de humanos que tentem matá-lo, mas é claro, se seu governo aceitará ou não minhas advertências, -ele riu-se- É um caso completamente diferente...

_Sua raça pode ser tão violenta assim...? –a mulher perguntou num tom de preocupação e incredulidade-

_... –ele a fitou por longos segundos- Eileen você já deve ter percebido que minha raça é extremamente opressora quando contrariada. Apesar de serem geralmente pacíficos e dialogar, não significa que hesitarão tirar vidas se isto se provar necessário. Basta interferir nas pesquisas conduzidas por eles... É este tanto de frieza e imparcialidade que vocês enfrentam... E Crow-Hreimdar tem poderes muito mais terríveis que os meus, além de ter um autocontrole excepcional.

Mas... Se ele tem autocontrole, não significa que ele irá se conter em tirar vidas?

_Eu não quis dizer que Crow-Hreimdar os matará, a morte do corpo seria fácil demais, o que quis indicar foi sobre o poder dele de olhar bem aqui –ele apontou para a cabeça com o dedo indicador- Dependendo de como ele julgue cada um, poderá usar a força e eu não ficaria surpreso se ele resolvesse levar um ou dois humanos como objetos de pesquisa para analisar meus relatos com as informações adquiridas por pesquisa...

_Levar à força...? –ela engoliu seco com a hipótese- Ele é cruel assim?

_Crow-Hreimdar não é “cruel”... Ele simplesmente é isento de qualquer sentimento, e esse é um dos motivos dele ser um mensageiro e juiz... Mas... O outro motivo dele ter sido escolhido é por conta de sua habilidade... Ao contrário de mim, ele não utiliza força bruta, e se comparado com a minha resistência, ele com certeza carece, porém, sua capacidade de ler mentes é muitas vezes maior do que a minha, e o mais assustador é que ele pode “infiltrar-se” na mente de qualquer um, independente da resiliência mental que se possui... Ele pode ler suas memórias e até usufruir de sensações presentes naquela memória, e é assim que ele analisa tudo minuciosamente. O mais terrível é como ele adquiriu sua personalidade indiferente... Depois de tanto se infiltrar nas mentes alheias e experimentar os diversos sentimentos, ele simplesmente esvaziou-se de todos eles e tornou-se tão frio quanto gelo...

_In-infiltrar-se na mente? –a mulher encolheu-se no sofá- Não tem como barrar?

_Eu disse, ele é muito forte neste ponto... São poucos que seriam capazes de impedi-lo... E pior do que isso é que existem indivíduos com ainda mais poder que ele na minha raça, quero dizer, existem aqueles que podem até mesmo controlar a mente de outrem com pura força psíquica e ainda possuem uma constituição invejável se tratando de força física...

_Tem aliens muito amedrontadores no seu planeta... É até estranho dizer isso, já que sou humana, mas...Você parece bem fraco perto destes exemplos.

_Puf... –ele deu um pequeno riso- Acho que é mesmo um termo perfeito para alguém considerado “defeituoso” como eu... –ele deu de ombros rindo da própria denominação-

E-eh? Ele está rindo de si mesmo? O grandioso Siv Borghild está caçoando de si próprio?

_Não precisa se esquentar tanto só por causa do que eu disse... Pode ser que eles tenham algumas habilidades, mas sabe, nem sempre o mais forte vence uma batalha...

Um fraco sorriso estava expresso no rosto do homem, mas podia-se notar a seriedade em suas palavras.

Eu não sei se ele está sendo sincero ou não... Nunca consigo entender no que ele está pensando...

Eileen deixou escapar um pesado suspiro, e ela ouviu um riso advindo do homem.

_Devo supor que gostaria de poder ler mentes agora?

_H-hã? E-eu não!-ela enrubesceu- Pra quê eu iria querer invadir a privacidade dos outros?! –disse exaltada-

_Hahaha!! –ele gargalhou mais alto- Você é mesmo uma humana engraçada!

_Você é o único que pensa assim. –a mulher franziu o cenho-

_Bem, -ele levantou-se do sofá- Eu preciso ir a um lugar agora...

Ele manteve o sorriso, mas parecia, de alguma forma, sério. Ela também se levantou num impulso, confusa.

_H-hã?

Como assim? Ele vai sair do nada? Pra onde?

_Ora, ora, -ele virou-se com um sorriso no rosto- Você quer vir comigo então, Senhorita Sanders? –ele estendeu a mão-

_H-hã? –ela recuou um passo-

P-por que ele está agindo assim?

_Não, eu... –ela respondeu engolindo seco-

Ele alargou o sorriso com uma expressão sombria e a mulher teve calafrios.

. . .

Algum tempo depois,

Longe dali

. . .

Eileen estava caída, apoiando os joelhos e mãos na relva, com uma expressão de assombro, enquanto o alienígena se mantinha de pé, fitando o pôr do sol. O vento que anunciava a chegada da noite era gélido e fazia a grama balançar. O campo no qual estavam era imenso, podia-se ver as figuras de árvores, de um tamanho diminuto, pela distância.

O céu era tão imenso dali. Eileen se pergunta quanto maior seria o espaço. Naquele campo, ela sentia-se tão pequena se comparada à infinidade do céu. E os tons amarelos que clareavam as nuvens, colorindo-as como numa pintura.

O sol foi se pondo rapidamente, deixando seu rastro, que foi desaparecendo e cedendo lugar a noite que acordava. Podia-se ver mais estrelas e astros no céu do que normalmente, pois não havia luzes para ofuscar seu brilho. Eileen parecia cansada, e assustada, embora a criatura que a levou ali estivesse extremamente calma. Ela levou alguns segundos para se acalmar e recompôs-se, levantando e perguntando:

_Que lugar é esse?

_Hum? É só um campo comum no caminho ao interior do estado...

_Eu sei disso, eu quero saber por que é que me trouxe aqui.

_Você não estava curiosa para saber aonde eu vinha?

_É, eu estava, mas...

Eu ainda não entendo por que ele veio aqui...

_Ah, não me diga que você não sabe... Ou achava mesmo que eu ia fazer meus relatórios na frente de todos vocês...?

_Ah!

Era aqui que ele fazia os relatórios? Mas... Como?!

_É óbvio que eu não conseguiria escrever algo bom no meio de vocês humanos. Ficam o tempo todo pensando, é difícil me concentrar, sabia?

_Até você precisa de um lugar calmo de vez em quando... –comentou reflexiva-

Os dois sentaram-se na grama, para estabelecer um longo diálogo.

_Eu sou controlado, não inabalável.

_Posso perguntar uma coisa? Por que aqui? Quero dizer, é só um campo aberto de onde dá pra ver o céu...

_Só? –ele deu um risinho- De todos os lugares que já vi, esse é definitivamente um dos mais bonitos... O espaço visto daqui é belo...

_Erm... Você não vivia numa nave? Acho que o espaço visto de lá é que deve ser bem bonito, com os astros bem perto, e a poeira cósmica, sem falar nos planetas! –ela ilusionava olhando para cima, falando num tom sonhador-

_É verdade que é bonito, mas ainda gosto mais dessa vista, além do mais, não é como se fosse agradável ver o espaço por as janelas da nave, é uma imensidão escura, e tem sempre o mesmo tom sombrio... Eu prefiro ter a perspectiva daqui... –ele abriu um sorriso- ...Meldevich provavelmente riria de mim se eu dissesse isso...

_...

Eileen se virou imediatamente para fitar o homem. Mais uma vez, aquele sorriso que ele só mostrava em raras ocasiões, aquele que a fazia refletir sobre a verdadeira natureza dele. Que nome era aquele? Ele estava sorrindo quando pronunciou e a única pessoa que o arrancaria um sorriso sincero era...

_Meldevich...? Seu irmão...? –perguntou num tom de dúvida, curiosa-

_Ah, sim... –o sorriso dele desvaneceu e a expressão tornou-se um pouco mais séria-

_Olhar pro espaço te lembra seu irmão? É por isso que escolheu esse lugar?

_Mais ou menos... Não é o único motivo...

_...?

Não é o único motivo...?

Uma brisa fria soprou ali e o farfalhar da grama quebrava o silêncio. Eileen percebeu algo importante enquanto fitava o homem que guardava um sorriso sutil no rosto, observando o céu estrelado.

Ah... Como eu não notei isso antes...? É tão óbvio...

Depois de ser um prisioneiro por anos, talvez esse campo...

Dê a sensação de liberdade que ele tanto buscava...

Para alguém que passou tanto tempo vendo o mundo por janelas quadradas dentro de uma prisão, isso é...

Subitamente, Ahcsar teve uma sensação desagradável, que o deixou em estado de alerta. Ele franziu o cenho, sabia o que aquilo significava, aquela presença iminente. Levantou-se calmamente com um semblante ríspido, limpou a grama grudada na roupa, e sorriu para a mulher, acenando.

_Eu preciso ir agora...

_Hã? –ela levantou-se desajeitada- Como assim?

_Me desculpe, de verdade, Eileen... -ele gesticulou- Vai ter que dar um jeito de sair sozinha, porque agora eu tenho um compromisso muito importante...

_O quê? C-como...?

_Eu posso não voltar desta vez, então tome cuidado...

_Do que está-

Ela perguntava inutilmente enquanto ele já ia embora, de costas, dando um aceno fraco, sem dar muita atenção à mulher boquiaberta. Ele foi em direção às árvores ao longe.

_Eu... Eu não acredito, ele me traz pra um campo no meio do nada, de noite, e ainda me pede para voltar para casa sozinha...?! Siv Borghild! Ah! –urrou furiosa-

Por que ele fez isso? Eu não entendo, não o entendo mesmo, Siv... O que ele quis dizer com aquilo de poder não mais voltar?

O que ela não sabia era que o alienígena rumava a um destino não muito longe dali, pois ainda naquele enorme campo, um sujeito o esperava...

. . .

Nos longínquos campos gramados, Crow-Hreimdar estava posicionado em frente à nave na qual veio, com seu olhar vazio e postura elegante, impecável. Ahcsar chegou ali, caminhando a passos lentos, sua expressão de indiferença, com uma tonalidade séria. Parou a metros de distância, encarando o outro.

_Vejo que ainda tem senso de responsabilidade para ter vindo até aqui, Ahcsar Angsaw IV... –comentou com a voz imutável-

_... Chegou a hora de resolver nossos assuntos pendentes, Crow-Hreimdar... –estreitou os olhos raivosos-

E os dois se encararam intensamente antes de acertarem as contas.

. . .

Eileen sentiu um arrepio percorrer sua espinha, uma premonição de uma situação ruim tomando forma e se instalando. O ar ficou sombrio, e ela teve um aperto no coração. O que poderia ser aquela sensação?

Para onde ele foi? Não gosto disso... O que eu vou fazer aqui no meio do nada?

Eu bem que achei estranho ele vir aqui e me contar tantas coisas... Mas agora que penso sobre isso...

Siv, quando disse que poderia não voltar... Você estava...

Se despedindo definitivamente de mim?


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